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JOSUÉ – XV – UM GESTO MAL COMPREENDIDO

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junio 13, 2015 by Bortolato

Altar de bronze

Dever-se-ia dar atenção a tudo quanto um povo fala?   O velho dito de que “vox populi vox Dei” já falhou muitas vezes.   Dirão alguns, porém,  que onde há fumaça, há fogo, querendo insinuar que em todo boato há algum resquício de verdade.

Dezenas de vezes  já ouvimos falar de coisas que, se de fato fossem procedentes, já teríamos corrido às pressas para o Banco, a fim de retirar de lá tudo quanto teríamos direito de levar, contratado uma empresa de mudanças e nos teríamos ido embora de onde estávamos para alguma outra parte do mundo, provavelmente para algum outro país.

Algumas coisas dessa natureza nos fariam rir, e outras podem até nos deixar preocupados.  Certa vez, um jornal de grande circulação da cidade de Campinas publicou uma série de notícias bombásticas:  que o governo resolveu tomar medidas econômicas drásticas; que bens do povo estavam em risco; que novas leis esdrúxulas estavam aprovadas; e até que o sentido do tráfego da principal avenida do centro urbano, talvez a mais movimentada, mudou total e diametralmente, dando-nos a ideia de que mudanças radicais estariam acontecendo naquela cidade e no país…   Parecia a vinda de um terremoto, que viria a causar uma grande confusão, uma balbúrdia!  Tudo isso estava escrito em letras garrafais, na primeira página daquele jornal.   Ao tomarmos o mesmo nas mãos, e virarmos da primeira página para a segunda, uma outra notícia estava escrita de forma a saltar berrante aos nossos olhos, ocupando toda a página: – “Primeiro de Abril!”.   Era uma brincadeira do “Dia da Mentira”!

O fato é que nem tudo é o que parece ser, mas o ser humano está condicionado a antever o pior, como que prestes a acontecer, e logo precipita as suas conclusões.

À vista disso, ideal seria que todos os servos de Deus não temessem os maus rumores – isso evitaria muitas distorções de palavras, atitudes e atos.

Vemos assim o ocorrido e narrado em Josué, capítulo 22.   Era o final de uma guerra.  Uma guerra de sete anos de duração terminara.   Chegou o dia da grande comemoração, dos vitoriosos abraçarem-se, uns aos outros, atirarem seus chapéus para o alto, pularem, cantarem e dançarem.   Os israelitas eram os vencedores.   Havia, porém, muitos soldados, que ali estavam, a alguns dias de caminhada longe de seus lares.

Metade da tribo de Manassés e mais as tribos de Ruben e Gade tinham deslocado seus homens para o oeste do rio Jordão, para batalharem pela nação israelita.   Deixaram suas famílias do lado leste, em suas casas recém empossadas.   Mas agora, a guerra tinha acabado.

Josué convocou a estes, ajuntou-os e falou-lhes em um discurso que muito os alegrou.  Como bom líder que era, elogiou-os pela fidelidade, por terem sido solidários para com suas tribos irmãs; exortou-os a continuarem sendo fieis a Yaweh, seu Deus, aos Seus santos mandamentos, à Lei, e abençoou-os.  Disse-lhes que voltassem para suas casas, e que dividissem os bens conquistados entre os seus, aqueles que ficaram na banda leste do Jordão, isto é, as mulheres, crianças, e jovens aquém da idade militar, os quais os aguardavam esperançosos por revê-los um dia.

Eles obtiveram riquezas que acumularam durante as guerras: rebanhos, prata, ouro, bronze, ferro e muitas roupas (Josué 22:7).

Lá ia então aquela grande tropa de gente rumando para suas casas.   Na verdade, era um verdadeiro exército de homens, portando toda aquela riqueza.  Para quem visse de longe, parecia um versão minimizada do Êxodo.

De repente, tiveram de parar antes da margem do rio Jordão, para organizar a travessia por aquelas águas.  Aquela parada acabou por tornar-se um ensejo para expressarem em um ato aquilo que vinham pensando pelo caminho.

