II SAMUEL – XVII – A MANEIRA DE DEUS ESCREVER
Comentarios desactivados en II SAMUEL – XVII – A MANEIRA DE DEUS ESCREVERagosto 30, 2016 by Bortolato
É como dizem: “Deus escreve direito em linhas tortas.” E muitas vezes não escreve do jeito que gostaríamos que fossem escritas as coisas, mas quando bem analisamos tudo, depois dEle haver escrito o livro da nossa História, verificamos que, no final das contas, do nosso jeito tudo ficaria muito desconexo, sem continuidade, ruim mesmo, e muito embora tenhamos, no presente tempo, de sofrer alguma perda na senda de Seus passos, com o Seu encaminhamento o futuro nos sairá bem mais vantajoso e abençoado. Basta pagarmos para ver, e o veremos.
O fato é que tudo irá bem, no final, para os bons, ou melhor, para os que amam a Deus, e são chamados para os Seus propósitos. O que é terrível, porém, é que a recíproca também é verdadeira. Mal irá para os que se enveredam por sendas da injustiça, e andam longe dEle .
Nas palavras do apóstolo Paulo:
“Sabemos que Deus faz com que todas as coisas contribuam para o bem daqueles que O amam e são chamados segundo o Seu propósito” (Romanos 8:28) – mesmo nas piores das circunstâncias.
O que é difícil para alguns, porém, é entender os caminhos que Deus usa para nos conduzir em triunfo, em meio a graves perdas. É um paradoxo, mas isto é assim mesmo.
Como exemplo disso, muito stress sofre quem por desventura chega a perder um filho, ou um cônjuge – mas quem poderá dizer do que os pais ou cônjuges ficaram livres, quando os perderam em algum momento? Ou até mesmo, qual o destino da alma daqueles que se foram? Só Ele, o Criador, sabe pesar cada valor e tem nas mãos as bênçãos a que tanto aspiramos.
E se falarmos das maneiras pelas quais tais perdas se deram, é algo que pode até trazer maior dor ao coração dos pais, mas Deus é sábio, e entende o que de fato é o melhor para os que são Seus.
Em II Samuel 13 lemos que o rei Davi perdeu Amnon, seu primogênito, de maneira mais que trágica: assassinado pelo próprio irmão, Absalão.
Em II Samuel, capítulo 18, lemos que Absalão também foi morto em pleno vigor da vida, e este foi mais um drama para Davi.
Esses dois filhos de Davi desenvolveram a impiedade dentro de seus corações, e colheram o seu fruto correspondente. Eram, cada um deles por sua vez, os maiores candidatos a herdarem a coroa de Israel. Se isso tivesse realmente ocorrido, teria sido um bálsamo para o coração de seu pai. Se eles tivessem sido sensatos e esperassem até chegar o tempo em que o rei ficaria idoso ao ponto de não poder suportar o peso que recai sobre os ombros dos que se propõem a suportar os encargos da realeza.
Teria sido aprovada por Deus a coroação de qualquer desses dois filhos mais velhos de Davi? O tempo nos disse que não.
O Senhor já havia prometido a Davi que um filho seu haveria de reinar em seu lugar, e que teria condições morais e espirituais para construir para Ele um maravilhoso templo – porém, nem Amnon e nem Absalão teriam que ser esse descendente que Deus aceitaria para essa tarefa. Exigências de Deus, que fazer? Ele, o Deus de Israel, não quis assim. Davi teria ficado satisfeito com qualquer deles para sucedê-lo no devido tempo, mas… tudo correu diferente.
Tanto Amnon quanto Absalão se corromperam espiritualmente de forma a não reunirem as qualidades esperadas e a serem rejeitados pelo Senhor, e excluídos do trono de uma forma drástica, desenhando dois dramas na história da vida de Davi.
Ambos esses filhos do rei tiveram que ser excluídos do mundo dos vivos desta Terra. Excesso de rigor divino ao examinar os pré-requisitos que um candidato ao trono deveria preencher? Podem os críticos pensarem que sim, mas somente Ele é quem sabe o que se passa nos corações de cada uma de Suas criaturas. As suas mortes não foram provocada por Deus, mas o fato é que, entre voltas e revoltas, Ele é Soberano, e faz aquilo que Lhe apraz.
