GÊNESIS – XV
Comentarios desactivados en GÊNESIS – XVnoviembre 27, 2013 by Bortolato
Gênesis 29 – 30 – CASAMENTOS, FILHOS E PROSPERIDADE EM MEIO A DISPUTAS
O engano, a fraude, o dolo e a simulação são palavras que revelam segundas intenções , atitudes mesquinhas de uma mente mal orientada. As palavras de Deus são sempre verdadeiras, e a mentira é a ferramenta de Satanás. Para sermos abençoados por Deus, precisamos também de sermos verdadeiros uns para com os outros. Jacó teve que aprender isso em Padã Harã, junto à casa de Labão, pai de Léia e de Raquel, com lições da vida prática. Essas lições surgem em nossas vidas para que reflitamos a respeito. Assim como não queremos ser enganados, também não devemos ser enganadores.
Jacó chegou a Padã Harã, e logo pôde encontrar-se com a mulher que encantou os seus sonhos, Raquel, filha de Labão, que como pastora trouxe o rebanho de ovelhas de seu pai para beberem junto a um poço. Jacó retira a pedra do poço, e dá de beber ao rebanho trazido por Raquel. Ele se identifica como seu primo, seu parente e esta logo vai dizê-lo a seu pai.
Acolhido em casa de Labão com hospitalidade, Jacó passa a trabalhar para este e, após um mês lá permanecendo, seu tio pede-lhe que apresente suas pretensões salariais. Jacó não se acanha para pedir a mão de Raquel, a filha mais nova de Labão, e oferece seus serviços por sete anos para obtê-la – o que logo foi aceito e visto com bons olhos pelo pai da moça.
Raquel era uma jovem linda, tanto de semblante como de boa presença à vista. Sua irmã Léia se destacava por seu olhos, muito graciosos, mas Jacó queria somente a Raquel.
Ao cumprirem-se os sete anos de serviço para Labão, Jacó logo pediu que Raquel lhe fosse dada em casamento. É preparada uma festa, numa noite, mas pela manhã, Jacó percebe que casou-se com Léia, por manobra de seu sogro, mas o casamento já estava consumado.
Este ato demonstrou várias facetas da vida e da cultura oriental da época. Em resumo, mostra-nos quanto a mulher era usada como moeda de troca, e depreciada perante a sociedade.
O pai das jovens, ambicionando reter a Jacó como seu servo por mais tempo, fez uso de suas duas filhas para alcançar seu objetivo – com engano, enganando ao próprio sobrinho, manipulando suas filhas e tratando-as como se estas fossem suas escravas.
Imaginamos Léia, a sua filha mais velha, recebendo instruções e ordens para apresentar-se no lugar de Raquel, a escolhida de Jacó, certamente que com o rosto meio encoberto durante a cerimônia que, por ter sido realizada no período da noite, confundiu a Jacó. Depois da festa, no final da noite, terminado o banquete, ainda vão ambos para dentro de sua tenda de casados, e ali mantêm relações íntimas. Se Léia tinha sua queda por Jacó, esta também agiu dolosamente, em conluio com seu pai, roubando a oportunidade de sua irmã, e forçando Jacó a aceitá-la como sua esposa.
A atitude de Léia, porém, custou-lhe uma vida toda tendo de suportar o fardo de ser a esposa preterida de seu marido, e ter de aceitar que ela, por mais que lutasse par receber atenção deste, não conseguiu mudar o coração de Jacó, por mais que tentasse atraí-lo para si. Não fosse pela numerosa prole, seu casamento lhe teria sido um fracasso e uma frustração. Deus, porém, nas Suas grandiosas misericórdias, ainda lhe deu algumas compensações par alegrar a sua vida, pois uma esposa que gerasse filhos era mais valorizada do que uma estéril, perante a sociedade.
