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I SAMUEL – XXV – LIGAÇÕES PERIGOSAS

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marzo 14, 2016 by Bortolato

Às voltas com laços comprometedores, situações complicadas demais para um simples mortal, podemos estar envolvidos em uma guerra muito inconveniente, que promete oferecer estresses, traumas, desespero, e decisões emergentes, quando não apressadas – e a pressa, lembre-se bem, é inimiga da perfeição.

Em busca da segurança, pão para suas famílias, conforto para seu lar em uma oportunidade profissional, estaremos nós no lugar certo?   Foi para ali onde Deus o direcionara e abrira as portas?

Há colocações em empregos e trabalhos que não são salubres, o que pode trazer, com o tempo, graves complicações para a saúde, e até acarretar em morte.   Muitos são os processos litigiosos que foram movidos contra empresas que ofereceram vagas a empregados onde foram causados sérios problemas insalubres, e muitas foram as viúvas que por este motivo culparam aos empregadores, e muitas foram as indenizações irrisórias pagas, que jamais pagariam o valor de uma vida perdida.

Um outro exemplo de ligações perigosas é quando alguém decide prestar seus serviços para uma máfia.   O ingresso já é ameaçador, e muitos que dessas organizações quiseram sair, pagaram com a vida.   Citamos aqui o exemplo de Tommaso Busccetta, um dos mais importantes membros da Cosa Nostra, máfia siciliana, a qual delatou ao juiz Giovanne Falcone os organogramas e planos, tornando-se um dos primeiros mafiosos arrependidos.   Nunca mais teve tranquilidade em sua vida, pois teve de passar o restante de seus dias fugindo de um lugar para outro, até morrer.

Alguns poucos policiais, raros, diga-se de passagem, disfarçadamente arriscaram-se a ingressar nessas organizações criminosas, a fim de poderem exercer o papel de espiões, aparentando ser membros associados.   Estes tiveram que pagar um alto preço por sujeitarem-se a fazer tal jogo duplo. Em certos momentos não se sabia de que lado realmente estavam militando. Os que foram descobertos antes de terminar seu trabalho, não viveram para contar a sua história.

Em I Samuel, capítulo 27, lemos que Davi associou-se aos filisteus em busca de um refúgio seguro contra os ataques de Saul, e um lar para as famílias dos que o seguiam.

O Senhor já o havia advertido para não sair dos termos de Judá, e a não permanecer em terras estranhas ao povo de Israel (I Samuel 21:15) através do profeta Gade.   Davi, porém, sentindo-se muito próximo e vulnerável às investidas do exército de Saul, foi pedir sua “adesão” aos exércitos de Áquis, rei de Gate, um rei líder dos filisteus… para fazer um jogo duplo às ocultas.

Em I Samuel capítulo 28, vemos que um inevitável, certo dia, aconteceu: os filisteus abriram guerra contra Israel e Áquis convoca a Davi para ir com ele à luta, para fazer o papel de guarda pessoal daquele rei filisteu.

Ao tomar conhecimento do problema prestes a estourar sobre sua cabeça, e da função que ele estava sendo chamado para desempenhar, Davi se viu em apuros.

Lutar contra o povo de Deus, seu amado Deus, e contra o povo a quem serviu muitas e muitas vezes com todo o coração e denodo, o povo que era da sua família, dos seus queridos e amados patrícios?   Isso ele jamais consentiu em suas ideias.   Quando a serviço de Áquis, Davi atacava, sim, aos amalequitas, gesuritas e gersitas, mas dizia que assim procedera contra o… território sul de Judá, e contra os aliados dos filisteus, só para causar uma boa impressão… ao povo que era seu inimigo!

Ao ser interpelado por Áquis, Davi responde-lhe de forma ambígua:

“Assim saberás o quanto o teu servo pode fazer” ( I Sam. 28:2a)

A situação tornara-se muito difícil para Davi e seus homens. Teriam que marchar contra Israel, e em algum momento da batalha, eles teriam que decidir melhor o que fazer: voltarem-se contra os filisteus?   Certamente. Esta lhes parecia a melhor opção, o que poderia redundar em uma queda diante destes, se Saul estivesse fadado a ser derrotado, na oportunidade – e o que, afinal, veio a acontecer?

