I REIS – XIII – A ORIGEM DOS INFORTÚNIOS
Comentarios desactivados en I REIS – XIII – A ORIGEM DOS INFORTÚNIOSmarzo 27, 2017 by Bortolato
“Aonde foi que eu errei? Por que me sobreveio tudo isso? Eu sou boa pessoa, boa gente, honrado, trato bem minha família, meus amigos, não faço mal a ninguém e não merecia ter uma trajetória e um destino tão ruim…”
Esta é a queixa que em grande parte deste globo, ouve-se falar, aqui e ali, algures, ontem, hoje e amanhã.
Depois de falarem assim, procuram culpados para quaisquer desditas que lhes tenham sucedido. Querem achar quem lhes trouxe os tropeços da sua vida. Procuram com uma lupa em suas memórias e sempre acabam encontrando um nome para odiar e amaldiçoar.
“Ah, se não fosse aquela pessoa… tudo teria sido tão diferente…”
Assim apontam o dedo indicador para um lado e para outro. Encontram defeitos e vícios até onde não há. Constroem uma tese de acusação que fica bem montada no prelo de suas mentes, pronta para despejá-la contra o primeiro “pára-raios” que o seu radar detectar. Se a vida lhes trouxe, porventura, alguma amargura, ainda acrescentam losna para a amargar mais ainda.
É pouco comum vermos alguém que, sem culpar a este ou àquele, aceita de bom grado quaisquer períodos de estio, de maneira elegante e conformada, e aguardar com paciência no Senhor um ato de misericórdia dispensado pela mão de Deus, ciente de que os seus próprios pecados é que seriam dignos da desaprovação divina, e de um desencadear dos períodos secos, sem chuvas de bênçãos.
É raro ouvir alguém falar assim:
“Esperei com paciência no Senhor, e Ele Se inclinou para mim, e ouviu o meu clamor.” (Salmo 40:1)
Em I Reis, capítulo 11º, lemos que Jeroboão foi perseguido por Salomão porque aquele havia recebido uma profecia dizendo que seria feito rei de dez das doze tribos de Israel.
De quem foi a culpa? De Jeroboão? Do profeta? Se Salomão tivesse examinado a si mesmo, teria se lembrado do que o Senhor lhe falara com respeito à sua idolatria (I Reis 11:11-13), mas não, não se ateve a isto e nem mostrou arrependimento até então. Ademais, queria somente apanhar e eliminar o “intruso-surpresa” que nem sequer fez menção de arrancar-lhe a coroa. Queria retirar aquela pedra do seu sapato, mas não deixava de andar constantemente em um pedregal. Como então escapar de uma pedra como aquela? O problema de fato surgiu no caminho do rei Salomão, mas é importante saber-se como tratar com o mesmo: pelos sintomas, isto é, matando a Jeroboão, ou pela causa primeira, que foi a idolatria?
Com o mau exemplo que deixara diante dos olhos de todo o Israel, esta idolatria foi um pedregal tremendo onde dias amargos prometiam prender e ferir os seus próprios pés e os de toda a nação, por muitos e muitos anos.
Ao morrer Salomão, o povo decidiu coroar a seu filho Roboão como seu rei, e para isto marcaram uma data e local da cerimônia: em Siquém, no território da tribo de Efraim, um importante centro de atividades na história de Israel desde os tempos abraâmicos. Siquém era também um ponto geograficamente mais central do que Jerusalém, dentro das terras de sua nação.
Uma coroação em Siquém seria um passo estratégico para atrair todo o Israel, e fazer ali uma grande concentração de gente, de modo a demonstrar que Roboão estava pensando seriamente em dar continuidade aos passos pomposos e caríssimos de seu pai.
Roboão estava ansioso por ser aquele rei ditoso, famoso por suas ambições, riquíssimo, ostentando até aquilo que seu próprio pai não havia logrado nos seus dias de maior glória. Vaidade de vaidades…
Quando ainda príncipe, pensava bastante naquele dia, que agora estava se realizando á luz do sol. Ele viveu em dias de grande fartura e riquezas nos dias de seu pai, mas não se preparou devidamente com sabedoria; nem se ocupou muito com isso, pois que, afinal, até o próprio rei Salomão já dizia:
“Não sejas justo demais,e nem sábio demais; por que destruirias a ti mesmo?” (Eclesiastes 7:16)
Roboão viu como seu pai se ocupava tanto em aconselhar pessoas, julgar casos difíceis, decifrar enigmas que pessoas de outros povos lhe vinham para testá-lo nos conhecimentos, e ainda escrever provérbios para aguçar a sabedoria nos seus leitores. Ele, porém, era diferente de seu pai, e achou aquilo tudo muito extenuante – e assim menosprezou a sabedoria.
