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SALMOS – II – ORAÇÕES DIANTE DE INIMIGOS

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septiembre 14, 2020 by Bortolato

Salmos imprecatórios

Não tenho inimigos! Assim dizem alguns, mas esquecem-se de que estamos neste mundo obrigados a lutar contra enfermidades; contra as tentações que tencionam nos envolver com sutilezas; contra os enganos e enganadores que querem nos embromar com seus negócios; e ainda temos que evitar cairmos em maus entendidos; evitar cairmos em extrema pobreza; evitar sermos prejudicados pelas estultícias e loucuras de alheios; evitar sermos vítimas de ladrões e roubadores, bem como evitar passar por caminhos perigosos que ameaçam a nossa segurança; precisamos ainda andar para não escorregarmos aqui e ali, e também não há como escaparmos das pressões, empurrões e assédios de Satanás que nos podem fadar a um mau destino; teremos ainda que enfrentar um mal que se chama morte; temos de lutar também contra a criminalidade, contra as hostes espirituais da maldade… e essa lista começa a ficar mui longa, até demais…

Quando lemos na Bíblia certos Salmos imprecatórios, notamos que o salmista nutria um sentimento de ódio radical contra os seus adversários.

  • Aborreço-os com ódio completo…” (Salmo 139:22)

  • …Para que o teu pé mergulhe no sangue de teus inimigos, e nele mergulhe até a língua dos teus cães …” (Salmo 68:23)

  • O justo se alegrará quando vir a vingança; lavará os seus pés no sangue do ímpio…” (Salmo 58:10)

O Salmo 109 também é um exemplo clássico deste tipo de radicalismo na oração do escritor.

Não se trata de oração em favor dos inimigos, mas sim, CONTRA os inimigos… e ele não somente faz orações neste sentido, mas sente que Deus o apoia dentro desta reação agressiva. Quando havia um confronto face a face, o autor desses Salmos não vacilaria se tivesse tido a chance de matá-los. Sua espada os eliminaria sumariamente, sem pena alguma e sem qualquer dor de consciência.

Como avaliar esse tipo de atitude? O evangelho de Jesus não endossa tal coisa…

Temos, no entanto, que considerar que esses salmos imprecatórios foram produzidos e trazidos à tona quando da época do Antigo Testamento, sob a tutela da Lei de Moisés (conforme Deuteronômio 23:4-6).

Sabe-se que por essa época muitos povos não eram regidos por leis justas, e nem buscavam a justiça plena. Como uma exceção a essa regra, houve uma reação a essa falta de justiça generalizada, quando um rei mesopotâmio, Hamurabi, estabeleceu um código civil e penal com leis muito rígidas, em c. 1700 A.C., com vistas a recuperarem a ordem no meio de seu povo.

A Lei de Moisés surgiu cerca de 200 anos depois, dada por Deus, que adotou alguns dispositivos semelhantes a alguns do código de Hamurabi, tal como a Lei do Talião. Vale observar, entretanto, que a Lei mosaica não adotou vários tipos de fortes punições do código mesopotâmio, mostrando-se até um tanto quanto mais branda no tocante a sanções penais.

Naquele espaço de terras do Médio Oriente era comum haver povos, nações e tribos permissivas no que diz respeito a adultérios, estupros, assassinatos, invasões de assalto, e a violência era muito frequente, podendo até estourar em ondas coletivas, envolvendo grupos de cidadãos que objetivavam atos perversos.

Os amalequitas, por exemplo, constituíam um povo nômade muito numeroso, o qual vivia à custa de assaltos, destruição e despojos subtraídos de outras nações. Os filisteus, como invasores da terra de Canaã, tinha projetos de expansão de seu reino, rumo a leste da terra, em detrimento dos seus moradores, no caso, era onde morava o povo de Israel.

Esta era a cultura das nações que habitavam a terra de Canaã, na época em que foi editada a Lei de Moisés.

Deus viu que essa cultura era perniciosa, pois além de tudo isso fazerem, ainda lutavam contra Israel e contra o Deus de Israel que os tirou da escravidão do Egito. Não se atinaram para o fato de que lutavam contra o Deus que libertou os hebreus e os guiou pelo deserto por 40 anos, provendo-lhes toda a infraestrutura de água, alimento, hábitos saudáveis, e uma vida espiritual de íntima relação com Ele, o Criador e Salvador dos Seus, Varão de Guerra, Todo-Poderoso.