Davi teria, como alternativas, que trair ao seu povo, ou trair aos filisteus, seus então atuais hospedeiros, com quem estava comprometido até o pescoço.   Seu jogo duplo, ao que tudo indicava, estava chegando ao termo final.

Trair a Israel tinha um significado muito terrível para Davi.   Seria servir a gentes que se ufanavam de serem protegidos de Dagom, ou de Baal, ou outros deuses.   Esse povo, caso no final da batalha fosse o vencedor, tomaria dos despojos da guerra, e com isto, apresentaria oferendas a seus deuses, em agradecimento pela proteção de que puderam usufruir… e menosprezariam ao Deus de Israel!   Ao único Deus verdadeiro, com quem Davi tinha íntima comunhão, e a Quem servia de todo o seu coração!

E quais os resultados de uma vitória filisteia naquela guerra? O que viria depois a afligir o povo israelita?   Veriam o seu próprio sangue sendo humilhado, rendido, sujeitado a zombarias, maus tratos e opressão de tributos enormes que teriam de ser pagos e serviços serem prestados aos filisteus… Não, isso não estava nos planos de Davi, e nem cabia em seus pensamentos.

E se Saul fosse morto naquela ocasião?   Este seria mais um motivo de escárnio e vanglórias da parte dos inimigos do povo de Deus…

Não se sabe exatamente o que Davi planejara junto aos seus homens, no tocante àquela batalha, depois de haver sido convocado por Áquis… A Bíblia não nos revela isto.   Conhecendo, porém, o seu caráter de servo fiel a Yaweh, e ao Seu povo, entendemos que ele jamais se voltaria contra Quem tanto o abençoou muitas vezes, e de diversas formas.   Ele arriscaria a própria vida para salvar àqueles a quem amava.   Aquilo, porém, lhe parecia, mais do que qualquer outra coisa, uma armadilha da qual teria que planejar muito bem para dela poder escapar com vida e ileso.   É bem possível que ele mesmo estivesse em dúvidas sobre o plano “A”, ou um plano “B”, ou “C”, quem sabe?   Certo era que ele estudaria bem o momento mais adequado de tomar a sua decisão a respeito, e os seus homens o acompanhariam a um simples toque sonoro, combinado de antemão.

De qualquer maneira, as circunstâncias daquele momento eram muito delicadas…

Mataria Davi aos pais e irmãos de suas esposas Abigail e Ainoã?   Aos parentes seus, filhos dos seus tios, e os companheiros do seu clã, de seu próprio sangue, que chegaram por vezes a combater os filisteus ao seu lado, e que não tinham comunhão com o espírito perseguidor e malfazejo de Saul? Jamais.

Como homem de Deus, Davi orava muito, e pedia muito que o Senhor o livrasse do mal.   E o Senhor o atendeu, dando-lhe uma saída honrosa.

“Não veio sobre vós nenhuma tentação que não fosse humana.   Mas fiel é Deus, que não deixará que sejais tentados acima do que podeis suportar. Antes, com a tentação, vos dará também o escape” (I Coríntios 10:13)

Os outros reis filisteus chegaram antes ao local de seu acampamento.   Áquis e Davi chegaram na retaguarda.   Logo, porém, os chefes filisteus puderam notar que havia hebreus no meio de seus exércitos.   Aquilo não lhes cheirou bem, pois no passado já tinham experimentado que, quando seus inimigos hebreus tomam a iniciativa da luta e começam a ferir a alguns dos filisteus, os de Israel que pareciam ter passado para o lado oposto, de repente voltavam-se contra os inimigos de seu povo ( I Sam. 14:21). E Davi estaria prestes a fazer o mesmo.

