SALMOS – LXXXII – O JUIZ DOS JUÍZES
Comentarios desactivados en SALMOS – LXXXII – O JUIZ DOS JUÍZESjulio 10, 2022 by Bortolato
Salmo 82
Conta-nos o Evangelista S. Lucas uma parábola proferida por Jesus, o Cristo, na qual descreve a figura de um juiz que não temia a Deus, nem respeitava a homem algum. É a narrativa chamada de “parábola do juiz iníquo”.
As parábolas toma casos da vida real, enfocando coisas que acontecem comumente na sociedade. Não apontam os nomes dos seus personagens, mas enfocam fatos que nos trazem lições morais e espirituais. Podem aparentar ser ficções, mas não; embora tenham uma característica genérica, estas cabem dentro de muitas culturas deste mundo, e não são meras suposições.
Suas narrativas nos induzem até a identificar algumas pessoas dentro das condições apresentadas, pelas semelhanças que se encaixam com os casos conhecidos, mas precisamos ter cuidado para não julgarmos pelas aparências.
Como foi Jesus quem nos contou a referida parábola, isto nos leva a concluir que essa história de juízes iníquos é muito antiga, remontando a séculos atrás, e os exemplos reais têm-se multiplicado de geração a geração, agora mais do que nunca, porque os principados e potestades da maldade têm tido cada vez mais forte atuação na era atual.
Citamos um exemplo que a mesma Bíblia nos mostra, o de um juiz chamado Eli, que viveu em Israel, exercendo o sacerdócio e juizado na cidade de Siló pelos idos anos 1.171 a 1141 A.C.
Eli não era um homem essencialmente mau, mas que se tornou corrompido à medida que chegava a passar em branco quanto aos pecados de seu filhos Hofni e Fineias, sendo eles da linhagem sacerdotal aarônica, homens que foram designados por Deus para dirigirem pessoas e suas causas pessoais diante do Senhor.
O que faziam os filhos de Eli? Tomavam aquilo que devia ser oferecido pelos seus patrícios para Deus como sacrifícios, cuja carne dos animais deveria ser repartida entre o Senhor (as quais deveriam ser totalmente queimadas no altar de holocaustos), e os ofertantes (que deveriam comer algumas partes como sinal de comunhão na presença do Altíssimo). Em lugar de dar o destino prescrito pelo Senhor Yaweh na Sua Lei, a Torah, tomavam toda a carne ofertada para somente eles, os filhos de Eli, banquetearem entre si, e quando alguém protestava, aqueles filhos chegavam a tomar daquela carne à força, mesmo quando lhes resistissem ou os reprovassem com veemência.
Outro detalhe da vida dos filhos de Eli, é que também aproveitavam-se de mulheres que os procuravam para servir junto ao Tabernáculo da Aliança de Yaweh, o Senhor do Exércitos, fazendo assim o que deveras desagradava a Deus…
Aquele comportamento persistiu por anos a fio, de modo que Deus sentiu-Se compelido a ceifar as suas vidas. Chegado o dia do ajuste do contas com o Altíssimo, de uma só feita morreram tanto Eli como seus dois filhos, ocasião em que houve um conflito com filisteus.
O Salmo 82 é uma peça sacra que toca neste assunto e bate de frente contra os maus juízes desta Terra.
Este Salmo se inicia com uma frase um pouco ambígua na língua original em que fora escrito:
“Elohim está na congregação dos El; no meio dos elohim Ele julga” (82:1)
O nome Elohim é aplicado para Deus e também para deuses. Este nome foi usado pelos patriarcas Abraão, Isaque e Jacó para referir-se a Deus, enquanto Ele ainda não Se havia revelado a Moisés, quando então, no monte Sinai, por cerca de 1.491 A.C, Ele chamou-Se a Si mesmo de Yaweh, nome este que implicitamente expõe-nos o atributo de eternidade, de Alguém que não teve começo e nem terá fim.
Yaweh Elohim Tsebaot, o Senhor Deus dos Exércitos é na verdade o Justo Juiz que há de presidir o Juízo Final, estabelecendo a justiça plena, impecável e irrepreensível.
Quando Moisés se envolveu com Ele como Seu profeta, começou a julgar as causas do seu povo, mas aquilo não funcionou com a rapidez desejável. Então, a fim de não sobrecarregar o profeta com inumeráveis e excessivas causas judiciais que surgiam no meio da população no deserto, foram nomeados 70 homens que se sabia serem superintendentes do povo, os também chamados de anciãos. (Núm.16:17)
Essa atribuição que estava sobre os ombros de Moisés consistia em usar da autoridade que Deus lhe dera para julgar as causas do seu povo. Aqueles setenta anciãos desde então passaram a receber essa mesma autoridade para julgarem segundo a plena justiça, segundo os conformes da vontade de Deus. Grande parte das causas apresentadas podiam bem ser solucionadas, consultando-se a Lei de Deus – bastava pois que soubessem usar as Lei para dar um final satisfatório a cada querela.
