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JUÍZES – X – PROEZAS E FRAQUEZAS

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agosto 6, 2015 by Bortolato

Como gostaríamos de sermos lembrados?   A Bíblia fala de grandes proezas de homens e mulheres de fé.   Ultrapassaram os limites do impossível.   Algumas destas são tão febricitantes que chegam a causar dúvidas para certas pessoas, mas o certo é que causam impacto à grande maioria, chegando a mexer, sacudir, e deixar uma semente de esperança viva como uma brasa acesa dentro das nossas almas.

Em Hebreus, no seu capítulo 11º, desfilam uma porção de heróis de uma estirpe de vencedores através do poder de Deus, poder este que se manifestou em suas vidas como uma resposta divina provocada pelas orações de Seu povo.

Um fato inequívoco, porém, é que nem sempre tais personagens se portaram de acordo com as expectativas de Deus.   Como nos diz Tiago acerca do profeta Elias, afirmando que este era um homem semelhante a nós, sujeito às mesmas fraquezas, mas fez com que os céus negassem chuvas por três anos e meio, e só permitiu chuva quando a liberou pela palavra da sua boca (Tiago 5:17-18).

Sabemos, no entanto, que mesmo Elias cometeu erros por falta de fé, de confiança nos propósitos de Yaweh (I Reis 19:1-9).   Ele era um homem formidável como pouquíssimos, mas um dia o seu termômetro da fé acusou uma queda de nível, ao ter que enfrentar alguns problemas, e ele entrou em depressão…

Se olharmos apenas para os defeitos dos servos de Deus, acabaremos por julgá-los por coisas como inconstância, falta de fé, moral corrompida, falta de equilíbrio, etc., etc., etc.   Quem quiser olhar para esses defeitos, facetas negativas dos heróis da fé, tenderá a esquecer-se de suas virtudes, e condená-los-á sumariamente – mas sinceramente, quem teria esse direito?   Poderíamos nós acusar a qualquer deles de terem sido imperfeitos na fé?

As fraquezas de Abraão, Isaque, Jacó, Moisés; os Juízes Gideão, Jefté, Sansão; os reis Davi, Salomão e de outros estão claramente descritas na Bíblia, mas não para serem tomadas como paradigmas, padrões a serem seguidos.   Servem apenas para nos alertar que temos a mesma natureza humana que eles, e que temos que trabalhar com as mesmas a fim de que não nos surpreendam, como surpreenderam àqueles.

Na verdade, cremos que todos esse portentosos personagens do passado lamentaram muito por não terem correspondido plenamente, em 100% das vezes, à expectativa divina.   Se pudessem voltar atrás, hoje teriam feito algumas coisas de modo bem diferente, mostrariam uma performance muito mais perfeita aos olhos de todos, sem dúvida nenhuma.

Ao tomarmos o caso de Jefté, em Juízes, capítulo 11º, vemos que este servo de Deus não fugiu a esta regra, e a Bíblia não nos esconde tal fato.

Quando analisamos o seu comportamento, notamos que era um homem conhecedor das Escrituras, malgrado tenha sido deserdado por seus irmãos, e escorraçado da herança da terra que pertencia aos filhos de Israel. Como a alternativa que lhe restou, passou a viver como podia, como um saqueador, homem de guerras e pelejas, fora dos termos limítrofes das terras de Israel  (é bom lembrar que o rei Davi, em certo tempo de sua vida, também usou deste mesmo subterfúgio).

Ele fora mal julgado e prejudicado pelos seus irmãos e líderes de seu povo, e esse foi o meio de vida que acabou encontrando.

Um dia, quando os amonitas apertaram muito ao povo, lançando um ultimato, os de Israel tremeram em suas bases, mas então perceberam que haviam menosprezado e aborrecido a quem tinha alguma chance de conduzi-los em uma batalha muito desafiadora, em termos de números, extremamente desigual.

Daí os anciãos de Gileade foram até Tobe, cidade próxima da região da Síria, em plagas estrangeiras, para pedir a Jefté por algo que jamais pensariam que um dia precisariam pedir-lhe.   O homem escorraçado pelos seus era um líder capaz de trazer-lhes o alívio e um grande livramento, usado pelas mãos de Deus.