“Logo, para que adquirir tanta sabedoria? (Esta é a desculpa dos insensatos) Ora, um rei tem conselheiros para pensarem por ele… para que então esquentar a cabeça?”
As deliciosas refeições, banquetes fabulosos, as roupas finíssimas que usara, as honras infindáveis que recebera com muita reverência até da parte de muitos dos nobres do reino fizeram-no iludir-se de que aquilo seria sempre assim, e, em chegando ao posto de rei, mais ainda, e cada dia melhor!
Ele não estava pensando nem um pouco nos problemas e aflições que se passavam com seu povo. E seu próprio pai exagerou na dose dos tributos. Salomão, quando ainda em seus dias, lhes impôs forte regime de servidão…
Chegou, pois, o grande dia de Roboão. I Reis, capítulo 12 nos conta como decorreu o episódio.
Era então aquele povo que estava ali, no dia da sua coroação, comparecendo em massa, para prestigiar e honrar ao novel rei, mas também, principalmente, interessadíssimo em lhe apresentar um pedido… um pedido de ponderação, moderação e clemência.
Isto era muito sério. No dia da coroação do rei, um povo lhe vem à sua presença para lhe fazer uma petição! Isto porque o assunto estava entalado na garganta do povo que estava sofrendo por causa das medidas excessivamente rígidas do rei morto. Era um caso para se pensar bastante, com muito cuidado e muito carinho, a fim de não se iniciar um reinado cometendo erros.
Salomão lhes havia imposto uma dura vida, com muitos trabalhos forçados, aplicados para a construção de suas várias obras. A princípio, até que toleraram, mas aquilo, pensavam eles, não era vida. Eles queriam que Roboão lhes fosse mais sensível às suas condições. Eles estavam passando por uma vida semelhante à da escravidão do Egito, apesar de que , ao final de contas e acima de tudo, eram uma nação livre!
O povo, ao saber da convocação para aquela celebração, já providenciaram para que fosse buscado Jeroboão, que estava exilado no Egito, para estar com eles na oportunidade.
Jeroboão conhecia o tipo de vida que seus irmãos efraimitas e demais tribos que não a de Judá estavam suportando até então. Ele mesmo já havia trabalhado diretamente com eles, administrando as obras edificadas através dos penosos sacrifícios das mãos de seu patrícios. Ele tinha condições de expor com detalhes os sentimentos que o povo estava trazendo dentro de seus corações naquele dia, e foi o escolhido como um porta voz para levar a Roboão aquela sua petição.
Jeroboão representava, então, uma esperança para os seus irmãos sofridos e tinha o know how suficiente para argumentar e dialogar em favor daquele povo a quem conhecia muito bem.
Aquela profecia recebida anos antes, porém, ficou em suspenso, pois que ninguém estava disposto a lutar de forma a enfrentar o rei posto, se de fato Roboão satisfizesse o desejo de seu povo. Os acontecimentos, porém, traçariam um caminho para que houvesse uma drástica mudança de rumos naquela nação.
Iniciada a celebração, formalidades à parte, todos estavam na expectativa de um momento de pausa para que Jeroboão pudesse lançar publicamente os seus pensamentos.
Tudo corria normalmente, quando então uma pequena janela se abriu, surgindo um intervalo entre uma coisa e outra, o que deu ocasião para então se erguer aquele homem, propondo algo muito relevante para aquele momento da história de Israel:
“Teu pai aumentou o nosso jugo; agora alivia a dura servidão e o pesado jugo que teu pai nos impôs, e nós te serviremos…” (I Reis 12:4)
Aquelas palavras vieram ao conhecimento de Roboão como uma nota desafinada no meio de uma ária clássica tocada por uma orquestra regida por sua batuta. Mal ele estava começando a reinar, e alguém já estava exigindo mudanças na política de seu reinado! Ele teria que alterar os seus planos de governo. Não estava esperando uma proposta como aquela, e a mesma vinha da parte da maior da fonte de tributos internos pagos pelo povo.
