RSS Feed

II SAMUEL – XV – CORAÇÕES QUE CORTAM CORAÇÕES

Comentarios desactivados en II SAMUEL – XV – CORAÇÕES QUE CORTAM CORAÇÕES

agosto 24, 2016 by Bortolato

“Isto acontece nas melhores famílias de Londres”, “Isto acontece  até nas famílias reais”, são ditados que comumente se ouve.   O fato é que nas famílias reais é que se afloram com mais facilidade muitas tentações, tais como: cobiça por maior poder, ou por riquezas, ou por posições mais privilegiadas na hierarquia dos reinos.  Não rara eram as cobiças pela coroa.

A vida e o reinado de Herodes, o grande (73 AC. a 4 DC.), o  idumeu, por exemplo, deixou um rastro de sangue que passou por sua própria família em Israel, pois que por suas ordens foram executados sua esposa Mariana e também alguns filhos.   O reinado de Henrique VIII, da Inglaterra, também nos deixa marcas de profundas disputas com finais trágicos dentro do reino e da sua família.   As disputas pela coroa de regente do império de Roma também foram constantes, seguidas de várias traições, perseguições, e tragédias.

Tudo indica que onde existem poderes políticos neste mundo, ali haverá disputas e contendas.   Assim são os homens, infelizmente.

Depois de uma perseguição paranoica de Saul contra Davi, este último restou incólume, pelas graças e a misericórdia do Senhor Deus de Israel, e acabou sendo ungido e coroado rei em lugar do seu perseguidor.

Tendo o Senhor colocado a Davi sobre o trono do reino de Seu povo, este foi, por bom tempo, um rei exemplar, que, sob alguns aspectos vitorianos, pôde ser um tipo do grande Rei dos Reis, o próprio Messias, que está prometido para reinar sobre toda esta Terra, nos últimos tempos.   Seu trono era muito respeitado, e benquisto de todo o seu povo.   Sua autoridade era inconteste.    Suas vitórias eram festivamente comemoradas pelo povo de Jerusalém, e muitas cidades de Israel.  A unção divina sobre Davi era algo realmente abençoado, que estendia as bênçãos para toda a terra onde se cultuava o único Deus Vivo.

Os sofrimentos do rei Davi, por outro lado, desde a época em que fugia da face de Saul, prefiguravam os sofrimentos do Messias, como podemos notar no Salmo 22, e em partes de outros salmos.

O trecho bíblico de II Samuel, capítulos 15 a 18, no entanto, fala de outros sofrimentos por que passou Davi – mas desta vez, por consequência de seu pecado de adultério com Bate Seba e da responsabilidade pela morte de seu fiel combatente Urias.

Como se poderia julgar ao coração de um pai que, depois de uma vida de excelente comunhão com Deus, depois de dar constantes demonstrações de fé e coragem para defender o seu povo das mãos dos inimigos, mas em um certo momento errou, e deu mau exemplo para seus filhos e servos?   Este era o rei Davi.    Mereceria ele ter sido deposto do trono, e dado o seu status a um usurpador?

Se considerarmos a rigidez de Deus, não permitindo a Moisés entrar na Terra Prometida só por haver deixado manifestar  uma fraqueza em seu estado de espírito, de modo que feriu a rocha com ira no seu coração,  o pecado de Davi não teria sido muito mais grave?   Contudo, Davi foi privilegiado por um grande presente denominado de COMPAIXÃO de Deus, pois em caso contrário, teria sido morto sem direito a apelação.

Tendo Absalão voltado a morar em Jerusalém após haver sido o principal protagonista da morte de Amnon, o primogênito de Davi, ficou dois anos sem poder ver a face do rei, seu pai.   Por um ato de compaixão ao coração de Davi, Joabe foi buscá-lo no exílio da terra de Gesur, mas sem poder ter acesso à presença do rei.   Esta parecia ter sido a sentença tácita que ele recebeu por seu ato vil,  que assombrou e  entristeceu a toda a família real, mas ele não se deu por satisfeito com isso.   Pediu a Joabe que queria ver ao rei, em uma audiência, ao que negou-se o general de Israel, ignorando-o. Isto não ficou assim.   Absalão insistiu até de forma acintosa, mandando incendiarem ao campo de cevada cultivado pelo gran general de Israel – até que conseguiu obter a intercessão deste e alcançar o seu alvo.

