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JUÍZES – XI – VENCENDO O ORGULHO

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agosto 10, 2015 by Bortolato

O orgulho e a vaidade historicamente foram grandes sementes das guerras.   Por que os homens não decidem viver em paz?   Tem-se visto que uma das grandes causas dos conflitos armados reside nas ambições político-econômicas, e quando algum povo está na iminência de perder o seu status de liderança para outros povos nesta área, então surge o que muitos chamam de “dor de cotovelo”, e então vem a reação… para perda de muitas vidas.

Assim foi que aconteceu entre os efraimitas e os gileaditas, conforme nos conta o livro de Juízes, em seu capítulo 12.   Estes últimos tinham acabado de lutar valentemente contra uma multidão de soldados de nação amonita.     Isso teria ocorrido por volta do ano 1.143 A.C., quanto ainda não se usava bombas como artefatos de guerra, e por este motivo os exércitos, que eram compostos mormente de homens a pé, com a minoria montada a cavalo ou mula (em algumas poucas civilizações se usavam camelos, elefantes ou outro animal), e, quando lá muito sofisticados, contavam com pequenos carros de combate, do tipo das bigas romanas, de modo que necessitavam de mover uma logística muito mais lenta que a dos dias de hoje, para se abastecerem com víveres, roupas adequadas, armas (lanças, espadas, arcos e flexas), e grandes tendas para se acamparem em local relativamente próximo ao provável campo onde se mediriam as forças em combate.   As forças bélicas que contavam com tudo isso e mais um contingente de engenharia que pudesse construir aríetes, e torres e rampas de assalto, estas julgavam-se poderosas, e ainda ostentavam orgulhosamente alguns objetos de adorno, tais como pedras preciosas e ouro, como foi o caso dos midianitas, citados nos capítulos 6 a 8 do livro de Juízes.   Estes desfilavam com joias como luas de ouro no corpo e nos seus camelos…

Quando um povo orgulhoso vinha impulsivo e confiante para dar sobre outro, e perdia a guerra, ao evadir-se da peleja, deixava para trás uma porção de riquezas, das quais os vencedores se apoderavam a título de indenização.

O capítulo 12º de Juízes nos fala que a tribo de Efraim até então se jactava de ser a líder sobre toda a Israel, de vez que a Arca da Aliança do Senhor Yaweh estava em seu território, e ainda vivia respirando as glórias dos tempos de Josué, que era um líder nacional e que pertencia àquela tribo.

Os homens de Efraim julgavam-se mais nobres que os das demais tribos israelitas e não toleravam ser rebaixados deste alto conceito, e nem suportavam sequer desconfiar que estariam sendo passados para trás.

Durante aqueles dezoito anos da opressão amonita, porém, os efraimitas foram um pouco ou um tanto atingidos pelos prejuízos causados por aquelas invasões estrangeiras, mas não se desvestiam de sua soberba, mesmo nada fazendo para repelir os tais inimigos.

De acordo com o relato de Juízes , capítulo 11º, vimos que Jefté, uma vez incumbido da função de juiz líder dos seus conterrâneos de Gileade (e esta denominação muitas vezes era dada, referindo-se a todo o território de Ruben, Gade e de Manassés Oriental), teve que rapidamente reunir um povo apto para guerrear, devido à grande possibilidade de um ataque surpresa da parte dos amonitas, que poderia logo emergir, como que batendo-lhes às portas.

Por este motivo, entende-se que ele deva ter chamado aos de Efraim, mas não houve resposta pronta, e nem havia tempo para espera, e assim, lá se foi Jefté com os seus voluntários do Leste-Jordão.   Como o caso era emergente, e não houve tempo para se combinar detalhes, ou acertos ou acordos com Efraim, e estes, por fim deixaram de participar da peleja e das glórias de vencedores, o que lhes parecia ser da mais alta importância, e ficaram também sem receberem nada dos despojos deixados pelo povo inimigo de Israel.