Assim, isto funcionava como funcionam os “oficiais de dia”, oficiais de menor graduação hierárquica que, na ausência do comandante de um quartel, fazem as vezes deste; desta forma, aqueles oficiais menores, quando no exercício dessa sua função específica de representação substitutiva, funcionavam como procuradores, considerados temporariamente como se fossem o próprio comandante para resolverem quaisquer tipos de problemas.
Por esta razão é que o texto hebraico atribui o próprio nome de Deus, Elohim, para designar aqueles homens poderosos como Seus representantes substitutos, a fim de que estes pudessem julgar causas, dando sentenças favoráveis a quem de fato pertenceria o direito.
Assim, quando o texto diz que “Deus (Elohim) se assenta na congregação dos poderosos (el), e julga no meio dos deuses(elohim)», Ele estaria Se reunindo com os Seus representantes substitutos, os quais, na verdade e de fato, não seriam deuses. O contexto deste Salmo nos mostra que tampouco se tratam de anjos no sentido de seres angelicais, mas sim, de homens a quem Ele delegou poderes para julgar.
Deste modo é que os juízes terrenos são, pois, chamados de “elohim”, porque o ofício que exercem e as sentenças que exaram, em última análise, pertencem a Deus. Julgar é um dos atributos divinos por excelência, e por isso é que ninguém deveria emitir julgamentos temerários, pois estariam distorcendo os propósitos de Deus, sejam quaisquer que sejam os que assim porventura o fizerem. (II Crônicas 19:6,7 e Deuteronômio 1:17)
A narrativa que descreve Deus “assentado junto à congregação” é um detalhe importante nesta delegação de poderes concedida a homens mortais. Ele, como o Supremo Juiz de toda a Terra, não deixa de julgar a todos, inclusive àqueles juízes humanos a quem lhes conferiu certas prerrogativas que são parte de Seus atributos.
Isto tem um significado importante. Por mais poderosos que sejam os homens, estes também terão de prestar contas ao Supremo Juiz do Universo.
Nesta Terra há causas que são definidas totalmente nas primeiras instâncias de julgamento, e outras que, pela sua complexidade, podem subir às mais altas cortes, com vistas a maiores esclarecimentos e dissecação de cada problema envolvido. Quando chega-se à última instância, dá-se por transitado o processo em julgado – pelos homens – mas ainda há um Supremo Tribunal no Céu, que julga todas as causas que não forem julgadas de maneira correta até então.
É desta forma que os juízes que podemos chamar de iníquos também são chamados à atenção por Aquele que é o Juiz dos juízes. É o que reza o texto deste Salmo 82.
Destarte um juiz humano realmente reúne poderes que o coloca em posição acima de outros seus semelhantes, em termos de autoridade, mas sempre teria que julgar segundo as normas de JUSTIÇA E EQUIDADE, pois caso contrário, um dia será cobrado, em ocasião oportuna, pelo martelo de Deus.
Se a corrupção se instala nesses cargos tão altamente dotados de autoridade, a ordem moral se estremece, e logo desmorona. A sociedade fica moralmente enferma e o povo sofre (82:5).
O mundo tem conhecimento de vários casos, pois fizeram uma longa lista de homens e mulheres que abusaram do poder que detinham em suas mãos. Muitos desses já morreram, para alívio dos cidadãos que estavam debaixo de sua autoridade, mas o círculo dos ímpios ainda é muito atuante no mundo, envergonhando a justiça e a verdade.
Lembramos aqui do caso dos filhos do profeta Samuel, o último juiz da época em que os Juízes de Israel eram detentores do cargo de maior honra diante do povo. Samuel foi um juiz excepcionalmente justo, mas os seus filhos… nem tanto!
Através do ministério profético de Samuel, o povo foi conduzido para um relacionamento honroso, respeitoso, junto a Deus, mas quando o profeta envelheceu, os seus filhos se corromperam, o que infelizmente contribuiu para que o povo rejeitasse o sistema de governo no qual Deus atuava com fortes intervenções e demonstrações de poder em favor dos Seus.
Foi assim que acabou-se o período dos Juízes de Israel, que durou cerca de 300 anos (entre 1.350 e 1050 A.C.), dando lugar ao tempo dos reis locais.
Neste Salmo, o Senhor aponta o fator negativo que é causado pelos maus juízes:
“Até quando julgareis injustamente, e tomareis partido pela causa dos ímpios?”
