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JÓ – IV – UM JULGAMENTO EQUIVOCADO

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junio 26, 2020 by Bortolato

Jó capítulos 4 e 5

Você já deve ter ouvido discursos de alguém que julgava saber de tudo sobre as coisas da vida, envaidecido pelo saber adquirido até então. Quando fala, está mui seguro de si mesmo, e lança as palavras com extrema facilidade, propondo-se como o sábio conselheiro da humanidade que o mundo não conhecia.

Pois bem, esse tipo de pessoa discorda diametralmente com Sócrates, o filósofo grego que dizia:

  • Uma coisa sei, que nada sei”.

O fato é que esta vida nos oferece um campo aberto onde, a cada passo que damos, estaremos aprendendo um pouco mais. Achar que já chegamos ao ápice do saber é pura estultícia; seria como subir ao monte Everest e depois dizer ao mundo que já esteve nas alturas mais elevadas do Universo.

O sábio adquire conhecimento e os ouvidos dos sábios procuram o saber.” (Provérbios 18:15)

Tens visto a um homem que é sábio aos seus próprios olhos? Maior esperança há no insensato do que nele.” (Provérbios 26:12)

Alguém já disse certa vez que “o cientista é aquele que sabe tudo sobre quase nada, e quase nada sobre tudo”.

No Livro de Jó, capítulos 4 e 5 temos em versos poéticos a primeira fala de Elifaz, o amigo que procura aconselhar o homem que caiu em uma série de desventuras: Jó.

Elifaz e seus outros amigos ouviram o primeiro discurso de Jó, no qual este se mostrou um homem desesperado, que em meio aos tormentos de sua alma, veio a amaldiçoar o dia em que nasceu, o dia que Deus lhe concedera vir à luz. Era um desabafo até compreensível para quem passou pela tribulação que lhe sobreveio. Acima de tudo, porém, apesar da incapacidade de Jó aceitar aquilo que lhe sucedeu, o servo do Senhor continuava a reverenciá-Lo e adorá-Lo, mas isto não impressionou aos seus amigos.

Assim que Jó terminou de falar, Elifaz aproveitou o ensejo para tomar a palavra. Ele estava ansioso para começar a traçar a sua opinião a respeito dos últimos acontecimentos na vida do amigo assentado ao chão.

Elifaz parecia ser o mais velho dos amigos de Jó, e o mais experiente, seus raciocínios se embasaram sobre as suas experiências de vida, e das observações que abstraiu dos fatos que pôde presenciar. Ele começa com bastante delicadeza, tentando entrar no assunto que palpitava a todos os presentes ali.

Primeiramente Elifaz pergunta se as suas palavras não fariam ao doente ficar cansado ou enojado, diante do sofrimento que lhe alcançou. Ele já havia percebido que o paciente Jó estava a perder a paciência e até mesmo a linha, exagerando na dose com suas palavras.

Apesar da excelente sabedoria de um homem experimentado expor suas ideias, fazendo uma tentativa de ajudar ou ser de alguma forma útil ao sofredor, Elifaz lança palavras que indiretamente acusam a Jó, insinuando coisas que ninguém viu e ninguém veio a saber, mas que ele deduziu.

Elifaz tem muita convicção de que há uma lei espiritual onde jamais a justiça divina, sem nenhuma exceção, deixaria de punir aos pecadores. (Jó 4:7-8)

Tendo ouvido a Jó clamando de maneira tão forte e em tão alto e bom som, Elifaz diz que até mesmo os leões, que têm rugidos que ressoam ao longe, não prevalecem quando não acham presas para saciar a sua fome e de seus filhotes (4:10-11). Se ele pretendia acalmar a Jó, usou de um recurso pouco amigável, e até deselegante. Como querer calar a voz de alguém que perdeu tudo na vida e ainda sofre dores de uma peste incurável? Isso não foi um ato piedoso.

Continuando a sua fala, Elifaz menciona uma certa visão noturna que teve, a qual usa para reforçar o seu ponto de vista. Ele diz que alguém, um espírito não identificado mas de aspecto assombroso se lhe aproximou para instruí-lo de que um homem não tem justiça própria capaz de superar a justiça de Deus, e que o Senhor encontra falhas até mesmo nos Seus santos anjos.

Teria sido esta uma revelação de Deus? O fato é que não tem nenhuma indicação de ter-se proposto como uma profecia divina; mas em que pese este fator, até aí essa teologia parece estar asseverando as coisas corretamente, mas então esse amigo de Jó insere tacitamente sua conclusiva aplicação ao caso em questão: – Jó não era justo!