Em II Samuel, capítulo 17, vemos as tramas que se desencadearam depois que Absalão apoderou-se, pela astúcia e pela força, do trono de Israel. Tramas de guerra e de espionagem, mas apesar de tudo, estas concorreram mais para manter Davi no trono, pela intervenção da mão de Deus.
Aitofel, o maldoso conselheiro de Absalão que traiu a Davi, era detentor de uma grande perspicácia em assuntos de guerra. Estava com Absalão em Hebrom fazendo-o rei, e veio com este para Jerusalém. Logo foi chamado à sala do trono com a finalidade de poder lançar suas ideias e opiniões a respeito de como poderiam criar mais força para liquidar com Davi. Se lograssem fazer isso, ser-lhes-ia mais fácil guerrear contra os que se mantiveram na condição de conservadores contra-revolucionários, pois o rei Davi lhes representava tanto quanto um anjo de Deus que sempre os conduzia em triunfo.
Aitofel estava envenenado pela sede de vingança. Vingança sobre a morte de Urias, o heteu, e a desonra que Davi trouxe para a sua família, adulterando com Bate Seba, sua neta. Ele havia escondido em seu coração este ressentimento, mas nutriu-o durante anos, e com o retorno de Absalão a Jerusalém, pôde encontrar um forte aliado, e então vislumbrou a possibilidade de destronar a Davi, usando o próprio príncipe herdeiro para tanto.
Chegados ao ponto das tropas de Absalão terem invadido a Jerusalém, cidade-sede do governo de Israel, e lá se assentarem, logo depois de Davi ter-se evadido com sua guarda e com a base de seu exército, algumas medidas pareciam a Aitofel claramente emergentes e que tinham de ser tomadas, sem demora.
Aitofel sabia que não teria dado tempo a Davi e seus homens para assimilarem o choque de saberem que Absalão fora feito o novo rei de Israel, e que estava em pé de guerra contra o próprio pai.
Também sabia ele que o curto lapso de tempo corrido até então não teria dado condições para aquela retirada das tropas de Davi ter-se provido suficientemente de alimentos e serem sustentados por muito tempo.
Sabia também ele que Davi deveria estar ainda em fuga, estressado, psicologicamente abalado, escondido por algum canto de Judá, com tropas de homens cansados e famintos, em um deserto onde é difícil encontrarem até mesmo água para beberem. E tudo isso constituiria elementos que concorriam a favor da Absalão. Aitofel sabia bem disso.
Sabia que aquela fuga em massa não teria permitido a Davi o tempo necessário para bem organizar um plano de contraofensiva à altura para enfrentar aos homens de Absalão. Daí, se houvesse uma ação militar rápida e fulminante da parte de Absalão para fazê-lo antes que o exército de Davi reunisse forças, logística e organização para bem se recompor, a vitória lhe sorriria com todas as probabilidades. Para isto, calculou Aitofel que seriam necessários apenas doze mil homens escolhidos, famosos por seu denodo, coragem e rapidez de ação.
Sabia Aitofel que, se isso não fosse feito com certa urgência, os homens de Davi, com certeza, seriam capazes de se armarem física, psicológica e belicamente, e bisar inverter a vantagem inicial de Absalão.
Assim viu Aitofel o cenário daquela guerra interna expor-se diante de seus olhos. Ele então queria ser o próprio comandante dos doze mil guerreiros escolhidos para executar aquela “operação relâmpago”, capaz de capturar e eliminar a Davi, pondo o exército do velho rei em sujeição. Seu plano era realmente muito eficiente, e cremos que somente ele mesmo é quem saberia colocá-lo em prática da melhor forma. Se ele lograsse fazer isto, daria um cheque-mate sobre o rei Davi naquele tabuleiro de xadrez – e, feito isto, os fieis seguidores do rei deposto iriam perder a sua força, o que renderia mais força para o reinado de Absalão.
E foi assim que Aitofel aconselhou a Absalão.
Absalão, contudo, como um rei novato, mal sabia ainda governar naquele seu noviçado, e com isso, não soube avaliar a pertinência e relevância do conselho que acabara de receber; e eis que então chama a Husai para lhe pedir uma segunda opinião a respeito do traçado de planos daquela guerra.
