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JUÍZES – XIV – NÃO FACILITE, FIQUE ESPERTO

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agosto 24, 2015 by Bortolato

 

Fique de olho vivo, não ande no limite.  Não é bom viver perigosamente.

Conversando com um rapaz que era viciado em drogas certa vez, percebi que ele vivia desafiando a sorte, colocando sua vida em risco por muitas vezes.   Podia ser morto em algum tiroteio, ou preso pela polícia a qualquer momento, como foi o caso de alguns que conheci.   Tentei dizer-lhe que este tipo de vida  não é inteligente, pois os riscos assumidos eram muito grandes, com alta chance de colocar a própria vida a perder-se.   Ele me respondeu que se sentia atraído por esse estilo, porque gostava da adrenalina que o mesmo lhe provocava, e tinha um certo prazer quando falava que se havia dado muito bem em alguma de suas manobras cheias de stress.

Eu gostaria que ele sobrevivesse às fatalidades que se lhe apresentavam nesse seu caminho cercado de violências e ameaças, e pudesse encontrar a Jesus, que é O Caminho, A Verdade e A Vida.   Prefiro não comentar sobre o fim desse jovem, no auge do seu vigor da vida.

Parece que algumas pessoas  realmente só se sentem bem quando fazem altas apostas nos jogos da vida.   Diria que são como apostas em um jogo de azar.   Sabemos que são bem poucos os que são bem sucedidos nesta área, aliás, as estatísticas falam alto:  grande é o número dos que se saem mal nesse jogo perigoso que vicia, leva à ruína financeira, destrói as vidas, as famílias, e afasta com força para longe a felicidade.   Isto acontece frequentemente com os que brincam neste jogo, ultrapassando os limites da segurança, da paz e da sobriedade.

Autoconfiança é bom, mas somente até certo ponto.  Não devemos abusar da paciência de Deus.   Ele fez leis para que as respeitemos, e assim fazendo seremos felizes em nossa jornada.  Não é prudente viver andando na zona de perigo.

Em Juízes, capítulo 16º, lemos que Sansão, depois de declarar guerra contra a cultura malfazeja dos filisteus, foi obrigado a matar muitos deles, e um dia se expôs diante de seus inimigos, indo à cidade de Gaza, uma das capitais filisteias.   Não sabemos que motivos o levaram até ali, mas o fato é que aquele homem de Deus, ao ver uma prostituta, coabitou com ela, em mais uma demonstração de fraqueza.

É bem possível que se ele se tivesse casado com uma mulher israelita, esta teria sido capturada pelos seu inimigos com a finalidade de dar-lhe uma lição de violência, e chantageá-lo.   Talvez pensando nisso foi que Sansão não chegou a eleger uma jovem dentre os seus – a fim de evitar trazer problemas a estes.   Como então sua vida se desenvolveu, nesta senda de eremita?   Quando chegou a matar uma porção de filisteus, certa vez, foi refugiar-se em uma caverna, na rocha de Etã (Juízes 15:8).   Apesar desse espírito abnegado para uma porção de coisas, ele tinha um problema:  não tinha nenhuma vocação para o celibato.   Esta área de sua vida foi o seu ponto crítico, o seu “calcanhar de Aquiles”, e nem os conselhos de seu pais visando a dar-lhe mais estabilidade e equilíbrio emocional adiantaram.    Ele agia sob os impulsos que lhe eram provocados pelo seu olhar…

Deus, porém, atendendo às orações e aos clamores dos judeus opressos pelos filisteus, decide que não lhe retiraria, ao menos por ora, o dom magnífico em que  Ele demonstrava a Sua força através daquele homem tão falho, ainda que um instrumento poderoso, mas que apresentava seus defeitos.   Coisas que acontecem às vezes, dentro do âmbito da soberania divina…

DORMINDO COM O INIMIGO:

Ao estar em Gaza, cremos que averiguava a possibilidade de ali abastecer-se de víveres, e ao mesmo tempo ia verificando os pontos frágeis da segurança da cidade.    Ele sabia que de repente poderia armar-se um exército contra si, à sua frente, e por isso observava a altura dos muros, a firmeza dos portões, a quantidade de sentinelas que passeavam de lá para cá, os horários das trocas de turnos de soldados nos pontos chaves da segurança, alguma abertura que lhe pudesse servir de rota de escape, e assim ele ia passeando por ali, como se pudesse passar por um simples desconhecido – mas isto não foi bem assim.

