II SAMUEL – XX – HERANÇA DE MALDIÇÃO
Comentarios desactivados en II SAMUEL – XX – HERANÇA DE MALDIÇÃOoctubre 13, 2016 by Bortolato
Existe isso? Será que, além de todas as lutas que empreendemos neste mundo, ainda temos que nos haver com coisas estranhas que herdamos, e que às vezes nem ficamos sabendo o porquê?
E se temos que lidar com isso, poderemos nós vencer a força dessas maldições herdadas? Eu tenho boas notícias, digo que sim, graças a Deus.
Alguém poderá dizer: – “Não me venha com essas besteiras que se veem somente em contos de fadas, pois eu não sou mais criança!”
Digo mais, que procurar ignorar essas forças contrárias, estranhas e incomuns que vêm querendo nos oprimir, e lutam contra nós e nossos sonhos, é tentar tampar o sol com peneiras. Não resolverá o problema, e se quisermos nos ver livres destes, bom será ficarmos bem atentos e procurarmos encontrar a solução de Deus nas páginas da Sua Palavra.
Herança de maldição existe, sim, é coisa real, e redunda em graves dificuldades na vida, que fazem as pessoas sofrer muito, até se perguntarem: – “Por quê? Por que eu??”
Vamos nos ater em nossa análise sobre o 21º capítulo do livro de II Samuel, que se inicia falando que “houve nos dias de Davi uma fome de três anos consecutivos…”
O rei Davi procurou saber qual teria sido o fato que deu causa a isso. Por que razão será que Deus permitiu que tal coisa acontecesse – que famílias e famílias sofressem de fome – coisa que atingia a toda a nação?
Eram dias difíceis. Os que querem enxergar as coisas pelas metades, diriam que a causa foi “apenas” uma longa estiagem, um fenômeno da natureza, ou que as pragas como a de gafanhotos estavam prejudicando as lavouras e que isso é razão suficiente para explicar o acontecido. Estes denotam um ponto de vista puramente material e imediatista. Nada enxergam além.
Ora, Israel era o povo de Deus, e Davi era o rei que escrevera que “O Senhor é o meu pastor; nada me faltará…” (Salmo 23:1). Esta palavra é uma promessa, e não falha. Quando não funciona, ou parece não funcionar, é porque existe algum obstáculo em meio ao caminho. Por que então o que estava acontecendo era exatamente o contrário?
Joel, capítulo 2:1-4, nos fala das pragas de várias espécies de gafanhotos: o cortador, o migrador, e o destruidor, os quais fizeram com que as safras fossem comidas, ou tomadas de assalto; e Ageu 1:5-6 menciona que o salário dos trabalhadores foram depositados em sacos furados, do forma a se tornarem perdidos – sintomas que não eram sem causa, e a causa era o pecado, e o desviar-se da presença do Senhor.
Houve um morticínio executado por Saul, quando este invadiu Gibeom. Não é de se espantar, pois ele efetuou um outro em Nobe, quando perseguia a Davi. Em Gideão ele entrou naquela cidade, que era habitada por gibeonitas, povo heveu com quem Josué fez uma aliança de paz em nome de todo o Israel; Josué prometeu solenemente conservar-lhes a vida e, na ocasião, todos os príncipes do povo lhes prestaram juramento (Josué 9:1-15).
Aí se vê a importância que era dada aos pactos de amizade, de sangue ou mesmo de paz. Ao descobrir que os gibeonitas não eram oriundos de uma terra ditante – Gibeom ficava mais ou menos a dez quilômetros ao noroeste de Jerusalém, portanto dentro da área de Canaã – Josué então os destinou a trabalhos pesados, mas não os matou. Gibeom então passou a ser uma cidade de estrangeiros, regida por seu próprio rei, mas que se localizava dentro das terras de Israel.
Quando Saul infelizmente os matou, quebrou um antigo mas vigente pacto de paz entre eles e Israel. Os tais nem puderam defender-se e muito menos vingar-se, apesar de que a Lei do Talião lhes teria dado permissão para tanto.
Os gibeonitas, sentindo-se ultrajados, humilhados e traídos, desenvolveram um certo ódio para com o povo de Israel, e o amaldiçoaram por causa daquele triste episódio levado a cabo por Saul.
Maldição sem causa não prosperará, conforme Provérbios 26:2, mas, neste caso, Saul lhes dera causa, sim, infringindo-lhes graves sofrimentos com aquela matança profana.