Roboão, despreparado que estava para enfrentar tal situação, ficou momentaneamente confuso. Não sabia o que responder. O novo rei, que não se esmerou em adquirir sabedoria durante seus quarenta anos de vida, pediu três dias de prazo para dar-lhes uma resposta. Tinha o recurso de pedir conselho aos seus nobres da corte.
Os conselheiros de Roboão estavam compostos por anciãos do tempo de seu pai, e também dos jovens com quem ele conviveu desde a infância e a juventude. Eram duas gerações, que tinha pontos de vista bem divergentes uma da outra, para tentar clarear a situação diante do rei recentemente empossado.
A ala dos mais antigos, que já serviram como conselheiros para seu pai Salomão, procurou salientar a Roboão que o povo tinha uma força muito grande, que estaria a seu dispor, se ele lhes fosse compreensivo para com suas pretensões – muito justas, por sinal. Roboão os ouviu, e colocou aquela opinião “na prateleira”, para depois engavetá-la em um arquivo morto.
Não era aquilo que ele gostaria de ter ouvido. Não ficou satisfeito com aquela maneira tão mansa de resolver a questão. Um rei teria que ter pulso e autoridade, pensava ele. Submeter-se, logo de início, a ditames e caprichos da vontade de um povo que nada sabe, nada entende, lhe pareceu mostrar fraqueza. Impetuoso como era, resolveu ainda ouvir a opinião dos seus conhecidos e amigos jovens, esperando encontrar ideias que o agradassem, indo de encontro com o seu coração queria.
Isto já era um traço que o caminho de Deus estava delineando para escrever a história de Israel de forma a punir a idolatria de Salomão. A tendência despótica de Roboão era uma consequência de uma educação mal dirigida, e a decisão a ser tomada teria sido apenas algo de inevitável, devido ao rumo que a nação tomou depois que a idolatria havia penetrado no reino. Antes que os jovens conselheiros de Roboão exprimissem suas ideias, os rumos da política do reino já estavam definidos no espírito do rei.
Roboão pergunta então aos seus jovens, amigos de juventude, com quem tinha mais perfeita comunhão. Sentiu-se à vontade diante deles, e estes também, de tal modo que estavam certos de que sua opinião é que seria a de maior peso, a que prevaleceria e seria seguida e posta em prática.
Não deu outra coisa. O que eles disseram? Era tudo o que Roboão queria ter ouvido. Um conselho autoritário, despótico, e sem consideração para com os concidadãos do reino. Aquilo que deixaria o peito do rei bastante estufado, e cheio de si. Uma lição a ser aplicada para os súditos fazerem sua lição de casa.
“Assim lhes falarás: Meu dedo mínimo é mais grosso do que a cintura de meu pai. Se meu pai vos impôs jugo pesado, eu aumentarei ainda mais o vosso jugo; meu pai vos castigou com açoites; mas eu vos castigarei com escorpiões”… (I Rs 12:13-14)
A escravidão mantida à custa de açoites com chicotes de vários fios, com pontas de ossos, metais ou outro material duro. Se aquilo que vinham sofrendo já estava insuportável, Roboão prometia-lhes “picadas de escorpiões”? Que falta de sensibilidade… lamentável, porém, esta situação já estava predeterminada desde quando Salomão começou a entregar-se à idolatria.
E foi esta palavra que encheu o coração de Roboão, para dizê-la ao povo que lhe pedia compaixão. Era tudo o que ele queria mesmo dizer, e ao terceiro dia, quando o povo voltou conforme haviam combinado, foi o que eles, decepcionados e estupefatos, tiveram que ouvir, palavra por palavra, ipsis literis.
Aqueles homens não podiam acreditar no que ouviram da boca de seu líder político. Esperavam que ele fosse usar de sabedoria para com eles, ao menos para prometer alguma coisa que fosse de encontro com as suas aspirações. Um alívio para que pudessem viver melhor. Qual nada! Alguns deles ficaram boquiabertos, e descaiu-lhes os semblantes. Não aceitaram de maneira alguma aquela falta de humanidade e de bom senso vindas da boca de seu monarca. A sorte estava lançada. Assim como a palavra branda desvia o furor, a palavra áspera suscita a ira, e esta foi a reação geral dos que a ouviram.
Qual foi o resultado desse desentendimento? O povo das dez tribos do norte de Israel, ouviu-se uma expressão que deixava claro que não estavam nem um pouco satisfeitos com aquilo, e que desde aquele momento, a nação estava dividida.
