II REIS – III – NÃO DESVIE O FOCO DO ALVO
Comentarios desactivados en II REIS – III – NÃO DESVIE O FOCO DO ALVOseptiembre 18, 2017 by Bortolato
Almeja uma vitória? Todos têm um determinado anelo em sua vida, mas somente alguns é que logram alcançá-lo. Por quê? Já se fez esta pergunta?
Como é que alguns poucos conseguem obter aquilo que acham ser o mais importante de suas vidas, enquanto outros, ao vê-los, com certo sentimento de frustração ou de inveja olham para os tais vitoriosos, não entendendo a razão dessa diferença.
Quando veem a outros desfrutando dos louros da vitória, chegam até a fazer um auto-exame, buscando levantar um retrospecto na história de suas vidas, a fim de acharem o porquê de não terem sido os contemplados; e justificam-se jogando a culpa sobre outras pessoas que não o ajudaram, não o compreenderam, não perceberam que não nasceram em berço de ouro; tinham que fazer diferente para colaborarem com os seus projetos, mas não cooperaram, não atentaram para a sua limitação, menosprezaram o seu potencial…
Não se conforma com essa situação? Ótimo! Pois não é mesmo para se conformar; mas vamos fazer uma análise mais profunda sobre esta questão, e revisar os conceitos que, uma vez identificados como negativos, será necessário que sejam mudados. Aceita? Está pronto para isto? Então vamos lá.
Não vamos agora andar à caça de erros, pois nem mesmo isto seria producente. Muitos são estes, e afinal todas as pessoas, inclusive as mais vitoriosas, cometem erros, mas uma inteligência disposta a corrigi-los é que é o mais importante nesse contexto.
Vamos observar bem como é que os vitoriosos fazem. Um atirador de flechas não inicia sua carreira acertando seu alvo na primeira tentativa. Aliás, eles demoram-se um pouco para fazer sua pontaria. Tentam por várias e várias incontáveis vezes. Concebem métodos para não errar. Não ingerem álcool ou quaisquer drogas que possam prejudicar-lhes a concentração ou a destreza. Fazem exercícios para conseguir movimentar somente os nervos e músculos requeridos para um bom tiro, enquanto todo o restante do corpo deve ficar totalmente imóvel, como se fora uma estátua. Procuram mirar bem o centro do seu alvo. Não podem ter sucesso se o fizerem displicentemente. Têm que haver muita disciplina, e não desanimar com os aparentes fracassos. Suas esperanças são alimentadas pouco a pouco, conforme vai notando que progride no seu desempenho. Somente com o passar do tempo e muita dedicação é que chegam a disparar as flechas com o tão esperado acerto.
Agora vamos nos ater em analisar o comportamento de um homem que, por humano que fosse, não teve dúvidas e nem vacilação para buscar algo que somente Deus poderia lhe dar. Ele não tinha condição alguma, humanamente falando-se, de obter o que mais desejava, mas certo dia, uma palavra e um gesto de seu mestre o levou a concluir que “aquilo” era possível, sim, se ele passasse a trilhar um determinado caminho até chegar lá onde tanto queria.
Estamos falando do profeta Eliseu, filho de Safate, que viveu no século IX A.C. em Israel. Quem era este? Era filho de um proprietário de uma porção de terras em Abel Meolá, um lugar a oeste do rio Jordão, a meio caminho entre o Mar Morto e o mar da Galileia. Ali foi que, muito provavelmente, nasceu Eliseu, e lá mesmo foi criado, aprendendo a guiar doze juntas de bois para ararem as terras de seu pai. Era jovem ainda, quando Elias, após haver estado no monte Horebe, o buscou e lançou sua capa sobre o moço, o que queria dizer que Deus o estava chamando para o Seu serviço profético. Era um humilde começo, mas na verdade, o que Deus estava planejando era fazer de Eliseu um profeta do mesmo nível e dimensão que Elias.
