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I REIS – XXII – QUANDO HÁ ABUSO DE PODER

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agosto 26, 2017 by Bortolato

Este parece ser um tema muito atual em muitas partes do mundo, mas isto não vem de hoje.   Ao mesmo tempo em que o vemos nas notícias e manchetes da mídia, esse assunto é também um dos mais antigos na história da humanidade.

Diz o velho ditado que “a ocasião faz o ladrão”; o poder, uma vez disponível como uma ferramenta nas mãos de alguém, é seguido de perto e cercado pela cobiça dos olhos, e se torna em uma armadilha das mais enganadoras que existe.

Alguém vê uma casa deslumbrante ou um automóvel do último tipo, top de linha, ou mesmo a linda mulher do vizinho, e coloca essas imagens como alvo de sua cobiça.   Nem é preciso que esse alvo seja tão inalcançável, e nem tão valioso.   Isto se dá também quando uma criança deseja incontrolavelmente o brinquedo de seu amiguinho, e o toma para si.

Em outro contexto, quando um funcionário se apropria sorrateiramente de um lápis ou uma borracha que deveria ser usada exclusivamente para o trabalho que lhe foi confiado, e leva-a para sua casa.   O erro é o mesmo em todos estes casos, apenas difere quanto ao objeto em questão, e em uma escala de valores.   Não há limites para haver comissão de desatinos tais como furtos, roubos, apropriações indébitas e até assassinatos, lesando a terceiros.

A cobiça cega tão profundamente as mentes, de tal forma que os olhos dos seus escravos voam até o alvo cobiçado e então se inicia um processo corruptor dentro do coração do cobiçoso: ele já se imagina tomando posse da coisa objetivada, como se esta fosse exclusivamente sua, menosprezando o sentimento de perda que causará em seu próximo.   Em um próximo passo, são arquitetados planos para se subtrair de outrem aquilo que pertencia a este por direito.

O final dessas histórias nunca é bom.   Ainda que se desfrute da “conquista” por algum tempo com certo gozo, a posse daquilo que foi tomado de quem não deveria ter sido tomado, o processo já transcorreu, e a alma de duas ou mais pessoas foram envolvidas em uma trama que polui, escraviza e degenera corações, e muitas vezes não há mais como voltar-se atrás para se reparar o dano.

Reis, presidentes, ministros, governadores, parlamentares, juízes e funcionários do mais alto ao mais baixo escalão têm esse poder em suas mãos, e o sentimento de controle total sobre a situação, ou a desculpa de que “ninguém vai perceber”, “posso fazer o que eu quiser” e “dane-se o mundo” os tentam em seus espíritos, e muitos são os que lamentavelmente caem nesse engodo.

Há, porém, um justo Juiz!   O incorruptível Juiz de todos os homens, que sabe, sente e vê aquilo que está oculto aos olhos de muitos, não Se deixa vencer do mal, e Ele tem o poder de condenar (ou de absolver, conforme queira!) em Suas mãos, e não há quem escape do Seu olhar perscrutador.   Quem ainda por acaso julgar que escapou do braço forte deste Supremo Juiz nesta vida, ainda que assim seja iludido, terá que passar pelo Seu Tribunal no tempo do fim, quando todos os mortos ressuscitarão para serem julgados – e vale dizer: a justiça final será muito mais  rigorosa do que aquela que se vê hoje neste mundo.

A Bíblia nos aponta alguns casos de corrupção, e, entre estes, vemos com muita clareza que quando um poder exacerbado esteve nas mãos de alguém, a falta de vigilância e de autocontrole levou o tal a cometer crimes qualificados de abuso de poder, como podemos ver o caso do rei Acabe, de Israel.   Este foi realmente um dos casos em que a cobiça se exacerbou e o poder nas mãos deu ensejo e houve um sério abuso, com a participação da rainha Jezabel.

Em I Reis, capítulo 21, este caso está narrado com minúcias.

Acabe tinha um palácio em Jezreel, o qual fazia limites com uma vinha que pertencia a certo homem chamado Nabote.    Da janela dos aposentos Acabe podia ver aquele terreno fértil, dando muitos frutos, produzidos com o auxílio do esmerado trabalho cheio de cuidados com que Nabote empenhava-se para poder ver, com satisfação, que a resposta exuberante das vides era a sua recompensa.

Nabote não somente cuidava daquele vinhedo com muito carinho, mas também se regozijava em lembrar que aquela terra fora dada a seus ancestrais pela determinação do Senhor Yaweh, desde a época da conquista de Canaã por Josué e seus soldados.   Aquela vinha, em suma, era um lugar sagrado para ele e sua família.   O tamanho dos cachos de uva que os dez espias trouxeram daquelas paragens chegou a obrigá-los a os carregarem por dois homens, e isto só já testificava que as vides eram excepcionalmente dadivosas, e que a promessa de Deus não foi vazias.