Isto, de repente, foi descoberto aos olhos dos israelitas, os quais mudaram a sua atitude e, após já haverem abandonado aos deuses estrangeiros com arrependimento, tiveram eles de manifestar também diante de Jefté o seu arrependimento por haverem-no subestimado e humilhado.

Este é o caminho do arrependimento dos pecados – primeiramente o homem deve apresentar-se diante do Senhor suplicando pelo Seu perdão, e, passo seguinte, deixar de praticar as coisas que O desagradam (entre estas, mudar a maneira altiva e orgulhosa de tratar com o próximo, e passarem a trilhar um caminho mais humilde).

“Ele te declarou, ó homem, o que é bom e o que é que o Senhor requer de ti: que pratiques a justiça, e ames a misericórdia, e andes humildemente com o teu Deus”. (Miqueias 6:8)

Os anciãos de Gileade propuseram então a Jefté que este os liderasse, e lhe fosse por juiz, alguém que os julgasse dentro dos caminhos e conformes da Lei do Senhor.

Reconhecido o erro, com as devidas escusas, o relacionamento rompido foi restaurado. O homem de Deus foi reerguido, e Jefté sentiu-se então bem melhor, reconstruído, muito mais à vontade perante o seu próprio povo, e assim lhe foram refeitas a força e autoridade.

Quão grato e feliz é vermos que irmãos da mesma fé sejam reconciliados, tendo as arestas aparadas, e assim possam caminhar lado a lado, andando juntos, confiantes no Senhor e respeitosamente honrando uns aos outros.   Assim Jefté saiu de Tobe, e foi acompanhando os líderes gileaditas até Mispa, para ali selarem o acordo de união com o seu povo.   Foi uma caminhada feliz, na qual os corações se sentiam aliviados, mais esperançosos por haverem consertado algo que havia sido quebrado no passado.

Reconhecido, então, como juiz em Israel, e empossado da qualidade de líder representante de seu povo, Jefté, com muita diplomacia, foi tentar explicar aos inimigos as razões e os justos motivos de Israel naquela questão embaraçosa que os filhos de Amon lhes estavam querendo impor.

Pacificamente, Jefté demonstra conhecimento da história de seu povo quando este entrou na terra de Gileade, trezentos anos antes, tal como o faria um diplomata como Rui Barbosa ou um Barão do Rio Branco, nas questões entre o Brasil e outros países.   A prédica de Jefté mostrou que ele não era um líder sanguinário, pois afastada uma guerra, isto evitaria perdas irreparáveis para ambos os lados; logo, a guerra não é a melhor solução.   Muito melhor é quando se pode resolver essas questões em diálogos, parlamentando e procurando entender-se as razões de ambos os lados.

Infelizmente, não houve o mesmo espírito disposto a dialogar, da parte de Amon.   Não deram ouvidos àquele convite para pensarem de acordo com as razões para um acordo amigável – na verdade, os amonitas estavam mesmo com vontade de partirem para a luta em campos de guerra.   Eles sabiam que não conseguiriam superar os argumentos de Jefté, e a sua disposição era mesmo a de lutarem e expulsarem Israel de suas terras.   Não houve acordos.     As tensões aumentavam a cada momento, daí em diante.   A terra de Gileade parecia um barril de pólvora cujo estopim fora aceso, e estava prestes a explodir.   Qualquer um dos lados já poderia tomar a iniciativa e iniciar o conflito armado em campo aberto.   Estava lançada a sorte, e venceria o melhor.

O POLÊMICO VOTO DE JEFTÉ

Diz-nos Juízes 11:29 que o Espírito do Senhor veio então sobre Jefté, e ele se dispôs, armou-se a si mesmo a aos seus companheiros, e saíram de Mispa de Gileade ao encontro dos amonitas, e os venceu.

Antes, porém, de sair ao campo de batalha, quis Jefté sentir-se mais seguro do favor do Senhor Yaweh, o grande Eu Sou que tantas batalhas lutou por Seu povo.   Fez, então, um voto.