Raquel, por sua vez, deve ter-se sentido traída por seu próprio pai e por sua irmã. Teve que amargar uma semana de frustração, esperando pelo seu amor retido, enquanto Jacó e Léia desfrutavam de alguns dias de núpcias. Ao ver que tinha de ser substituída por sua irmã, passou por dias de incertezas sobre seu futuro. Muito embora a poligamia fosse algo comum à cultura autóctone, as marcas deixadas como consequência, eram inevitáveis. Teve de forçosamente engolir uma situação de disputas e até de rixas com sua irmã pelo resto de sua vida, o que se lhe tornou uma pedra de tropeço no relacionamento entre ambas – e com isso, novamente, no caminho de Jacó, uma família desunida pela concorrência entre irmãos, pela preferência demonstrada a uns em prejuízo de outros.
O fato é que Jacó passou a mostrar mais amor por Raquel do que para com Léia, e isso fazia muita diferença até para os filhos que foram nascendo. Não há dúvida de que alguns filhos acabam se revelando como mais queridos e agradáveis do que outros, na convivência normal que se tem dentro das famílias, contudo, essas diferenças de tratamento precisam ser corrigidas, a fim de não se criar climas de descontentamento entre irmãos.
Um outro detalhe que aponta para a desvalorização da mulher era o fato de que era geralmente aceito que uma escrava de sua senhora viesse a manter relações sexuais com o marido desta, como que alugando-lhe o ventre para gerar filhos em seu nome. Tanto isto era aceito, que já vimos o caso entre Abraão, Sara e Hagar. Agora era Jacó e Bilha, escrava de Raquel, e Zilpa, escrava de Léia. Notar que as escravas não tinham escolha, sendo completamente submissas às ordens de suas senhoras. Tinham de relacionar-se com os seus senhores, até que gerassem filhos.
Capítulo 30 –
Vale frisar que Bilha não teve somente um filho de Jacó, o que significa que Jacó deve ter gostado desse jogo, ao tê-la por concubina. Isso aconteceu depois que Léia já havia dado quatro filhos a Jacó: Ruben, Simeão, Levi e Judá. Raquel sentiu-se com inveja de sua irmã, e a fim de que ela pudesse dizer (simplesmente!) a todos que os filhos de Bilha eram seus! E pedir a Jacó que mantivesse certo relacionamento com a sua escrava. Esta era, realmente, uma sociedade com costumes muito diferentes da ocidental nos dias atuais.
Bilha deu dois filhos a Jacó: Dã e Naftali.
Vendo Léia que havia cessado de gestar filhos, esta tomou sua serva Zilpa e trouxe-a para que esta, a exemplo da serva de Raquel, também passasse a ser-lhe por mulher, a fim de gerar mais filhos, além dos que Jacó já havia gerado. Nítida disputa dentro de uma família. Aquela serva de Léia acrescentou mais dois filhos a Jacó: Gade e Aser.
Vemos então, assim, de quantas práticas se valiam as mulheres para galgar uma posição de preferência junto a seus maridos. Não nos cabe julgar sua moral ou seus escrúpulos, mas entendemos que esta era a estrutura das famílias no meio daquela conjuntura social, onde as mulheres não tinham muitas escolhas, senão casar-se, constituírem suas famílias gerando filhos (isto quando eram livres) ou terem de aceitar um concubinato de segunda, terceira, quarta ou outras categorias, conforme o valor que lhes era atribuído pelos homens.
Observamos traços desta mesma cultura ainda vigente nos tempos de Paulo, cerca de 1.800 anos depois, conforme I Timóteo 2:11-12, 15.
O clima de disputa pelo marido entre Léia e Raquel se mostrou extremo quando Léia chega ao ponto de “alugar” a Jacó, negociando esta com Raquel em troca de algumas mandrágoras do campo (v. 14-16). Como consequência desta barganha, Léia passa a ter um pouco mais das atenções de Jacó, que, após um período de meses, abraçou a mais dois filhos do ventre de sua primeira esposa: Issacar e Zebulom, e mais pelo menos uma filha: Diná.