Husai então ficou sabendo da proposta de Aitofel, mas ao ser chamado, já estava de espírito preparado para o que teria que falar. Ele estava prevendo que teria que apagar o brilho e minimizar o valor do conselho de Aitofel, pois para isto mesmo foi que Davi pediu-lhe que ficasse em Jerusalém (15:34), e o Senhor lhe deu sabedoria para cumprir esse papel.
Com palavras maestrais, Husai pondera que Davi, como experiente homem de guerra que era, com certeza não estaria passando a noite com os demais do povo que o seguiram, e daí a possibilidade de achá-lo seria muito remota, o que daria muita chance para o plano de Aitofel fracassar, pois estariam, no caso, guerreando apenas com alguns comandados de Davi, apenas os seus companheiros, e com isso não capturariam o rei, a figura mais importante e o alvo da manobra militar em vista.
Husai também enfatizou que os famosos homens de Davi, que ostentavam em seu currículo grandes feitos em guerra, estariam muito furiosos e poderiam, em um primeiro momento do confronto, derrubar a frente mais avançada do exército de Absalão, o que desencadearia em um alarde que faria esmorecer o ânimo dos seus mais valentes, levando-os a voltarem atrás derrotados. E como Davi devia estar escondido em alguma caverna, ou algo do gênero, a melhor estratégia de guerra seria reunir “rapidamente”(como o poderiam?), não apenas doze mil, mas todo o exército de Israel proveniente de Dã (extremo norte) até Berseba (extremo sul de Israel), para vasculharem diligentemente a terra, até encontrá-lo com apenas aquela sua reduzida escolta.
Husai foi tão enfático ao lançar a sua proposta como um eloquente advogado, que conseguiu convencer a todos, inclusive a Absalão, de que este seria o melhor estratagema.
Este, pois, foi o agir de Deus naquele conselho, desfazendo os planos terríveis de Aitofel, porque o Senhor ainda queria Davi no trono, e rejeitara a Absalão. Assim escreveu Deus em Seu livro…
Logo depois de sentir que seus argumentos conseguiram enganar a todos daquela corte, Husai comunica-se com Zadoque e Abiatar, cientificando-os dos planos traçados ali, desde os de Aitofel até os seus próprios, e dos perigos que pairavam no ar.
Detalhe importante, porém, seria avisar a Davi disso, para que não permanecesse nos vaus do deserto. Absalão poderia adotar ainda o conselho de Aitofel, e agir paralelamente ao conselho e plano de Husai – isto seria um perigo iminente. Os dois filhos daqueles sacerdotes, Aimaás e Jônatas, então se apressam para levar o recado a Davi, cientificando-o do grave risco de estar onde estava, ainda próximo a Jerusalém, em local talvez até previsto por Aitofel. O melhor seria que todo o exército, a família e seu rei atravessassem o rio Jordão, o que dificultaria a varredura inimiga de encontrá-lo.
Davi, então, com todos os seus, levaram toda aquela noite passando o Jordão, até o amanhecer, e chegaram à cidade de Manaaim, na Transjordânia. Assim ele estaria mais seguro, mais separado e distante de Jerusalém, e teria mais tempo para se preparar para o que haveria de vir.
Esta providência possibilitou a Davi respirar fundo, deu tempo para si e para seus homens poderem receber suprimentos de voluntários. Estando mais próximo das terras de Amon, vieram Sobi, filho de Naás de Rabá, e Maquir, o gileadita de Rogelim, para socorrerem ao rei deposto e aos seus acompanhantes com comida, camas, colchões, bacias, e vasilhas de barro, em apoio incondicional a Davi.
Mais e mais homens vieram ao encontro de Davi, colocando seus préstimos, seus bens e também suas vidas como guerreiros a seu serviço, tal e qual no tempo em que ele fugia de Saul.
Os homens de Davi então puderam dormir um pouco e descansar. Mas apenas o suficiente. Refeitas as suas forças, já se sentiam capazes de irem à guerra. Davi então os conta e a cifra chega à casa dos quatro mil soldados sob o seu comando, de acordo com a narrativa de Flávio Josefo.