Sansão, o homem forte, o juiz poderoso, o guerreiro invencível, em dado momento cai mais uma vez na sua principal fraqueza, quando avistou a beleza feminina de uma mulher filisteia.   Mas esta não era uma moça de família, pois estava ali mercadejando o seu corpo, coisa até um tanto comum em algumas grandes cidades daqueles filisteus.   Desta vez então ele se deixou vencer pela força da insinuação visual de uma prostituta (Juízes 16:1-3), e, tendo sido visto perambulando por ali, foi reconhecido e denunciado aos soldados, os quais quiseram armar-lhe uma cilada.

Cercaram bem as saídas daquela fortaleza durante o dia, e, em chegando a noite, resolveram trancar o portão de entrada, mas relaxaram na vigilância noturna, na esperança de, ao raiar do dia apertar-lhe o cerco e por fim matá-lo.   Estavam certos de que essa estratégia seria bem sucedida, mas algo deu errado naqueles planos filisteus.

Sansão desperta e levanta-se à meia-noite, dribla os vigias e vai até o portão de entrada da cidade.   Vendo-o, todos diriam que ele estava preso ali, pois aqueles portões, que eram feitos no início da era do ferro, eram muito altos, chegando à altura de dois andares, e muito bem reforçados – mas Sansão viu nisto uma oportunidade para exercer aquela força tremenda com a qual Deus lhe dotara, para dali escapar.

Ele arranca aquele enorme portão composto de duas folhas, sua tranca, e suas ombreiras, coloca-o nos seus ombros e sai para fora, livre, pondo-se a caminhar como se estivesse carregando um travesseiro de plumas, e assim ia levando aquele grande troféu às suas costas.   Quem pôde presenciar esta cena não podia acreditar no que estava vendo.   Não era possível!  O que foi isso?   Como os guardas da cidade iriam explicar um acontecimento desses?   Estes se viram em apuros, mas como foi Sansão quem o fez…  Era a força de Yaweh, o Deus dos hebreus…

Os vigias que observaram aquele fenômeno, viram assustados o que a mão do Deus de Jacó era capaz de fazer, usando apenas um homem.   Não adiantava arriscar sequer desperdiçarem suas lanças ou flechas, pois o próprio portão servia de escudo para o hebreu.   Quem não sabia que era Sansão que o carregava por baixo, ao vê-lo afastar-se da cidade, poderia imaginar que o portão estava misteriosamente movendo-se sozinho para longe…  assustadoramente!

Aquilo parecia algo sobre-humano (e de fato o era), pensavam, talvez, que fosse uma visão fantasmagórica.  Aqueles filisteus supersticiosos se retraíram com medo e sequer ousaram perseguir àquele homem, mormente na escuridão da noite, sabendo que enfrentá-lo em campo aberto naquelas condições seria algo como desafiar a morte.

Aquelas duas folhas daquele portão, então, iam afastando-se de Gaza, e iam-se desaparecendo aos poucos da visão dos filisteus, conforme as luzes dos muros da cidade iam perdendo o brilho dentre as trevas do caminho.

Sansão levou aquele grande troféu nas costas durante toda a madrugada, e provavelmente também por todo o dia que se seguiu, até chegar na colina que dava para avistar Hebrom, cerca de 68 quilômetros de Gaza.

Os filisteus não podiam aceitar aquilo, uma façanha que parecia zombar de suas milícias.   Esse feito se assemelhava muito com os costumes de militares que arrancavam os portões das cidades às quais conquistavam, e com isto se ufanavam de terem logrado quebrar defesas, e destruir o poder e a honra dos cidadãos vencidos, os quais dantes se protegiam quando fechavam tais portais.

Aqueles filisteus não ousaram enfrentá-lo na ocasião, preferindo esperar que Sansão largasse e abandonasse  seu portão em algum lugar não muito distante.   Ao tentar ir buscá-lo pela manhã, não imaginaram que aquele portão fosse parar tão longe.   Seguiram o rastro daquele objeto tão pesado por um, dois, três… até por uns dez quilômetros, e puderam constatar que o rastro prosseguia adiante, e indo mais adiante, e iam-se admirando daquilo.   Eles ficaram boquiabertos.   Jamais tinham visto coisa igual.    Realmente, Sansão lhes era um grande desafio e um enorme obstáculo à sua soberania nas terras de Israel, e, enquanto vivia, continuava a atormentar-lhes sobremaneira, de modo a enfraquecê-los moralmente.