Absalão viu novamente a Davi, ajoelhou-se e prostrou-se ao chão.   Davi, com seu coração de pai, ao vê-lo aparentemente tão humilde, vai até ele, e beija-o.   Era o que aquele filho estava querendo.   Algo que mostrasse ao público presente que ele não era mais um condenado pelo rei, e que perdera o prestígio de príncipe, mesmo sendo o filho mais velho que restara vivo.   Que ele já podia considerar-se perdoado incondicionalmente, e que tudo estaria então voltando à normalidade.

O peito de Absalão então passou a respirar mais satisfeito.    Não era mais um procurado, não fora sentenciado, e não era mais aquele alguém que caíra das graças do rei.   Ele passou a sentir-se como o filho que, segundo os costumes regionais, das nações do Médio Oriente da época, o mais quotado para herdar o trono de seu pai.

Um pequeno problema, porém, lhe alçava uma dúvida:   será que Davi lhe concederia herdar a coroa um dia, mesmo sabendo dos pecados que Absalão cometera?   Nada lhe prometeu Davi, e esta foi uma questão que ficou em suspenso todos aqueles dias.   Nenhuma definição.   Nenhuma promessa do rei, seu pai.   Nenhum indício de que Davi estaria lhe dando alguma preferência.  Davi era alguém muito ligado às coisas de Deus, e a Lei do Senhor havia sido transgredida brutalmente por Absalão.   Isto provavelmente seria levado em conta, no momento do repartir as heranças.   As mínimas coisas do dia a dia lhe diziam que ele poderia ser preterido, no momento aprazível, na hora “H”, e ficar a ver navios, chupando o seu dedo.

O coração de Absalão, nutrindo uma inquieta pretensão, não aceitava esta situação.

Absalão, porém, não quis esperar e pagar para ver como as coisas ficariam no futuro.   Ele já veio de Gesur com vistas ao trono, e não iria deixar de trabalhar para isto.   Não, ele não se conformaria em ver algum de seus irmãos tomar o lugar que julgava ser seu por direito.   Ele era o mais velho que estava vivo, e ponto.   Sem mais discussão.   Se o rei não compartilhava do mesmo ponto de vista que o seu, então…  ele passaria a agir por conta própria, furtivamente.

Os dias foram passando, e Absalão passou a imaginar um plano que o levaria a ocupar a coroa de Israel, mesmo estando seu pai ainda vivo e atuante no reino.    Demandaria paciência, mas de acordo com seus cálculos, era algo que poderia vingar, e dar-lhe o que tanto queria.

Absalão contava então com boa quantidade de cavaleiros e carros em suas mãos.   Além disso, para onde quer que fosse, era acompanhado por uma comitiva de segurança de cinquenta guardas.   Aonde quer que fosse, ele sempre ostentava uma pose pomposa de príncipe de Israel.

Para ser um rei, porém, ele sabia que precisaria de bons conselheiros.    Conhecendo a terrível desilusão que o mais experiente conselheiro de Davi sofrera com a morte de Urias e o adultério com Bate Seba, sua neta, foi-se aproximando de Aitofel.

Aitofel era possuidor de uma perspicácia muito grande, em se tratando de estratégias de guerra, ou mesmo de casos jurídicos de difícil solução.  Seu senso de justiça clamava por dentro de si que Davi não fizera justiça, no caso de sua família.  Ele estava muito insatisfeito com aquele ato infame que Davi concebeu e o realizou, além de o rei tentar fazer passar aquilo às ocultas diante do povo,  sem o conseguir.   Ele era talvez o conselheiro tido como o mais sábio daquela corte, ao ponto de sua palavra ser considerada pelos demais como lei, mesmo antes de Davi homologá-la.   Mas ele guardava o crime contra Urias como uma grande mágoa em seu coração.    Deus havia perdoado a Davi, mas ele, Aitofel, não.    Aquele incidente infeliz partiu-lhe o coração, abrindo um mau precedente que, como um espaço vazio a ser preenchido em sua mente, com isso  Aitofel destilava pensamentos que, dia após dia, o levaram  a convencer-se de que o seu rei não era um homem digno de ocupar o trono.   Mas quem o seria?

