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II SAMUEL II – LAMENTO PELO INIMIGO

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abril 14, 2016 by Bortolato

Sim, senhores, já ouviram falar do velho adágio que diz: “Ruim com ele, pior sem ele”?

Estas palavras nos colocam frente à frente com situações que nos envolvem.    Já soube de filhos que diziam que “a mãe só terá paz quando o pai morrer”, mas quando o seu pai de fato veio a falecer, o coração daquele filho se despedaçou, e este passou a ir ao cemitério dia após dia, para fazer “sessões de terapia”, supondo ou fazendo como se de verdade estaria conversando com o falecido, tentando abrir o coração diante de um túmulo de uma maneira como nunca teve o bom senso de fazê-lo em vida – mas aí já é tarde demais…

Se pensarmos bem, há pessoas que na verdade não são os inimigos que supomos que sejam,  mas isto só nos é esclarecido depois de bom tempo, quando nossas meditações alcançam um estágio de plena razão, acima de suspeitas e constrangimentos, pois há momentos em que, movidos por aparentes circunstâncias, não conseguimos ver senão um oponente, ou um causador de problemas diante de nós.

Dirão alguns: “Não quero ver mais tal pessoa à minha frente…”   ou: “quero que eles morram!” – talvez movidos pelo espírito do Velho Testamento, que nos diz:

“Amarás ao teu próximo, e aborrecerás o teu inimigo” (Mateus 5:43; Levítico 19:18; Deut. 23:6).

Assim foi ordenado pela lei de Moisés, mas muito embora isto fosse um mandamento emanado da permissiva vontade de Deus, esta não era a plena vontade de Deus.   Não era bem assim que o coração de Deus queria que fosse…

Como? Afinal, os ímpios, os perversos não serão, por fim, destruídos (Salmo 101:8) e lançados no inferno, e com estes, toda a gente que se afasta de Deus? ( Salmo 9:17)

Pois bem, existe, sim uma condenação para os que se afastam dos caminhos do Senhor, mas há um detalhe ao qual precisamos bem atentar:  Deus não tem nenhum prazer na morte do ímpio (Romanos 5:6).

No dia em que Davi ficou sabendo da morte de Saul e de três dos filhos deste, conforme lemos em II Samuel, capítulo 1º,  não houve alegria em seu coração e nem em seu arraial; muito pelo contrário, tristeza e desolação.

Neste capítulo das Escrituras Sagradas temos as informações que nos esclarece este ponto.

Um jovem amalequita que chegou andrajoso, que dizia viver em Israel, tendo passado pelo monte Gilboa após acabada a batalha ali cerca do ano 1056 A.C., encontrou os corpos de Saul de Jônatas.

Aquele moço parece ter-se antecipado à coleta dos despojos de após guerra, que os filisteus fizeram no dia seguinte ao do encerramento da peleja, e afirmou também que teria tido um diálogo com Saul, durante o qual aquele rei lhe teria pedido para matá-lo, uma vez que seu destino já estava selado naquela batalha, e que não viveria ao ataque daqueles inimigos.

Disse mais o jovem, que atendera à solicitação de Saul, e então se arremetera contra o mesmo e o matara, ali mesmo, agindo como que desferindo um suposto golpe de misericórdia.

O relato foi expresso de tal maneira que, à vista da coroa e do bracelete reais que o moço amalequita trazia em suas mãos, como prova da morte de Saul, era para se crer nele, salvo melhor juízo.

Isto aconteceu três dias depois que Davi chegara a Ziclague, após sua campanha contra amalequitas saqueadores, tendo libertado os reféns das famílias dos seus homens, e distribuído presentes aos homens de Judá.   Isto significa que enquanto Davi, naquela manobra militar salvava aquelas famílias capturadas, e a sua própria também, nos confins limítrofes do sul de Judá, Saul estava prestes a ser derrotado em Gilboa.   Contrastes irônicos da vida…

Aquele amalequita pensava que tinha trazido uma boa nova, para alegria e festa no coração de Davi, mas deve ter ficado confuso, preocupado e até mesmo chocado, quando percebeu que Davi rasgara suas vestes diante de todos, e assim também procederam os homens que estavam com ele.

