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II SAMUEL – XIX – NÃO PERCA A CABEÇA!

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septiembre 19, 2016 by Bortolato

Jimmy Hendrix entregou-se à loucura, e hoje não pode mais tocar a sua guitarra.   Napoleão Bonaparte e Adolf Hitler quiseram partir para a conquista do mundo pelas armas, e perderam não somente a guerra, mas destruíram suas vidas.   Alexandre, o grande, conseguiu conquistar o seu mundo com muita rapidez, em oito anos, mas perdeu-o também muito rápido, e sem deixar herdeiro no seu trono.   O inventor da guilhotina também foi um dos guilhotinados, e assim fizeram rolar a sua cabeça.   A sabedoria nos põe a salvo de perdermos a cabeça.

“O insensato expande a sua ira, mas o sábio se mantém sob controle” (Provérbios 29:11).

A virtude está no ponto de equilíbrio.  Assim os economistas definem o ponto em que a oferta e a procura se conciliam.  Assim a  justiça e a paz também podem ser conciliadas, sem stress, sem tumulto, sem escândalo.

É muito fácil despejar-se a ira contra alguns, dar um grito de revolta, sacar da arma, colocar tudo a perder em um só lance, e dizer: “ou vai ou racha, ou arrebenta a tampa da caixa!”  Basta perder-se o bom senso, o juízo perfeito, esquecer-se de tudo e agir precipitadamente, não medindo  as consequências.

“O iracundo levanta contendas, e o furioso multiplica as transgressões.” (Provérbios 29:22)

Palavras inadequadas em horas de tensão acabam separando os mais chegados irmãos.

“Tens visto um homem precipitado em suas palavras?  Maior esperança há para o insensato do que para ele” (Provérbios 29:20).

Um exemplo clássico disso foi o caso de um homem chamado Seba, filho de Bicri, cuja breve história está narrada em II Samuel, capítulo 20, quando o mesmo, como um grande oportunista, sentindo no ar um início de desarranjo entre dez tribos de Israel e a de Judá, resolveu tirar proveito disso, e tomou uma séria decisão: a de levar avante um cisma.   Ele decidiu levantar a bandeira da dissensão e da divisão, mas melhor lhe fora ter ficado em casa naquele dia fatídico.

Veja-se bem: um homem violento, rancoroso e desequilibrado, de repente, dentro de um clima de diferenças entre as tribos de Israel, aproveitando-se de uma melancólica insatisfação nos corações israelitas, encontrou a brecha que estava querendo achar, para tentar dela tirar proveito próprio.   Sentiu que faltava apenas dar um grito de independência, para provocar uma revolução.   E pronto!   Rompeu-se a tênue paz.  Não é que se principiou, mesmo, o que ele desejava?  Mas não foi para sua boa sorte…

Estava então iniciado um processo que lhe traria os resultados esperados, assim ele pensava – mas nem tudo se deu como ele queria.

Seba foi um dissidente seguidor de Absalão, da tribo de Efraim, a quem o escritor sagrado o qualifica de “homem de Belial”.    Salomão nos traz uma boa definição desse tipo de pessoa, em Provérbios 6:12-15.

Era o tipo de homem que fazia parte do povo de Deus, mas que nutriu um caráter mui infeliz, pela sua cobiça e impetuosidade.   Perverso que era, foi até Gilgal com muitos israelitas que se haviam rebelado, e que, supostamente arrependidos,  se manifestavam favoráveis à volta de Davi ao trono de Jerusalém.

Encontrando ali em Gilgal os irmãos de nação, os judeus, a rodear o rei, blindando-o ao todo seu derredor, viu ele uma situação à qual os demais israelitas não aprovaram, e uma crescente contenda brotou naquele instante.   Os de Judá , por sua vez, não tiveram sabedoria para tratar daquele ciúme aberto de maneira branda – suas palavras voltaram com mais dureza ainda do que as que tinham recebido.   Aquilo que poderia ter sido um simples diálogo, expressando as mútuas cortesias entre irmãos, deixou muito a desejar.