Eliseu, na ocasião, graças ao discernimento que Deus lhe deu, entendeu perfeitamente que estava sendo colocado entre dois caminhos: o da segurança, calma e abastança de uma vida junto à sua família; e a outra opção era o caminho do discipulado, longe de seu lar, sua casa, e dos seus, uma opção humanamente sem grandes atrativos, mas que por trás de uma pequena janela escondia uma vida abundante, cheia da luz da presença e da revelação de Deus. Dois caminhos: um aparentemente mais abençoado materialmente, mas sem grandes perspectivas do lado espiritual; e outro, sem grandes perspectivas materiais, mas, de maneira superabundante, muitíssimo abençoado do lado espiritual.
A questão, então se resume na pergunta: o que é que Eliseu mais queria para sua vida? Pela sua reação diante de Elias, ficou clara a sua resposta: ele queria ser profeta, tal e qual Elias era. Ele não era alguém que se contentava com quinquilharias. Mediocridade era uma palavra proibida quando pensava no seu futuro. A proposta que Elias lhe fez encheu o seu coração de felicidade, como nunca antes. Ele nem pensou duas vezes. Só queria despedir-se dos antigos amigos, e beijar o seu pai, o que logo fez e pôs-se a seguir Elias. A porta de seu coração estava escancarada para o novo caminho que Deus lhe havia proposto; era só isto o que via à sua frente.
Um detalhe importante: Eliseu matou aquelas doze juntas de bois, e fez uma grande churrascada para os seus parentes e amigos. Da madeira dos jugos e arados que ele guiava, fez o fogo para assar a carne. Assim, ele queimou o seu passado, deixando-o para trás, quebrando a ponte que o ligava a este. Quando decidimos seguir ao Senhor, a velha vida deve ser abandonada, pois é assim que se entra para um ministério abençoado.
E se alguém pensa que Eliseu, de imediato, bisou ser um profeta da estirpe e do nível espiritual de Elias, engana-se. Ele tinha ainda muito que aprender. Teve de aprender a jejuar e orar com muita frequência. Ouvir muito. Ouvir de Elias, principalmente – e, veja-se que Elias não era fácil de ser seguido, devido ao seu gênio por vezes bastante autoritário. O Salmista Davi disse que louvava a Deus sete vezes por dia (Salmo 119:164), sendo ele um pastor, militar e rei. Logo, um profeta de tempo exclusivo deveria ser muito mais assíduo à presença de Deus… O seu caminho era estreito, mas a cada passo dado, mais cheio da luz do céu em seu coração, porque Deus o olhava do céu e se alegrava com ele.
Eliseu soube então que fora ungido para ser profeta de Yaweh no lugar de Elias, e foi crescendo em espírito e fé, e ia meditando neste tipo de chamada celeste… Até que chegou o dia em que Elias já estava de posse de uma outra promessa: a de que nem sequer provaria a morte, para ser levado à eterna presença do Senhor, e isso não demoraria.
Elias tinha contato com toda uma escola de profetas, mas a promessa de ser sucedido em unção, e em tipo de ministério, ainda repousava sobre a cabeça de Eliseu – e os demais também sabiam disso.
II Reis, capítulo 2º, versos 1 e 2 nos diz que ambos estavam juntos em Gilgal, e Elias estava recebendo uma direção de Deus para dali partirem para outro lugar.
A cada lugar por onde Elias passava, havia memórias de coisas que Deus fez no meio de Seu povo, em Israel. Ele e Eliseu ia de um lado para outro, e andando a pé, a paisagem que visualizavam lhes falava muito das obras que o Senhor Yaweh fez, faz e fará. E aqueles lugares serviam de recurso visual para relembrar a todos quantos desejassem meditar sobre os fatos ali ocorridos – o que incitava Elias a não perder a oportunidade para repisar as mesmas palavras e rearticular aquelas experiências, às vezes terríveis, às vezes maravilhosas, conforme o lugar por onde passavam.
GILGAL:
Foi o primeiro lugar onde os israelitas se assentaram quando cruzaram pela primeira vez o rio Jordão, vindo da Transjordânia para Canaã.
Josué, capítulo 5º diz que foi ali o lugar em que os homens foram circuncidados, em sinal de que o Senhor lhes tirou a humilhação da escravidão do Egito. Aliás, Gilgal, em hebraico significa “rolante” ou “removente” de pedras. As pedras do passado foram removidas do caminho dos israelitas – e Eliseu estava sentindo em seu espírito algo que lhe dizia que o seu passado seria removido, e seu futuro dali para diante seria muito diferente do que foi até então.