Davi queria ir a campo, mas instaram com ele para não fazer isso, pois colocaria em risco a causa, o que daria chance aos homens de Absalão de atingirem o seu maior alvo, que era ele, o próprio rei de Israel.
Davi então ficou em Manaaim, ao lado da porta da cidade, e os seus homens saíram organizados em três frentes distintas. Estas eram chefiadas por Joabe (o terrível Joabe), Abisai, seu irmão não menos feroz guerreiro, e Itaí, o geteu, o filisteu que desejava ser um guerreiro mercenário de Davi, que encontrou a oportunidade que ansiava para demonstrar o seu valor. Eram pouquíssimos, diante dos homens de Absalão, mas eram a nata dos homens de valor na guerra.
Centena por centena, iam saindo suas tropas de Manaaim, avisadas de antemão de que o rei queria que não ferissem e nem maltratassem a Absalão. Era o coração do pai ainda amando ao seu filho rebelde. Esta ordem foi mal acatada por Joabe, que, ao ouvi-la,aquelas palavras foram barradas no bloqueio de seu entendimento, como que em uma crosta, na barreira da sua ferocidade. A sagacidade guerreira de Joabe era lutar e lutar até vencer e arrasar com os adversários. Quando ele olhava para os exércitos inimigos, ele não planejava ter piedade. Joabe e seu irmão Abisai eram máquinas mortíferas, acostumadas automaticamente a matar, e ai dos que ousavam enfrentá-los nos campos de batalha.
Nesse meio tempo, Aitofel, que se decepcionara quando viu que o seu conselho não fora acatado, pesou bem a sua situação. Avaliou as chances e os riscos do exército de Absalão sofrer derrota, pensou e repensou. Desconfiou de que o conselho de Husai tivesse segundas intenções, e achou que até mesmo dentro da corte de Absalão poderia haver mais homens fazendo jogo duplo, fieis a Davi – e se assim fosse, ele logo seria traído, caso a guerra se prolongasse.
E como Aitofel avaliava aquele plano de ação militar que Absalão adotara? Como uma temeridade. Agora aqueles terríveis homens de Davi já teriam tido tempo suficiente para se refazerem, organizarem-se, e estarem prontos para a luta.
Davi jamais havia perdido uma só batalha sequer. Sua fama como herói nacional era amplamente decantada. Seus generais mais aguerridos do que quaisquer outros do Oriente Médio estavam com ele, entre os quais Joabe e Abisai, que eram seus sobrinhos, homens fortes, valentes, que nunca recuaram em confrontos contra adversários – e agora naquelas circunstâncias, mais do que nunca, eles pareciam leões famintos com sede do sangue de suas presas.
Aitofel calculava: Benaia, filho de Joiada, o comandante da guarda real de Davi, saiu com o rei, e era homem destemido, que enfrentara a dois heróis moabitas, e também um gigante egípcio, aos quais matou. E se falarmos de Jasobeão, que matou a trezentos em uma certa feita; e Eleazar, filho de Dodô, que defendeu sozinho um campo cheio de cevada e pôs uma tropa de filisteus em retirada (I Crônicas 11:10-46), e tantos outros temidos homens, hábeis para pelejar, e que nunca saíram derrotados apesar de todas as circunstâncias se levantarem contra eles, e deixando os seus inimigos estupefatos.
E agora, Davi já contava com mais voluntários para o ajudar, os quais estavam prontos para irem à guerra.
Tendo o plano de Aitofel sido desprezado, foi descartado com isto o elemento surpresa, de vital importância para fazer funcionar um ataque fulminante contra Davi. Teria sido a única oportunidade que Absalão teria de vencer ao próprio pai. O conselho de Aitofel, contudo, não foi seguido, para seu prejuízo, e já por aquele tempo, Absalão estava indo pessoalmente a campo para arriscar-se numa guerra contra os “leões de Davi”.
Em dado momento, Aitofel chegara à conclusão: ele já sabia qual haveria de ser o resultado daquilo: – Davi se sairia vencedor, retornaria e retomaria o seu lugar, assentado no trono de Israel – e ele, aquele que lhe traiu a confiança, seria julgado e condenado; submetido, quem sabe a que tipo de tortura antes de morrer? Isto sem se contar a vergonha que teria que arcar sobre seu rosto perante todo o Israel. Provavelmente seria lançado em uma cova comum, destinada a criminosos. Ele então decide sozinho escolher o tipo de morte ao qual preferiria submeter-se, e vai para a sua cidade, para sua casa, coloca em ordem tudo o que diz respeito a direitos de herança, enforca-se e é sepultado na sepultura de seu pai. Era o princípio do fim de uma rebelião em Israel.