Esta era a brecha que Absalão estava querendo encontrar.   Ele precisava de formar uma corte que lhe fosse fiel, e Aitofel lhe parecia ser o perfeito candidato a ocupar o futuro cargo de seu conselheiro.

O que Absalão considerava como principal fator com o qual deveria trabalhar para tê-lo em mãos era a simpatia, a reverência e a preferência do povo.   Ele começou a operar de forma a conquistar o coração do povo de Israel,  junto  aos cidadãos de Jerusalém e arredores, alguns dos quais tinham lá suas ligações políticas junto à corte.    Até com os de Judá, mesmo com os mais próximos a Davi.   Os judeus não aceitariam outro rei senão o rei, seu pai, exceto em condições excepcionais.   Se ele conseguisse convencer a todos que Davi estava ficando velho, e portanto, mais ineficiente no governo do país, o que resultava em injustiças e sofrimentos para todos, ele poderia tentar usurpar a confiança do povo, de todos que iam passando por aquele portal da cidade de Jerusalém.

Os olhos de Absalão voltam-se então para o povo que vinha de fora para Jerusalém, a fim de poderem ser atendidos em alguma causa que julgavam ser justa.   Nas querelas jurídicas, há sempre um ganhador, e um perdedor.   E os perdedores pareciam nunca se conformar com uma sucumbência nas sentenças que definiam as suas causas.

Absalão então postava-se à entrada da porta do palácio real, e ficava, com aquela pompa de príncipe, bem vestido, cercado de guardas armados e de boa aparência, fornecendo a imagem de que ele era alguém muito importante no reino, e que certamente teria informações importantes para orientar aos interessados que vinham em busca de justiça perante o rei.

Os que tinham alguma causa, logo o interpelavam, pensando em obter acesso à presença do rei Davi.   Absalão então os enganava, dizendo que todas as causas, ainda que as mais justas, não tinham condições de ser ouvidas, porque havia muita negligência dentro da corte real, e que ele bem desejava poder atendê-los, mas para isto só poderia haver um caminho:  ele sugeria que precisava ser revestido da autoridade de um rei, e lamentava ser “apenas um mero príncipe” do reino.

Alguns ficavam muito decepcionados com a resposta, mas agradeciam, e em reverência, prostravam-se diante dele.   Absalão então beijava-lhes a mão.   Vez após vez, isto acontecia, e desta maneira ele foi manipulando a opinião de dez tribos de Israel, inclusive dos líderes destas.

O tempo foi-se passando assim.   Davi nem suspeitava daquilo que Absalão fazia, e ao que tudo indica, os seus súditos não lhe passaram esta mensagem como algo suspeito ou perigoso.  Logicamente, Absalão não faria isso com os mais fieis súditos do rei Davi, pois se o fizesse, estaria se autodelatando.   Quanto aos demais, ora, era o príncipe Absalão, o maior candidato a herdar o reino…   Se ele era o herdeiro, não teria motivos para ambicionar usurpar a coroa de Israel, assim pensavam os que assistiam impassíveis àquelas cenas.   Isto, por quatro anos…   Se alguém chegou a entender o que estava ocorrendo e insinuar levemente o fato aos ouvidos do rei, deve tê-lo feito com tal sutileza, que Davi não captou a importância daquilo.    Como um marido traído, o rei foi o último a tomar real conhecimento de tudo – e da pior maneira.