BRINCANDO COM A MORTE:

Outra vez então Sansão se envolve num romance com uma mulher filisteia.   Dizem que “o amor é cego”, porque não consegue enxergar os defeitos da pessoa amada.   No caso de Sansão, este provérbio se fez uma realidade, para prejuízo dele mesmo, que o assumiu.   Ele não via que estava fazendo o jogo de uma mulher  filisteia, pertencente ao povo que era seu inimigo, povo que sonhava em prendê-lo vivo para despejar-lhe a sua ira, humilhá-lo, e mostrar a todos que enfim o sobrepujaram e anularam o poder de seu principal opositor.

Por vinte anos a fio ele se tornara uma forte barreira física e moral, que detinha o avanço dos filisteus, os quais tanto ambicionavam progredir suas fronteiras para o interior de Canaã.

Os sacerdotes de Dagom e de outros deuses eram frequentemente consultados  para saberem se havia algum meio de tirar a força daquele israelita, a fim de poderem vangloriar-se da façanha que os elevaria ao status de vencedores sobre o homem-monstro, um Godzilla, um guerreiro adversário fortíssimo e invencível.     Feitiços eram encomendados, e os rituais mais esdrúxulos, ridículos e tenebrosos eram executados, na esperança de verem-se livres de Sansão, o “monstro” que os assombrava; mas nada disso funcionou durante todos aqueles longos anos…   Era o próprio Senhor Deus que os estava mostrando que ninguém pode detê-Lo, pois não existe outro poder maior.

Sem condições e sem coragem para enfrentar a Sansão em um combate de peito aberto, os filisteus ficavam imaginando o porquê de tantas demonstrações de força e habilidade para guerrear concentradas em um só homem.    Aquilo não era algo natural.    As contínuas  mostras de poder sobrenatural, matando a tantos filisteus, deixava-os muito temerosos para irem confrontá-lo.   Eles estavam sem iniciativa naquele impasse que Yaweh lhes havia imposto, podando-lhes a sua força militar.    Ninguém queria ser louco o suficiente para um embate peito a peito com ele.    Eles detestavam ter de admitir, mas tinham medo de encontrá-lo em suas incursões pelos caminhos que os levavam para dentro do território de Israel.   Praguejavam, amaldiçoavam, discutiam entre si indignados, mas de nada lhes servia isto.    Não havia quem pudesse querer atrever-se a ousar medir forças com Sansão.   Até as patrulhas fronteiriças eram feitas com temor e cautela.   Os filisteus se sentiam realmente acanhados, impedidos de ambicionar, de sonhar mais alto… frustrados e desanimados.

Um dia, porém, aquele formidável herói de Israel se deparou com uma mulher em Soreque, um grande vale que existe entre Jerusalém e o mar Mediterrâneo, local que originalmente foi caracterizado pelas vinhas exuberantes que ali se cultivava.    Ali havia um pequeno vilarejo, a três quilômetros de Zorá.   A mulher era muito bela, e muito sagaz, tal como a serpente do Jardim do Éden, que sabia muito bem como atrair e despertar os sentimentos de um homem, para então dominá-lo com suas artimanhas.

Dalila era o seu nome.   Era uma mulher inteligente e ambiciosa, que não perderia a chance de ganhar uma boa importância em dinheiro, tendo que usar apenas do seu charme feminino, para enganar a um homem que desejava amá-la profundamente.    Sua astúcia e perspicácia foram tão bem sucedidas no empenho que fez, que Flávio Josefo a considerou como uma prostituta, que cativou a Sansão com palavras elogiosas, enaltecendo suas forças, o que enaltecia o ego dele, e oferecendo-lhe muitas carícias, com o propósito de conquistar a sua confiança ao ponto de arrancar-lhe seus segredos.