Enquanto isso, as forças de Absalão, que já deviam ter feito aquela varredura pelas terras de Judá, e nada encontrado, juntou-se em Gileade. O confronto decisivo, porém, se deu em um bosque chamado “bosque de Efraim”, que então era uma cerrada floresta. Havia ao lado um esplanada árido, onde se teriam avistado as duas milícias. Por uma providência divina, o que alguns denominariam de ironia do destino, aquela selva acabou se tornando em uma arma mortal para ferir os homens de Absalão, e para ele próprio. O terreno era cheio de escarpas repentinas, imprevistas em meio à densa mata, o que certamente serviu para ali caírem muitos homens pelas ribanceiras, os quais se chocavam com pedras, naquelas quedas.
Os homens de Davi irromperam contra os de Absalão, matando a muitos, e iam vencendo aquela batalha, fazendo com que os seus inimigos batessem em retirada espavorida. Embrenhando-se no meio da vegetação densa, procuravam ali ocultar a sua fuga, e então caíam fatalmente naqueles altos barrancos, e morriam.
O texto hebraico nos diz que Absalão, apertado pelos homens de Davi, também se dirigiu ao bosque para escapar sobre sua montaria, e sugere que ele, apanhado de surpresa, tivesse ficado preso pela cabeça em um ramo de um carvalho. O tranco que ele sofreu deve tê-lo deixado fora de combate. A Escritura não sugere que ficou preso pelos cabelos, o que não seria provável, pois que devia estar usando um capacete, mas o fato é que o seu mulo onde estava montado foi-se embora na corrida, e o deixou ali, preso pela cabeça e dependurado naquela árvore, sem poder dali sair por suas próprias forças.
Um soldado de Joabe o viu, e foi logo contá-lo ao seu general, Joabe. Joabe o repreendeu por não haver matado a Absalão, e entraram em uma curta discussão por isso, a qual se encerrou logo, cessando aquele diálogo, pois que sentiram que não era hora para se perder tempo com conversas.
Joabe chegou ao local juntamente com mais dez jovens com ele. Aproximando-se, procurou logo um ângulo apropriado para cravar três dardos no coração de Absalão. O jovem príncipe, ainda que ferido, continuava vivo, debatendo-se como podia, mas não pôde se defender, e então os dez jovens que levavam as armas de Joabe o cercaram e terminaram de matá-lo, matando também os seus sonhos de ser rei em Israel, e de destronar seu pai, Davi.
“O homem pode fazer muitos planos, mas a resposta vem da boca do Senhor”(Prov.16:1)
Na sequência, o exército de Absalão continuava correndo em fuga, apavorados, para dentro daquela mata, e muitos iam morrendo naquela terrível retirada – mais foram os mortos pelo bosque do que os que o foram por meio da espada.
Ao ver Absalão morto, Joabe toca a trombeta para fazer cessar a perseguição. Muita gente já havia morrido até então – cerca de vinte mil de Israel. Foi um dia de amarga vitória para Davi, tendo que guerrear contra seu próprio filho, contra seu sobrinho Amasa e contra o seu próprio povo que um dia o havia coroado rei.
O corpo de Absalão foi lançado em uma cova, e coberto com muitas pedras. A coluna que ele levantara em vida no vale dos reis para servir-lhe de sepultura, ficou sem ele. Seus filhos homens, ao que consta, já não eram mais vivos. Não deixou herdeiros homens, para perpetuar sua semente.
Era então chegada a hora de voltarem Joabe, Abisai, Itaí e suas tropas para Manaaim, mas como entregar a notícia completa ao rei, que ficou à porta da cidade, esperando-as? Como dizerem que morreu o seu filho querido?
Joabe escolhe um homem para levar a nova, um etíope. Este logo sai, e vai correndo. Aamaás, filho de Zadoque, também quis levar a notícia, e insistiu, até que Joabe o consentiu.