Os gibeonitas não puderam vingar-se , mas como aquele que lhes desferiu tal golpe mortal fora um rei de Israel, o rei Saul, então havia um peso de culpa que estava se estendendo à terra, deflagrando—lhes uma fome que já durava por três anos seguidos.
Aquilo incomodou a Davi, pois afinal as promessas de Deus eram de grandes benesses, fartas colheitas na “terra onde mana leite e mel”. Algo estava errado, e não se sabia o que era…
Quando um longo período de estiagem ataca sua terra, o caso é para se parar e refletir. O que afinal estaria acontecendo? Qual o motivo dessa desdita?
Davi quis saber o porquê. Logo, chamou o sacerdote que levava as placas de ouro do Urim e Tumim, e o Senhor revelou que havia culpa, e esta repousava sobre a casa de Saul. A palavra de Deus apontou não somente para Saul, mas também para os seus descendentes, logicamente porque estes também tiveram sua participação nos desatinos do rei. Poderiam ter criticado, ou protestado em favor dos gibeonitas, de vez que tinham algum poder de influência para mudar aquele mau intento, mas não o fizeram, e assim dividiram a culpa.
Ainda que seus descendentes não tivessem participado daquela decisão equivocada, há, porém, consequências que não se podem evitar que advenham, como em uma reação em cadeia. É a lei da semeadura e da colheita.
Davi então fica preocupado. Chama ao rei dos gibeonitas para tentar retratar-se desse erro de seu antecessor, deseja apresentar-lhe suas desculpas, e, como detinha o cetro do juízo e do poder em suas mãos, pergunta-lhe o que poderia ser feito para reparar aquele terrível estrago, fruto de lastimável engano, mas que de há muito já era fato consumado. Nada mais poderia trazer de volta a vida dos assassinados naquela ocasião, e nem desfazer os efeitos morais que causaram stress, tristeza e dor aos gibeonitas. A questão, porém, que não queria calar era: o que se pode fazer agora? E agora? Que fazer?
Talvez os gibeonitas quisessem ser indenizados pecuniariamente por prejuízos morais… ou pudessem ser desagravados de alguma outra maneira… pensava Davi.
Antes de consultar ao Senhor, Davi não considerava esse problema como uma maldição proferida que surtia seus efeitos, mas como passou a sabê-lo, passou também a ter responsabilidade sobre a solução do mesmo, e estava aberto para entrar em acordo com os gibeonitas para fazer com que estes se sentissem melhor com a situação.
Interpelados, os gibeonitas recusaram prata e ouro. Não queriam ser indenizados por quantia alguma. Realmente, não há dinheiro algum deste mundo que possa pagar o preço de uma só vida – que dirá o de uma multidão?
Eis o porquê da Lei do Talião. Os gibeonitas foram destruídos, massacrados, e perseguidos por todo o território de Israel, injustamente. Perderam casas, fazendas, riquezas e a vida de entes queridos. Tiveram que esconder-se da ira de Saul pelos mais remotos e inacessíveis recantos de Israel, nos lugares mais inóspitos, onde ninguém sequer desejava por ali passar. Foram tempos muito difíceis para eles. Não tiveram consoladores, e nem puderam reclamar seus direitos, cientificando a alguém do acontecido – mas Deus os ouvira, e lhes deu ganho de causa.
Aqueles homens então estavam ali, perante o rei Davi, em atendimento ao seu chamado, cheios de preocupações, mas sabendo quem era o novel rei, um outro ex-perseguido por Saul, ainda podiam nutriar a esperança de poderem ser ouvidos.
Davi fala-lhes calmamente, com tom de lamento, acerca do incidente que os reduzira apenas aos fugitivos que lograram salvar suas próprias vidas, e os seus corações passam a sentir um certo alento. Eles estavam, até que enfim, em condições de poderem desabafar. Alguns gibeonitas não se contiveram, e choraram ali mesmo.
Lamentaram profundamente o terrível ocorrido nos dias de Saul, e pensaram em uma maneira de sentirem-se melhor quando recordassem do fato malfadado. Já podiam vislumbrar um novo respirar, livres de todo pressentimento de outras mudanças políticas funestas que os viessem a prejudicar.
Davi está prestes a pedir-lhes perdão, mas sem ignorar que a justiça ainda não fora feita, estava pendente, e que suas escusas não seriam o bastante.
Os gibeonitas não se negaram a perdoar, mas havia um nome de um homem que estava entalado no fundo de suas gargantas, que eles nem gostavam de pronunciá-lo. Aquele nome lhes causara terror, e trazia-lhes um sentimento de indignação, amargura e rancor, ao mesmo tempo que lhes trouxera temor.
