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RUTE – II – A MULHER QUE ENTERNECEU O CORAÇÃO DE DEUS

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septiembre 17, 2015 by Bortolato

Em meio a crises é que as pessoas se definem e revelam o seu verdadeiro caráter e valor.

A história nos narra a respeito de muitas mulheres que se houveram de forma assaz louvável em épocas difíceis.   Distinguir algumas delas, dentre outras, seria até fazer injustiça às demais, tantas elas são.   A Bíblia mesmo menciona algumas.   Interessante é notar que, mesmo dentro de uma cultura patriarcal, onde os nomes femininos são de forma geral omitidos das genealogias, nas quais os nomes das mulheres, via de regra, não são lembrados, dando lugar a que se destacassem apenas os nomes dos cabeças das famílias, algumas delas foram as raras exceções, não sem motivo.   E o nome de Rute não somente é mencionado, como também realçado e, juntamente com o da rainha Ester, intitulam os dois únicos livros das Sagradas Escrituras que trazem seus nomes e também a sua história.

Uma história comovente, de amor, compaixão, pesar e consolação, tragédia e glória, que nos faz brotar fé e esperança para casos considerados perdidos e definitivamente acabados.   Faz-nos reviver, levantando-nos para a vida quando tudo parecia ter sido consumido pelo fogo da tribulação.

Que mais dizer de Rute? Uma mulher além do seu tempo, alguém que encontrou a chave que abre as comportas das misericórdias de Deus, apenas com o seu modo simples de ser.   Alguém na época da Lei mosaica, Código que era dedicado ao povo de Israel por excelência, sendo ela estrangeira, atira-se aos braços do Senhor Yaweh, e bisa o feito de ultrapassar os lindes do tempo, para alcançar a Graça de Deus e servir para mostrar-nos que a essência divina está além da nossa parca compreensão, e, na Sua soberania, Ele contempla e recompensa a quem quer, independente de dispensações.

Em Rute, no seu capítulo primeiro, começa a narrativa de como se desenvolveu o drama de Noemi e sua família.   Elimeleque era um homem da cidade de Belém de Judá e, tendo havido fome na terra, saiu para ir morar na terra de Moabe com sua mulher e seus dois filhos.   Ali passaram alguns anos, quando então morreu Elimeleque, deixando a Noemi viúva, com os dois meninos.

Os filhos do judeu emigrante, Malom e Quiliom, tendo crescido, não perderiam o direito de herdar a porção de terra de seu pai, em Belém, mas seguindo o curso natural da vida, resolveram casar-se com mulheres daquela terra que os acolheu, desposaram Rute e Orfa, e ali permaneceram, nas terras estrangeiras.

Um duro golpe do destino leva também os dois filhos de Noemi, e ela, bem como as esposas de ambos, perde-os, deixando uma lacuna irreparável, que trouxe muitas dores nas almas daquelas três viúvas.   Não bastasse uma, passaram a ser três as viúvas dentro da casa de Elimeleque.   Era um lar entristecido, onde três mulheres olhavam uma à outra, e só percebiam que a desgraça as tinha alcançado. Por vezes, pareciam estar ainda defronte ao esquife de seus maridos, e não conseguiam mais esquecer-se daquela cena tão terrível. Dividindo a mesma infelicidade, não faltava o choro naquela casa. É até difícil de compreender-se algo assim. Por quê? Essa pergunta não cessa de atormentar, e não há resposta que a satisfaça.

Sendo eles judeus, serviam ao Deus de Israel.   Ensinavam às mulheres moabitas a respeito do Deus maravilhoso que Se revelara ao seu povo.   Ao falarem em casa sobre a fé nesse Deus tremendo, tais como nenhum outro deus o poderia fazer, a palavra, assim como uma semente, caiu nos corações das duas noras.

Realmente, as obras maravilhosas do Senhor são de deixar de boca aberta a quem possa crer.   Dez pragas terríveis sobre o Egito; a abertura do Mar Vermelho; maravilhas no deserto; a abertura do rio Jordão para Israel passar; a conquista de Canaã, dentre outras, foram episódios históricos que somente um coração com fé é que pode impressionar-se e, empolgado com esse Deus, passar a admirá-Lo, buscá-Lo e aninhar-se debaixo de Suas asas, totalmente confiado nEle.