Aimaás chegou primeiro a Manaaim, e entregou a mensagem de que a guerra foi ganha contra as forças de Absalão – mas como era do seu feitio, nada de notícias negativas, omitiu-se ao ser perguntado sobe a sorte de Absalão.
Então chegou o etíope, e tudo declarou a Davi, nada lhe escondendo. Absalão era morto.
Davi sente um tremendo golpe em sua alma. Atordoado, sem saber o que fazer, procurou um lugar à parte para abrir o seu coração sem detença e sem protocolos. Ele se dirige a uma sala que havia por cima do portal da cidade, com o coração totalmente quebrantado, e clama e chora copiosamente, a seu estilo, dizendo que preferiria ter morrido no lugar de Absalão. Era o coração do pai extremamente amoroso, que se nega a pensar em si, por causa de seu filho, assim como o coração de Deus, que, amando a este mundo pecador, preferiu deixar Jesus, o Deus Filho, morrer na cruz, para livrar da morte eterna os pecadores. Drama do coração de um pai. Morreria pelo filho, para não vê-lo enterrado em uma sepultura.
Davi assim se identifica com o Pai Celeste, como quem divide as dores de haver perdido seu filho herdeiro do trono, o seu predileto.
Absalão era filho de Maaca, uma princesa de Gesur. Como não chorou também Maaca, ao saber que naquela guerra perderia alguém muito querido: ou a Davi, ou a Absalão; ou o seu marido rei, ou o seu filho rebelde, usurpador da coroa real? Por fim, ela soube da morte de Absalão. De qualquer forma, tristeza.
Pode uma mãe esquecer-se de seu filho, a quem tanto ama? Se esta se esquecesse, contudo, o Senhor não se esqueceria de cada um dos Seus. (Isaías 49:15)
Este quadro contém outras características de semelhanças e diferenças que se aproximam do quadro da cruz do monte Calvário.
O Pai Celeste preferiu dar o Seu próprio Filho ao mundo, deixando-O cair nas suas garras mortais, do que permitir que todas as Suas criaturas humanas perecessem. Davi também arriscou deixar que homens ferozes combatessem contra o seu filho Absalão, a fim de poder converter os rebeldes de seu reino, os quais haviam-se voltado contra ele.
O que no entanto é o mais comovente é que o Pai Celeste decidiu abandonar o Seu próprio Filho Jesus naquele momento, e teve que amargar com o Seu suplício e Sua morte. Como Davi chorou muito, dizendo que preferia morrer no lugar de Absalão, todos ficaram sabendo do sofrer de seu coração partido. O que nem todos chegam a aquilatar, e alguns nem o querem saber, é como ficou o coração do Pai, que a tudo aquilo viu, mas ninguém O viu chorar a sós.
Contudo, no Jardim do Getsêmani, cada gota de suor mesclada com sangue de Jesus eram solidarizadas como em contracanto de um dueto, pelas lágrimas que caíam lá do céu. Ninguém pode avaliar o quanto custou a morte de Jesus para o Pai. Pais que perdem os seus filhos podem apenas ter uma ideia, e procurar ser-Lhe solidários nessa dor.
A grande diferença, porém, é que Jesus ressuscitou ao terceiro dia, vencendo a morte, e trazendo muita alegria, consolo e esperança a este mundo que jazia sem esperanças. O Filho de Deus ressuscitou, e com isto, todos os que morreram em Cristo poderão usufruir desse mesmo poder de ressurreição. Que sejamos todos consolados por esta sagrada e poderosa ressurreição, que encha nossos corações com a esperança de uma surpreendente nova vida.
“… tragada foi a morte, engolida pela vitória. Onde está, ó morte, a tua vitória? Onde está, ó morte o teu aguilhão? O aguilhão da morte é o pecado, e a força do pecado é a lei. Mas graças a Deus que nos dá a vitória por meio de nosso Senhor Jesus Cristo”. (I Coríntios 15:54-57)
Category II SAMUEL, LIVROS HISTÓRICOS DO AT | Tags: Absalão, Aitofel, armadilha, espionagem, guerra, Husai, Jesus, jogo duplo, pai chora, Traição, vitória amarga
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