Se Davi, de fato, não era solidário para com aquela atitude infeliz de Saul, logo aquele nome teria que receber uma punição severa, e devida como pedia a Lei.
Saul, porém, já era morto. Fora morto em péssimas condições pessoais – suicidara-se. Quanto a isto, os gibeonitas poderiam sentir-se, de certa maneira, vingados, mas o que comovia os seus corações ainda os perturbava. Era algo de ruim que se mexia lá no fundo de suas almas, quando se lembravam do nome de Saul.
Como retirar deles o desejo de amaldiçoar a Saul, e a todos os que foram cúmplices com ele naquele genocídio? Sobre o próprio Saul não havia maneira de fazê-lo, por razões óbvias. Então aquela culpa passou do seu principal protagonista para os seus descendentes, como a herança de uma dívida.
Eles pediram “apenas” sete homens. Por que razão esse número, não temos plena convicção. Sabe-se, porém, que, na teologia bíblica, sete significa uma ação completa. Eles queriam sete homens descendentes do rei que feriu atrozmente a tantos gibeonitas, os quais morreram sem que nada se pudesse fazer, injustamente.
Se eles pedissem que o mesmo número de gibeonitas mortos na ocasião fosse requerido dos homens de Israel, isso teria sido muito complicado, mas diante da exposta disposição de Davi repor prejuízos, pedindo-lhes humildes desculpas, chegaram à conclusão de que seus corações não guardavam ódio de toda a nação, senão do homem que os massacrara.
Infelizmente ainda existe no mundo muitos pactos de não agressão que foram quebrados. São atitudes às vezes até sutis, onde se finge que tudo está bem, mas por trás de promessas, sorrisos forçados, palavras lisonjeiras, apertos de mãos, beijos e abraços, existem corações que não perdoam, falsos moralistas, enganadores, desrespeitadores de sentimentos honestos, falsos amigos e preconceituosos, os quais traem àqueles a quem deviam abençoar.
Os gibeonitas foram surpreendidos naquela audiência, pois queriam voltar às boas com Israel, nação que os abrigara um dia, mas não se dariam por satisfeitos apenas com meras palavras, e, dada a eles a oportunidade de se manifestarem, foram muito francos.
Até então, não tiveram sequer uma chance de poderem explicar-se. Afinal, tinham sido julgados sumariamente e receberam uma sentença de morte, sem apelação, sem dó e nem piedade – por este motivo foi que amaldiçoaram a Israel, e a fome então reinante era o resultado direto disso. Se eles insistissem em não retirar a maldição, aquela fome persistente, que já durava três anos, iria continuar indefinidamente – até quando?
Era uma outra situação lamentável, aquela fome. Homens e mulheres, crianças e jovens desnutridos, definhando, magérrimos e aos poucos iam padecendo em morte lenta.
Quanto a Davi, não teve outra escolha. Seu respeito por Saul e família jamais o levaria a executar a descendência de seu antecessor no reino de Israel, desde que não se rebelassem, mas as coisas apertaram de outro lado.
A exigência gibeonita não era sem motivos, e a maldição só poderia ser retirada se o preço exigido pela loucura de Saul fosse pago a contento.
Davi então tomou a cautela de poupar a Mefibosete, o filho de Jônatas, o qual estava protegido por juramento. Quanto aos demais, porém…
Foram escolhidos para aquela transação os filhos de Rispa, a concubina de Saul, e os de Merabe, a filha mais velha daquele rei. Sete homens completavam a lista. Davi não os executou, mas entregou-os nas mãos dos gibeonitas, como num gesto de pedido de perdão, e de restauração do pacto de não agressão.
Críticos podem revoltar-se com esse gesto, tentando desqualificá-lo, depreciá-lo a não mais poder, mas os resultados disso não puderam ser negados. Podem até atribuir os resultados a simples coincidência, mas o fato é que logo após o enforcamento daqueles sete, a terra tornou a ser favorável para as colheitas. Mistérios que não competem ao homem julgá-los, e ademais, contra fatos não há argumentos. Assim foi feita a vontade dos gibeonitas, e estes voltaram em paz para seus lares, em sua cidade.
Aqueles sete foram levados a um monte e ali enforcados, todos ao mesmo tempo – e foi o que bastou para os gibeonitas sentirem-se vingados.