Assim foi o que aconteceu com Rute. Ela não iria aceitar a Yaweh tão facilmente, se Ele não fosse como é, ou, em outras palavras, se Ele fosse apenas um deus como os demais: Quemós, Astarote, Baal, etc.   Ele Se mostrou muito mais nobre, forte, elevado, superior, e achegado aos Seus, sem termos de comparação com que o que se esperava de um simples deus.   Ela ouviu falar dEle, do Deus Yaweh, encantou-se e a Ele se apegou.   Ela amou e aceitou também àqueles que lhe ofereceram a chance de ser Seu adorador: seu marido, seu cunhado, sua sogra.   Alguns destes já se tinham ido desta terra, mas a semente da fé que foi plantada vingou e deu um dos mais belos frutos que o Antigo Testamento tem para nos descrever, se atentarmos bem para aquilo que está por trás das entrelinhas.   O melhor disso tudo é que Deus a observava atento, com Seu cuidado paterno em meio àquelas tribulações da vida, e lhe preparava uma brilhante luz no final do túnel.

E a esperança de quem tem o Senhor é tal, que não há desafios ou obstáculos que não possam ser vencidos.   Tudo é possível ao que crê!

Noemi, então, tendo ouvido falar que a fome em Israel já se acabara e que o Senhor se lembrara de Seu povo, dando-lhe pão, resolveu voltar para a sua terra, em Belém.   Apanhou algumas poucas coisas, seus pertences, e comida para a viagem e um pouco mais.

As duas noras que então moravam no mesmo lugar, participantes daquela mesma desdita, também a acompanhavam, solidárias, saindo juntas para a terra de Israel.

Ao caminharem, as mentes das três mulheres viajavam pelo tríplice problema que carregavam sobre si.   Então certos questionamentos vieram aos pensamentos de Noemi.   Parecia que não tinham outro recurso, senão ficarem a erguer altos construtos acerca de suas vidas:   o que seria delas dali para a frente?   E quais as possibilidades daquelas duas jovens moabitas?   Que consequências lhes adviriam daquela caminhada para Belém?   Muitas indagações cogitavam e povoavam o seu pensar…

Inserimos aqui uma nota explicativa sobre a condição das viúvas:

Certamente que a Lei do Levirato, instituída por Deus na Torah, foi escrita com vistas a amparar mulheres viúvas sem filhos, a fim de que estas fossem recebidas pelos irmãos (Deuteronômio 25:5-10) como suas esposas, o que se estendeu, por analogia, a parentes próximos dos falecidos maridos, fazendo-os casar-se com as viúvas e suscitar descendência das mesmas.   Mais tarde, os saduceus usariam esta Lei querendo apresentar a Jesus um problema sem solução (Mateus 22:23-33).

Esta era uma medida que tinha consequências sobre os direitos das famílias, pois que o parente mais próximo seria requisitado a casar-se com a enviuvada, o que levaria uma primeira escolha a recair sobre o irmão mais velho do morto, o qual seria convocado a assumir tal papel – o papel de remidor – e, na falta deste, sobre um outro irmão, e assim sucessivamente, até alcançar o parente mais próximo vivo.   Esta lei era já conhecida regionalmente como um costume muito antigo, anterior à revelação da Lei de Moisés (no caso de Er e Onã, Gênesis 38:8) – e devido ao andar natural dos acontecimentos, após o remidor assumir este papel, os filhos nascidos da viúva de seu parente passariam a ter direitos que se misturariam com os direitos do remidor que este teria com outra mulher, pois as propriedades passariam a fazer parte de uma só massa de bens, perfazendo um único espólio a ser partilhado em condições de igualdade quando chegasse a ocasião da sucessão.   Por que o Senhor teria permitido tal prática e inserido em Sua santa Lei?   Primeiramente, temos que considerar que a poligamia já era um costume enraizado naquela cultura, e os homens, tanto quanto as mulheres, não a tinham como um ato imoral. Foi o caso de Jacó, e de Elcana, marido de Ana e Penina (I Samuel capítulo 1º).   Um outro ponto importante é que as mulheres daquela época não contavam com o auxílio de uma pensão, pois que não havia o instituto da Previdência Social. As idosas sem filhos poderiam passar por necessidades básicas, ao se tornarem viúvas.