Depois disso, Raquel é ouvida em suas orações, concebe e dá à luz a José.
No final do capítulo 30, vemos que Jacó manifesta desejo de ir-se de Padã Harã, mas seu sogro lhe faz uma nova proposta, a qual não sustentaria por muito tempo, mudando-as conforme as circunstâncias. Novamente, negócios e tratos feitos e desfeitos, movidos exclusivamente pelos interesses e pela ganância de Labão, homem em cuja palavra não se podia confiar.
Assim que nasceu José, Labão faz um trato com Jacó. Nada possuía este quando veio a Padã Harã, mas tencionava ganhar algo como sua paga. Tinha, já, servido por quatorze anos a Labão, em troca de suas filhas, este foi o preço de seus dotes. Jacó propôs ficar com as cabras, bodes, e ovelhas salpicados e malhados. A esta altura, o rebanho de Labão ara tão grande que tiveram de se separar por cerca de cem quilômetros um do outro. Aceito o trato, todos os malhados e salpicados passaram a ser de Jacó, e os demais, de Labão. Ora, Deus passou a abençoar mais ao rebanho de Jacó do que o de Labão. Desta forma é que Jacó foi-se tornando muito mais rico e poderoso que seu sogro, tornando-se dono de muitos rebanhos de cabras, bodes, camelos, ovelhas, carneiros e jumentos. Para tanto, teve de ter servos que o ajudassem a cuidar de sua fazenda.
O desejo de partir, porém, não era algo novo. Jacó queria intensamente rever a seu pai e sua mãe, caso estes ainda fossem vivos. As saudades lhe foram agrilhoando, e as suas diferenças com seu irmão Esaú já lhe eram passadas, dentro de seu coração.
Bom é para os filhos poderem rever aos seus familiares . Isto é algo que todas famílias devem nutrir: o desejo de reverem-se, e de reunirem mais uma vez. Acrescente-se a isto a bênção de Deus sobre seus filhos! Isto é algo muito sublime, os irmãos viverem em união! (Salmo 133).
Chegara então o dia em que o Anjo do Senhor lhe transmite a ordem de voltar!
O Senhor havia contemplado a justiça de Jacó, com relação aos tratados feitos com seu sogro, e também a maneira desleal de Labão fazer aqueles acordos e, em meio aos acontecimentos, mudá-los de acordo com sua conveniência. Foram tempos de prosperidade, mas também de um árduo trabalho, e de necessidade de muita habilidade para lidar com o pai de suas duas esposas, um homem de ânimo dobre.
Devido à intervenção divina, Jacó não ficou prejudicado, pois, após cada trato feito, a sorte e o fiel da balança propendia para o genro, ficando o sogro com a menor parte. Isso não aconteceu apenas uma ou duas vezes, mas … dez vezes! (31:7-41)
Jacó chamou suas esposas, então, para falar-lhes das tramas de engano com que foi tratado nos negócios em Padã Harã, mas Deus lhe falou sobe isto, e ordenou-lhe que voltasse a morar em Canaã. Jacó, então, enveredou por um caminho não muito leal para com seu sogro, retirando-se repentinamente, sem dar nenhum aviso, e foi-se a caminho, alcançando as montanhas de Gileade. Mais uma vez Jacó procurou agir, buscando o seu melhor futuro, mas sem considerar qual teria sido o método que Deus aprovaria. Poderia ele conversar com seu sogro, e deixar-lhe claro quais eram as suas intenções, de por-se a caminho de Canaã, esperando que o Senhor o ajudasse, abrindo o entendimento de todos na família, para optarem por uma retirada em paz.
Como tivesse falado mal de Labão para suas esposas, Jacó instigou, assim, uma má disposição nestas para com o próprio pai. Com suas mentes envenenadas por más conversações, ambas as esposas concordaram em ir com Jacó e seus filhos pelo caminho que Deus lhes propôs. Isto fez com que Raquel, percebendo a ausência de seu pai dentro de sua casa durante uma tosquia de ovelhas, foi até lá e furtou os ídolos daquele lar.