Seba apreciou aquele espetáculo oferecido pelo desfecho de discussão entre as tribos irmãs, e as farpas que trocaram entre si.   Ao ver que os líderes de Israel ficaram desgostosos com aquela política de preferências de Davi, de fazer de Judá a sua tribo mais achegada, Seba, com seu temperamento esquentado, contrariado com as supostas  ofensas, e sentindo-se menosprezado juntamente com os líderes de Israel, ele achou que era a hora esperada para reagir de forma a um outro pretenso usurpador da coroa de Israel se levantar.  Era aquela a sua chance, e ele não via outra igual.   Quem quisesse engolir aquele desaforo, que o engolisse, mas ele, não!   Eis aí o perigo da impetuosidade.

Seba achava-se como o “dono da verdade”, e que Israel precisava, naquela hora, era de um homem como ele, que não levava ofensas para casa.   Um homem de decisões rápidas, enérgicas, e não de noveleiros românticos.   Um homem temperamental como ele, que sabia bem como dar o troco com a moeda certa para o rei Davi e os seus “queridinhos”.  Um homem que não temia conflitos e  nem a morte.    Conforme ele mesmo se via, um “homem de valor” para seu povo.  Infelizmente, isto foi assim, uma lástima.

Ouviu-se então um toque de trombeta, e o povo todo se aguçou em sua atenção.   O que quereria dizer tal toque?  Em Números, capítulo 10, lemos que havia diversos tipos de toques que conclamavam o povo para diversas atividades.   Lamentavelmente, aquele era um toque de retirada.    Ora, por que levaram trombetas para aquele encontro?   Certamente que Seba já estava preparado para fazer aquilo que fez, e para isso mesmo muniu-se do instrumento próprio, indispensável para induzir o povo a segui-lo.

Seba tirou a trombeta de sua boca logo após tê-la entoado retinindo aos ouvidos de todos que estavam ali.    Esforça-se então para gritar em alto e bom som aquelas palavras cortantes e persuasivas, que trouxeram divisão entre os irmãos:

– “Não temos parte com Davi, e nem herança no filho de Jessé; cada um para suas tendas, ó Israel!”

Os homens de Israel que ansiavam por desabafar a sua amargura, descontentes em curti-la calados, não deixaram por menos; todos então se levantam para se retirarem dali, e os de Israel, todos, separam-se de Davi e passam a seguir a um novo líder.

Uma grande multidão então se separa de Davi, que continua sua jornada para Jerusalém, mas acompanhado somente dos seus patrícios da tribo de Judá.

Estava declarada mais uma rebelião, não bastasse aquela de Absalão.   Em outras palavras, era mais uma guerra civil à vista.

Ao voltar para sua casa em Jerusalém, Davi se depara com o problema das dez concubinas que foram profanadas por Absalão.   Elas passaram a representar para ele aquela rebelião que lhe ocasionara tantos transtornos, e que por fim levou à morte o seu filho.   Muito embora não tivessem elas podido fazer nada para evitar aquele incidente indesejável, elas não deixaram de  tornar-se em símbolos de tristeza para Davi.    Elas lembravam-lhe contaminação, aquela traição de Absalão,  e também a de Aitofel, um de seus principais conselheiros.

As dez concubinas não passaram a ser rejeitadas como se tivessem tido intencionalmente parte daquela infeliz conspiração, mas passaram a morar em separado, sustentadas pela casa real até o final de suas vidas.  Davi, amargurado, nunca mais coabitou com nenhuma delas, pois não queria lembrar-se de Absalão através das mesmas.   O trauma afetou muito a ele, tanto quanto a elas, criando uma barreira psicológica que se lhes ergueu e permaneceu até o fim.