Dos magistrados Deus espera que estes usem corretamente a balança da justiça, momento em que muitas vezes os melhores dotados de influência na sociedade pressionam para que os direitos dos mais fracos, órfãos, aflitos e desamparados sejam relegados em favor dos mais fortes. Os ímpios, no caso, usam de má-fé, truculência e violência para fazerem valer a sua vontade sobre os demais – e é aí que deveria entrar a autoridade judiciária, trazendo aquela balança que julga segundo a justiça, o pleno direito, pesando bem as causas de acordo com a lei, não devendo permitir haver preferências por um ou por outro lado, e muito menos conveniências tentadoras capazes de fazer perverterem o julgamento.
Do verso 6º e seguintes, Asafe, o autor humano deste Salmo, coloca as coisas como estas devem ser.
Juízes iníquos existem, de fato em muitos lugares do nosso planeta, mas…
Mas Deus, ao assentar-Se em Seu Trono, diante de toda a congregação dos poderosos, estabelece o direito como este deve ser estabelecido. Até os anjos um dia serão julgados individualmente. Ninguém escapará.
Homens podem ser até mesmo chamados de deuses, pelo fato de deterem a caneta das sentenças nas suas mãos, mas na verdade estes também são apenas seres humanos como qualquer um de nós.
Falou Deus:
“Eu disse: – vós sois deuses, sois todos filhos do Altíssimo; todavia, como homens morrereis, e como qualquer dos príncipes havereis de sucumbir”.(versos 6 e 7)
Interessante notar que Jesus, o Filho de Deus, tomou esta palavra deste Salmo para lembrar aos homens que queriam rejeitá-Lo, de que eles mesmos, os tais, foram chamados de deuses; razão porque não há motivos para alguém negar-se a reconhecer a divindade do Filho de Deus, que veio a este mundo, filho de uma virgem mulher, Maria, deixando toda a Sua glória para assumir a forma humana, o padrão de uma raça decaída pelo pecado, permitindo ser rebaixado entre os homens, só para salvar pecadores.
A história de Cristo é bem conhecida no mundo todo, mas não nos é demais tornar a enfatizar que Ele morreu em uma cruz, assumindo o nosso lugar, o meu e o do leitor também, a fim de que não fôssemos condenados com este mundo, e viéssemos a cair na vala comum dos que se perdem e são irremediavelmente lançados no poço da destruição.
Ele, Jesus, tomou a cruz, levou-a até o monte Calvário, sabendo que ali seria morto, mesmo não tendo Ele pecado algum – mas o que Ele queria era que pecadores pudessem ser salvos pelo poder do Seu sangue vertido, cumprindo assim toda a justiça e fazendo-nos elevados à altura de filhos de Deus, receptáculos do Seu amor para toda a eternidade.
Há porém mais um detalhe de suma importância: Jesus o Cristo um dia voltará a este mundo, mas desta vez de forma diferente, pois não mais virá como o Deus sofredor, mas como o Juiz de toda a Terra, e regerá sobre este mundo usando um cetro inquebrantável como de ferro. Aos obedientes à Sua vontade, deixou uma esperança maravilhosa, e aos desobedientes, nada lhes restou, senão a destruição eterna.
“Levanta-Te, ó Deus, julga a terra, pois a Ti compete a herança de todas as nações” (verso 8)
Esta palavra é profética e se realizará plenamente no tempo do fim. O livro de Apocalipse, capítulo 19, e versos de 11 a 16, nos mostra o Cristo como o vencedor sobre todos os poderes deste mundo corrompido, aos quais regerá com cetro de ferro, impondo a ordem e colocando as coisas debaixo da Sua autoridade.
Se isto fosse pouca coisa, ainda nos deixou um palavra de grandes esperanças para aqueles que forem fieis até o fim.
Esta profecia se cumprirá um dia, conforme a promessa do próprio Senhor Jesus:
“Ao vencedor, que guardar até o fim as minhas obras, Eu lhe darei autoridade sobre as nações, e com cetro de ferro as regerá, e as reduzirá em pedaços, como se fossem objetos de barro; assim como Eu também recebi de Meu Pai, dar-lhe-ei ainda a estrela da manhã. Quem tem ouvidos, ouça o que o Espírito diz às igrejas”
(Apocalipse 2:26 a 28)
Aproveitemos bem esta promessa, aceitando o Filho de Deus como o nosso único e incomparável Salvador. Sejamos discípulos fieis, até o fim. O fim dos tempos então não será o nosso fim, mas o começo de uma nova e maravilhosa época que está por surgir para os que crerem nEle.
Abraços. Sejam bem-aventurados os que seguirem o Cordeiro de Deus que tira o pecado do mundo
Category BÍBLIA, LIVROS POÉTICOS, SALMOS | Tags: anjos, Asafe, condenação, congregação, corrompido, homens, Jesus, Juízes, juízo, julgamento, Justos, salmista, sentença, Siló
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