Após esse período, Absalão começou a avaliar a situação do reino, e verificou que teria a seu favor várias pessoas que poderiam ser-lhe muito úteis para concretizar o seu alvo de subida ao trono:   Aitofel, o conselheiro de maior conceito na corte, e Amasa, um primo seu que pouca importância se lhe dava até então, mas com boa capacidade de liderança militar; além de algumas centenas e milhares de homens de Israel que poderiam empunhar uma espada, compondo um exército paralelo dentro da mesma nação.

Tudo parecia correr de acordo com as articulações de Absalão, e pelas costas de Davi.   Estava chegando a hora que ele tanto estava esperando…  para irromper uma revolta, e cortar o coração de Davi, seu pai, que muito o amava.

O coração inquieto de Absalão não se importava com os corações de seu pai, e nem de seus irmãos.   Ele deu maior importância ao poder em suas mãos do que para o amor de sua família e de seu clã.   O final dessa história não foi feliz.  Tudo isso poderia ter sido tão diferente…

Infelizmente, esta é uma realidade para muitas famílias:  “O filho insensato é tristeza para seu pai e amargura para quem o deu à luz.”  (Provérbios 17:25)

Anos mais tarde, um irmão de Absalão, que jamais pensaria em ser um usurpador, recebeu das próprias mãos de Davi a coroa sobre a sua cabeça, no seu devido tempo.   Salomão era o seu nome, o qual escreveu as seguintes palavras, dirigidas a filhos seus:

“Meu filho, atenta para as minhas palavras; inclina os ouvidos às minhas instruções…”

“Acima de tudo o que se deve guardar, guarda o teu coração, porque dele procedem as fontes da vida.”   (Provérbios 4:20, 23)

O coração é o íntimo, a alma, o profundo do ser, onde se abrigam todos os desejos do ser, mesmo aqueles que jamais foram expressos claramente.

Dentro de um coração, podemos alojar boas coisas, e más também.   Frutos do pecado, ou fruto do Espírito Santo.   Tudo depende do nosso poder de decisão propender para este ou para aquele lado.   O que desejamos nutrir em nossos corações, afinal?   Que se saiba, entretanto, que todo o mal que não for banido da alma, brotará, e lançará raízes de amargura, ali dentro – e o seu fruto é muito danoso.

Se quisermos ceder ao mal, colheremos o fruto que lhe é próprio.  Nas palavras de Paulo, o apóstolo dos gentios, não temos sabedoria suficiente para evitarmos o mal:

“Porque eu seu que em mim, isto é, na minha carne, não habita bem algum; pois o querer o bem está em mim, mas não o realizá-lo”  (Romanos 7:18).

Se de fato quisermos plantar somente coisas boas dentro de nossos corações, o Senhor nos recompensará.  Mas como mudar diametralmente os pensamentos que assaltam e enganam nossas almas?   Queremos o bem, mas nossa natureza humana nos arrasta para o mal.  Como vencer esta luta?

Isto é uma lição de vida.

Certo é que se confessarmos nossos pecados, Ele, o Senhor, é fiel e justo para nos perdoar, e nos purificar de toda injustiça.

Jesus é aquele que pode limpar todo o nosso coração.   Ele derramou Seu próprio sangue na cruz para que tenhamos esta maravilhosa opção.   Ele nos limpa, lava, e depois enche-nos com o Seu Santo Espírito, trocando o nosso coração perverso por um novo coração, este agradável aos olhos de Deus.

Precisamos, no entanto, saber identificar as raízes do mal dentro de nós mesmos, e colaborarmos com Jesus para que seja bem sucedida a operação que as desarraiga do mais profundo do nosso ser.

“Cria em mim, ó Deus, um coração puro, e renova em mim um espírito disposto a te agradar em todas as coisas”, diria uma versão muito bem colocada da oração de Davi, no Salmo 51:10.

Que a façamos também, abrindo-Lhe os nossos corações.


Comentarios desactivados en II SAMUEL – XV – CORAÇÕES QUE CORTAM CORAÇÕES

Sorry, comments are closed.

Asesorado por:
Asesoramiento Web

Comentarios recientes

    Archivos