Aquele gesto de Raquel mostrou amargura de espírito e cobiça em seu coração. Os ídolos do lar demonstravam que Labão, muito embora conhecesse e reverenciasse ao Deus de Abraão por ouvir falar, paralelamente mantinha outros deuses dentro de sua casa. Esta expressão “ídolos do lar” era uma espécie de certificado de propriedade sobre aquelas terras onde fossem colocados, e um tipo de título de liderança patriarcal sobre sua família. Por certo, Raquel desejava que aquelas peças de escultura transferissem a Jacó o patriarcado de Labão, e não queria, de modo algum, usá-los como ídolos para adoração ou veneração – mesmo que seu marido nada soubesse disso.
Estas duas atitudes lamentáveis, de Jacó e de Raquel, trouxeram um certo agravamento na relação de convívio daquela família-clã de Padã Harã. Vale, de outro lado, notar que Deus não deixou de abençoar à família de Jacó, mesmo sabendo das coisas indesejáveis que se via ali. Jacó, mais uma vez, quis dar uma “pequena ajuda” para Deus cumprir os Seus propósitos, o que não o ajudou nem um pouco, mas trouxe mais desavenças junto a seus familiares.
Este detalhe nos mostra que Deus usa as pessoas, mesmo com suas imperfeições, o que não significa também que estas sejam aquelas que herdarão o Reino dos Céus. Veja-se que até uma mula pode ser usada por Deus, e a Bíblia não esconde, mas narra até com naturalidade os defeitos e as virtudes dos servos do Senhor. Há uma diferença entre ser escolhido por Deus para uma certa tarefa, e ser contado entre os fiéis servos que para sempre estarão brilhando em Seu Reino, adorando-O e cumprindo a Sua santa e bendita vontade. Vemos, a propósito, exemplos que nos deixam a pensar, como foram os casos de Nabucodonozor, que o Senhor o recompensou por ter punido a várias nações, entre estas, Judá e o Egito, prestando assim um serviço ao Altíssimo (Ezequiel 29:17-21), mas nunca deixando de cultuar a deuses estranhos; também Balaão, que bendisse a Israel em um momento (Números 24), e em outro colaborou com a corrupção do povo de Deus, e, em decorrência disto, foi morto por estar entre o povo corruptor (Números 25:1-3 e 31:1-2, 7-8, 15-16). Também Ciro, da Pérsia, chamado de ungido para abater nações, e fazer voltar cativos a Jerusalém para restaurar o Templo do Senhor, mas pertencente a um povo que chegou a oprimir a muitos (Isaías 45:1-7). O caso mais chocante, porém, é o de Judas Iscariotes, que antes seguia a Jesus, curava enfermos, expulsava demônios, pregava o evangelho e proclamava a vinda do Reino de Deus, mas no final, aceitou o preço da traição contra o Rei dos Reis, e Senhor dos Senhores, para sua própria desonra.
Jacó é alcançado em Gileade pelo seu sogro, onde ambos mantêm um diálogo não muito amistoso. Labão o acusa de tê-lo enganado, raptando suas duas filhas como que à espada (31:26), tolhendo-o de despedir-se de seus netos, e ainda ter-lhe roubado os ídolos do lar. Jacó o desafia a achar os seus ídolos, onde puder achá-los, Labão os procura, mas não os encontra. Jacó então se explode contra o seu sogro, e acusa-o de tê-lo enganado, mudando seus contratos por dez vezes, e se não fora o Senhor a adverti-lo a não se levantar com más palavras, disse ainda, ele teria que ser despedido forro, de mãos vazias, para Berseba. Labão então se controla, e se acalma, pensa numa saída honrosa, e a propõe. No final, Labão e Jacó conseguem conciliar seus interesses, aliviam-se as tensões, e puderam comer pão juntos, e entrar em um acordo de paz. Labão, então, pela madrugada levanta-se, beija suas filhas e netos, abençoa-os e volta a Padã Harã.