Um povo humilde agradeceria a Deus pelo livramento, e provavelmente ofereceria dons e sacrifícios em ação de graças pela bênção recebida, tão maravilhosa e preciosa aos seus olhos, mas para os olhos maus e orgulhosos, aquilo lhes chegou aos ouvidos como uma afronta. Jamais poderiam suportar tal situação.   Parecia que estavam sendo menosprezados, e depostos da enganosa posição de “privilegiados de Israel”, a qual pensavam ser de sua propriedade exclusiva.

Algo parecido aconteceu na época de Gideão, e, na ocasião, os efraimitas foram tirar-lhe satisfações, discutiram duramente com ele, mas no final nada aconteceu, senão uma conversa pesada entre família, e depois, uma hábil saída daquele juiz, que conseguiu apagar a fúria com palavras brandas.

Agora, porém, os efraimitas se reuniram em peso para declararem guerra.   Estavam impacientes.   Decidiram enviar seus porta-vozes para Gileade, a fim de ameaçar a Jefté, e dizer-lhe que iriam queimá-lo dentro de sua própria casa, juntamente com os seus.   Quiseram peitá-lo, desrespeitando o estado de espírito de tristeza do gileadita, pelo acontecido com relação à sua única filha.

Os efraimitas não queriam vingar-se da suposta afronta concentrando o foco da cisma apenas sobre os ombros de Jefté.   Todo aquele exército armado e preparado para um conflito estava disposto a ir mais longe, e atacar aos gileaditas, e tomar-lhes por força os despojos conquistados dos amonitas. Só depois de assim proceder é que aquela orgulhosa tribo se sentiria melhor, e seus homens se dariam por satisfeitos.   Estavam com sede de sangue, e não se contentariam com menos do que isto.

Gideão, em seu tempo, conseguiu contornar a ira e o ciúme dos efraimitas, mas com Jefté não houve meios de reparar o desgaste.   No calor de sua fúria, ameaçaram de queimarem a sua casa; o que já fez com que colocassem muito daquele diálogo a perder, sem que houvesse possibilidade de uma conciliação.

Jefté, por sua vez, tentou apaziguar os ânimos, explicando-lhes que esperou pelo auxílio de Efraim, mas como este não lhe chegasse a tempo, decidiu arriscar a vida para ir ao combate apenas amparado pelos gileaditas, e o sucesso lhe veio pela mão misericordiosa do Senhor, que os defendeu nesse confronto de forças militares.   Se todos pudessem ver pelo ângulo da fé em Yaweh, e pela boa mão do Senhor que os dirigiu e fortaleceu, tudo teria sido uma bênção para todo o Israel.   Esse discurso, porém, não obteve o resultado esperado.   Os homens de Efraim desafiaram aos de Gileade, lançando-lhes em rosto uma expressão depreciativa, chamando-os de “fugitivos de Efraim”.   Tal adjetivo parecia dar a entender que os gileaditas saíram de Canaã, terra ao ocidente do rio Jordão, para irem morar ao leste, como que fugindo da responsabilidade de levarem a cabo a tarefa de uma plena conquista da terra – o que não era verdade, além de ser uma forma desrespeitosa de se dirigirem a irmãos da mesma descendência.   Com isto, ergueram uma barreira enorme entre eles, sem nenhuma necessidade.   Os fiéis do Senhor precisam vigiar muito as palavras que proferem, porque estas denotam uma posição tal que, depois que assumida, não há mais unidade e comunhão entre irmãos.

Sentindo-se, pois, pressionado e na possibilidade de ser morto pelos de sua própria nação, Jefté levantou-se frustrado e preocupado, daquela conversa com irmãos que se tornaram em seus inimigos.   Percebendo que estava falando com pessoas insensatas e que até os de sua casa, seu clã e sua tribo estariam em perigo, logo entendeu que teria que tomar uma decisão drástica a respeito.