Não podemos concordar com o voto que ele fez.   O Espírito do Senhor já estava com ele, não havendo necessidade de fazer o tal voto, mas assim mesmo, o fez.   Prometeu ele que , em voltando vitorioso daquele conflito militar, ele entregaria ao Senhor, (e/ou?) em holocausto uma oferta mais que ousada: o primeiro ser que lhe saísse ao encontro, ao sair da porta de sua casa.   Imagine-se o que poderia sair-lhe ao encontro, da entrada de sua casa – um cão, um cabrito, uma galinha, um pato, ou a pessoa de seu amigo, um seu empregado, ou… sua filha?   Pois para desventura do juiz de Israel, quem o recepcionou, ao chegar em casa, foi aquela que ele não estava esperando que lhe viesse encontrar: a sua própria filha!

Alguns teólogos alegam que o voto de Jefté tem sido mal traduzido do original hebraico, pois a conjunção “vav”, usada no versículo 31 de Juízes 11 pode ser tanto aditiva, como alternativa, e tentam lançar esta tese, admitindo a hipótese de que a expressão usada empregou a opção alternativa.  Seguindo-se esta linha de pensamento, o voto de Jefté teria proposto: se fosse uma animal que saísse de sua porta, ele o ofereceria em holocausto. Ou, se fosse uma pessoa, ele a consagraria ao Senhor.

Aceitando-se tanto a conjunção “vav” sendo traduzida como partícula aditiva “e”, quanto como sendo a alternativa “ou”, em ambos os casos vemos uma porção de inconvenientes, senão vejamos:

  • um animal impuro, tal como um cão ou um porco, jamais poderia ter sido oferta ao Senhor em holocausto, segundo os preceitos da Torah, a Lei.   Por este detalhe, vemos que o voto de Jefté foi mal formulado.
  • Por outro lado, se fosse uma pessoa, e esta tivesse de ser sacrificada por força de um voto impensado do juiz de Israel, a Lei do Senhor proibia que os israelitas adotassem a prática dos povos cananeus, que ofereciam seus filhos a Moloque, em nojento ritual, onde crianças eram queimadas ao fogo – um procedimento que o Senhor Yaweh abominava e abomina até hoje. (Veja-se na Torah: Levítico 18:21; 20:2; Deuteronômio 12:31 e 18:10)
  • Como no caso de Abraão, o Senhor, afinal, não queria a morte de Isaque; a propósito, Ele proveu ao Seus servos um carneiro (Gênesis 22:13) para o sacrifício, provando que Ele queria apenas ter o primeiro lugar na escala de valores do patriarca, lição que é válida inclusive para nossos dias.   Logo, o exemplo de Abraão e Isaque não autorizariam um sacrifício humano em Israel.
  • Um voto feito deveria ser cumprido, conforme Deuteronômio 23:21-23, de acordo com o que previa a Lei, mas um voto contrário aos preceitos da Lei não deveria ser levado às últimas consequências.
  • Leve-se em conta que quando um animal impuro era consagrado ao Senhor, este deveria ser substituído por uma oferta de importância em dinheiro correspondente ao valor do mesmo, avaliado pelo sacerdote levita, e entregue a este, e assim estaria cumprida a intenção da entrega do sacrifício no altar (Levítico 17:1-9).

Somente estes pontos já são suficientes para pararmos e pensarmos bem na encruzilhada de decisão em que Jefté se havia colocado para cumprir o seu voto.

  • Jefté poderia apresentar ao sacerdote a importância requerida pela Lei para a consagração de sua filha, dez ou trinta siclos de prata, conforme fosse a sua idade.   Logo, se ele a teria que apresentar ao sacerdote, que ficava em Siló, local aceito por Deus para os sacrifícios da Lei Cerimonial, ele ficaria sabendo que não deveria imolá-la no altar, mas poderia remi-la daquele ato terrível que, ao que parece, tinha votado.   A Jefté não faltariam recursos para isto, depois que venceu os amonitas e tomou, sem dúvida, dos seus despojos de guerra, uma boa fortuna.
  • No caso de animais primogênitos, estes deveriam ser sacrificados ou resgatados, conforme o caso (Levítico 27:26-27).   Raciocinamos pois: o Senhor não aceitaria a dedicação de uma filha, em lugar de seu sacrifício no altar?
  • No caso da consagração dos primogênitos de Israel, o Senhor fez uma troca: os levitas no lugar dos primogênitos (Números 8:5-19). Mas os primogênitos de Israel foram contados, e somaram 22.273 (Nm. 3:43), e o número dos levitas foi de 22.000 (Nm.3:39).   Logo, um excedente de 273 primogênitos teriam que ser remidos perante o Senhor – e o Senhor mesmo deu a receita desta remissão: 1.265 siclos em dinheiro (Nm. 3:46-51). Não tiveram de ser sacrificados.   Assim o Senhor foi honrado, e o excedente dos primogênitos foi poupado.