Depois do enforcamento daqueles sete, Rispa, que era a mãe de dois deles, montou um plantão permanente naquele monte onde houve os sacrifícios naquelas sete forcas. Não voltava para sua casa, mas ali estava de contínuo, para enxotar as aves, os abutres, corvos, águias e outras. Em uma atitude muito corajosa, ela também se mantinha acordada pelas noites que se seguiram, e enfrentava os animais do campo que procuravam atacar aos corpos dos mortos, repelindo-os bravamente. Vinte e quatro horas por dia, não cessava de vigiar. Sua atitude não podia deixar de ser notada. Muitos a viram ali, e testemunharam admirados pela sua façanha, e não era para menos.
Houve, então, uma comoção nos corações das pessoas que puderam presenciar aquele ato. Era o coração de uma mãe que, além de lamentar profundamente a perda de seus filhos, lutava e ansiava pelo momento de poder enterrá-los em uma cova decente, digna de um ser humano, para aplacar um pouco, ainda que um pouquinho só, a consternação das suas mortes.
Davi ficou sabendo do drama daquela mãe desconsolada, e também se comoveu. Ele já estava lamentando a morte daqueles sete descendentes de Saul, e a atitude de Rispa o levou a lembrar-se de que Jônatas, que dentre seus amigos era o melhor, bem como Saul, foram enterrados em Jabes Gileade depois de terem seus corpos mortos expostos, pendurados em praça pública de Bete-Seã, de onde foram raptados, transportados e depositados em uma cova.
Davi então ordenou que os ossos de Saul, Jônatas e os ossos dos sete enforcados fossem reunidos, e sepultados justapostos em Zela, terra de Benjamin, na sepultura de Quis, seu ascendente.
Aquela foi uma tentativa de abrandamento de uma circunstância terrível, que levou à morte de entes queridos. Para isso é que existem funerais e agências funerárias, para oferecerem dignidade e respeito para com os sentimentos das pessoas que perderam entes que lhes eram caros.
Foi um funeral “ex tempori”, tardio, mas chegou o seu dia. É o dia em que pessoas se compenetram a pensar no que é a vida, um vapor que passa, mas logo desaparece. A morte é uma maldição herdada, e o espírito dos mortos vai a Deus, que os criou, para comparecer perante o Justo Juiz (Eclesiastes 12:7). Isso leva pessoas a refletirem sobre seus atos nesta vida, reavaliar atitudes e reformar conceitos, ideias – uma ocasião para se mudar de postura para com a vida, corrigir erros e defeitos, e iniciar-se uma nova etapa rumo a nova direção (e seja esta o céu!)
Se, porém, quisermos ir mais a fundo a respeito de maldições que levam à morte, teremos que retroceder até o Jardim do Éden, quando o primeiro homem pecou, e recebeu a sentença que cabe aos pecadores:
“A alma que pecar, esta morrerá” (Ezequiel 18:20). Sabe-se também que “Todos pecaram, e destituídos estão da glória de Deus” (Romanos 3:23) — e assim herdamos o resultado do pecado, que é a morte. Mas a morte tem uma tríplice faceta: a morte física, a espiritual e a eterna. Não temos meios de escapar da morte física até que chegue o dia da nossa ressurreição, mas quanto à espiritual e à eterna, existe uma saída.
Diz-nos a Lei dada a Moisés: “ Maldito aquele que for pendurado no madeiro” (Deuteronômio 21:23, confirmado por Paulo em Gálatas 3:13).
E Jesus foi ali pendurado, sem nunca haver pecado, mas sujeitou-se a ser maldito para desviar a maldição que sobre nós seria cabível, e nos deixar livres de culpa perante a face de Deus. Isto, porém, não é automático. É preciso receber pela fé esta substituição que Jesus nos oferece, pois muitos são os que se desviam desta, e outros a rejeitam, seja sutilmente, seja reiteradamente.
“Eu sou a ressurreição e a vida; quem crê em mim, mesmo que morra, viverá, e todo aquele que crê em mim, jamais morrerá”. (Evangelho de S. João, 11:25,26)
“(Jesus) veio para os que eram seus, mas os seus não o receberam; mas a todos que o receberam, aos que creem em seu nome, deu-lhes a prerrogativa de se tornarem filhos de Deus” (João 1:11, 12)
Sejamos daqueles que creem para a salvação e para gozo da vida eterna, com Jesus.
Category BÍBLIA, II SAMUEL, LIVROS HISTÓRICOS DO AT | Tags: com Jesus, genocídio, Gibeom, gibeonitas, heveus, Maldição, morticínio, paga
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