JÓ – III – POR QUÊ?
Comentarios desactivados en JÓ – III – POR QUÊ?junio 23, 2020 by Bortolato
Jó capítulo 3º
Esta pergunta é milenar. Traduz o interesse em saber-se coisas que escondem motivos existenciais. Alguma coisa está oculta, mas deveria abrir-se comigo e expor por completo, desfazendo esse mistério. Quem me ajudará? Ninguém pode me responder?
Por quê? Por que isto aconteceu comigo? Logo eu? Quais foram as causas disso? Aonde foi que eu errei? O que faço agora?
Após ter sofrido perdas as mais impressionantes e sem nenhum aviso, umas após outras, sem explicação plausível, no capítulo terceiro do livro de Jó, o homem despojado de tudo, até de sua saúde que outrora era boa para excelente, começa a falar depois de sete dias de silêncio constrangedor, e o seu discurso é proferido na presença de seus amigos que vieram visitá-lo, e o acompanharam nessa semana silenciosa.
Eram amigos muito chegados, e sua presença ali, quietos durante aqueles sete dias, parecia querer demonstrar a sua solidariedade para com o amigo, diante de uma situação incrivelmente desoladora.
Eram realmente dias em que a dor falou mais alto do que possíveis palavras pudessem fazê-lo.
Jó estava sentado a um chão forrado de cinzas. O seu rosto estava definhado pela dor. Emagrecido, pois que a infermidade lhe causou vários sintomas, tais como enjoo, falta de apetite, e consequente perda de peso. Os tumores lhe estouraram a pele por todo o seu corpo. A enfermidade o abatera muito, mas além desta, as perdas dos seus bens, dos empregados e de todos os seus filhos o faziam sofrer psicologicamente com muita intensidade. Era uma tortura contínua, sem tréguas, como o resultado de um ataque-surpresa fulminante que atinge a todo um batalhão, chegando até o último soldado ferido em combate de fogo cruzado, o qual, após ter perdido todos os seus correligionários que lutavam ao seu lado, jaz ao chão, sem direito a ter a paz de um sono reparador. A artilharia de uma torrente de ideias pessimistas incitadas pelos últimos acontecimentos continava a lhe bombardear o tempo todo. Pensava ele: “o que ainda está por vir depois disso tudo?”
O caso de Jó chegou a deixar os que o conheceram de boca aberta, pasmados e sem palavras. Eles não sabiam se ele estaria em condições de dialogar um pouco que fosse, e nem se eles não o incomodariam se abrissem a boca para falar; e assim se passaram aqueles sete dias. Sem gestos e sem um “a”, sem um pio sequer pôde-se ouvir no ar. Podiam-se ouvir, sim, o zumbido de moscas que eram atraídas pelo mau cheiro das chagas que purgavam pelo corpo de Jó.
Um ataque contra a integridade espiritual de Jó já havia sido recentemente desferido dentro de sua própria casa: sua mulher, quem diria, aconselhou-o a revoltar-se contra Deus em um posicionamento infiel, irresponsável e agressivo. Ela culpava a Deus pela infelicidade que atingira Jó e sua casa, e parecia inconformada ao ver que o seu marido ainda era de uma devoção e um temor inegociáveis para com o seu amado, querido e reverenciável Deus.
Ela parecia até querer ver-se livre do homem Jó, para passar a viver a sua vida, sem ter de arcar com a convivência junto àquela situação deplorável, pesarosa e sem perspectiva de melhora.
Ela lhe chegou a dizer para amaldiçoar a Deus, a fim de receber uma resposta cabal, que terminasse logo com aquele drama, levando-o a morrer por alguma ação letal, ou sendo ferido diretamente pelo Todo-Poderoso, que, pensava ela, reagiria prontamente após a blasfêmia.
Jó a repreendeu, como se ela fosse uma doida – e na verdade é assim que se classifica um pensamento desses.
Diante deste panorama, seus amigos, ao avistarem-no, choraram, rasgaram seus mantos, lançaram pó ao ar, acima de suas cabeças, em sinal de sentimento de consternação.
Acabados aqueles sete dias de silêncio, Jó então se sentiu com vontade de desabafar. Começou então o seu primeiro discurso, e com isto, também a primeira rodada de uma longa “discussão entre amigos”.