Acabe, porém, não atentava para este detalhe.    Ele queria, por motivo de vaidade, adquirir aquela data pelo preço que fosse.    Ofereceu a Nabote, não obstante, até uma outra vinha que julgava melhor do que aquela, mas foi em vão.

Nabote, em sua posição inflexível, jamais cederia aquilo que era uma delícia para os seus olhos  por vários motivos, mas principalmente porque aquela terra era a porção que Deus lhe dera, através de Sua Palavra, e de uma conquista milagrosa havida cerca de oitocentos anos antes.   E na sua fidelidade ao Senhor, ele negou-se a fazer qualquer negócio que envolvesse aquele pedaço de terra.   Na sua ingenuidade, orgulhosamente respondeu ao rei que jamais iria dispor da herança que recebera de seus pais, mas fê-lo sem prever qual seria a reação do seu monarca e não imaginou até onde a crueldade da rainha Jezabel poderia chegar.

Acabe certamente queria aquele terreno para estender um lindo jardim ao redor de seu palácio, e ostentá-lo para satisfazer a sua vaidade pessoal, mas Nabote recusou-se a consentir com isso.

Qual foi então a reação de Acabe?   Qual uma criança mimada, recolheu-se em seu quarto, deitou-se em sua cama, e rejeitou toda comida que seus servos lhe vinham oferecer.   Estava inconformado e indignado.    Não pensava mais em outra coisa.   Queria aquele pedaço de terra, porque o queria, e não aceitava aquela situação, muito embora a Lei do Senhor desse toda a razão a Nabote.    Não queria contrariar a Torah, porque depois do episódio de Elias no monte Carmelo o povo havia recebido uma dose muito alta de estímulo à fé e confiança em Yaweh.   Ir contra a Lei seria uma temeridade, pois o povo todo poderia protestar com muita força.

Ao saber disso, a rainha Jezabel, em um impulso de repúdio total, julgando-se estar acima da Lei, e acima de Yaweh, tomou providências para que a transação de passagem da  propriedade assumisse uma forma aceita pela Torah.

Jezabel, então, sentindo-se com todo o poder em suas mãos, anima ao seu rei, e diz-lhe para levantar-se e comer, porque ela, sentindo toda a certeza deste mundo, lograria fazer aquela propriedade vizinha passar ao senhorio de Acabe.    Possuindo uma mente malévola bem alicerçada em seu caráter, ela já traçou os planos para fazer tudo convergir para satisfazer a vontade do rei.

Jezabel, muito embora sendo uma idólatra e bem pouco simpatizante com a Lei de Moisés, conhecia muito bem um dispositivo desta que rezava que um homem não podia ser condenado à morte sem o depoimento de duas ou três testemunhas de acusação de seu crime.    É assim mesmo.   Os inimigos de Deus conhecem muito bem a Sua Palavra, e procuram todas as brechas possíveis e imagináveis para distorcê-la na prática.   A propósito, o diabo é até fundamentalista.   Ele crê e treme diante das palavras que saem da boca de Deus, mas não as adota como regra de fé e prática para si mesmo; antes procura desvirtuá-las.

Sentindo-se senhora da situação, Jezabel escreve cartas para os líderes da cidade, aos anciãos e os nobres de Jezreel, ordenando um jejum.   Ora, um jejum era apregoado quando havia sinais de iminente tragédia a se despencar sobre a população, porque havia pecado no meio do povo, e a mão de Deus pesava por este motivo até que todos se santificassem (Êxodo 19:10; Josué 7:6,13; Ester 4:16; II Crônicas 20:3).

Nabote então foi chamado para estar à frente da congregação.   Pensava ele, talvez, que estariam lhe dando um lugar de honra, por ser ele um homem honrado e crente fiel a Yaweh, mas ele foi tristemente decepcionado e viu-se chocado quando dois homens de má índole (no hebraico: filhos de Belial, expressão que tinha a conotação de filhos de Satanás) se ergueram para acusá-lo de haver blasfemado contra Deus e contra o rei.   Jezabel sabia que aquilo viria de encontro com  Levítico 24:15, 16, onde está previsto a pena de apedrejamento para o caso, sendo que ela é quem teria de ser morta, de acordo com Deuteronômio 17:6, por cometer e disseminar a idolatria entre o povo de Yaweh.

Assim foi Nabote levado para fora dos muros da cidade, onde o apedrejaram juntamente com seus filhos (II Reis 9:26), os quais não mereciam ser eliminados daquela forma tão covarde e aviltante, apenas para satisfazer os caprichos da vontade do rei Acabe.   Sem filhos para herdarem aquela terra, tudo ficou de encomenda para o rei apossar-se do objeto de sua cobiça.

Ao terminar essa trama, Acabe foi avisado do que ocorrera, e sem pejo e nem constrangimento, tomou posse da vinha de Nabote.   Parecia que tudo corria conforme ele bem queria, mas…  Existe Alguém que viu tudo, e Este era o verdadeiro Rei de toda a Terra, o Juiz dos juízes, Senhor dos Senhores – e não gostou do que viu.

