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O PRIMEIRO LIVRO DE SAMUEL – DA TEOCRACIA À MONARQUIA

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octubre 6, 2015 by Bortolato

Depois de sofrer vários reveses em severas invasões estrangeiras, o povo recebeu uma oportunidade de ouro, dada pelo próprio Deus, na qual Israel foi contemplado pela liderança divina, através do profeta Samuel.   O Senhor o levantou para que fosse um porta-voz eficaz, e trouxesse uma revelação útil a todos quantos O buscassem, de modo que toda a nação o buscava para receber a Palavra de Deus, desde a sua juventude.   Este período foi abençoado para o povo, e trouxe vários triunfos importantes para que todos pudessem sentir-se assentados sob a sombra de proteção do Altíssimo (Salmo 91:1).   Alcançou algumas décadas, e foi muito bom enquanto durou.   Os israelitas aprenderam a depender do Senhor para viverem bem, respeitando a Lei, mas em dado momento, tendo o profeta alcançado a terceira idade, o povo, movido pelo desejo de ter sobre si um homem, um monarca para os liderar, as coisas começaram a mudar…   Era um desejo humanista, no qual a fonte da direção política passaria de Deus (que antes vinha diretamente dEle, através de Seus profetas) para uma intermediação de um rei, o que faria com que as diretrizes espirituais, morais, políticas e econômicas, as quais repercutiriam sobre a sorte de todos, depender do tipo de ligação que o tal monarca teria com o Senhor.   Cada rei teria uma vida e uma mentalidade diferente do seu anterior, e isto faria a diferença tanto para o mal como para o bem sobre os seus súditos.

A bem da verdade, esta passagem do cetro da autoridade pública de Deus para o homem não lhes traria lucros, na relação custo-benefício, dentro da dimensão do tempo.   A história de Israel o demonstrou assim.   Os livros de I e II Samuel apenas começaram a contar-nos como foi o desenrolar dessa nova forma de governo adotada.   Os demais livros históricos também o testificam, e os livros dos Profetas, tanto os maiores como os menores o confirmam.   Até os governos políticos da atualidade se nos mostram assim.

SOBRE OS PERGAMINHOS DOS LIVROS DE SAMUEL:

Os rolos do livro de Samuel foram um tanto quanto mal cuidados pelos massoretas, durante o período anterior ao interbíblico. Por esta razão, deu-se ocasião para que I e II Samuel se tornassem em más condições de conservação, e isto se reputa aos constantes manuseios e à antiguidade dos mesmos – o que não deixa de ser um ponto a favor de sua autenticidade.

Apesar de alguns poucos pontos de corrosão das letras ali escritas, o enredo de sua história é muito claro, pois não ficou prejudicado o sentido geral do mesmo.   Aliás, os rolos do Mar Morto, e algumas narrativas dos livros de Crônicas ajudam a esclarecer alguns maus entendidos gerados pelas falhas físicas aparentes nos escritos.

Para sabermos mais sobre como estes dois livros chegaram ao Cânon Sagrado, e divulgados como o são nos dias de hoje, precisamos abordar alguns aspectos.

O primeiro ponto a verificarmos é que estes livros dão uma continuidade cronológica na exposição dos fatos que relata, de forma que poderiam até compor um só livro, de dois tomos – e de fato, no texto hebraico, os dois formam um só, além de serem depois complementados com as narrativas de I e II Reis, e I e II Crônicas.

Uma segunda observação é que a sua forma final é fruto da composição feita através da compilação de obras de vários autores.   Samuel realmente teria sido o autor de boa parte do primeiro livro. Ele conhecia bem a história e o relacionamento do seu povo com Deus.   A escola de profetas que Samuel fundou o permitiu a isto, e ainda a divulgá-la aos seus discípulos.

Em I Crônicas 29:29 lemos que “as crônicas do rei Davi estão escritas nas crônicas de Samuel, o vidente (em hebr.= roeh), do profeta (nabi) Natã e de Gade, o vidente (roeh).” Certamente esta seria uma referência aos livros de Samuel.

Samuel viveu até os fins do reinado de Saul, e Natã e Gade viveram até ultrapassarem os dias de Davi (II Crônicas 9:29).   A arte final dos livros de Samuel, porém, deve ter tido sua primeira edição como hoje a temos em mãos, entre o início do reinado de Roboão, c. 930 AC. e a divisão entre os reinos norte e sul (conforme menção desta em I Samuel 27:6), e a queda de Samaria (c. 722 AC.), fato este tão importante, mas totalmente omitido pelos autores.

ESCOPO:

O livro conta-nos como Israel passou de um regime teocrático para o monárquico, depois que o período dos Juízes fora cheio de percalços morais e espirituais.

Na verdade, o regime dos Juízes era para ser uma continuação do que fora a época de Moisés e de Josué.   Deus falando com Seu povo através de um profeta, de forma que todos O reconheceram, e assim se percebia que o Senhor estava dirigindo e tratando com eles, quer infringindo-lhes uma severa disciplina, com castigos pela infidelidade a Ele e à Sua Lei, quer oferecendo-lhes o livramento através de alguém a quem Ele quis usar para tanto.

O livro de I Samuel então revela que, na época do nascimento do profeta que deu o seu nome à obra, Israel passava por uma crise de falta de temor e reverência da parte até de sacerdotes – o que o Senhor tratou à Sua maneira, na Sua soberania, retirando da Terra os líderes corruptos, e colocando Samuel em evidência.   Por meio de Samuel o Senhor veio a mostrar como Ele realmente desejava dirigir e abençoar ao Seu povo.