Assim, Elifaz contrariou o conceito que Deus fazia de Jó, conforme escrito nas passagens do livro em 1:1 e 8, e 2:3.

Não havia nenhum indício de que Jó teria vivido papéis duplos diante de Deus e do povo. Elifaz parte daquela palavra recebida durante aquela visão, para concluir que Jó merecia receber o castigo que estava sobre si.

Vemos que neste julgamento apressado cabe um esclarecimento acerca do desenvolvimento lógico que Elifaz elaborou:

Segundo a sua visão, foi lançado o seguinte axioma:

Nenhum homem é justo diante de Deus”. (Premissa depois confirmada em Salmos 14 e 53)

Por definição, Jó é um homem, e daí conclui- se que … Jó é injusto diante de Deus!(?)

Esta conclusão tem aparência de ser acertada mediante a lógica dedutiva usada para chegar ao caso de Jó, mas vamos analisar melhor.

O que não fica bem neste tipo de raciocínio é que, de acordo com esta aplicação ao caso em pauta, todos os homens teriam que ser punidos como Jó o estava sendo – mas Elifaz não aplica esta sua lógica teórica para si mesmo e para os seus companheiros que com ele vieram fazer essa visita. Ele indiretamente faz uma enorme diferença de julgamento entre si, usando dois pesos e duas medidas. Ele julgou-se melhor do que Jó, para asseverar tal coisa.

No versículo 5:1 Elifaz ainda faz uma referência ao caso dos loucos que clamam a anjos de Deus, rogando que estes os defendam, mas fazendo com ira, e com um zelo inapropriado quando se trata de objetivar-se o favor do Senhor. Desaprovados, portanto, não recebem qualquer coisa das mãos divinas.

Isto foi mais uma vez em que Elifaz quis repreender a Jó, e desta vez por este haver aberto a sua boca “para falar asneiras”, o que a seu ver poderia ter incitado ainda mais a ira de Deus, a qual já estava bastante pesada.

Prosseguiu Elifaz em sua argumentação, ensejando ainda ofender a Jó com palavras bonitas, querendo dizer que o amigo aflito deveria, arrependido, buscar a Deus, aceitando a disciplina divina, que ainda teria boas coisas a acrescentar depois que tudo aquilo passasse, e, em assim procedendo, Jó salvaria a sua vida, tornando a viver dias felizes e seguros.

A visão de Elifaz sobre o caso de Jó erra em fazer generalizações que não são da maneira como Deus realmente julga os processos. Ele, Deus, sabe da vida de cada um de nós e para cada caso Ele reserva um julgamento personalizado, com uma sentença sábia e apropriada.

As experiências pessoais de um homem não devem ser aplicadas a todos os demais como uma regra geral que “engole” e neutraliza a individualidade de cada um. Isto não é sábio, e não é assim que se procede em um julgamento justo.

Argumentar algo tendo como princípio a observação das coisas que se desenrolam sobre as nossas vistas é algo muito limitado, pois os nossos olhos não têm alcance de tudo o que acontece no mundo. Além disso, não somos dotados naturalmente de uma visão capaz de enxergar os corações das pessoas. Isto está no campo do saber de Deus, e portanto não foi justo o amigo tentar envolver Jó com acusações dentro de sua precipitada maneira de ver as coisas.

Elifaz quis que Jó se humilhasse, em vez de reclamar, e confessasse seus pecados que lastimavelmente lhe teriam causado a ruína de suas riquezas, de seu lar e de sua saúde, porque a seu ver Deus fez todo aquele reboliço em sua vida, unicamente com a finalidade de fazê-lo conscientizar-se de seus erros e converter-se de seus maus caminhos.

O problema é que nem Jó e muito menos os seus amigos sabiam das reais causas do “terremoto” que atingiu a vida do servo do Senhor. Só poderiam sabê-lo se o próprio Deus o revelasse, mas como ainda não havia chegado o tempo e a oportunidade apropriada para isto, a ignorância espiritual levou os três visitantes a, empurrados pela vaidade moral, e cheios de presunção de conhecimento de causa, eles se enveredaram por conclusões errôneas.

Não julgueis, e não sereis julgados… porque com a mesma medida com que medirdes, vos medirão também” (Mateus 7:1) – Palavras do Senhor Jesus Cristo proferidas durante o Sermão da Montanha.


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