“Que temos nós com Davi? Não temos herança com o filho de Jessé. Às tuas tendas, ó Israel! Cuida de tua casa, ó Davi!”
Imediatamente, todos os das dez tribos do norte de Israel levantaram-se e abandonaram a solenidade, num ato inequívoco de desaprovação e inconformação com o havido, e foram para suas casas. O rei Roboão ficou ali, apenas com os da tribo de Judá. Os benjamitas, que cediam o território de Jerusalém para a capital do reino, sentiam-se com os corações divididos, mas preferiram ficar com os de Judá.
Infelizmente, foi o que aconteceu. Roboão chegou, depois, a enviar um encarregado de trabalhos forçados, chamado Adonirão, mas este, ao tentar bater de frente com a ira dos israelitas, acabou por ser apedrejado até morrer. Roboão, na ocasião, ainda conseguiu subir em seu carro e fugir para Jerusalém.
Não havia mais como consertar-se aquela situação. A rebelião já estava fervendo nos corações, e a autoridade real que Roboão tanto queria mostrar aos reles súditos foi rejeitada terminantemente.
Para consolidar aquele cisma, os israelitas do Norte chamaram a Jeroboão para ser-lhes doravante o seu rei.
Roboão então quis reunir e convocou cento e oitenta mil guerreiros de elite, da região de Judá, e Benjamin para partirem para guerrear e forçar aos israelitas ter de engoli-lo goela abaixo, a qualquer custo.
Um profeta de Deus, chamado Semaías, porém, deteve aquele exército armado para não partirem para atacar os seus irmãos, pois o Senhor mesmo assumiu:
“Eu é que fiz isso”
Como? Mas foi o que o Senhor falou, através do profeta, e não houve dúvida que era a palavra de Deus.
Que cada um voltasse para sua casa, tirasse do peito sua couraça, o capacete de sua cabeça, e depusesse suas armas. Não haveria mais campanha, nem ataque, nem luta e nem guerra.
De quem foi a culpa? Roboão poderia apontar para Jeroboão. “Ah, se não fosse Jeroboão!”…
Ou a culpa teria sido dos jovens que aconselharam mal ao seu rei? Ou dos mais velhos, que não souberam ser convincentes?
A história tem suas raízes para culminar em certos acontecimentos, e a raiz dessa divisão do reino já veio desde os dias de Salomão.
Não adianta querer culpar a este ou àquele. O fato é que o pecado havia penetrado no meio de Israel e através do seu próprio líder. Salomão lhes deu um pontapé inicial para a idolatria, e isso provocou a ira de Deus.
O Senhor já não estava mais contente com a falta de fidelidade do povo, a começar pelos maus exemplos do seu rei, dos príncipes, e até mesmo dos levitas. O nível espiritual daquela nação estava em franco declínio, e o Senhor começou a retirar a Sua mão protetora de sobre eles.
Foi a paga para aquela falha imperdoável de Salomão. O seu reino passaria a ser limitado ao território de Judá e de Benjamin, e foi só.
Por que motivos Deus teria feito isso? Se bem estudarmos a história de Israel, veremos que essa divisão no reino proporcionou um tempo maior, de mais de cem anos depois da queda de Israel Norte, para que Judá pudesse ter mais oportunidade de se redimir e fugir da idolatria.
Em cerca de 605 A.C. Nabucodonozor invadiu Judá, em 586 A.C. Jerusalém foi destruída, e o templo só começou a ser reconstruído em 537 A.C. e só foi acabado de novo em 515 A.C., tudo por causa da infidelidade do povo de Israel.
Os pecados do povo de Deus foram muitos, mas a alegria da salvação do Senhor teve seu ápice quando Jesus veio a este mundo para lavar, purificar um povo com o Seu santo sangue, e nos conduzir de volta a Ele.
Que não percamos a oportunidade que de maneira maravilhosa está ainda de portas abertas, a fim de que adentremos de forma eterna ao Reino do amor de Deus, através de Seu Filho, Jesus, o Cristo, que nos arranca das trevas e nos dá o Seu salvo-conduto.
Category BÍBLIA, Iº LIVRO DOS REIS, LIVROS HISTÓRICOS DO AT | Tags: cisão, cisma, divisão, ilusão, Jeroboão, perda, reino dividido, Roboão
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