O Senhor então envia novamente Elias!   Elias, o profeta que não tinha restrições quanto a profetizar contra a vida do próprio rei de Israel!    Aquele que, cheio da autoridade do céu, matou os profetas de Baal, e, embora ameaçado pela rainha Jezabel, continuava peregrinando pelas plagas da terra de Deus, confiado somente na Sua graça e no Seu poder libertador.  Ele continuava vivo, e Jezabel não conseguiu  por as mãos sobre ele, sequer para prendê-lo.   Eis aí então a pessoa que tinha todas as condições para entregar a palavra que estava no coração ressentido de Deus, que viu a trapaça, a injustiça e a distorção que fizeram da Lei para matar uma família que não tinha culpa da acusação e nem merecia a sentença que lhe impuseram, por causa de um interesse descabido de um rei que mais parecia uma criança mimada.

Aquele abuso de poder ultrapassara os limites da paciência divina.   Não haveria atenuação de sentença, como houve no caso de Davi e Bate Seba, e o Senhor já ordenara a Elias para apressar-se para decretar os juízos sobre a casa de Acabe ali mesmo, no terreno que era de Nabote, onde o rei havia acabado de chegar para tomar posse.

Acabe, ao ver Elias, logo sentiu que a conversa não seria das mais amistosas.   Parece que a sua consciência já o estava acusando de algo, e que o Senhor queria repreendê-lo.  Ao saudá-lo, o demonstrou, rotulando ao profeta de seu inimigo.

A palavra do Senhor foi muito dura – na mesma medida com que Nabote fora tratado com dureza sem par.    Acabe foi cientificado de que toda a sua descendência não lhe deixaria nome sobre a face da Terra.   Todos os seus filhos seriam mortos, e assim seria desarraigada a sua dinastia em favor de outro.  E mais: de todo seu descendente do sexo masculino que morresse no campo, os abutres os comeriam; e os que morressem na cidade seriam comidos por cães.  Quanto a Jezabel, esta tampouco escaparia, pois estaria inclusa na maldição, e também seria devorada pelos mesmos animais em Jezreel.

Acabe, lembrando-se de como Elias era indiscutivelmente usado por Deus, e de como toda a trama sobre a vinha de Nabote lhe fora revelada, não teve dúvidas de que aquilo era sério.   Não discutiu.   Baixou a cabeça, rasgou suas vestes e vestiu-se de pano de saco, jejuou, e assim passou por vários dias, cabisbaixo, humilhando-se perante o grande Juiz que proferiu a sua sentença.

O Senhor viu a sua humilhação, e disse a Elias que por isso Acabe não viveria para ver a desgraça que cairia sobre sua família.   A sentença não mudou, apenas houve um arranjo na sincronia com que os fatos viriam a acontecer.   Acabe seria poupado do desgosto de ver aos seus totalmente eliminados da Terra, e sua dinastia acabada, mas ele também sofreria uma morte violenta, como os demais envolvidos na profecia.

Os detalhes sobre como tudo viria à tona para conhecimento de todos, estes foram descritos pelo autor do Iº Livro dos Reis em seu último capítulo, o que passaremos a comentar no próximo fascículo.

Nós vemos como homens desejam tanto alcançar o poder, para exercerem autoridade sobre seus concidadãos.   Acontece que juntamente com esse condão, vêm as tentações como laços para envolver e amarrar aos incautos.   Jesus bem nos orientou sobre isto:

“Os reis dos povos dominam sobre eles, e os que exercem autoridade são chamados benfeitores, mas vós não sois assim; pelo contrário, o maior entre vós seja como o menor, e aquele que dirige seja como o que serve”. (Lucas 22:25-26)

“Não será assim entre vós; mas todo aquele que quiser entre vós fazer-se grande, seja vosso serviçal.  E qualquer que entre vós quiser ser o primeiro, seja vosso servo; bem como o Filho do Homem não veio para ser servido, mas para servir, e para dar a sua vida em resgate de muitos”.  (Mateus 20:26-28)

“Qualquer que receber uma criança, tal como esta (tendo-a colocado no meio deles e, tomando-a nos braços), em meu nome, a mim me recebe; e qualquer que a mim me receber, não recebe a mim, mas ao Que me enviou”.  (Marcos 9:37)

Que as palavras de Jesus sejam o nosso indicador para iluminar os nossos passos nesta Terra.   A humildade do homem diante da grandeza de Deus não se trata de uma simples opção, mas a única que nos revela a real posição que devemos assumir para agradá-Lo.

“Vinde a Mim todos os cansados e oprimidos e Eu vos aliviarei;  tomai sobre vós o meu jugo, e aprendei de Mim, que sou manso e humilde de coração” (Mateus 11:28,29)

 

 

 

 

 


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