O rei tinha, porém, um outro problema muito mais intrincado naquele momento, que estava desenrolando-se em Israel, denominado Seba.   Aquele toque de trombetas e aquele grito de independência lhe trouxeram mais um grande desafio.   Tal qual um fermento que, se deixasse fermentando a massa do povo, uma guerra civil como a de Absalão poderia estar em franco andamento – e o homem efraimita, filho de Bicri não teria misericórdia alguma.   Suas poucas palavras revelaram muito de suas reais intenções.   Absalão teria interesse em angariar a confiança dos homens da tribo de Judá, mas Seba, de modo algum!   Ele não cevava a amizade de ninguém da tribo a que pertencia o rei.

Algumas providências teriam de ser tomadas para combater aquele movimento rebelde.

Amasa, o sobrinho ex-rebelde de Davi é chamado para convocar, na posição de general-chefe das suas tropas armadas, a todos os homens de Judá em condições de irem à guerra.   Davi lhe dá o prazo de três dias para fazer isso rapidamente e logo voltar a ele com o contingente alistado.

O prazo se esgotou, e Amasa ainda não tinha voltado.   O que teria acontecido?   Não se sabe ao certo, mas Davi logo percebeu que nomeou a pessoa errada para combater contra Seba.   Deixasse o tempo correr, e logo Jerusalém poderia ser cercada de soldados das dez tribos de Israel, o que seria um desastre maior do que aquele de Absalão, do qual ainda conseguira escapar a tempo.

Davi então diz para Abisai, filho de Zeruia, para levar os valentes “leões do rei” consigo, e ir ao encalço de Seba.   Ele estava ainda muito chateado com Joabe, e por isso entregou a Abisai este encargo, como se Abisai tivesse sido elevado ao posto de novo general-mor de seu exército.

Joabe também vai, acompanhando o grupo de militantes de Judá, com o consentimento de Davi.   A unidade entre aqueles dois irmãos, filhos de Zeruia, era tanta que eles pareciam muito ligados um ao outro.   Mal dava para se perceber quem de fato, oficialmente, era quem os comandava.

Para Gibeão foram esses homens liderados por Abisai,  e lá encontraram-se com Amasa.

Detalhe importante:  Joabe estava impaciente e inconformado com Amasa, por vários motivos.  O primeiro destes era porque aquele seu primo havia recentemente guerreado contra ele, durante a guerra contra Absalão, fazendo-se seu inimigo e da coroa real.   Joabe não se esquecia de gente que se opusera a ele em batalhas, e o caso de Abner o comprovara quanto a isto.  Para ele, uma vez inimigo, a tal pessoa não deixaria mais de portar a insígnia de inimigo.

Em segundo lugar, Amasa lhe tomara o lugar de general-chefe, comandante das forças do rei Davi.   Isso lhe doeu muito, em seu cotovelo.   Joabe julgou aquele ato real um despropósito.  Ele não poderia jamais compactuar com tal injustiça.   Ele, o mais aguerrido defensor do rei, da casa real, e do reino de Davi, nunca poderia ter sido rebaixado de posição daquela maneira, e aquilo não poderia ficar assim.

Em terceiro lugar, porque a demora de Amasa em atender à ordem de reunir rapidamente o povo guerreiro de Judá estava dando tempo para que Seba, do outro lado, estivesse reunindo o seu contingente e organizando-se para os combater e destruí-los.   Para Joabe, aquela demora era a gota que transbordou o cálice.    Aquela tardança mais parecia a ele que Amasa estava ainda “namorando” uma rebelião contra o rei.   Parecia-lhe um jogo duplo de seu primo.   Surgia-lhe a dúvida: será que Amasa ainda tinha ideias revolucionárias, de fazer culminar com a queda de Davi?   Era uma ideia insensata, mas que ninguém podia convencer a Joabe de deixar de pensar assim.

Fosse como fosse, Amasa não parecia ser aguerrido o suficiente, comparado com Joabe e Abisai, as duas “feras” de Davi, e estar sob seu comando seria algo mais que irritante para eles.   O caso exigia pressa.  Urgência.  Não estavam ali para brincadeiras.