Ele acabara de ser bem sucedido em uma guerra na qual defendeu o seu povo – o seu próprio povo que outrora o havia rejeitado e deserdado, conseguindo, após longos anos, reunir e reativar a comunhão com os seus.   Ele estava agora até sendo honrado, elevado à posição de líder dos gileaditas, os quais colocaram as suas vidas nas suas mãos, confiando na misericórdia de Yaweh, e acreditando que tinham consertado e corrigido um erro do passado.   Quando tudo estava bem resolvido com os de sua casa, apenas um problema o afetava, que era o episódio não desejado havido junto à sua filha…   Nada mais o deveria perturbar, até que os de Efraim lhe apareceram ameaçando a paz em Israel…

Estava formada uma triste divisão entre irmãos, e foi inevitável o conflito que só trouxe perdas, e, uma vez quebrados os laços de amor, as perdas são cortantes para ambos os lados.

Jefté levantou-se daquele ajuntamento de irmãos que se tornaram inimigos mútuos, daquele diálogo com homens sem sensatez e, percebendo que a sua própria casa poderia ser queimada em uma atitude irracional dos de Efraim, tratou de ajuntar os seus irmãos de Gileade, e foi à luta, vencendo-os de forma esmagadora.

Os sobreviventes de Efraim que sentiram ser necessário reconhecer que a batalha estava perdida, tentaram fugir, escapando por alguns lugares do rio Jordão mais propícios para a travessia, a fim de poderem passar para o outro lado e voltarem para casa a salvo, mas em ali chegando, tiveram uma amarga surpresa: os homens de Gileade os esperavam próximos às margens do rio.

Os fugitivos da batalha não puderam sequer disfarçar o seu sotaque, próprio da região de Efraim.   Era-lhes exigido que pronunciassem uma só palavra (em hebraico: shibolete/sibolete), a qual lhes denunciava a sua origem. Foi um massacre.

Como resultado disso, quarenta e dois mil homens de Efraim foram mortos naquele dia. E isto fez com que caísse a glória de uma tribo que se julgava a nata estrelar da liderança dentro da nação israelita.

Assim é que o orgulho é quebrado. Infelizmente, este tipo de atitude não é mudado e nem melhorado sem que haja uma crise, um trauma e um abatimento.   O orgulho é um tipo de pecado que só é vencido quando aquele que o leva dentro de sua alma reconheça sua atitude egoísta, mesquinha e inútil, que só traz prejuízos ao seu detentor, e às pessoas que o cercam.   É necessário que o orgulho caia das nuvens por terra, e isto só acontece com um sério quebrantamento para o seu portador.

Veja-se: para que serviu o orgulho do gigante Golias, senão para a sua própria destruição?   E o que dizer de Napoleão Bonaparte, e de Adolf Hitler?   Qual foi o seu fim?

Se temos esses homens como perigosos, devemos também temer e vigiar para que o orgulho não nos suba às nossas cabeças, pois que este é que é o real perigo – o restante da história foi só consequência.

Humildade é uma das condições “sine qua non” para agradarmos a Deus.   Não negligenciemos esta qualidade.   Ela pode ser um caminho não muito atraente, e sem muito brilho inicial, mas abre portas para um diálogo feliz com Deus e é também muito bem vista pelos homens desta terra.   É muito melhor aceitarmos sermos os menores de início, do que termos que amargar sermos rebaixados no fim.   Ninguém despreze os humildes começos.   No final, aliada à fé, ao amor e à perseverança nos caminhos do Senhor, a humildade torna as trevas em luz abundante, cada vez mais clara e alegra os nossos dias .

Os humildes vão continuamente crescendo, para sua ventura, enquanto os orgulhosos vão caindo, para sua desventura.   Quem começa por baixo tem grandes probabilidades de subir, ao passo que quem deseja iniciar pelas alturas, tem muitas chances de serem rebaixadas.

Depois da vitória de Jefté sobre os amonitas, Israel teve um período de paz que lhe rendeu cerca de trinta anos. Depois desse livramento por Jefté, este foi seguido de outros três juízes: Ibsã, de Belém (por sete anos); depois por Elom, o zebulonita, por dez aos; e depois, Abdom, o piratonita, por mais oito anos.

“A vereda dos justos é como a luz da aurora, que vai brilhando mais e mais, até se tornar em dia perfeito” (Provérbios 4:18)

 

 


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