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JÓ – V – APOLOGIA DE UM ATORMENTADO

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junio 29, 2020 by Bortolato

Jó capítulos 6 e 7

Às vezes podemos ser mal julgados, sendo colocados dentro da bitola de uma estreita visão da vida que muitos procuram defender.

Quando sofremos reveses e as coisas não vão muito bem, logo não custa que apareçam pessoas prontas para nos acusar, apontar erros que nem sequer viram, e insistem em dizer que toda a nossa tribulação não passa de um castigo que ricocheteou em uma pedreira, e caiu de volta sobre as nossas cabeça, e assim colhemos todo o mal que plantamos.

A lei da semeadura e colheita de fato existe, mas é preciso ser entendida, e em que parâmetros ela funciona realmente. Podemos citar como exemplo dessa lei quando a pobreza sobrevém a alguém que nunca quis trabalhar pelo seu sucesso. Pode também acontecer que alguém que dantes era rico, mas veio a perder tudo quanto possuía em jogos de azar, em cassinos ou coisas do tipo. Isto é mera consequência.

Uma cirrose hepática também é muito frequente em pessoas que levam a vida bebendo, bebendo e bebendo… deram causa, e o efeito veio na sequência.

Uma perda da sensatez mental acontece muito entre viciados em drogas que lhes proporcionam muitas “viagens” cheias de alucinação. As clínicas psiquiátricas estão repletas desses casos.

A destruição e consequente perda de um casamento é comum quando algum dos cônjuges, ou ambos, se entregam à prática do adultério. Dizem que quem não arrisca não petisca, mas no caso, provavelmente irão petiscar uma separação ou divórcio.

Filhos podem ser deserdados quando dão mostras de que sua prodigalidade é um vício que não valorizaria os bens que porventura pudessem herdar.

Todas essas histórias realmente são de causas que trouxeram efeitos desagradáveis e até degradantes na vida das pessoas.

Quando, porém, acontecem enfermidades espalhadas ao acaso em uma epidemia, ou uma tragédia na família, casos de pequena probabilidade de acontecerem, como poderíamos acusar alguém particularmente atingido por essas desditas, de ter sido o causador da infelicidade?

Tomo a liberdade de relatar um caso que aconteceu numa família paulista no século passado, perto do ano 1934.

Um pai de família, casado havia cerca de dez anos, vivia em seu lar com sua esposa, e quatro filhos, dois meninos e duas meninas. Para ele, era um tanto trabalhosa a vida, mas a sua alegria era ter sua esposa e seus filhos, quando chegava em casa. A família era prazerosa, porém tendia a aumentar o seu número de membros. A sua esposa ficou grávida novamente, e cresceu nela a preocupação quanto ao sustento familiar, entre outras inquietações.

Ele, o pai de família, jamais pensaria em apelar para um controle de natalidade que conduzisse um feto ao aborto, mas a sua esposa pensou bem e resolveu tomar essa atitude sem o conhecimento do marido.

Assim foi que um dia aquele que era um feliz cabeça do lar, teve de sair correndo do seu trabalho para ir a uma clínica, onde ficou sabendo que sua esposa tentou o aborto, e nesse procedimento o futuro quinto filho foi morto, e com este também a mãe veio a óbito. Foi uma tristeza geral.

Isso causou uma série de longos problemas para a família, que teve que ser temporariamente dividida. Quem iria cuidar das crianças enquanto ele teria que ir ao trabalho? Os dois meninos foram acolhidos por uma tia, e as meninas por outra parte da família.

Por cinco anos essa situação perdurou até que o homem encontrou uma nova esposa, quando somente então pôde reunir novamente os seus filhos no seu novo lar.

Dir-se-á que a culpa disso tudo foi dele? Isto seria muita falta de sensibilidade para com o sofrimento de alguém que não deu causa a todo o transtorno, frustração e tristeza aos corações.

Em Jó, capítulos 6 e 7 o homem atribulado por seguidas tragédias e por fim adoentado horrivelmente, depois de ter sido confrontado e acusado por amigos, começou a tentar justificar-se diante destes, que estavam a visitá-lo e ficaram dias a fio, para acrescentar mais pesares ao coração do pobre homem ferido pela vida.

Elifaz, o temanita, o havia sutilmente acusado de ser um homem injusto, que portanto estaria recebendo a devida punição por essa vida supostamente iníqua que foi levada em oculto, e que agora expunha as vísceras do seu pecado, razão por que estaria sofrendo o peso da ira de Deus.

Além disso, Elifaz ainda o repreendeu por Jó haver aberto a sua boca para falar com muita avidez e eloquência, em alto e bom som, das suas infelicidades, de forma a expor um inconsolável lamento. Nesse afã de desabafar-se, Jó chegou, sim, a amaldiçoar o dia em que nasceu, como fruto do estado de sua alma.

Jó ouviu então atentamente as palavras de Elifaz, mas discordou em muito do que lhe havia sido colocado. A ele pareceu que o amigo estava lançando mão de uma presunção totalmente infundada.