Pensavam nas maravilhosas vitórias…   No Deus Yaweh, que não somente os acompanhou, mas também os guiou em cada passo, tornando o seu caminho cheio de glórias nas horas mais incertas… Seus tormentos de cada batalha, e seus atos de bravura pareciam ter um pequenino significado, diante do poder tremendo dAquele que lhes deu tantas vitórias difíceis em suas mãos…   Foram momentos inesquecíveis, aqueles, que também tornaram inesquecível o seu Deus, Yaweh, o Senhor dos Exércitos, o grande EU SOU.   Eles sentiram de perto a mão poderosa do Deus de Abraão, bem ao seu lado.   Isso mudou-lhes o seu ser…  Eles não queriam jamais se apartar desse Deus tão grande, poderoso e amigo…

Seria até ocasião para expressarem um ato significativo.   Alguns hoje diriam: – “Vamos fazer um culto de adoração, em ação de graças pelos livramentos recebidos!”   Mas não, eles tiveram uma ideia melhor!

Enquanto alguns já estavam quase prontos, preparados para transpor aquelas águas, alguém grita para todos:  – “Parem tudo!   Vamos nos reunir aqui, e erigir um altar ao Senhor Yaweh, que é digno de todo o nosso louvor e gratidão!”

Eles se lembraram de que, quando vieram da Transjordânia para Canaã, sete anos antes, atravessaram o leito do rio a pé enxuto, e ali deixaram eretas doze grandes pedras, as quais foram sobrepostas, levantando um marco, um lembrete daquilo que o Senhor lhes estava fazendo naquele momento.

Quiseram então aqueles homens deixar um outro marco, pelo seu retorno a suas casas, ali mesmo, defronte o local onde iriam atravessar o rio Jordão.   Juntariam outras pedras, como aquelas da vinda?   Não, eles preferiram erigir um altar de bronze, como aquele que foi feito para ser posicionado ao lado do Tabernáculo da Congregação.   Com os mesmos detalhes do original.

Em que eles estavam pensando?

Eles queriam que seus irmãos das outras nove tribos e meia pudessem olhar para aquilo, e lembrar-se de que aquelas duas tribos e meia que então estava para fazer a travessia do rio Jordão eram… seus irmãos que os ajudaram na conquista de Canaã, não como um exército mercenário, que recebe a sua paga por serviços prestados e depois se separam para não mais se verem.   Eles não queriam separar-se das bênçãos que o Deus de Israel, cujo Tabernáculo então se havia assentado em Siló.    Eles queriam que seus patrícios do Oeste-Jordão os vissem como legítimos e genuínos participantes das promessas, das bênçãos, e da Lei do Senhor.

Aquela era mais que uma data de um evento feliz, de retorno aos seus lares.  Era também um momento a ser relembrado para sempre, e aquele altar ereto era-lhes um memorial, que serviria para aguçar as lembranças, tanto de um lado como do outro.

Sua intenção foi das melhores, mas pasme!   Como isso foi interpretado…  A imaginação das pessoas é muito volátil, e como o vento que sopra para qualquer lado, jamais se sabe o que poderiam pensar a respeito.   E existe uma diferença brutal entre um fato e a maneira como este é reportado.

Muito embora eles tivessem sido e fossem fieis à Lei e a seus irmãos, à liderança de Josué, e acima de tudo ao Senhor até ali, logo aquela imagem de fraternidade e de correligionários, de cooperadores idôneos se desfez, como que se tivesse derretido em poucos segundos, ao ouvir da notícia pelas demais tribos.

Os exércitos das nove tribos e meia logo se juntaram em Siló, prontos para guerrear, invadirem os campos de seus irmãos para os destruir.   Contra quem queriam guerrear?   Não era contra nações pagãs, gentios, ou estrangeiros!   Era contra os seus próprios irmãos, aqueles que os ajudaram a conquistar a Terra Prometida (Josué 22:12).

Enviaram então a Fineias, filho do Sacerdote Eleazar, acompanhado de dez líderes, um de cada tribo de Israel Ocidental.   Era uma comitiva que assumia ares de embaixada do Oeste, com o fito de conversarem, mas já em tom de reprovação, como se um conflito diplomático estivesse acontecendo.

Eis aí como correm as notícias, e como as coisas são interpretadas.   Aqueles líderes foram conversar com os de Israel Oriental, iniciando o diálogo,  acusando-os de infidelidade para com o Deus de Israel, em nome das nove tribos e meia, como que empunhando uma bandeira.   E não perceberam que aquela suposta bandeira levantada excluía, de antemão, os irmãos acusados.