Mas estranhamente Elias lhe disse para ficar ali, porque o Senhor o estava enviando para Betel. Por que o profeta de Yaweh lhe disse assim?
Ora, sabendo que o Senhor estaria,dentro em breve, buscando Elias em um redemoinho para levá-lo ao Céu, Eliseu pensou: como poderei eu perder a chance de presenciar um espetáculo desses? Que bênção na vida de um homem! Que coisa magnífica! E eu tenho de me separar dele justamente agora? Não, e não mesmo! Eliseu sentia que por trás daquele acontecimento prestes a abalar a história – a história de Elias, de Eliseu e de Israel – algo muito bom iminentemente lhe adviria, mas ele não podia deixar de seguir Elias de perto.
Isto seria comparável a certos eventos que Deus prepara para lançar bênçãos e avivamento espiritual sobre a Terra. Eliseu respondeu firme a Elias:
“Tão certo como vive o Senhor, e como tu vives, não te deixarei”.
E assim foram ambos para Betel…
BETEL:
Termo hebraico que deu nome àquela localidade, situada a 19 quilômetros ao norte de Jerusalém, que significa “casa de Deus”. Foi o nome que Jacó deu àquela terra, onde ele, saindo de Berseba e indo a Harã (c. de 1.760 A.C.), sonhou e viu anjos subindo e descendo por uma escada que ligava a Terra com o Céu, e ouviu pela primeira vez a voz de Yaweh, e reconheceu que aquele lugar era a porta dos Céus.
Antes mesmo de Jacó, Abraão já estivera ali, onde armou suas tendas quando vinha de Harã, edificou um altar ao Senhor e invocou o nome do Senhor (Gênesis 12:8), lá pelos idos 1.920 A.C..
Betel então tem um significado muito importante para o início de uma caminhada de peregrinos que estão começando a receber revelações diretamente de Deus. Ali foi que Deus se manifestou aos patriarcas, e para lá que Elias foi, levando Eliseu ao seu lado. Elias logo seria levado a ser reunido aos seus santos ancestrais, mas Eliseu estava para iniciar uma nova etapa, uma nova vida, com uma nova unção, uma nova autoridade, uma realização de seu sonho, seu alvo principal da vida.
Ali mesmo foi que os demais discípulos dos profetas se encontraram com Elias e Eliseu, e disseram a este: –
– “Sabes que hoje o Senhor levará de ti o teu senhor?”
Esta pergunta veio como uma espetada de agulha em Eliseu. Isto talvez se devesse ao fato de aqueles estarem incomodados com o fato de Eliseu ter sido o escolhido para acompanhar sempre a Elias, um privilégio que muitos ambicionavam, mas não o puderam desfrutar daquela maneira tão ampla. Pareciam estar enciumados por isto, e, ao que tudo indica, anunciavam uma separação para preparar o espírito de Eliseu, a fim de que este se conformasse com isso. Eliseu, porém, estava com outras ideias, tinha outro propósito, estava impregnado dentro de outro espírito, e lhes respondeu:
– “Sim, eu sei, mas ficai calados”.
Foi quando Elias disse ao seu amado discípulo, seu fiel seguidor, que ele havia recebido uma direção de Deus para ir a Jericó, e que Eliseu poderia ficar aguardando ali em Betel.
Mais uma vez, Eliseu sentiu que não era hora para separação. Ele já havia chegado junto de Elias até ali, e não era agora que iria deixar de fazê-lo. Muito menos naquele momento tão precioso. Havia um vínculo espiritual entre Elias e Eliseu que não poderia ser desmanchado assim.
Interessante notar: O Senhor disse a Elias para ir a Jericó, mas nada falou expressamente a Eliseu. O que Eliseu deveria fazer, então, ficaria por conta dele mesmo? Do que achasse melhor fazer de sua vida? Não, porque o Espírito de Deus já propusera no coração de Eliseu que ele deveria prosseguir até o fim da jornada com Elias, até o instante do seu arrebatamento ao céu. Prosseguir naquela caminhada ao lado do profeta seu mestre até o fim, este era um ponto inegociável para Eliseu.