Primeiramente a defesa de Jó coloca o fato de que ele estava aterrorizado demais diante daquela incrível sequência de acontecimentos que, além de lhe roubar toda a sua alegria, faziam com que a sua mente fosse muito ocupada com toda a tremenda infelicidade que lhe vinha ocorrendo, temendo que ainda viessem mais coisas ruins para surpreendê-lo, como que a caracterizar uma feroz perseguição.

Isto desequilibraria o homem mais sábio, de modo a expor-se de maneira precipitada em suas palavras. Isto deveria ser compreendido por seus amigos, mas… parece que a falta de sabedoria da parte destes os estava dominando, de modo a cegá-los e torná-los insensíveis ao sofrer do amigo..

Ainda comovido pela fúria com que foi atacado pelas desgraças que o acometeram, Jó presume, em sua precipitação, que é o Senhor, o Todo Poderoso El Shadday quem o feriu, e, não vendo mais nenhuma boa perspectiva de vida, anela pela própria morte como uma forma de alívio ao seu estado lastimável em que ficou.

Quanto ao julgamento em que Elifaz o enquadrara, Jó é quem ensina a usarem de misericórdia:

Ao aflito deve o amigo mostrar compaixão, a menos que tenha abandonado ao Todo Poderoso” (Jó 6:14)

Com o estilo poético com que o autor do livro escreve esses discursos, Jó ainda se queixa de que os seus irmãos o menosprezaram nesse momento tão cruciante para a sua alma (versos 15 a 20), e coloca os seus três amigos no mesmo patamar.

Diante da frieza com que seus amigos insistiam em julgá-lo, a cena ficou mais dramática ainda do que aquilo que as provações lhe causaram até então.

Seus amigos o colocaram em uma roda que parecia ser formada por gente que não se importa com o que outros estão passando, e ficaram lançando ideias, tais quais setas, impróprias e mal construídas para acusarem ao homem sofredor, embasados em meras suposições. Estes pareciam negociantes em um mercado de escravos, desdenhando a mercadoria, no caso Jó, a fim de serem bem sucedidos nas suas compras, através de suas falas. Foi um papel vergonhoso e incompreensivelmente ignorante da parte deles.

No capítulo 7º do livro de Jó, ele aos poucos passa do seu breve monólogo com Elifaz para dirigir-se a Deus.

Preliminarmente, Jó descreve um pouco daquilo que tem passado sufocando a sua alma, comparando a si mesmo com um escravo que suspira pelo descanso de uma sombra, que não consegue alcançar.

Quando ele se deitava pelas noites, enfrentava tamanha tortura, na qual as dores físicas se adicionavam a uma tempestade em sua alma, de tal forma que não conseguia dormir em paz.

Passadas as noites, então vinham os mesmos tormentos no dia após dia. Jó 7:5 relata que a sua carne ficou cheia de vermes e de duras escamações. Sua pele constantemente produzia líquido purulento, quadro típico de quem é atacado pelo pênfigo ou fogo selvagem.

Ele anelava pelo descanso ao chegar das noites, o que não lhe vinha, passando a rolar constantemente em sua cama de um lado para outro, e ao chegar o raiar dos dias, ele pensava quando poderia sentir alívio – talvez na próxima noite, pensava ele, mas o sofrimento continuava dia após dia, e noite após noite. Era de desesperançar.

Jó então suplica a Deus que se lembre dele, pois que a vida tem uma duração muito breve (7:7-10), e logo se acabará. Isto faz com que ele se sinta movido a prestar-Lhe a queixa de que nem no seu leito encontra a paz; pelo contrário, até ao dormir ele é assaltado com sonhos e visões assustadores.

Mal sabendo que todo esse mal lhe fora lançado pelo inimigo de Deus, Jó pede que o Senhor deixe-o em paz, porque pensa que foi o Altíssimo o responsável direto de toda a sua miséria, e que ele ficou vivo após todas as coisas que perdeu, para ser um réu que teria de suportar um inferno em vida, penando muito antes de descer à cova. Jó preferiria pular à frente desse período de castigos e logo descer à sepultura, onde tudo lhe acabasse.

Este pensamento era muito comum entre o povo do Velho Testamento, de que a vida terminaria totalmente ao chegar a morte física (aliás, é também uma filosofia encontrada em alguns nos dias atuais). Jó, pois, preferia ser abatido cabalmente, e ser transformado em uma nada absoluto, na esperança de cessar sua dor e seu sofrimento.

Todas pessoas sofrem neste mundo, destarte o sofrer faz parte de uma existência qualquer, e não há quem escape de todo desta cina. Sempre teremos que lidar com o sofrer aqui e ali, mas que sempre haja esperança de superá-lo. Isto não se trata de hedonismo, mas de um fato. Até os que praticam o autoflagelo fazem-no com um objetivo, que é o de alcançar um bem maior que lhes advenha, pondo fim à dor.