Ora, uma vez que Amasa esteve do outro lado, do lado inimigo, ao ter chefiado o exército de Absalão, como quereria ele arregimentar  aos de Judá para irem contra Seba?   Os homens de Judá precisaram de ser convencidos de que não estariam combatendo do lado errado.   Não estariam eles sendo enganados por Amasa?   Isto realmente dificultou um pouco a tarefa do primo ex-renegado, mas lá estava ele junto à pedra de Gibeão, com um bom destacamento juntado para servir ao rei.

Joabe o vê à distância, e pensa logo em um meio de ver-se livre daquele primo inconveniente, pois que não queria, de maneira alguma, receber suas ordens, tendo uma outra visão daquela guerra.  Ele  bem sabia como vencer ao inimigo, e não toleraria que um “primo menos qualificado do que ele” gerenciasse as suas ações.  Joabe também chega a pensar que, no lugar de Amasa, não teria titubeado, e num momento de vacilação como aquele notado, poderia por tudo a perder – ameaçando perder-se até mesmo a sua própria vida.

A ferocidade de Joabe lhe aflorava uma ideia sinistra: a de excluir Amasa daquela manobra militar.   Como?   Era o seu primo!   Mas que em campo de batalha o teria morto e, se de fato lograsse fazê-lo, por certo que levaria a sua cabeça à mão, como um troféu que teria muito agradado a Absalão!

Joabe está ao par de tudo isso, e guarda-o dentro de si.   Ao ir ao seu encontro, finge cordialidade com uma saudação de irmão, e inclina-se de certo modo a deixar cair uma pequena espada, uma adaga que trazia presa na bainha, junto aos seus lombos.   Parecia ser apenas uma queda acidental, nada de grave.

Joabe então apanha a adaga com sua mão esquerda, e com a direita usou de um costume comum, característico de quem desejasse beijar a um ente querido, seu prezado.   Ele pegou a barba de Amasa para osculá-lo. Enquanto o beijava, Amasa não percebeu que aquela cordial saudação era falsa, e não cuidou para não deixar ser ferido.   Ingenuidade fatal!

Joabe não perdeu a chance de feri-lo no ventre.   Tão violento foi o golpe, que as entranhas, isto é, os intestinos de Amasa se derramaram pelo chão.

Que ato indigno!   Chocante!   Daria vontade de chorar, ao vê-lo!   Amasa caiu, e se revolvia, ali, no chão, envolvendo-se no seu próprio sangue!   De repente, dentro daquela cena que tinha tudo para  ser pacífica, um episódio de terror!   Não, não era uma cena de terror, mas de uma traição em meio a uma guerra, coisa muito característica de Joabe, o terrível Joabe!   Aquele ato tão indecente, e baixo, fruto de uma cabeça quente, mais tarde traria o reverso da medalha para o seu autor…

Amasa, que havia tentado convencer aos de Judá para segui-lo, de repente, estava ali, ferido mortalmente, caído ao chão, e os homens que se haviam proposto a segui-lo se deparavam com ele, em meio ao caminho, morrendo…

Alguns dos jovens, um pajem de armas de Joabe, então dá um brado:

– “Quem está do lado de Joabe e é por Davi, siga a Joabe!”

Mas aquela imagem dantesca estava ali, diante dos olhos de todos.   Os homens que queriam seguir ao novo comandante, então paravam para ver a vítima daquela tragédia, confusos, querendo entender o que significava aquilo.   Por quê?   Eles haviam sido convocados por Amasa, para guerrear por Davi, e Amasa fora covardemente assassinado, ali, diante dos olhos de todos, e pelo próprio primo!   Isto era um paradoxo difícil de se entender.

O grito do jovem, porém, estava a lhes apontar para uma nova direção.   Eles não  tinham mais a Amasa, mas a Joabe, que sempre lhes conduzira em triunfo nas batalhas pelo seu rei, e que estava ali, com pulso firme, para os comandar doravante.

O moço de Joabe retira aquele corpo de morte atroz do meio do caminho, e o cobriu com um manto.   Os que vieram a seguir já não mais tinham diante de si aquela cena desastrosa e incompreensível.   Eles passaram a seguir, sim, a Joabe, muito embora alguns estivessem com seus corações estarrecidos.