Gênesis, capítulo 32 – JACÓ RETORNA, LUTA COM O ANJO, E FAZ A PAZ COM ESAÚ
Bom é que os irmãos vivam em união, mas, no caso de Jacó, havia uma pendência. Ele havia deixado Canaã e a todos de sua casa, num momento em que Esaú tinha sede de seu sangue.
Se não fora o Senhor… Ao passar por Maanaim, vê ali dois exércitos de anjos. O seu Deus ainda está cuidando dele, oferecendo-lhe a Sua guarda, batalhando para que o Seu servo seja protegido e abençoado. Isto é reconfortante, é um sinal, é uma implícita promessa de ser livre de todo o mal. Jacó, ao sair de Berseba, em Betel Deus lhe falara e prometera abençoá-lo (Gên. 28). Ao voltar, os anjos, que antes subiam e desciam uma escada que descia do céu, vieram a encontrá-lo. Não um ou dois anjos, mas dois exércitos de Deus (Gênesis 32:2).
Foi-se então Jacó, pensando em como poderia retratar-se diante de seu irmão. Antes, barganhara e arrebatara a primogenitura e a bênção que eram de Esaú. Agora, porém, talvez sentindo como foi truculento ser enganado por seu sogro, estava já com outra disposição mental. Sentia-se muito constrangido pelo conflito que gerara no seio da família de seu pai,, e ansioso para rever a Esaú, para com este fazer as pazes, mas sem saber se o conseguiria. Jacó tolheu-lhe a bênção de Abraão e Isaque, o que significava, entre outras coisas, a prosperidade vinda do Senhor. Ele prosperara muito em Padã Harã, e , querendo então honrar àquele que dantes defraudara, começou a enviar-lhe várias remessas de presentes – em uma destas, duzentas cabras e vinte bodes; em outra, duzentas ovelhas, vinte carneiros; noutra, trinta camelas com suas crias; e depois, mais quarenta vacas e dez novilhos, vinte jumentas e dez jumentos. Jacó estava presenteando a Esaú com um gado digno de formar uma fazenda à parte.
Com cada remessa, enviou recados, dizendo serem presente “… que ele mesmo enviava a SEU SENHOR (seu irmão!)” (Gn.32:18). Estas foram as providências tomadas, enquanto Esaú vinha a seu encontro acompanhado de mais quatrocentos homens. A situação parecia extremamente tensa e delicada. Para Jacó e sua família, nenhuma segurança, e nem para os seus servos, da sua casa.
A vitória do amor de Deus ainda não viera, até aí, trazer-lhe a paz desejada. O seu coração estava sentindo-se muito angustiado e temeroso (Gênesis 32:7). Até que… chegaram a um pequeno curso dágua. Era o vau de Jaboque. Atravessou-o com sua família e suas posses, na terra de Gileade, mas ficou por fim a sós do outro lado da margem, onde encontrou um anjo. O anjo estava ali, e, ao vê-lo, Jacó foi ao seu encontro para pedir-lhe uma bênção especial. Não é sempre que um anjo de Deus permite que nós, seres mortais, os toquem, mas a Jacó isso não importava naquele momento. Era um ser celestial, sem nenhuma dúvida, que estava ali, e Jacó foi ao seu encontro, e agarrou-o como um filho temeroso se agarra às vestes de seu pai ou de sua mãe. O anjo então lutou para ver-se livre das mãos de Jacó, mas este insistia, e assim passaram horas ali, lutando até que começaram a aparecer os primeiros sinais de claridade, anunciando a chegada de um novo dia. Vendo o anjo que não conseguia desvencilhar-se de Jacó, tocou-o com o seu poder sobrenatural na altura da coxa deste, até que aquele ser maravilhoso lhe disse:
– “Deixa-me ir, porque a alva já subiu!”