Noemi então tenta convencer suas noras de que a melhor opção para elas seria voltarem às suas famílias paternas, para, quem sabe, talvez, poderem encontrar algum outro homem com quem pudessem casar-se – e se elas a acompanhassem a Belém, a carga de problemas e tristezas só se multiplicaria para as três.   E ela, Noemi, é quem mais se ressentiria disso, impossibilitada de poder ajudá-las naquele momento.

Orfa, a viúva de Quiliom, então compreende as razões da aflição de sua sogra, beija-a num demorado abraço, as duas choram juntas mais uma vez, enquanto Rute também se comove, ao vê-las se despedindo. Era a hora de um adeus. Orfa volta para Moabe, e por certo, também para os deuses cultuados naquela terra pela família de seus pais.

Rute, porém, enxerga mais longe.   Ela vê que sua sogra, mulher valorosa, mas já idosa, a quem muito amava, estava em difícil situação, mais do que as duas moabitas.   Deixá-la seria romper com os laços familiares e de amor, para nunca mais tornarem a ver-se.   Como seriam os últimos dias de Noemi?   Com idade avançada, sofrendo das precariedades de saúde que os anos trazem?   Será que as pessoas não a tratariam como se fosse um bem depreciado, que perdeu o seu valor?   Isto seria como entregá-la às dores reumáticas, à cegueira das cataratas, ou a alguma doença crônica?   Ou à miséria? Então se perderia o precioso amor à sua sogra e o promissor caminho em companhia com Yaweh?   E quem então daria continuidade às lições e orientações bíblicas que tanto glamour lhe haviam proporcionado, apenas como um tira-gosto, com algumas poucas palavras básicas da Torah?   Quantos segredos mais haveria sobre aquele Deus, que ela precisaria saber, tirar proveito e ser mais abençoada?

Voltar para Moabe seria desligar-se do Senhor, além de desligar-se de Noemi.

Noemi dizia que a mão do Senhor havia-se voltado contra ela (1:21).   Rute a ouviu atenta, mas essas palavras não estavam de acordo com o Deus que tão bem fez e faz aos israelitas que Lhe são fieis – tanto que Noemi desejava agora retornar à terra que o Senhor lhe havia dado, e que a esperava em Belém.   Se Noemi tinha lá alguma esperança no seu estado desgastado naquela Terra Prometida de Israel, que dirá uma jovem viúva que a ela se apegou?

Coisas dos planos divinos. Rute precisava ir a Belém, porque, dentro dos planos de Yaweh, ela tinha que dar à luz não somente a Obede, que mais tarde seria o avô de Davi, mas lá mesmo em Belém, um dia, em uma humilde estrebaria, da sua descendência nasceria o Rei que haverá de reinar sobre este mundo, de mar a mar, e eternamente – e a nível individual, esse Rei é o nosso justo Juiz, nosso médico acima de todos os médicos, nosso psicólogo que trata das dores das nossas almas, nosso advogado diante do Pai Celeste, e nosso Redentor, que nos remiu, pagando um preço de sangue, dando a Sua própria vida com vistas às nossas necessidades espirituais.

Rute então profere aquelas lindas palavras, que muitas vezes são lembradas em cerimônias de casamentos, para enfatizar o amor e a cumplicidade com que se comprometeu no dia daquela celebração:

“Não insistas para que te deixes…”   Palavras e argumentos não podem apagar o amor. Palavras são veículos de formalização de pensamentos, mas o amor é o conteúdo da alma que não se deixa obscurecer por sofismas.   Palavras podem tentar nos enganar através de raciocínios, mas o amor não se deixa desviar do seu alvo que é a pessoa amada.