Os olhos do amalequita se arregalaram admirados, ao ver que Davi e seus homens choraram e jejuaram naquele dia, até o fim da tarde, por causa de Saul, Jônatas e pela casa real de Israel que caíra pela espada.  Decerto pensava ele que aquela tristeza e todo aquele constrangimento era, pesado na balança, muito mais por causa do velho amigo Jônatas, e  por isto,  no caso, o rei Saul ganhou aquela homenagem póstuma como que por contrapeso.

O que de fato aconteceu foi que aquela notícia realmente abalou a Davi, e aos seus homens, os quais haviam aprendido com ele quanto ao respeito e reverência que deviam ao rei, à sua descendência, e a toda a casa real.

Não sabiam os homens de Davi e este também, até então, como de fato as coisas haviam transcorrido no monte Gilboa.   O único homem que lhes trouxe um relato daquela desastrosa campanha de Saul, até então, era aquele amalequita, em uma narrativa equivocada, com vistas a obter alguma vantagem…

Amalequita!   Daquela nação acerca da qual o Senhor havia falado que tinha que ser exterminada, porque resistiram ao povo de Deus e enfrentaram até ao próprio Senhor, que não deu vitória a Israel quando vinham do Egito, rumo a Canaã, mas até chegaram a matar aos mais fracos e aos feridos, que se retardaram naquela retirada, não os poupando de maneira impiedosa.   Aquele povo estrangeiro havia, sim, adquirido costumes e uma cultura muito perversa.   Seus valores eram muito egoístas, mercenários, traiçoeiros, vingativos ao extremo, e sua filosofia era aquela que os ladrões e assassinos cultuavam – não importava a quem prejudicar, contanto que eles fossem os gloriosos bem sucedidos.

Amalequitas eram também aqueles que tomaram as mulheres e os filhos dos homens de Davi que moravam em Ziclague, e queimaram a fogo aquela cidade, em seu ímpeto de selvageria.   O Senhor não permitiu que aquilo ficasse assim, e Davi pôde segui-los, e executar uma verdadeira guerra, um verdadeiro genocídio, matando a maioria daqueles assaltantes nômades, e libertando, por fim, aos seus queridos familiares.

E aquele jovem amalequita era um sujeito representante de uma nação que nunca lhes fora benfazeja, cujos costumes eram abomináveis aos olhos do Senhor Yaweh, e ele estava ali, ufanando-se de haver sido o carrasco que matou a Saul, no monte Gilboa!   (Mais tarde, se ficou sabendo que ele fora um infeliz mentiroso).   Estava ele apregoando ter sido o autor de uma vil façanha, pensando que poderia tirar proveito daquelas palavras forjadas – que ele inventara antes, pelo caminho a Zicalgue, indo ao encontro de Davi.

O amalequita, com toda certeza, sabia da vontade inóspita e assassina que Saul nutria com relação a Davi.   Isto era algo público e notório.   Saul não se atrevera a atacar Ziclague porque temia aos filisteus, povo este que detinha oficial e ostensivamente o domínio da região onde se localizava aquela cidade.   Buscar a Davi ali, seria atrair todo o exército dos filisteus; e quem sabe se Davi, em um território estranho, já não estaria desistindo de ser alguém na ordem da sucessão à coroa de Israel?  De qualquer forma, a melhor opção era a de esquecer-se de Davi por ora, assim pensava Saul…  e assim Davi conseguiu ficar longe da espada do seu rei.

O amalequita quis aproveitar-se de uma situação, não se contentando com o despojar da coroa e do bracelete de Saul, objetos valiosos.   Ele decerto ambicionou mais do que isso, pois aqueles objetos eram símbolos da realeza de Saul, os quais bem poderiam ter sido cobiçados por Davi, assim ia pensando, e eis que estes estavam ali, ao seu alcance, momentaneamente…  E a morte de Saul poderia ser uma notícia bem vinda aos ouvidos de Davi…   Como não?   A cobiça, assim pois, encheu o coração do amalequita, o qual apregoou uma mentira a Davi, vangloriando-se de haver matado a Saul, sem saber que estava aplicando um tiro fatal a si mesmo.

Foi um dia de grande constrangimento.   Davi e seus homens jejuaram até o entardecer, usando vestes rasgadas.

O amalequita ouviu, admirado, um cântico fúnebre, um lamento composto pelo próprio Davi, o qual foi entoado e escrito para constar no Livro do Justo.  Davi lamentava profundamente a morte de seu maior perseguidor, o rei Saul, e a morte de seu maior amigo, o príncipe Jônatas, com quem tinha um secreto acordo de juntos reinarem após passada a vida do velho monarca.