………………………………………..

Enquanto isso, Seba foi passando por todas as  tribos de Israel, procurando propagar a sua causa, tornando-a pública, notória e bem definida a sua rebelião e os seus planos, incitando o povo todo a segui-lo.   Ele queria derrubar o governo de Davi, em benefício próprio.

Devido àquelas circunstâncias, o povo que se dispersou de Gilgal para suas casas, no entanto, não o fez senão por um ímpeto do momento.   Seba deve ter pensado lograr ter arrebanhado um bom pedaço de Israel, mas não foi assim tão fácil.

Indo de tribo em tribo, ele logo teve a sensação de experimentar uma resistência muito forte  e contrária a guerrearem contra Joabe e Davi.   Uma coisa era dar um brado de rebelião, e outra bem diferente foi convencer aos insatisfeitos a guerrearem contra o rei.   A batalha de Absalão já comprovara que os homens do rei eram fabulosos, verdadeiros mitos, nas guerras.   Poucos eram os que queriam oferecer oposição a Davi, até aquele momento, e não sem motivos.

Seba então chega a Abel-Bete-Maaca para fazer sua campanha política.   Ele já havia conseguido reunir os beritas a si, povo que morava próximos à Galileia, para segui-lo.    Abel-Bete-Maaca também ficava ao extremo norte de Israel, nas proximidades do monte Hermon.

Joabe e Abisai, sem perda de tempo foram seguindo o seu rastro, e chegaram àquela cidade e cercam-na com seus exércitos.  Sitiaram-na, e este sítio prometia estender-se longamente.

Surpreendido antes de conseguir o contingente que queria reunir ao seu redor, Seba não teve coragem de sair da cidade para ir contra os homens de Joabe.   Ele sabia que não teria chances de sair-se vencedor, e permaneceu dentro da cidade fechada.   Ninguém mais saía e nem entrava ali.

Joabe então começa a construir uma elevação da altura do muro.   Seus homens laboravam todos os dias para fazer aquela engenhoca de assalto terminada, o suficientemente alta, ao ponto de viabilizá-los a entrar na cidade, através daquele artifício de guerra.

Os cidadãos, de dentro da cidade, observavam aquela movimentação, e anteviam que brevemente teriam sérios problemas.   A tensão chegou a um ápice.   Eles teriam suprimentos para suportar o cerco por muito tempo, mas aquela elevação que estava sendo construída estava a lhes dizer que seus dias estavam sendo abreviados, e não iria demorar a capitulação da cidade.

Os anciãos locais se reuniram, e trocavam ideias a respeito disso, mas uma mulher muito sábia estava lá, e, falando com os homens, tentava demonstrar-lhes que um breve diálogo com o general Joabe poderia lhes dar uma saído honrosa, negociando uma maneira de obterem o alívio daquela tensão, e desfazer-lhes o medo.

Afinal, eles não se haviam comprometido completa e oficialmente com Seba, dando-lhe apoio irrestrito, e nem estavam obrigados a isso.   O efraimita estava ali com eles, mas não havia um consenso geral em abraçar aquela sua causa – principalmente agora, que viam-no fadado ao fracasso.   Por que haveriam eles de pagar um preço tão alto por algo que não simpatizavam?   Por que deixar tudo a perder, quando nem todos eram por ele?

Havia um senão nesta linha de pensamento.   E quanto aos que o seguiram até ali?  Estes eram um bando de homens incautos, imprudentes, seduzidos pela conversa de Seba.   Haveriam estes também de pagar com a vida por isso?   Era preciso que Joabe fosse um pouco tolerante quanto a aqueles também.    Mas como?   Quais seriam os termos de uma rendição negociada com Joabe, o terrível?

Aquela mulher sábia enfim conseguiu provar a todos os seus concidadãos que por sua facilidade de comunicação e expressão, podia bem convencer a Joabe para que não levasse a cabo aquele intento destruidor prestes a desabar sobre eles como um furacão.