Os cinco príncipes filisteus ofereceram, cada um deles, àquela jovem, 1.100 peças de prata para esta descobrir o grande “segredo de Sansão”.   Os filisteus sabiam que a força do hebreu não era humana.   Um homem não poderia ser naturalmente mais forte que um elefante, mais ágil que um guepardo para correr e mais atemorizante do que um bando de leões famintos em disposição de ataque sobre uma presa.   Havia algo de muito estranho em Sansão que carecia de uma explicação.   Eles matutavam muito sobre isto, e ficavam muito intrigados.   O que seria?   Qual era o segredo que ele portava?   Tal segredo valia muito para eles, e Dalila encheu os seus olhos de cobiça,  usou de todos os meios que conhecia para seduzir o homem-fera, e arrancar-lhe o que de mais precioso ele possuía – a sua própria vida, e a razão de viver.

Sansão não a via como uma ameaça.  Sua autoestima e autoconfiança ainda estavam em alta, e não lhe permitiram ver que um simples jogo de intenções escusas com Dalila lhe escondia uma ameaça mortal.   Na sua estreita concepção de um herói de guerras que jamais tinha sido vencido, ela era apenas uma mulher, que de longe jamais lhe representaria um perigo.  Ele tinha a força de Yaweh, e por isso, pensava, não tinha o que temer!    Com o poder do Senhor, ele sempre seria o vencedor!

No desenvolver daquele romance perigoso, entretanto, Dalila, com sua mente fixada naquela promessa de gorda recompensa, ia sondando o valente israelita com perguntas-chaves diretas, querendo saber o que é que ele tinha que outros homens não tinham, qual a razão “daquilo”.

A cada tentativa, Sansão ia-se esquivando da verdadeira resposta, aceitando aquele jogo como se fosse uma brincadeira.   Por três vezes ele forneceu pistas erradas, como que a zombar da pretensão daquela mulher.

Sansão lhe dizia, primeiramente, que poderia ser preso com tendões daqueles que eram torcidos e usados para servirem de corda para arcos desferirem flechas;  depois, em outra feita, com cordas novas jamais usadas antes; e em outra ocasião, se prendessem suas tranças com um pino de tecelagem – e ela foi testando cada uma dessas hipóteses, fazendo tudo durante o sono do homem forte, na tentativa de chegar ao ponto de descobrir-lhe o segredo.

Após prendê-lo daquelas três formas, Dalila alçava a voz e gritava, falando que os filisteus vinham atacá-lo, mas a brincadeira chegava ao fim, com a mostra de que tudo não passava de uma mentira, pois ele rompia facilmente quaisquer empecilhos  – uma mentirinha, com a qual ela se mostrava extremamente descontente e aborrecida, dando-se por traída, quando ela é quem era a maior traidora, no caso.

O que Sansão não sabia é que em um cômodo daquela casa estavam homens escondidos, esperando sua vez de atacar.   O joguinho que parecia ser inocente, na verdade era uma armadilha, pacientemente arquitetada e pronta para ser disparada quando chegasse a “hora H”.

Sansão foi, depois dessas três tentativas, a cada dia sendo importunado por Dalila, que persistentemente o inquiria, pressionava-o com o fim de saber o que é que o poderia enfraquecer.

Naquele jogo em que se lançava o amor como arma de persuasão, Sansão até então estava se resguardando bem, mas daí ela começou a lançar-lhe palavras molestas, em atitudes contínuas, capazes de torturar a alma de um homem.   A esta altura dos acontecimentos, a melhor coisa que ele teria a fazer seria retirar-se, ir embora e não mais voltar à casa daquela filisteia, a fim de salvar a sua pele, mas a paixão por ela, aquela que tantos problemas lhe estava trazendo, falou mais alto, e o venceu.

As brigas contínuas do casal, dia após dia o estavam infernizando e já não tinha mais paz e resistência para continuar assim.   Ele queria viver bem com aquela mulher que escolhera por companheira, e por fim decidiu “entregar o ouro” nas mãos de bandidos.   Sansão acabou por trair-se a si mesmo.   Cremos que ele perdera o senso de segurança, e não imaginara como ela tão prontamente o iria entregar nas mãos de seus inimigos.

Dormindo no colo de uma promessa de amor, teve suas tranças cortadas, e assim desfez-se o vinculo de poder que o Espírito de Yaweh mantinha ainda com ele.   Foi-se de si a força sobrenatural de Deus, que tantos livramentos dera a Seu povo, glorificando o santo Nome.