Rute ouviu a prédica de Noemi, e concluiu que precisava deixar claro que, apesar da lógica daquele discurso negativista, ela não perdera o foco de seu alvo principal, e nada mudou em seu coração, que não perdeu o amor, mesmo com a morte de Malom, agora seu ex-marido, e o amor é lindo. Ela continua:

“… porque aonde quer que fores, irei eu, e, onde quer que pousares, ali pousarei eu…”

Noemi pensava em Rute, ao apontar-lhe o caminho para voltar a Moabe, mas Rute pensava naquela que a queria dissuadir.   Pensava em Noemi, no seu casamento com Malom, o qual a ligou fortemente à família de sua sogra; no Deus incrivelmente tremendo de quem ouvira falar; na necessidade de haver uma companheira para aquela idosa; naquela ligação que uniu os seus destinos; e no futuro que, embora lhes parecesse sombrio, seria melhor que o enfrentassem juntas.

Rute prossegue:

… o teu povo é o meu povo; o teu Deus é o meu Deus…” (Rt. 1.16)

Mais do que um forte laço familiar e de amizade, Rute agora apela para o que mais a impulsiona a seguir em frente no caminho rumo a Belém. Ela está disposta a assumir a posição de uma mulher que foi esposa de um israelita, e considerava-se desposada de Yaweh, o Deus de Israel.   Não importava mais a questão de nacionalidade ou de raça, pois ela assumiu uma nova identidade após seu casamento. Seu casamento foi uma prova de que barreiras raciais foram há tempo deixadas para trás, porque no lugar desses valores caducos, nasceu o amor, que a tudo supera.   E o amor de Deus a estava acompanhando.

O passado já passou.   O passado jazia antes dos túmulos dos dois filhos daquela família, mas além disso, Rute estava também enterrando em Moabe uma outra Rute.   Seu casamento lhe deu o passaporte de imigração para ela passar para Israel e lá morar com sua sogra.   E ela aproveitou esse passaporte para incluir a frase que denotou o seu desejo de pertencer ao Deus de Israel.   Ela O incluiu em seus planos, e não se importava mais com qualquer outro deus.   O Santo de Israel ainda a haveria de fazer feliz, na família em que fora incluída em seus votos matrimoniais.

E ela decidiu que iria até o fim, perseverante em seu propósito. Sua direção agora era para Belém de Judá, e não haveria mais volta.

“Onde quer que morreres, morrerei eu, e aí serrei sepultada…”

Ela não pensava sequer em voltar para morrer em Moabe.   Estava direcionando sua vida toda à frente para uma nova fase em Israel; como poucos israelitas o fizeram, ela o fez – decidida a não voltar atrás.   Alguns israelitas até quiseram voltar ao Egito, durante o Êxodo, mas não foi uma boa opção para o mesmos – morreram ali no deserto (Números 14:3, 4, 28, 29), mas isso haveria de ser diferente para a moabita…

“… faça-me o Senhor (esta palavra usada foi Yaweh) o que bem Lhe aprouver, se outra coisa que não a morte me separar de ti.” (Rute 1:17)

Rute então mostra a sua fé, apelando para o nome sagrado, Yaweh. Que Ele a castigue, caso ela se separasse de Noemi.

Eis aí a fé: na adversidade, no futuro cheio de incertezas, com vistas a lutas e problemas, a jovem moabita colocou o Nome do Senhor em evidência, significando que estava indo nEle confiada, pondo-se debaixo de Sua sombra. (Salmo 91:1)

Contra o Senhor não restam argumentos. Noemi passou a concordar com Rute, vencida pela boa disposição da jovem, que não somente lhe apresentou razões, como também um espírito inabalável, cheio de perseverança.

As duas viúvas recomeçam a sua caminhada, e seus pensamentos então voltam-se para a maneira como irão vencer as dificuldades do dia-a-dia em Belém (1:19). Logo chegaram a Belém, terra das promessas de Deus, terra de Deus, local onde as bênçãos celestes as esperavam.

Venceu a fé, e esta não ficou envergonhada.   Veja o comentário do capítulo segundo do livro de Rute.


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