Elias não mais necessitaria dos préstimos de seu discípulo preferido, e, visto que era chegada a sua hora, sentiu que logo iriam separar-se, muito embora não desejasse deixá-lo sem que este fosse amplamente abençoado; eles já tinham estreitado um laço de amor e cumplicidade como de pai para com seu filho e vice-versa. Ele iria ser levado deste mundo, tinha chegado a ocasião própria para isto, e estava por manifestar-se a qualquer momento. Eliseu, porém, necessitava ardentemente ficar junto ao seu mestre, que o guiara com muito zelo e retidão até aquele instante, sentindo que algo de melhor e surpreendente estava para acontecer. Semelhantemente nós também devemos almejar estar junto a Jesus em todos os momentos de nossas vidas, até o fim. Jesus nos quer junto a Si, e temos que estar junto a Ele sempre, em todos os instantes de nossas vidas. Isto é inegociável.
Mas como Elias recebera a ordem de ir a Jericó, deixou Eliseu à vontade para este permanecer em Jericó, ao que Eliseu outra vez lhe responde:
– “Tão certo como vive o Senhor, e como tu vives, não te deixarei.”
JERICÓ:
Este foi aquele lugar, onde se localizava aquela cidade “tabu”, no sentido de maldição. A indestrutível cidadela, a fortaleza inexpugnável dos inimigos de Yaweh, que se impunha como uma rainha da região, a ostentar o orgulho de abrigar seus gigantes, e contar com um poderoso exército defensor. Era uma fortaleza de Satanás, e na época de Josué houve uma quebra daquele poder maligno, pois foi conquistada principalmente com a intervenção da mão de Deus, que depois de sete dias de cerco, derrubou-lhe as muralhas.
Quatrocentos anos depois de Josué, Hilel, nos dias do rei Acabe, a reconstruiu, sofrendo a perda de seus filhos mais velho e o mais novo, conforme foi profetizado por ocasião da conquista (Josué 6:26).
Ao passarem por ali, Elias e Eliseu olharam para aquelas paragens, e lembraram-se dos feitos maravilhosos do Senhor, e do cumprimento das Suas palavras sobre aquele lugar… Lembraram-se de que para seguirmos ao Senhor, temos que enfrentar muitos inimigos, pois quem é Seu amigo, é inimigo de Satanás e de seus emissários. Isto faz pensar que os servos de Deus têm suas lutas, seus desafios, e altos preços que têm que pagar – mas depois das pelejas, têm vitória garantida. Assim, Jericó era símbolo de conquistas impossíveis, da sucumbência das fortalezas do adversário, alcançadas pela intervenção poderosa da mão de Deus.
Olharam para a cidade, e para as redondezas, e louvaram a Deus mais uma vez pela Sua grandeza, Seu poder, e Sua fidelidade para com os Seus. Elias e Eliseu se entreolharam, e um certo gozo no seu espírito, vindo da parte do Senhor, lhes fez sorrir. Não precisaram palavras para explicar o porquê daquela alegria… e prosseguiram…
A expectativa do arrebatamento de Elias ia aumentando a cada momento… É como hoje, quando se espera pela volta do Senhor Jesus em glória, precedida pelo arrebatamento da Sua Igreja. Quando será? Não se sabe, mas sentimos que está cada vez mais próxima. Cumpre a nós, por enquanto, apenas louvá-lo, e incentivarmos uns aos outros a permanecermos firmes na fé, e desfrutarmos da alegria que o Espírito Santo nos oferece – e continuarmos nessa caminhada ao Seu lado.
Então Elias disse a seu amado discípulo que ficasse em Jericó, porque o Senhor o estava enviando na direção do rio Jordão.
Eliseu pensou… Rio Jordão? Não, não! Ele repetiu a mesma frase que vinha dizendo vez após vez:
– “Tão certo como vive o Senhor, e como tu vives, não te deixarei.