Davi lembrava-se da maneira como Jônatas o conhecera.    No dia em que ele matara ao gigante Golias, Jônatas tirara a capa que trazia em suas costas, e a deu a Davi; e além disso, lhe dera também uma espada, a sua própria espada de príncipe real, o seu próprio cinto e o seu arco…  Quando Saul começara a ter ímpetos de intentar matar a Davi, Jônatas intercedeu por este diante de seu pai, e mesmo quando a perseguição contra o jovem de Belém fora decretada sem mais retorno, ele não se conformou com aquilo.

Às ocultas, Jônatas se encontrara com Davi mais de uma vez, a fim de jurarem a fidelidade de uma amizade que ultrapassava os lindes da compreensão do rei Saul.   Aquela amizade realmente foi de muitíssimo grande valor para Davi, que se confortava interiormente, e se animava ao ver que o próprio filho do rei estava do seu lado, e não abria mão disso.   Aquela afeição de Jônatas só podia ser um sinal de Yaweh, dado  para que Davi não desfalecesse na sua fé.

Era bem verdade que a própria Mical, filha do rei Saul, e irmã de Jônatas, também se pusera ao lado do jovem belemita, ajudando-o a escapar com vida das mãos de soldados armados que vieram capturá-lo, mas aquela ajuda foi algo temporário, e a jovem princesa logo foi entregue a outro como mulher, e Davi teve que engolir este desgosto sem nada poder fazer.

Mas a amizade de Jônatas prosseguia, mesmo diante da maior desilusão de Davi para com a casa real.   Era realmente uma dádiva do céu, uma amizade que consolava, e dava-lhe grande prazer em mantê-la, pois era a única coisa boa que restara da passagem do jovem de Belém pelos bastidores da cúpula militar do rei Saul.

Este era o motivo por que Davi chegara a dizer em seu lamento que “mais maravilhoso me era o teu amor, do que o amor das mulheres”… pois que ele tinha elementos para comparar a fidelidade de Jônatas com a de sua irmã Mical.   Nenhuma menção se justifica aos que querem que esta afirmação davídica se referira a qualquer tipo de relação homossexual.   O homossexualismo, aliás, fora condenado pela Torah com sentença de morte, e isso só já lhes servia de grave advertência.  Davi e Jônatas tinham muitos motivos para não cederem a tal prática, e não confundirem uma profunda e fiel amizade com um ato condenado pela Lei do Senhor.

Davi ainda pensava em tantas batalhas que travara ao lado de Saul e de seus correligionários, defendendo-os e tendo sua retaguarda defendida por estes.    Um filme se passava pela mente de Davi, onde ele não via mais um rei ciumento da sua coroa, opressor, e ingrato, na figura de Saul.  Ele apenas via o homem a quem Yaweh ungira com o Seu Espírito para guerrear em defesa de seu povo, de todas as tribos, todos os clãs e famílias de Israel, o seu povo.   Por causa das mãos laboriosas desse rei foi que a casa de Jessé fora defendida, preservada, e esteve de pé, apesar das ameaças dos filisteus e outros inimigos circunvizinhos – e era isto o que mais importava, agora!

O maior perseguidor de Davi agora estava morto, o que não era motivo para alegria, mas então cessaria aquela questão de ciúmes sobre a coroa – porém as coisas ainda não ficariam totalmente livres para ele.   Davi não ficaria livre de uma disputa pelo poder, porque um filho de Saul ainda estava vivo, o general Abner também, e certamente que os mesmos assumiriam o comando das tropas de Israel no lugar do falecido monarca.   De qualquer maneira, não havia mais motivos para Davi queixar-se do seu rei morto.

Foi um dia de jejum, cânticos e orações ao Deus que lhes dera aquele rei por um certo tempo, e esse tempo então se findara de uma maneira trágica…

Um dia se passou, e o jovem amalequita gabola não arredou de sua posição.   Teve tempo para pensar melhor, para avaliar o quanto Davi e seus homens estimavam a Saul e a Jônatas, mas sua saga ainda estava viva em seu coração, ambicionando alguma recompensa, ou algum lugar de destaque diante daquela estrela de seis pontas que ascendia seu brilho mais e mais, e agora com mais vigor que antes.   Ele não se arrependeu daquelas inverdades que propagara, dizendo ser o matador do rei Saul.