Aí pergunta-se:  qual foi a importância daquele ato diante de Deus?

Que nos parece isto?   Não se assemelha esta situação com o que acontece nas igrejas, quando irmãos se levantam contra irmãos para os acusar sem antes ouvi-los?   Eis aí como acontecem divisões.   Quantos males seriam evitados com um diálogo aberto, sem o dedo em riste?

Então as tribos de Ruben, Gade e metade de Manassés tiveram sua vez de falar e explicaram quais foram os seus motivos.

O altar de Gilelote não foi construído para se oferecerem sacrifícios ali; se para este fim tivesse sido destinado, estaria contrariando algumas coisas que o Senhor havia lhes recomendado na Lei (Levítico 23; 6:8-17; 17:1-9), ordenando que os sacrifícios teriam de ser executados em frente ao Tabernáculo de Siló, no altar dos  Holocaustos.

O altar de Gilelote foi feito como uma réplica, uma cópia fiel do altar de Siló.   Este detalhe nos diz alguma coisa.  Se notarmos que o rei Acaz, em cerca de 759 a.C.,  ordenou que se fizesse um certo altar copiado de um outro altar dedicado aos deuses de Damasco (II Reis 16:10-14), o que foi para desacatar ao Senhor que, pela Lei, tinha proposto um padrão, um modelo feito de bronze (Êxodo 38:1-7)…   Não foi este o caso dos israelitas do leste do Jordão.

O altar de Gilelote era idêntico ao de Siló.  Para que um outro igual?  Este, junto ao Jordão, era apenas um marco, um memorial, um símbolo, e nada mais.  Era uma cópia do altar de Holocaustos que o Senhor descrevera, mas sua função não era o de receber sacrifícios.  Era um sinal de que o provo de Israel do Leste era povo de Yaweh, tanto quanto o povo do Oeste.

A fim de que os filhos de Israel jamais dissessem que seus irmãos nada tinham a ver com o Deus de Abraão, Isaque e Jacó, que não teriam parte alguma na Sua adoração, aquele altar de Gilelote plantava-se ali como que erguendo uma bandeira única, de unidade – de unidade no Senhor, que lhes deu a terra da Promessa em suas mãos.

Fineias e os dez líderes que o acompanhavam ouviram o posicionamento e a preocupação de seus irmãos do leste, e acalmaram seus corações.   Ficaram satisfeitos com a resposta recebida.  Voltaram a Canaã, ao seu povo, relataram o ocorrido, e todos se aquietaram e desistiram de tentar devastar a terra onde Ruben e Gade estavam assentados.   Quase chegaram ao absurdo de cometerem uma loucura!

Os rubenitas e gaditas deram àquele altar o nome de “Testemunho”, pois era um testemunho entre eles e o resto do povo de Israel, de que o Senhor é Deus.

Diz o Salmo 133: (este salmo reúne duas figuras que unem as tribos de Israel)

  1. “Oh, quão bom e quão suave é que os irmãos vivam em união!”
  2. “é como o óleo precioso sobre a cabeça de Aarão, que desce sobre a sua barba, até a orla dos seus vestidos”   (Aarão representa, aqui, o Tabernáculo, em Canaã)
  3. “é como o orvalho de Hermon (o monte que fica ao nordeste da nascente do rio Jordão, isto é, em termos absolutos, do lado leste de Israel) que desce sobre os montes de Sião…”

Aquele orvalho de Hermon não fertilizava somente os montes de Sião, mas também toda a terra de Basã e Gileade.   Assim é o Deus de Abraão: estende a Sua bênção a todo o Seu povo que Lhe é fiel, sem fazer acepção de filhos, ou diferençar entre um e outro.

Que todo o povo de Deus saiba considerar o mandamento de Jesus, que nos diz para amarmos primeiramente ao Pai Celeste, e ao nosso próximo como a nós mesmos (Mateus 22:38,39) – e que a bênção do Todo Poderoso Yaweh dos Exércitos nos traga a Sua glória em bloco, a todo o Seu povo unido debaixo das Suas grandes asas!


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