Os líderes filisteus então conversam entre si, e decidem ir falar com Áquis sobre essa convivência com estrangeiros de nação contra quem queriam lutar.   Não admitiam aquilo.   Contudo, nada como a diplomacia entre eles.   Os filisteus tinham um governo colegiado, que dividia o poder entre os reis de Asdode, Asquelom, Gaza, Ecrom e Gate.  Ao parlamentarem sobre a presença de judeus entre eles, Áquis esclareceu que se tratava de Davi, que, sofrendo os desafetos de Saul, estava ali para provar sua fidelidade ao seu novo rei… da Filístia.

Ao saberem que se tratava de Davi, os líderes filisteus redobraram sua indignação contra aquela adesão.   Até porque todos já tinham conhecimento dos cânticos das mulheres de Israel, que dizia que “Saul matou milhares, mas Davi dez milhares…”   Essa fama não havia sido esquecida.   Davi era conhecido por ter sido um eficientíssimo matador de filisteus. Isto significava que a sua presença ali tinha mais tom de ameaça do que de ajuda.

O bom senso prevaleceu entre os reis filisteus, e eles conseguiram perceber que, em meio à batalha, os supostos adendos hebreus poderiam voltar-se, e pelejarem a favor de Saul, o que certamente custaria a cabeça de muitos dos seus soldados.   Isso até contaria pontos a favor de Davi perante Saul, e ser a ocasião propícia para uma reconciliação entre ambos, para a desgraça dos filisteus…   E era uma verdade.

Só Áquis não estava concordando com essa hipótese.   Para ele, Davi fora-lhe um fiel súdito, que havia conquistado a sua plena confiança, pois que não se dera contas de que o hebreu estava fazendo um papel duplo, fazendo coisas às ocultas, e dizendo outras coisas para dissimular sua fidelidade a Israel, somente para impressionar o rei filisteu. Por dentro, porém, Davi conservava o seu espírito fiel a Yaweh, e ao Seu povo…

Devido à pressão dos demais reis filisteus, Áquis teve de ir falar com Davi, para pedir-lhe, quase que apresentando seus sentimentos de lamento, e suas escusas, que se retirasse dali juntamente com os seus soldados, e voltassem a Ziclague.   Davi apenas responde perguntando onde foi que ele teria errado, para que fosse dispensado daquela batalha naquele momento.   Áquis concorda com ele, dizendo-lhe que nada pensou de mau que pudesse denegrir o seu comportamento, mas os demais chefes filisteus o rejeitaram terminantemente.

Este incidente não foi senão um livramento de Deus para Davi.   Ele não teria que voltar-se contra quem o havia abrigado em sua cidade por certo tempo, livrando-o das garras de Saul. Por outro lado, tampouco teria que tentar salvar a Saul novamente, pois, ainda que o conseguisse, quem diria que Saul não o capturaria e o mataria logo a seguir?

Ocorre que Deus tinha seus planos para Davi, e outros planos para Saul. A um, haveria de levantar; e a outro, de abater.   Saul já havia dado seu exemplo de coragem e ousadia perante os inimigos de Israel durante bom tempo, por mais de quarenta anos. Tinha escrito uma grande folha de serviços em favor de seu povo, mas era chegado o final de seu tempo na Terra; então estava chegando a hora de Davi ser elevado ao trono de Israel, conforme a palavra do Senhor a ele dedicada através do profeta Samuel.

Deus é fiel, e a Sua palavra não cai por terra.   Ele tem o melhor para os Seus servos, e cumprirá as Suas promessas.

Em meio a complicadas e esdrúxulas situações, muitas vezes ficamos sem entender a Sua santa e bendita vontade.   Graças a Ele, não necessitamos entender, porque Ele é quem planeja, e tem o poder para executar Seus planos.   Cabe a nós confiarmos em Seu amor e providência, em que pese tudo parecer confuso até demais.

Ao cumprirmos o Seu querer, mesmo não o compreendendo, veremos que a Sua vontade feita só trará alegrias em um futuro não muito distante.

“… Seja feita a Sua vontade, assim na Terra como no céu…”


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