A pergunta que nos incomoda, e, ao que tudo indica, persiste em ficar sem resposta, é se Jefté seguiu os conformes da Lei, resgatando e poupando a vida de sua filha, opção que faria com que ela não mais pudesse casar-se, tendo que adotar o celibato para somente servir ao Senhor.   Apesar desta alternativa ser mais branda que a imolação da jovem, e aceitável aos olhos de Yaweh, esta ainda seria uma medida lamentável para Jefté e para sua filha, uma vez que ela era a sua única, e, para uma mulher israelita, o casamento seguido da geração de filhos era um padrão muito forte a ser respeitado, um verdadeiro tabu em Israel que, se contrariado, seria, ainda dentro deste contexto polêmico, um caminho amargo, difícil de ser aceito.   Isto, porém, explicaria o fato da jovem “chorar a sua virgindade” por dois meses (Jz. 11:38) e depois desse período de vacância, uma vez cumprido o voto por Jefté, diz a Bíblia que “ela jamais foi possuída por varão” (11:39).

O texto não é claro o suficiente, e nem totalmente convincente sobre o que realmente ocorreu com a filha de Jefté.   Alguns dizem ter certeza de que uma exegese acurada levasse a crer que houve de fato o sacrifício em holocausto, da jovem filha.   Contudo, um homem de fé, fiel ao Senhor, conhecedor da Torah, que soube desenvolver um excelente discurso, embasado rigidamente sobre o texto da Lei, teria sido realmente capaz de agir de forma contrária à Lei?   O trecho bíblico não é explícito em afirmar que a jovem foi realmente executada.

Os sacrifícios em Israel entregues ao Senhor deveriam ser feitos no altar dos holocaustos, em Siló, onde os sacerdotes ministravam. Sacerdotes levitas teriam aceito sacrificá-la?   É muito duvidoso!

Depois que a jovem chorou por dois meses a sua virgindade, juntamente com suas amigas, os vizinhos não teriam impedido a consumação de tal descalabro?   Lembramos que um voto descabido de Saul, feito certa feita, poderia ter levado seu filho Jônatas à morte, mas todo o povo se interpôs a favor do jovem, e assim este foi poupado (I Samuel 14:36-46).

Fica a lição: os votos ao Senhor devem ser cumpridos, sim, mas quanto a votos contrários à Sua vontade, estes nem sequer deveriam ser feitos – porém, uma vez feitos, podem ser executados de maneira alternativa, conforme as condições que o Senhor os aceitaria, de acordo com a Sua Palavra, usando-se um substitutivo previsto, e não ao pé da letra, jamais ipsis literis.

Cabe-nos, pois, lançar luz sobre um detalhe: o Senhor não aceitaria um sacrifício humano, mas, ao ver a humanidade caída e condenada pelo pecado, Ele planejou e executou o Seu propósito de resgatar nossas vidas, substituindo-as pelo sacrifício de Seu próprio Filho, Jesus. Este sacrifício é tão necessário para cada ser humano, que foi oferecido pelo Pai, concordado e entregue pelo próprio Filho Jesus, a fim de que fôssemos salvos de um terrível destino eterno.

Cabe à nossa incumbência, então, recebermos esta oferta divina como mais importante do que a própria vida que temos.

O Senhor, de bom grado, teria poupado a vida da filha de Jefté, mas não poupou o Seu próprio Filho para nos resgatar, livrando-nos do mal eterno – e uma vez resgatados, fomos comprados, portanto, já não somos donos de nós mesmos, mas isto não é para se preocupar – Ele sabe melhor que nós mesmos como nos transformar em herdeiros de Suas bênçãos celestes, para todo o sempre!   Grande é a ventura dos que são salvos por Jesus!


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