Samuel teria nascido por volta do ano 1090 AC., e foi chamado por Deus para ser profeta em tenra idade, perto de 1080 AC. Como cada juiz teve suas características próprias, Samuel se destacou por não ter sido, propriamente, um militar salvador, exímio lutador com sua força e espada nas mãos, mas sim, alguém que tinha íntima comunhão com o Deus verdadeiro – o que, diga-se de passagem, foi o bastante para dar direção firme e segura a um povo que andava cambaleando na fé.

O livro de Juízes mostrou que havia necessidade de que Israel fosse governado de forma a dar unicidade política e espiritual, e não fosse mais uma nação dividida entre tribos ou regiões, desnivelando o nível espiritual do povo de um lado e de outro.   Além disso, ficou óbvio que havia mister que houvesse quem tivesse pulso suficientemente forte para dirigir os negócios mais importantes de toda a nação, de forma a traduzir tudo em temos de conquista de tempos de paz com Deus e descanso dos inimigos.

Mostra também que o povo se sentiu invejoso do tipo de governo das nações vizinhas, que centralizava o poder nas mãos de um monarca, e isso foi apenas uma desculpa gratuita para eles pedirem que o Senhor não lhes fosse mais o seu Rei – pareciam desejar que, quando pecassem, não tivessem que dar satisfações ao Senhor, que sempre quis ser o Rei de Seu povo.   Eles queriam um rei humano, e com isto decepcionaram a Samuel e a Deus, que tudo haviam feito por eles.

Esta não foi uma boa decisão. Pediram a Samuel para apontar-lhes uma pessoa para elegerem ao tal como rei, e o Senhor, ouvindo-o, desagradou-Se, mas no final os atendeu. O primeiro tomo leva então comentários sobre o reinado de Saul, e o segundo fala acerca do reino de Davi.

Uma constituição dada por Deus foi escrita por Samuel (I Samuel 10:25) e depositada ao lado da Arca do Concerto, já por ocasião da instauração do primeiro reinado.

Saul fora o resultado de uma escolha forçada pela pressão do povo, e foi coroado em cerca de 1040 AC., e as consequências desta precipitação trouxe várias amarguras como contrapeso: Davi, o ungido da escolha de Yaweh, foi perseguido ao ponto de Saul ordenar até a matança de sacerdotes de Nobe e dos cidadãos gibeonitas, por ciúmes de seu trono, entre outros feitos de injustiça.

Samuel ainda foi o instrumento que Deus quis usar para passar a unção real da cabeça de Saul para a de Davi, logo que aquele primeiro começou a demonstrar que sua maneira de governar obedeceria mais à sua razão, suas ponderações, e seus impulsos, sem dar atenção devida as palavras do Senhor, e à Constituição que estava aos pés da Arca do Concerto.

Dentro deste contexto, vemos que Deus, ainda que rejeitado pelo povo pela Sua maneira de tratá-lo e dirigi-lo, tolerou esse menosprezo, e continuou a tomar as providências para que o Seu Espírito continuasse a fornecer as coordenadas necessárias ao bom andamento das coisas, debaixo de Sua santa vontade.

Vemos que Saul obedecia a Deus até o limite em que sua própria cabeça assim o decidia fazê-lo, muitas vezes desrespeitando a vontade Soberana.   Isto é para nós um alerta, uma luz vermelha a piscar constantemente e de forma a chamar a nossa atenção.   É muito fácil seguirmos os nossos impulsos, e os caminhos que julgarmos por bem caminhá-los, mas isso tem repercussões funestas, na dimensão espiritual.   Melhor é tomarmos o cuidado devido, pararmos tudo e pedirmos a direção do Senhor em cada momento de decisão a ser tomada – e aguardarmos até que Ele nos mostre a direção com a Sua mão. Ouvir a voz de Deus é um privilégio e ao mesmo tempo uma arte, que demanda muitos sacrifícios da nossa própria vontade, mas vale muito mais do que aquilo que nosso ego consideraria importante, e, muito embora não pareça, as recompensas da obediência a Ele acumulam tesouros duradouros que se projetam para a vida eterna.

Davi, por outro lado, embora sendo um homem como muitos outros, com suas falhas às vezes até mesmo berrantes, logo que caía em si, reconhecia seus erros, e colocava-se perante o Altíssimo com toda a reverência, sempre valorizando o ofício dos santos profetas, tendo-os sempre como verdadeiros e legítimos porta-vozes de Yaweh, o seu Deus.   No frigir dos ovos, entre acertos e erros, Davi soube sempre honrar ao Senhor Yaweh, mesmo nos momentos mais críticos de sua vida, e manteve a humildade esperada de um servo do Senhor de toda a Terra, tanto quando era um pastor de ovelhas, como quando ostentava a coroa real em sua cabeça.  Isso contou e conta pontos para os que o quiserem imitar.

Samuel veio a falecer aproximadamente em 1015 AC., e Saul em 1010 AC, ano em que Davi é feito rei sobre a tribo de Judá, para em 1003 AC ser posto rei sobre todo o Israel. O Senhor foi fiel para com este último, muito embora a plena justiça ainda não tivesse sido alcançada em seu reinado.

No final, conclui-se que a monarquia para o povo de Deus, bem como para o resto do mundo, só será totalmente benéfica quando o grande Rei, Jesus, o Cristo, voltar a esta Terra para governá-la de acordo com a plena vontade divina.   E por isso é que aguardamos o cumprimento da Revelação de Apocalipse, acerca dos tempos do fim.   Ele é a nossa grande esperança, e prometeu voltar para reinar sobre todos os povos, trazendo alegrias para toda a Terra…

 

 

 


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