JORDÃO:
Lá foram os dois então para o rio Jordão… o mesmo rio que os pioneiros israelitas conquistadores da Terra Prometida tiveram de atravessar, por perto do ano 1.451 a.C. Naquela ocasião, eles viram as águas do rio tornarem para trás, deixando o leito nu, por onde puderam passar com toda a logística que carregavam: suprimentos, armas, tendas de acampamento, etc. Era um tempo de altas expectativas para o povo de Deus. Era tempo de realizações, guiados e acompanhados pelo Senhor Yaweh. Quando aquelas águas se abriram, isto só já foi um sinal de que coisas grandiosas estavam por acontecer, ao ponto de homens de Jericó desmaiarem de desânimo, medo de serem atingidos pela mão poderosa do Deus de Jacó.
Cinquenta dos discípulos dos profetas, cheios de curiosidade, foram atrás dos dois, seguindo-os à distância. O que será que irá acontecer? Eles também queriam ver Elias subir para o céu…
Quando Elias se achega à margem do rio, dobra a sua capa, e com esta compactada, bate nas águas. O clima de curiosidade era imenso entre aqueles cinquenta. Eles assistiam a tudo, esticando seus pescoços para verem melhor, devido à distância…
Eliseu, já acostumado com coisas maravilhosas acontecendo durante o ministério de Elias, já previa que algo maravilhoso estava prestes a despontar ali.
As águas, tal como naquele dia de Josué, abriu-se, voltando para trás o curso do rio. Os dois passaram, aproveitando aquela bênção que somente o Senhor poderia lhes proporcionar. Logo que passaram, porém, as águas se fecharam, e os cinquenta discípulos, que guardavam distância dos dois, ficaram do lado oeste, enquanto Elias e Eliseu continuaram sua caminhada do lado leste do rio. Eis aí porque não devemos seguir ao Senhor Jesus à distância… Ele faz coisas incríveis, e se não estivermos bem perto dele, podemos deixar de usufruir de alguma alegria, e de compartilhar das melhores coisas do Seu Reino.
As águas partidas, em si, já foram algo para maravilhar os olhos e os corações de quem pôde contemplar tal portento, mas mais do que isto, foram um prenúncio de que algo de bom estava por acontecer para Elias e Eliseu, tal e qual estivera para os israelitas liderados por Josué. Eliseu estava muito feliz com o que vira até então, quase ao ponto de esfregar as mãos, cheio de expectativas.
ALÉM DO JORDÃO:
Elias, vendo que a perseverança de Eliseu não desistia de segui-lo por onde quer que fosse, amando o seu discípulo fiel, sentiu no seu espírito uma abertura feita no espaço, por onde estava para acontecer coisas ainda mais assombrosas também para seu discípulo, fiel seguidor, e que era hora de conceder-lhe o que este mais queria na vida; e foi aí quando lhe fez a seguinte proposta:
-“Pede-me o que queres que te faça, antes que seja tomado de ti”. Foi o mesmo desafio que Jesus cordialmente lançou ao cego que queria ver (Lucas 18:41), um convite a crer… e uma formidável oportunidade de receber!
Eliseu não vacilou. Ele bem sabia o que mais queria, qual o seu grande alvo, qual a grande bênção que desejava receber das mãos do Senhor Yaweh, e assim respondeu:
– “Peço-te porção dobrada de teu espírito.”
Cabe aqui uma observação, a título de esclarecimento: as porções dobradas eram as partes mais polpudas da herança que os pais deixavam para seus filhos ao partirem; geralmente dedicadas a filhos que eram preferidos, e estas eram, via de regra, destinadas aos filhos primogênitos, mas podiam ser desviadas para algum outro descendente. Assim foi o caso de Jacó e Esaú (Gênesis 25:27-34; 27:25-29), bem como as mais excelentes bênçãos espirituais e materiais foram as que Jacó estendeu a seu filho Judá, e a José.(Gênesis 49:8-12 e 22-26).
Por conseguinte, deduz-se que Eliseu não estava pretendendo ser melhor ou maior do que Elias, mas sim, que a porção do Espírito do Senhor que veio sobre seu mestre lhe deixe uma bênção diferenciada, especial, semelhante à de Elias, pois era isto o que ele mais ambicionava. Ele não ficaria feliz apenas com a mesma porção que veio sobre outros discípulos dos profetas. Não por se julgar melhor que os demais, mas por querer preencher o vazio vocacional que ficara em seu coração, de forma a ansiar por ser alcançado com uma constante plenitude do Espírito de Deus. Uma vez que Elias estava para deixar este mundo, uma lacuna ficaria aberta, a de um profeta diferenciado, que colocava coisas difíceis em ordem diante de Deus e do povo – e o contexto histórico que Israel vivia naqueles dias ainda deixaria este espaço vazio, necessitando ser preenchido; e Eliseu era aquele candidato que mais ansiava por preenchê-lo.