Jó rompe a quietude do ambiente, amaldiçoando o dia em que nasceu. Parece arrependido de ter nascido (mas de que adianta não desejar nascer, depois do ato consumado???) e mesmo de ter concorrido a tal desgraça, na ilusória tentativa de ter uma vida feliz.
É de se notar que dentro da sua cultura não havia crença em vida após a morte, e assim a morte era vista como um fim total de toda e qualquer respiro de vida. Se para uns a morte parecesse com um acontecimento terrível, para Jó, depois do tanto que lhe ocorrera, a morte lhe parecia um lenitivo ao seu sofrimento. Parecia-lhe algo como ser totalmente aniquilado, sendo reduzido ao nada absoluto, deixar de existir como alguém, uma personalidade.
Interessante é notar que, embora hoje em dia a vida após morte seja algo muito divulgado através do Evangelho de Cristo, muitos ainda pensam da mesma maneira que Jó: é o fim de tudo, e por isso mesmo é que visam somente o próprio bem nesta vida.
Assim, Jó exconjurou o dia em que veio à luz, porque nele se abriram as portas da existência, esta que lhe estava então açoitando com o peso de um castigo insuportável. Desse modo, seria melhor não haver nascido, e mau foi o dia primeiro de sua vida, que, ao seu ver, jamais deveria ter-lhe premitido viver.
Nos versos 11 a 13, 20, 23 e 24 deste capítulo segundo do livro, Jó repete sempre a mesma pergunta: – “Por quê?”
Grande e inquietante inquirição! Feita até hoje, dentro das mais diversas culturas.
Por que as pessoas nascem para sofrer, sem um clarão de lua no fim do túnel?
Devemos notar que a vida de Jó antes de seus dias de tentação não foram nada ruins, mas muito pelo contrário. Contudo, como estes não lhe apareceram nem para lhe fazer uma despedida, já nem tinham mais importância, pois foram engolidos e abafados pela desgraça.
Apesar de tudo isso, Jó agora não desejava revivê-los nem na memória, porque ele só pensava que o mal que lhe sobreviera depois dos bons dias que vivera, tão grande foi que não teria valido a pena tê-los vivido.
Realmente, diante de todos os males por que passou, os seus dias de glória caíram nas sombras das trevas do esquecimento. A dor os fez deslustrados. Não só perderam o brilho, como nada mais restou deles senão a desilusão.
Jó não pensava em matar-se. Isto é um fator no mínimo curioso. O suicídio seria comum em seus dias , mas ele nem sequer menciona essa possibilidade, e isto denota que lá no fundo de seu íntimo a chama da vida ainda lhe trazia alguma esperança, pois que ele tinha algo muito forte dentro de sue coração, que clamava, e esperava por ser ouvido.
Muito embora as palavras de maldição brotassem do coração de Jó, esta não foram dirigidas contra o Deus de sua vida. Isto se chama firmeza de propósitos dentro de sua alma. Uma firme estrutura estava bem formada dentro de seu caráter, e esta não havia sido apagada.
As desditas da vida nunca poderiam apagar o amor que Deus tem dado e tem ainda para nos dar, de tal modo que as tribulações, perseguições e angústias podem ser as mais cruéis, mas quando entramos em um relacionamento muito íntimo e vivo com o Altíssimo, não há o que possa desfazê-lo. Os filhos de Deus que sobreviveram a regimes políticos anticristãos sabem bem como isto funciona – e isto acontece também nos dias atuais.
A situação estava no ponto de enlouquecer ao homem fiel, mas a sua convivência feliz nos momentos agraciados com o Senhor, e as experiências que Deus colocou em sua alma ainda falavam bem alto, pois estas o haviam formado como um verdadeiro sacerdote do Senhor, e nada poderia destruir isto dentro do seu caráter.
Ele poderia ficar um tanto tristonho, confuso, enojado de tudo que o cercara, mas a sua alma fora marcada e forjada para ser um forte, um vencedor – e isso é o que restara no coração do homem sofredor, depois de passar por tão grossa peneira. De tudo fora despojado, mas havia um trunfo em suas mãos: ele conhecia o Senhor como poucos – mas mal sabia ele que ainda não era o tanto quanto ainda viria a conhecê-Lo.