Quando da invasão de Canaã pelos hebreus, a ordem era simplesmente exterminarem os povos cananeus – ordem esta que os israelitas não cumpriram à risca, deixando vários focos da civilização cananita dentro do território de Israel, e por isso mesmo tiveram de arcar com as consequências de sua negligência.

Como resultado disso, os povos cananeus que restaram naquela terra vieram a crescer, influenciá-los, impuseram-lhes duras escravidões e os oprimiram por anos e anos, durante o período dos Juízes (entre cerca de 1.400 a 1.100 A.C.), e disseminaram os antigos costumes no meio do povo de Israel.

No livro de Juízes, capítulos 19 a 21, podemos ler acerca da história de homens perversos da tribo de Benjamin, os quais estupraram uma mulher até a morte da infeliz. Por absurdo que pareça, os líderes daquela tribo decidiram partir para uma guerra civil, negando justiça ao caso, só porque não permitiram que os criminosos fossem punidos – sinal de moralidade corrompida de modo generalizado naquele meio.

Daí notarmos que os povos dessa época e conjuntura social viviam certo tipo de justiça animalesco. Essa cultura foi em parte absorvida pelo povo de Israel, contra a vontade de Deus e para a própria desgraça do povo.

A Lei de Moisés, no entanto, facultou o uso de armas com a finalidade de garantir-lhes a sobrevivência dentro de uma estrutura moral e espiritual que elevaria esse nível animalesco com uma reforma mais humana.

Analisando-se a fundo, a obstinação de homens maus crescia à medida em que estes se viam como os mais fortes, maiores, mais habilidosos com armas, julgando-se uma pseudo raça superior, em detrimento dos direitos do próximo; e com isso homicídios, roubos, saques, estupros, genocídios e outros tipos de pecado do gênero se disseminaram e acabaram tornando-se regra geral daquilo que começara apenas como exceções.

Deus, porém, observava tudo isso desde a Sua santa morada, e uma vez que Ele mesmo prometera que não mais castigaria a raça humana com outro Dilúvio universal como aquele do tempo de Noé, resolveu adotar um povo e ensiná-lo a resistir contra essa cultura recheada de maldades.

Israel pois desapossou as nações cananeias das suas terras, e ali se instalou, a fim de extinguir com esse comportamento nefando dos habitantes que ali residiam de então. Essa invasão fez do povo de Yaweh tornar-se mal visto e odiado pelos seus inimigos, que nunca mais os perdoaram, e cultivam um ódio mortal contra a descendência israelita, desde então.

O povo de Deus tinha que cuidar para não acabar sendo devorado pela espada inimiga. Se hoje parece ao mundo que Israel é um povo belicoso, o qual treina até as suas crianças para aprenderem a guerrear, é porque este era o contexto político, psicológico e social daquela época, em que a nação foi constituída como tal. Assim, o ódio entre essas duas partes era recíproco, venenoso e mortal.

Tendo, porém, chegado à plenitude dos tempos, Israel mesmo, ao fim das suas muitas lutas, guerras, cativeiros, e domínio estrangeiro, entendera que melhor do que guerrear é alcançar a paz.

Jesus, o Cristo, em Seu ministério terreno lançou uma palavra que colocou um termo esclarecedor a respeito da Lei do Talião:

  • Ouvistes o que foi dito aos antigos: olho por olho, dente por dente. Eu, porém vos digo que não resistais ao mal, mas, se qualquer te bater na face direita, oferece-lhe também a esquerda.” (Mateus 5:38-39)

E:

  • Ouvistes o que foi dito: Amarás o teu próximo e odiarás o teu inimigo; Eu porém vos digo: amai a vossos inimigos, bendizei os que vos maldizem; fazei bem aos que vos odeiam, e orai pelos que vos maltratam e vos perseguem, para que sejais filhos do vosso Pai que está nos Céus…” (Mateus 5:43-45a)

Com a autoridade de Filho de Deus, esta extensão à Lei trouxe uma luz maior sobre os Salmos imprecatórios, que foram escritos em época de lutar e reagir aos inimigos, a fim de não serem tragados por estes, e nem permitirem que aquela cultura retrógrada e malfazeja triunfasse e voltasse a imperar sordidamente em suas vidas.

Na plenitude dos tempos o povo de Israel, depois de serem obrigados a submeterem-se a assírios, babilônios, persas, gregos e por fim também a romanos, amadureceu quanto à maneira de encararem a dor de assumirem a condição de vassalos, e compreenderem que não eram mais os únicos privilegiados pela eleição divina. Outros povos que os dominaram chegaram a mostrar-lhes por vezes muita misericórdia durante o tempo em que os tinham como servos, e assim passaram de inimigos a apenas nações vizinhas, que levantaram impérios mais fortes, que podiam em parte serem convertidos ao Deus de amor.