A mulher desembaraçada teria muito mais possibilidades de convencer, dado às suas maneiras cordiais, gentis e diplomáticas de falar.   Foi o que ela fez.   Os homens da cidade a apoiaram e comprovaram.  Benditas as mulheres que são sábias ao ponto de usarem suas habilidades capazes de dar fim a um genocídio.

Ela se achegou para perto do muro, do interior da cidade.   Encheu bem os seus pulmões, e bradou com força, pedindo uma “audiência à distância” com Joabe.   O general de Davi então se aproximou da muralha, porém a uma distância segura, a fim de não ser apanhado de surpresa por alguma armadilha.   Joabe então começa a travar um diálogo, aos berros, com aquela mulher.

Ela também bradava, mas todos podiam perceber que não se perdia nas palavras.   Ela começou exaltando as qualidades dos cidadãos da Abel-Bete-Maaca.  Eram famosos por ter produzido bons pensadores e conselheiros.   Ela mesma era uma prova viva disso.  Sua fala o demonstrava.

Conselhos bons são muito úteis pra uma nação.   Logo, por que exterminar com aqueles que bem poderão ser muito bem aproveitáveis em uma outra circunstância futura?   Mas aquele cerco os ameaçava a serem completamente extintos do mapa.

Aqueles homens, cidadãos sitiados ali, além de tudo, eram servos, vassalos do rei.   Até prova em contrário, não haviam aderido à causa de Seba.   Esta era mais uma razão para fazerem acabar com aquele intento que os ameaçava com a insistência de um instinto assassino.

Joabe ouve-a atentamente.   A prédica lhe veio aos ouvidos, cheia de desenvoltas razões atenuantes.   Ele a pondera, aprecia com prazer, aceita os seus motivos, mas não perde o seu foco principal, que o trouxe até ali: Seba.

Seba foi a razão daquele movimento todo, o responsável por um levante contra o rei Davi.   Sua boca se escancarou e levou milhares a abandonarem o rei, e irem para suas casas.   Ele foi o causador daquela cisão, aproveitando-se de um momento de certa indisposição que houve entre as tribos de Israel e a de Judá.

Joabe então pensa: – “realmente, pelo que ela diz, não há razão para destruirmos Abel-Bete-Maaca.   Basta apenas fazer calar aquela boca maldizente, e a conspiração cessará.”

Infelizmente ou não, isto é um fato.   Alguns homens não dominam a sua língua, e isto é como um fogo que se ateia em um estopim de uma bomba.   Acontece, porém, não ser incomum a explosão decorrente matar a quem quis iniciar a guerra.

Joabe então se excusa e esquiva-se da hipótese que a mulher insinuou de estar ele querendo a destruição daquele povo.   São, afinal, seus irmãos de nação, servos do rei a quem ele servia ali.   No entanto, ele queria uma pessoa, somente uma pessoa – o agitador das massas populares: Seba, o filho de Bicri, nas sua mãos.

Assim ele define a questão, expressando-se claramente.

A mulher parecia já estar preparada para aquela colocação, e esperando aquela resposta.   Sua clareza de ideias e compreensão dos fatos já antevia a solução mais adequada, com um desfecho aceitável para todos os demais cidadãos.

As coisas ficaram bem definidas: Joabe, Abisai e o exército de Davi estavam querendo fazer morrer uma conspiração, e, como dizem os antigos: “antes que o mal cresça, corte-se lhe a cabeça”.

Os cidadãos de Abel-Bete-Maaca estavam cheios de um temor bem justificado.   Eles tinham sido os que acolheram a Seba dentro de seus muros, e por isso estavam com medo de serem mal interpretados e julgados.   Se o exército de Joabe tivesse acesso para entrada na cidade, poderia haver uma mortandade, ali.   Joabe e seus homens eram conhecidos por serem os destruidores de inimigos, os mais eficientes que conheciam.   Ninguém, ali, teria paz em consentir, em são juízo, que Joabe fosse recebido de portas abertas.   Então, como entregar Seba, sem que se lhe abrissem os portões?