Por que não foi ele também morto, mas foi poupado? Por que não foi recolhido ao túmulo antes de ter-se iludido com tantas e tantas bênçãos do passado, para depois cair em um estado tão lastimável? Isto é realmente de arrepiar-se, mas a expressão que Jó deixou escapar de seus lábios foi:
-
“Nu saí do ventre de minha mãe, e nu para lá voltarei. O Senhor deu, e o Senhor tomou. Bendito seja o nome do Senhor!” (Jó 1:21)
Em todas as suas queixas, Jó não pecou contra o Senhor. Ele apenas não entendeu o porquê daquela sequência de maldições que lhe sobrevieram como tempestades encomendadas pelo mal.
Isto nos ensina muito: quando vemos que lutas, angústias e tribulações nos alcançam, nossos espíritos investigativos querem saber o porquê, e o que mais acontece é que não temos uma resposta imediata a esse tipo de pergunta.
Jó queria saber qual a razão de tamanha desgraça, quando ele era realmente um homem muito temente a Deus. E a resposta não lhe vinha… e não veio durante um certo tempo.
Se atentarmos bem para essa questão, veremos que de nada nos adianta descobrirmos as razões, se não pudermos receber a graça de sermos beneficiados com uma solução que nos traga alívio, consolo e a remoção dos problemas que tanto nos afligiram.
Qual a melhor palavra que podemos receber quando nos encontramos me situação aflitiva? Temos que estar cientes de que esta vida é muito curta, fugaz e logo nos veremos às portas da eternidade.
A questão é: queremos uma solução que nos abençoe somente nesta vida terrena? Ou os nossos corações sabiamente estariam anelando por uma que perdurasse pela eternidade?
Deus concedeu a Jó, no final das discussões filosóficas mantidas com seus amigos, uma recompensa muito abastada, ainda nesta vida, porque a visão de tempo de vida que permeava na cultura de sua épóca era tão curta quanto a esse período em que aqui vivemos a vida material – e Ele, o Senhor, não deixa que a Sua glória seja embaçada por visões toscas e limitadas.
O Senhor afinal quis mostrar a Jó, aos seus amigos, à sua mulher e a todos quantos o conheceram, que Ele sabe recompensar aos Seus fieis, e que o tempo de lutas que aqui enfrentamos não se pode comparar com o que Ele tem preparado para os Seus queridos, alcançados por Sua graça – não somente aqui, mas também para todo o tempo infinito.
Voltamo-nos às palavras do Apóstolo Paulo, que citou o texto de Isaías 64:4:
“Nem olhos viram, nem ouvidos ouviram, nem jamais penetrou em coração humano o que Deus tem preparado para aqueles que O amam.” (I Coríntios 2:9)
Uma outra pergunta, esta mais pragmática, então diria:
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“Qual a finalidade disso?” Ou melhor: – “Para quê?” Ou ainda: – “Até onde o Senhor quer me levar?”
Um bom conhecedor de Deus, íntimo amigo Seu, e servo leal apenas observaria assim:
“Diante do tamanho das lutas que tenho passado e estou passando, fico a imaginar o tamanho das bênçãos que irei receber ao final…”
Assim pensam e falam os que têm fé.
Temos que lembrar que as maiores grandezas das maravilhas de Deus foram destinadas aos que diante das provas nutriram e demonstraram uma fé à altura da mesma grandeza, ou que não mede dimensões nos desafios.
O tamanho do poder de Deus se faz mostrar diante do tamanho da fé que temos ancorada nEle. E para termos uma ideia melhor desta relação, a fé do tamanho de um grão de mostarda já pode transportar montanhas….
Estamos enfrentando lutas? Aprendamos a reagir assim:
1 – Louvar a Deus, mesmo no meio das dificuldades
2 – Crer que nenhuma tentação seja meramente humana, mas que Ele não nos deixará ser tentados acima do que pudermos suportar; e que o livramento estará bem próximo.
3 – Crer que Deus não nos desampara, pois Ele é amor.
4 – Crer que Ele está a nos preparar para sermos uma bênção maior e mais refinada, através da experiência por que estamos passando.
5 – Esperar pelo escape, que deve estar prestes a ser-nos oferecido pela mão do Senhor.
E sejamos todos vitoriosos em Cristo Jesus, o nosso Senhor!
Abraços! Desfrutemos da paz que Ele nos dá em toda e qualquer situação.
Category BÍBLIA, JÓ, LIVROS POÉTICOS | Tags: amigos, condolências, escape, Jesus, Jó, Maldições, perguntas, reverência, Sacerdote, tristezas
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