Inquirido novamente por Davi, o tal ainda confirmou a sua versão da história.  Ele não atinou para o fato de que estava se gloriando de haver matado ao ungido de Yaweh.  Claro, um amalequita, como tal, não tinha nenhum apreço para com as coisas do Deus de Israel, e era assim que o jovem revelara isto.

A ambição e a cobiça daquele jovem o cegara, e ele não percebeu que se havia metido dentro de uma senda de morte.   Ele mesmo armara a armadilha onde caiu.

Davi pensara bem, e pesara a situação, pois ele mesmo, por duas vezes, tivera todas as condições para matar ao ungido rei Saul, mas de modo algum se atrevera a tal coisa.   O ungido do Senhor é dotado de uma condição em que não se pode tocar.   O Senhor unge, e o Senhor mesmo é o único que pode tocá-lo.   Não um homem, nenhum ser deveria atrever-se a uma coisa dessas.   Aquele que o Senhor deu, é um predestinado… e também aquele a quem o Senhor tira a vida, e somente Ele, Deus.     O Senhor dá, e é somente Ele quem tem o condão de tirá-lo, e ai daquele que se atreve a estender sua mão contra o tal ungido, mesmo que entenda que desta maneira estaria colaborando com a mão de Deus.

O amalequita, de um povo inimigo de Israel e do Senhor Yaweh, estava então ali, afirmando e confirmando sua estória que dizia ter matado ao ungido de Deus…

Davi também era um ungido do Senhor, para ser rei em Israel.   Ele também era um intocável, e isto era um “more” diante de todo o povo de Deus.    Aceitar que um ungido, como Saul, poderia ser morto por um reles mortal, seria aceitar que ele mesmo, Davi,  o poderia ser assim também!   Não, aquilo não poderia ficar assim!

Fosse verdade ou não, o amalequita trazia nas mãos uma “prova” de ter feito aquela façanha terrível…   Teve tempo para voltar atrás, e contar a verdade, mas não o aproveitou.  Recebeu a recompensa devida porJosué e Calebe matar a Saul, ao rei ungido por YAWEH: uma sentença capital.

Muitas lições se depreendem deste episódio, e uma delas é:   que os supostos grandes inimigos não devem ser tratados como tais.   Davi, acertadamente, não tinha a Saul como seu inimigo, apesar de toda aquela perseguição.

Jesus mesmo nos adverte:

“Eu porém vos digo: Amai aos vossos inimigos, bendizei aos que vos maldizem, fazei bem aos que vos odeiam e orai pelos que vos maltratam e vos perseguem” (Mateus 5:44)

Mais uma coisa ficou patente neste capítulo de II Samuel: que nem tudo o que falam em tentativa de angariar-se glórias para si, é a verdade.   Existe um provérbio alemão que diz:  “ O louvor próprio cheira mal”.   E também Salomão falou:  “Louve-te o estranho, e não a tua boca, o estrangeiro, e não os teus lábios “ (Provérbios  27:2) e:  “ O que faz uma cova, nela cairá; e o que revolve a pedra, esta sobre ele cairá”  (Provérbios 26:27).

E também: cada um de nós deve falar acima de tudo a verdade.   Mentiras sucumbem com facilidade, e os que tentam sustentá-las cairão juntamente com a tese furada que defendem.

 Outra lição: não se deve usar de tragédias alheias como veículo de enriquecimento, ou de louvor próprio.   Somos todos descendentes de uma geração corrompida pelo pecado, e o único digno de louvor, que pode gloriar-se perante esta situação degradante é Aquele que derramou seu próprio sangue para salvar ao ímpio e ao pecador.   O apóstolo Paulo mesmo assim falou:

“Cristo Jesus veio a este mundo para salvar os pecadores, dos quais eu sou o principal”  (I Timóteo 1:15b)

E esta é a melhor notícia.   Não necessitamos ambicionar glórias deste mundo, pois os seguidores de Jesus, muito embora não sejam sempre abençoados materialmente, terão muitas bênçãos espirituais aqui nesta Terra, e culminarão com a mais excelente glória quando da revelação do Senhor, que está para vir…  em breve!


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