A mulher teve um raciocínio muito rápido, um insight, trazendo a solução menos traumática, e logo foi gritando:

“Eis que te será lançada a sua cabeça pelo muro”  (II Sam. 20:21).

Mas as coisas não estavam completamente decididas ainda, pois necessário seria que ela pudesse colocar essa ideia para os seus concidadãos, e estes a aceitassem.  Ela, então, com muita confiança, segurança e sabedoria que tinha, foi discursar com o povo, que logo comprou-lhe a ideia, e presto alguns já se dispuseram a fazer o que alguém diria ser o “serviço sujo”, mas que na verdade foi a necessária limpeza que clareou-lhes os dias futuros.

Pegaram Seba e, conduziram-no a um lugar à parte, onde o mesmo recebeu aqueles golpes fatais sobre o seu pescoço, e a sua cabeça rolou.   Jogaram a sua cabeça por cima do muro, e Joabe a conferiu:  era o homem a quem ele estava procurando.

Menos mal.  A guerra foi decidida sem que tivessem que disparar uma só flecha, sem perderem um só soldado, apenas morrendo o principal personagem culpado daquela agitação.   Estava encerrada a questão.   Sem o cabeça da rebelião, morreu a conspiração.   A cabeça do mesmo estava nas mãos de Joabe.

Fim da guerra, sucesso total, e Joabe volta a Jerusalém para ir ter com Davi, recobrando o seu posto de general-mor.   Não havia mais como negar-lhe o que conquistara com tantos méritos, apesar de todos os seus erros que cometera anteriormente.

…………………………………………….

Analisando-se mais a fundo a questão, vemos que Seba não perdera a cabeça em Abel-Bete-Maaca.   Ele a perdeu, na verdade, desde Gilgal, quando deu aquele grito que incitou uma divisão entre irmãos, e uma rebelião contra o seu rei.

Todos temos que viver sob a autoridade de alguém.    Na verdade, não existe independência absoluta, porque sempre haverá pessoas de quem dependemos para alguma coisa.    Existe, porém, um certo espírito que ambiciona excessiva liberdade acima de tudo – até da autoridade divina sobre sua vida.   Esse espírito é maligno, pois se chegamos a dar o grito de “independência ou morte”, como fez Seba, a nível espiritual, se é que o conseguiremos, poderá parecer que logramos ser reis de nós mesmos, mas, ledo engano, o que seremos, sim, é escravos de nós mesmos, e ficaremos distantes de Deus, da Sua bondade, amor e misericórdia.

Perder ao Senhor como o rei de nossas vidas é perder a vida mais abundante.   É sermos separados do Seu Reino de paz, amor e salvação.   Não vale a pena tal espécie de liberdade, pois, no final, não é liberdade.   Não vale a pena tal tipo de independência, pois que nos tornamos inimigos de Deus, tal e qual Seba se tornara inimigo de Davi, para seu próprio prejuízo.  Seu grito de independência ou morte o levou à morte.

Necessitamos, sim de alguém para reger e bem ordenar nossos atos, nossas vidas como um todo, mas somente de um regente que seja bondoso e misericordioso para conosco.

Jesus é o Rei que em breve irá reinar em Jerusalém, regendo com vara de ferro ao mundo todo.   Ele assim prometeu e o fará.   Ninguém se indigne contra Ele, pois isto seria uma loucura.  Ninguém O ignore!   Muitos não percebem isto, mas ao chegar o dia, verão com seus próprios olhos.   Que ninguém queira pagar com a vida para constatá-lo.   Não perca a cabeça!

“Honrai a todos.  Amai aos irmãos.  Temei a Deus.   Honrai ao rei!“ (I Pedro 2:17)

Se O convidarmos para ser o Rei de nossas vidas, isto só nos reverterá em muitas bênçãos, e a uma vida eterna cheia de felicidades.   É o que devemos fazer agora, e sempre.


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