Daí aconteceu-lhe o que ele jamais quereria.   Tentando safar-se mais uma vez, viu que não o conseguiu como das outras vezes;  sentiu que faltou-lhe as forças, aquela rapidez de movimentos, aquela facilidade com que se moviam os seus pés.   A casa estava toda fechada e cercada.   Os inimigos o alcançaram e ele logo se viu preso. Dalila então pôde vangloriar-se de haver vencido o jogo, como que ufanando-se de haver logrado domar uma fera, e ordenou que a seguir o levassem.   Foi uma cena humilhante para Sansão.    Para tristeza de seu coração, seus olhos viram então, pela última vez, aquela que o hipnotizava insinuantemente com o visual de seus dotes físicos.   Ele queria tanto uma mulher que agradasse aos seus olhos (Juízes 14:3), e a recompensa de sua cobiça foi perder completamente a sua visão.   Ele revelou a ela o que ela tanto queria, com vistas a poder conviver em paz, mas…. escureceram-lhe as vistas, pois que vazaram-lhe os olhos.    Entende-se que ele tenha passado por uma longa sevícia que seus inimigos usaram  com certo gosto de vingança e de sadismo, deliciando-se com a sua dor.

Dalila foi então regiamente recompensada, com 5.500 moedas de prata, valor que poderia lhe proporcionar uma vida abastada por longo tempo, mas cremos que sua vida foi breve, e não pôde usufruir muito tempo desse dinheiro sujo que obteve em troca da desgraça de um homem que dizia amá-la de todo o coração…

Acorrentado, ele passou a ser usado como um animal de carga e tração, empurrando uma moenda de trigo.

Os filisteus então se regozijaram.   Os soldados adorariam torturá-lo e por fim matá-lo vagarosamente, mas os seus líderes tinham outros planos.   Muitos queriam vê-lo de perto a fim de constatarem se era de fato verdade, mesmo.   Alguns até se sentiam temerosos em se aproximarem demais, pois um dia viram-no na plena força de Deus, e escaparam por pouco, e outros apenas ouviram acerca das demonstrações de Yaweh em sua vida.   Os parentes daqueles a quem Sansão havia matado, sentiam que era a hora de lançar-lhe os mais vis impropérios, cheios de ódio em seus corações.

Todos os filisteus, porém, tinham uma vontade em comum:  celebrar aquela aparente vitória sobre o homem que os amedrontava.   Conversaram uns com os outros, enquanto aguardavam para terem certeza de que o quadro não se reverteria, para ver se de fato ele estava subjugado e inofensivo, definitivamente sob total controle.

Os sacerdotes de Dagom conseguiram então marcar um dia para dedicar graças ao seu deus, atribuindo-lhe os louros daquela obra – ocasião na qual todos os interessados poderiam desfrutar daquele momento, humilhando, zombando e ridicularizando ao hebreu.   Isso teria um valor muito grande para eles, pois ergueria sobremaneira o moral de seu povo e dos homens militantes de seus exércitos.    Isto sim, seria mais importante do que rapidamente matá-lo, ou mantê-lo preso, onde bem poucos puderiam ver o seu estado atual.   Seria um ato de cunho religioso, que recobraria a supremacia dos filisteus sobre Israel e sobre quaisquer povos que ousassem a querer enfrentá-los.   Todo o povo filisteu passaria a sentir-se mais forte do que o homem mais forte de Israel!

Um pequeno detalhe, porém, fugiu à percepção daqueles filisteus:  o cabelo de Sansão ia novamente crescendo, no decorrer do tempo que se ia passando.   Não deram importância a  isso.    Aliás, queriam que o seu povo o reconhecesse e se convencesse de que não estariam diante de um impostor apenas encenando; seria conveniente que aquele homem cabeludo, que outrora os assombrava, estivesse novamente com os cabelos crescidos, do jeito que ele era conhecido.

Chegada a data aprazível, começaram o grande culto de celebração a Dagom.   Os filisteus intentaram colocar o seu deus acima de Yaweh, o que foi o seu maior erro.   O Senhor não aceitou aquela provocação, e sabiamente aguardou o momento exato de colocar a ponta de Seu dedo naquele lugar.