Seria algo fácil de acontecer? Não. Elias mesmo o reconheceu. Aquele desejo não era para ser satisfeito a qualquer um que o quisesse, mas Eliseu estava ali, ao seu lado, como prova de que as fases mais difíceis do seu aprendizado tinham sido vencidas pelo discípulo até então. Mas isso também não era tudo. Havia mais um teste a ser feito, para que Eliseu o enfrentasse, e fosse aprovado.
Elias lhe responde: –
– “Dura coisa pediste…” – o que queria dizer que o grau de dificuldade para se receber tal porção do céu era dos mais altos. Aquilo era algo que exigiria muito da vida do aluno que o pretendesse, e, além disso, somente Deus é quem poderia avaliar o coração e o espírito de abnegação exigido do discípulo que ora se candidatava a tanto. Elias então acrescenta:
– “… Entretanto, se me vires quando eu for levado de ti, assim se te fará, porém, se não me vires, não se fará”.
Isto pode ser interpretado de duas maneiras. Dois modos de analisar os fatores que envolviam aquele momento cheio de expectativas, não excludentes entre ambos.
Primeiramente, esta foi a forma que Deus escolheu para lapidar, e melhorar ainda mais o ânimo, a tenacidade da alma de Eliseu, mostrando-lhe que a sua caminhada sempre lhe trará novas provas e desafios, e que, para ser o bendito sucessor do profeta Elias, havia que haver uma vontade inquebrantável de prosseguir sempre avante no caminho do Senhor que lhe estaria proposto, quer este fosse fácil ou difícil – pois assim são os caminhos, não têm outro perfil. Eles estavam caminhando, depois do Jordão, onde existiam lugares ermos, e desérticos, onde é freqüente o calor produzir sensação de desgaste físico acentuado. Era preciso ter extrema resistência para prosseguir. Por várias e várias horas, será que V. o conseguiria? É preciso uma perseverança indissolúvel no coração de quem quer alcançar as maiores bênçãos na senda do Senhor. Não se deve esmorecer, e muito menos desistir diante das dificuldades. As coisas de Deus são assim, e, quem quiser, que se habilite, não há meios termos nesta proposta de jornada.
Um segundo modo de se ver esta exigência, é o teste da prontidão espiritual. Até onde vai a nossa disposição de espírito quando chegar o lance imprevisto? Estaremos de fato prontos e argutos, sempre procurando ter os olhos fixos no Senhor? Estaremos orando em todo o tempo, já que os dias são maus? É deste modo que a visão celestial estará a nos socorrer quando chegar a precisa hora. Não importa tanto se fizemos até aqui dezenas e dezenas de jejuns, vigílias, renúncias, buscando a vontade de Deus em nossas vidas; mas muito mais importante é o quanto nos disporemos a fazer o que for exigido para chegarmos a receber a visão celestial, a mente de Cristo, que tudo discerne, e não é confundida.
E este último quesito também não é dado a quem se julga perfeito, acha-se irrepreensível nos seus caminhos, um excelente praticante de boas obras, sem que haja um quebrantamento em algum ponto crítico de sua vida. O apóstolo Paulo, mesmo depois de perseguir a Igreja do Senhor Jesus ao ponto de partilhar da execução de Estêvão, recebeu a visão do Senhor na estrada de Damasco, mas somente depois de, exaurido, sentir que seus esforços eram vãos, e converter-se é que então pôde dizer que “não foi desobediente à visão celestial (Atos 26:19) ”.
Vale lembrar que este caso de Elias, ao que tudo indica, seria diferente do arrebatamento de Enoque, que a Bíblia enfatiza que “andou com Deus até que não foi mais visto, porque Deus o havia tomado” (Gênesis 5:24) – o que nos diz que ninguém o viu quando foi trasladado.