O inimigo de nossas almas está sempre disposto a fazer aumentar o seu peso de opressão sobre nossas vidas, mas ele muitas vezes se disfarça para não ser identificado como o autor de toda a dor e a confusão que quer causar – e assim sutilmente deixa que a culpa toda recaia sobre a Pessoa Divina, a quem deseja ardentemente Lhe conspurcar o Nome.

As bênçãos de Deus sempre nos vêm para nos trazer o escape do mal, na forma de vitórias, que nos alentam, revigoram, confortam nossos corações.

A paciência dos santos é a melhor forma de encarar-se situações desconfortáveis às nossas almas, enquanto a cura, a rota de escape e o almejado descanso não vêm. Isto, porém, não significa que passaremos os maus pedaços incólumes, calmos, anestesiados e perfeitamente equilibrados. Afinal, não somos máquinas, que não têm emoções e não se abalam; somos criaturas humanas, esta é a nossa natureza; e como Satanás sabe disso, ele procura de todas as formas nos desestabilizar.

Sabedores desse alvo de nosso arqui-inimigo, temos que, antes de tudo, manter o foco no Senhor, pois Ele promete Sua ajuda ao povo que lhe é fiel.

Se vencermos, as glórias pertencerão principalmente a Ele, que nos dá condições de nos tornarmos felizardos, com o prêmio da vitória nas nossas mãos.

Se a luta continua, que insistamos em buscar a Ele, apresentando-Lhe os nossos desejos legítimos. Ele é fiel e justo, paciente como ninguém, e poderá nos atender. As orações dos justos têm muito poder de trazer as respostas divinas de que precisamos.

Jó esperava, na sua contínua angústia, que somente a morte é que poderia terminar melhor com as dores físicas e de sua alma. Isto, porém, não era o plano divino para sua vida.

Quando pensamos que em meio às tempestades algumas coisas poderiam acontecer para minorar os nossos pesares, Deus geralmente tem outro projeto desenhado para nossas vidas. O que precisamos, sim, é de descobrir qual seja a Sua vontade, e o Seu plano traçado para nós.

Para o caso de Jó, Deus destinou uma virada de tal dimensão, que Jó teria ficado até contente em sabê-lo, mesmo em seus dias de tribulação, crendo que teria valido a pena tudo o que estava enfrentando. Jó ficaria muito feliz ao ser novamente abençoado materialmente, como realmente o foi depois de seu tempo de lutas, mas as maior bênção que ele recebeu no fim daqueles dias de trevas, foi a de conhecer melhor Àquele que antes conhecia apenas de ouvir falar. Deus Se lhe revelou de uma forma tão real e viva, de modo a calar as inquietações que foram produzidas dentro do seu coração .

O Senhor se mostrou a ele tal como Ele é, e só isso já foi um enlevo para o espírito do homem sofredor. Quando Ele Se mostra assim a alguém, as dores desaparecem, os tormentos são reduzidos a nada, e o que o homem sente é um grande e profundo amor a cercá-lo, confortá-lo e ampará-lo. Os sofrimentos e tribulações desta vida são reduzidos a nada.

Não existe bem maior do que este. Amor que se achega, e muitas vezes dissipa dúvidas sem emitir palavra alguma, porque pode-se sentir o Seu poder de nos abençoar. As ditosas criaturas que O encontraram em suas vidas perceberam que Ele é o maior presente que se pode receber em qualquer tempo, seja este bom ou ruim, porque sentimos que as coisas desta Terra são comparadas a refugo, perto da excelência e relevância do amor de Deus.

Quem nos separará do amor de Cristo? A tribulação, ou a angústia, ou a perseguição, ou a fome, ou a nudez, ou o perigo ou a espada? Como está escrito: Por amor de Ti somos entregues à morte todo o dia; fomos reputados como ovelhas para o matadouro.

Mas em todas estas coisas somos mais do que vencedores, por Aquele que nos amou.

Porque estou certo de que nem a morte, nem a vida, nem os principados, nem potestades, nem o presente, nem o porvir, nem a altura, nem a profundidade, nem alguma outra criatura nos poderá separar do amor de Deus que está em Cristo Jesus, nosso Senhor” (Romanos 8:35-39)

Se Jó soubesse o tamanho das bênçãos que Deus havia preparado para ele, certamente que teria mostrado muito mais paciência, e chegaria até a ter alegria no meio das provações.

Portanto…

Nós não necessitamos saber por ora o quanto Ele vai nos abençoar; o tamanho do prêmio é ainda segredo, mas basta cremos, levarmos nossos dias ruins com paciência, firmados na fé, e no momento adequado, escolhido por Ele, tudo será tornado em uma resplandecente glória.

Hoje, agora, ainda temos a maravilhosa opção de O buscarmos até O encontrarmos… e veremos que Ele é verdadeiro, não mente. Quando Ele vem, tudo se transforma.

Seja Jesus o nosso alvo maior; a recompensa é muito grande. Não O perca! Está a sua espera. Busque-O. Ele no-la tem reservado, nas Suas mãos, e seria um desperdício muito grande não alcançarmos. Vamos a Ele, o grande Autor e Consumador da nossa fé.


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