Passaram então a sentir que Deus os levava a conquistar a simpatia dos estrangeiros, pois que nem todos estes os olhavam com maus olhos. O buril da mão de Deus os burilou e os ensinou muito naqueles tempos, e então, com o Advento do Cristo, a luz se lhes tornou ainda mais clara.

Como pois, agora, encararmos esses Salmos imprecatórios? Afinal, não foram estes também inspirados por Deus? A resposta é SIM, foram inspirados pelo Espírito Santo, mas dentro de uma Revelação incompleta, adaptada ao contexto bíblico-histórico que mostrava aos israelitas que seus inimigos empunhavam bandeiras que simbolizavam a morte, a perversidade, a maldade encarnada, e a destruição.

Daí enxergarmos os Israelitas dentro daquele beco sem saída, onde a ordem era matar ou morrer.

Deus ainda queria trabalhar e revelar ao Seu povo muitas coisas que progressivamente concorreriam a um bem maior, a uma felicidade celestial, aberta a todos quantos cressem. E então, como a Revelação de Deus poderia ter sido preservada se o Seu povo tivesse sido exterminado nas mãos de inimigos ferozes?

Cristo veio, porém, em um momento em que Israel era serva de Roma. E alguns estrangeiros, tais e quais os gregos, chegaram a desejar e pedir para verem a Jesus! (João 12:20-21) Milagres foram feitos de forma tão abundante que estenderam-se também à mulher cananeia (Mateus 15:21-28), ao Centurião de Cafarnaum (Mateus 8:5-13); ao Centurião de Cesareia, Cornélio que recebeu com toda a sua casa o Espírito Santo (Atos capº 10), e ao Centurião Marcelo Gaio, que afirmou em conjunto com os que com ele presenciavam a morte de Jesus na cruz do Calvário, possuído de grande temor : – “Verdadeiramente Este era Filho de Deus” (Mateus 27:54).

O maior exemplo de amor aos inimigos foi demonstrado na cruz, em que o Mestre ensinou a maior lição de amor de todos os tempos, quando orou ao Pai:

  • Pai, perdoa-lhes porque não sabem o que fazem” (Lucas 23:34)

Jesus morreu, mas ressuscitou, e o Seu amor não mudou. Ele nos chama para nos achegarmos a Ele, e deixarmos cair de nossas mãos as armas que temos nutrido em nossos espíritos contra os nossos inimigos.

Inimigos humanos podem ser até causa de nossas preocupações, mas temos o Espírito Santo que os poderá convencer do pecado, da justiça e do juízo, de modo que podemos e devemos orar por eles, esquecendo-nos do mal que nos fazem, fizeram, e, encontrando eles com o Senhor, poderão ter a mesma experiência que teve Saulo de Tarso.  Podemos orar para sermos livres de todo tipo de males, e que nossos inimigos também o sejam.

Escreveu-nos este Saulo de Tarso: “Não te deixes vencer do mal, mas vence o mal com o bem.”(Romanos 8:21)

Temos que considerar, de outro lado, que em alguns Salmos imprecatórios há menções que nos remetem ao Juízo Final, quando todos os ímpios, pecadores impenitentes, terão de ser julgados por tudo quanto fizeram, e assim ainda chegará o dia da vingança do Senhor, a seu tempo, pois a Ele pertence a vingança. (Salmo 94:1)

Hoje, todavia, ainda é o dia da salvação, dia em que a graça de Deus é estendida a todos, sem distinção, maus e bons, a todos quantos crerem em Cristo, arrependerem-se de seus pecados, e desejarem ser transformados pelo Seu poder e o Seu amor.

Meditemos bem: se até um ladrão foi salvo por Jesus quando ambos estavam em um cruz, e encontraram-se, depois de mortos, no Paraíso, por que não um ímpio que se arrepende, e decide ser do Senhor para o restante de seus dias?

Esperemos, como Jesus esperou o pedido de Dimas: – “Senhor, lembra-te de mim, quando entrares no Teu reino”(Lucas 23:42-43), para que os que semelhantemente assim orarem, recebam a mesma resposta que o Senhor deseja lhes dar. Seja esta a nossa esperança quando lermos os Salmos imprecatórios.


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