Lá iam eles a sós, mas vigiados por anjos, naquela rota para alcançarem o impossível para os homens. O caminho era cansativo, mas eles iam orando, louvando a Deus, e conversando, testemunhando das coisas do Senhor. Elias tinha muito o que contar, pois sua vida fora repleta de experiências as mais deslumbrantes e maravilhosas com Deus. Eliseu o ouvia, mas não passivamente. A cada narrativa de sinais e prodígios que ele ouvia, seu coração exultava, e ele não era capaz de esconder o júbilo que tomava conta de seu coração.
Elias ia naquela fé inabalável, totalmente seguro de que o Senhor, a qualquer momento, viria para buscá-lo. Era só questão de tempo, mas ele sabia que esse tempo estaria bem próximo. Não sabia quando, mas com toda certeza, breve chegaria. Sua última missão, agora, era apenas dar forças morais e espirituais para que Eliseu estivesse bem despertado para aquela hora, e por isso fazia os seus discursos, ora em monólogo, ora em diálogo, mas sempre vibrando de alegria, porque o que estava para acontecer com ele era algo digno de ser notado. E Eliseu ia ouvindo-o, absorvendo aquelas palavras, e respirando o clima do Espírito de Deus, que estava atenuando-lhe a caminhada, aplacando a sequidão daquele ambiente do semiárido da Transjordânia.
Que cada geração fiel a Deus esteja disposta e com bastante alegria, preparando os corações dos seus seguidores, representantes da geração seguinte, a fim de que estes recebam a visão espiritual que está para se manifestar do céu, durante o trilhar da senda do Senhor.
Era então chegada a hora… tudo parecia indo muito bem, aquela caminhada parecia um culto de louvor a Deus, com pequeno número de pessoas, mas por sinal, muito abençoado, talvez como alguns poucos que já tinham presenciado e participado. Que bênção! Fazia tempo que não sentiam algo assim em seus espíritos… boas novas à vista!
Quando menos Eliseu esperava, então o impossível aconteceu, com uma rapidez impensável.
Um carro de fogo, como daqueles de guerra, puxado por cavalos de fogo, passou entre os dois. A rapidez disso foi muito grande, mas Deus permitiu que Eliseu o pudesse contemplar com os seus olhos. Eliseu viu que Elias se separou dele, mas não sumiu de repente. Elias foi envolvido dentro de um redemoinho, que o puxava para cima, e assim foi subindo, até desaparecer por completo.
O que Eliseu viu marcou muito a sua mente e o seu coração. Foi algo marcante para o resto de sua vida. V. já imaginou se lá estivesse e presenciasse aquela cena?
Foi algo tão maravilhoso, que Eliseu não pôde se conter. Seu mestre profeta se foi, mas não era caso para lamentar, e sim, para exultar, e foi o que ele fez. Ele exclamou:
– “Meu pai, meu pai! O carro de Israel e seus cavaleiros!” – Imagino os pulos de alegria que Eliseu estava impulsionado a dar…
Foi de fato uma maravilha. Nunca alguém tinha visto algo assim, e Eliseu o viu, e por isso é que hoje podemos ler sobre este acontecido, porque ele nos repassou a bênção através dessas página da Bíblia.
Elias então se foi, conforme estava profetizado, mas isto não significou o fim para Eliseu – pelo contrário, foi o marco do começo de uma nova estação em sua vida de profeta.
Elias se foi, mas deixou cair a sua capa ao chão. Isto foi proposital, uma deixa de Deus para Eliseu, que, de alegria, rasga então suas próprias vestes, e toma-a para si, desta vez definitivamente. Aquela capa não poderia ficar ali, pois era algo que Deus concedera de Elias para Eliseu, e mais do que a capa, era a porção dobrada do espírito de profecia que este passou a levar sobre seus ombros, e isto logo foi comprovado…
Ao chegar de volta ao rio Jordão, no mesmo ponto em que os discípulos dos profetas ficaram à margem, estes viram a ascensão de um novo profeta com os seus próprios olhos.
Eliseu clama, do outro lado: – “Onde está Yaweh, o Deus de Elias?” – e bateu com aquela mesma capa nas águas, e estas novamente se abriram. Que dia, foi aquele! Por duas vezes o rio Jordão tornou suas águas para trás, e abriu-se a passagem para Eliseu passar.