Durante os dias em que estava movendo a moenda de trigo, Sansão orava constantemente ao seu Senhor, pedindo-Lhe mais uma chance para destruir aos Seus inimigos.   Ele sabia que Yaweh era muito poderoso, bem capaz de ouvi-lo e dar-lhe mais uma chance…   O Senhor é misericordioso, e mui bondoso para com os Seus, e por isso ele nutria uma vívida esperança de poder sentir-se novamente um instrumento em Suas mãos.    Bastava apenas um “clique” nos dedos do Todo-Poderoso, e …

Ao ser trazido para o templo de Dagom, começou a ser objeto de escarnecimento.   Era maltratado, empurrado de um lado para outro, às vezes tropeçava, desequilibrava-se e caía ao chão, mas ele não se deixou levar pelo clima de euforia dos filisteus.   Ele tinha orado muito antes disso, e esperava por uma resposta misericordiosa do Senhor.

Sansão, em meio àquele circo, no qual estava fazendo o papel de palhaço, ouvia os aplausos e as ovações.   Era de se notar, até de olhos fechados, que havia muita gente ali.   Era uma enorme multidão!   Ele percebeu que o lugar era muito amplo, e que aqueles ruídos e vozes  vinham de todos os lados e de cima também.   Uma construção como aquela, em que coubessem, só no teto, cerca de três mil pessoas ou mais, teria que ter uma ou duas colunas de principal sustentação.   Ao ser jogado daqui para ali, em dado momento, bateu em algo, e teve a percepção de que havia duas colunas no meio da casa.   Ele mesmo trombou com as mesmas, naquela brincadeira de mau gosto, em algum momento.  Desprovido da visão,  e lançado para outro lado, perdeu o referencial, e a sua localização.   Onde estariam elas ?   Sansão queria saber. Era muitíssimo importante que ele o soubesse, mas ele não podia dar mostras de ter tão grande interesse nisso…

Ele pede então ao moço que o estava conduzindo pela mão naquela sessão de zombaria e sarcasmo, que pudesse segurar-se nas colunas centrais daquele templo.   Parecia que estava apenas querendo equilibrar-se e sentir-se mais seguro, em pé, pois aqueles empurrões o haviam estonteado.   O rapaz, sem saber o que estava fazendo, atendeu-lhe ao pedido, talvez pensando em logo tentar derrubá-lo novamente, para continuar a brincadeira.

Vendo, pois, estar posicionado entre as duas colunas principais, que davam sustentação ao edifício, fez a sua última oração – pediu ao Senhor poder vingar-se pelos seus olhos vazados, e que, se ele fosse atendido, também morresse ali com todos aqueles filisteus.

Estavam presentes os príncipes, aqueles que subornaram Dalila, os sacerdotes de Dagom, homens, mulheres (com toda certeza, Dalila também ali estava!), pessoas de projeção entre os filisteus, bem como outras menos importantes, que lá se apinhavam para assistirem o espetáculo do herói hebreu supostamente vencido.  A casa estava lotada.

Sansão, após orar ao Senhor, ao dizer: – “Morra eu com os filisteus” – forçou as duas colunas, uma em cada mão, e o resultado foi o mais surpreendente: o templo ruiu, e caiu sobre todo o povo que nele estava.  O Senhor atendeu à sua oração, e também o recolhera para Si.

A Bíblia diz que naquela ocasião, na qual Deus concedera ouvir às orações de Sansão, morreram mais pessoas  do que  todos que ele havia matado durante a sua vida.

O acontecido foi mais que um ato maravilhoso da mão do Senhor Yaweh, que havia sido desafiado pelos idólatras filisteus, e mais uma glória Ele acumulou aos Seus grandes atos de poder.

A vida de Sansão foi, então, um veículo usado pelas mãos de Deus.  Foi o Senhor que a fez brilhar, mesmo sendo o homem um fraco de alma, com problemas sentimentais mal controlados, de forma que poderia ter sido muito mais abençoado e teria uma vida muito mais longa se soubesse guardar-se de atender aos próprios desejos.   Tais desejos se manifestaram como obstáculos, prejudicando em parte os propósitos de Deus para um nazireu maravilhosamente revestido do poder do Alto.   A vontade de Yaweh, contudo, foi feita, de uma forma ou de outra, revelando o Seu poder, e defendendo ao Seu povo.

Depois de Sansão, o último juiz usado pelo Senhor foi Samuel, que se dispôs a preparar Israel para ser um reino vencedor, com a coroação de Davi, fazendo um tipo do Rei e Senhor Jesus Cristo.   A Ele pertencem a força, o poder, a glória e a vitória.   E Ele, pois glorifiquemos!


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