A resposta de Jacó foi célebre:
– “Não te deixarei ir, se me não abençoares!”
É sutil, mas dá para notarmos que o anjo do Senhor poderia ter-lhe fulminado, no meio daquela luta, mas não o fez. Não o fez porque Jacó era amado e escolhido pelo Senhor, alguém que queria e precisava muito do favor do céu. Seu irmão, que jurara matá-lo, estava vindo com um batalhão de homens ao seu encontro. Para que tantos homens a acompanhá-lo? Certamente porque a predisposição de Esaú não era boa, e poderia haver uma chacina, dentro de poucas horas, ali em Gileade.
O anjo do Senhor fez, então, com Jacó, como um pai que brinca de lutar com seu filho. Um pai normalmente tem forças para machucar e até para matar uma criança, mas longe disso, prefere brincar, deixando que a criança pense que pode vencê-lo. Na realidade, um pai, ao deixar-se vencer em uma luta, em uma brincadeira com seu filho, logo então festeja com este, carrega-o nos braços, gira-o no ar, trazendo grande alegria àquele momento. Foi assim que o Pai Celeste permitiu que Jacó insistisse em lutar até vencer.
O Senhor está sempre desejoso de ver-nos lutando, mesmo com nossas parcas forças, para nos fazer sentir vitoriosos – mas temos que ser perseverantes nas orações, não permitindo que o seu anjo se retire de nós, antes de nos abençoar.
Jacó voltou mancando de uma perna, por causa do toque em sua coxa, um toque especial que lhe assegurou que quem lutava com ele era mais forte e poderoso – tanto para marcá-lo com dor, como para vencer aos seus inimigos. Apesar da dor na coxa, o seu coração estava jubiloso, alegre, feliz, e sua alma estava sentindo-se bem mais leve, sentindo que um grande peso que o oprimia já tinha sido deixado para trás. Ele depois, então, veio a dizer:
– “Tenho visto a Deus face a face, e minha alma foi salva!”
Depois da luta, veio a vitória. A bênção do anjo sobre Jacó mudou-lhe até o nome: outrora chamava-se Jacó, o enganador, o encrenqueiro, o usurpador. Doravante, passou a ser chamado de Israel – “Aquele que luta com Deus”!
O que muitos crentes não sabem, ou não experimentaram ainda, é que todos teremos de um dia nos defrontarmos com o vau de Jaboque de nossas vidas, para lutarmos, até para sermos feridos, mas para também insistirmos com Deus até alcançarmos o Seu favor – e daí para diante, a vida será outra, mudada pelo toque do poder da mão do Senhor.
Temos que reconhecer que a persistência e o espírito combativo que Jacó nutria dentro de si. A palavra que o Senhor lhe dera ao mudar o seu nome foi: – “como príncipe lutaste com Deus e com os homens, e prevaleceste” (32:28). Este foi o espírito que agradou a Deus , de tal forma que Esaú teve de ser preterido em favor de seu irmão mais novo, por este último não ser um lutador persistente, e por não dar à sua posição de primogênito o devido valor.
Depois da luta com Deus e de ter sido abençoado, Jacó já caminhava mais confiante, até que se encontrou com Esaú. O Espírito do Senhor já tinha então trabalhado em seus corações, e no lugar onde se daria uma guerra e a matança de uma raça, irmãos se abraçaram e choraram juntos. Ali mesmo, os ressentimentos, mágoas, disputas, rixas, tudo isso se desfez pelo amor e o perdão. Um exército veio armado com Esaú, mas os dois exércitos do Senhor vistos em Maanaim os desarmaram, e passaram a ser uma forte escolta para Jacó e toda a sua casa.
Chegou Jacó, então, a Siquém, já na terra de Canaã. Ali assentou suas tendas, diante da cidade, e comprou aquela parte do campo, onde então erigiu um altar do Senhor; denominou aquele altar de El Elohe Israel, que significa: “poderoso é o Deus de Israel”.
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