Era indiscutível! A mesma unção profética que repousava sobre o espírito de Elias, estava agora sobre Eliseu. Interessante notar: daí então, e somente então, os discípulos dos profetas se aproximaram dele e se inclinaram com o rosto em terra, como se Eliseu passasse a ser santo daquele momento em diante, como se antes não fosse, e como se os demais ali também não eram… assim são os homens, porque não veem as coisas pelo prisma do Espírito de Deus, limitados pela visão do material.
O fato é que depois disso, Eliseu foi muito usado por Deus para produzir milagres, uns após outros, os mais incríveis. Aquele momento do arrebatamento de Elias apenas selou para sempre um dom maravilhoso de Deus em sua vida, o que veio a consolidar e aperfeiçoar nos anos seguintes os feitos de Yaweh veiculados através de Elias em Israel, purificando águas, multiplicando pães, abençoando exércitos, ressuscitando mortos, restaurando alimentos, curando a lepra de Naamã, fazendo um machado flutuar, entre outros que fez.
O que de mais importante vemos neste capítulo da Bíblia é o exemplo clássico daquilo que Deus faz. Todos, até os seguidores da escola de profetas, duvidavam que Eliseu teria um ministério diferenciado dos demais. Eles viam apenas a “pedra bruta”, o material rústico, sem brilho, apagado, que o tempo presente lhes mostrava, mas o Senhor não vê assim, Jesus nos olha como se já fôssemos um grande, brilhante e lindo diamante lapidado.
O Senhor chamou a Abraão, Isaque e Jacó quando estes ainda eram mentirosos, escondendo coisas importantes de suas vidas, e fez-lhes promessas, e os transformou em Patriarcas e herdeiros das maiores bênçãos celestiais. Ele não os via assim, porque a visão de Deus enxerga além do tempo presente.
O Senhor chamou a Moisés quando este, depois de cometer um assassinato, escondia-se no deserto com seu sogro, mulher e filhos. O Senhor apenas esperou o tempo certo para trabalhar na matéria bruta que o Seu futuro profeta tinha e podia apresentar em cada hora, para ser trabalhado e aperfeiçoado.
Quando Jesus chamou a Tiago, Pedro e João, estes eram apenas pescadores, homens iletrados, pessoas a quem não se dava muito valor, mas deles fez seus discípulos, apóstolos e mártires da Igreja, verdadeiros baluartes do evangelho.
Quando Jesus chamou a Saulo de Tarso, este era um fariseu de fariseu, servo do sumo sacerdote, excessivamente zeloso da Lei, perseguidor da igreja de Cristo, e fez dele um apóstolo e mártir para ser luz aos gentios, e um grande defensor da graça de Deus dispensada a todos. Assim via Jesus, não a um Saulo, mas a um Paulo, um dos mais profundos escritores de livros da Bíblia, alguém que não se deixava intimidar, mesmo se tivesse que sofrer por amor a Cristo.
Jesus também chamou a Levi quando este ainda estava assentado no banco da Coletoria de impostos, e o tornou seu discípulo, apóstolo e mártir, o escritor do primeiro livro que se vê quando abrimos o Novo Testamento.
Da mesma maneira foi que Jesus chamou a um discípulo, Simão, o zelote, pertencente a uma seita dada a atos de terror, para ser discípulo, apóstolo e mártir.
Jesus também não vacilou em chamar a Tomé, mesmo sabendo de seu ceticismo capaz de duvidar de coisas espirituais, até o ponto em que chegou, de duvidar da Sua ressurreição.
Não devemos duvidar do chamamento de Deus para cada um de nós, mas como Eliseu, temos que ser zelosos para não perdermos o foco principal, e extremamente perseverantes, até o fim.
Category 2º LIVRO DOS REIS, BÍBLIA, LIVROS HISTÓRICOS DO AT | Tags: Betel, Caminho, carro de fogo, cavalo de fogo, Deserto, discípulo, Elias, Eliseu, Gilgal, Jericó, Jordão, Profeta, surpresa
Comentarios desactivados en II REIS – III – NÃO DESVIE O FOCO DO ALVO
Sorry, comments are closed.