NÚMEROS – XXIII – SUCESSÕES QUE AGRADAM A DEUS
Comentarios desactivados en NÚMEROS – XXIII – SUCESSÕES QUE AGRADAM A DEUSjunio 25, 2014 by Bortolato
Deus estaria interessado em aplicar justiça quando da ocasião da repartição de heranças?
Quando um homem, certo dia, chegou-se a Jesus, pedindo-lhe para que o Senhor ordenasse a seu irmão que repartisse da sua herança com ele, o mestre o exortou, primeiramente colocando as coisas em sua ordem terrena: existem juízes nesta terra que estão designados para julgar esse tipo de coisas. Jesus não veio para tratar de assuntos atinentes ao direito sobre as sucessões (Lucas 12:13-21). Isso, porém, não ilide a vontade de Deus de que as partições de um bolo sejam feitas com justiça e equidade.
Vimos como Moisés teve de passar suas responsabilidades triviais para homens a quem se reputava boa moral, boa índole, e capacidade para resolver problemas, a fim de não ser sobrecarregado com coisas repetitivas, e de menor importância do que o ministério espiritual para abençoar ao seu povo. Isso aconteceu para nos dizer que Deus está interessado, sim, em que seja feita toda a justiça sobre a face da Terra. Juízes da Terra sejam procurados em seus postos, julguem com justiça, e Deus seja louvado em todas as suas decisões – mas Jesus veio, antes de tudo, para ser Salvador, e não juiz deste mundo.
Foi o mesmo Senhor quem estipulou quais seriam as porções de terra de cada tribo de Israel, e cada tribo teria que reparti-las entre seus clãs e seus clãs por sua famílias.
Em Números 27:1-11, porém, depois que ficou estipulada a porção de cada um, houve uma questão específica, que parecia não se enquadrar na Lei geral da divisão de terras.
Dentre as famílias de Manassés havia um homem chamado Zelofeade, o qual morrera no deserto, deixando suas cinco filhas nesta Terra: Macla, Noa, Hogla, Milca e Tirzá – e nenhum filho do sexo masculino para ser seu herdeiro.
Estava chegando a hora em que haveria a divisão da terra, mas como era costume da época e da região, devido à cultura patriarcal dos hebreus (outras nações vizinhas aplicavam a mesma regra), o direito de sucessão era totalmente passado de pai para filhos varões. Filhos mais velhos ficavam com dois terços do total do espólio, e o restante era dividido entre os demais filhos, o que era denominado de “direito da primogenitura”.
Quando um homem não havia gerado pelo menos um filho varão, o direito à sucessão relativo aos seus bens era conferido a algum parente próximo: a irmãos, ou pais, ou, na falta destes, outro parentesco, e isto, mesmo se tivesse gerado filhas. Assim funcionavam as civilizações patriarcais.
Zelofeade, o manassita, conforme o relato de suas filhas, “morrera no seu próprio pecado, mas não figurou entre os que aderiram à rebelião de Coré”, e não deixara nenhum filho em vida.
Suas filhas, pois, achando injusto que seu pai fosse esquecido no momento da partilha das terras, trouxeram então o seu pleito a Moisés e Eleazar.
Moisés entendeu o seu pedido, e, sentindo-se incapaz de dar uma resposta pronta e isenta de tendências pessoais ou culturais, mas visando ao perfeito juízo, levou esta causa perante o Senhor, pois não lhe parecia claro o que fazer, de vez que os costumes daquela época e local não contemplavam tais casos.
A resposta de Deus logo esclareceu que Ele não é de adaptar-Se às culturas pontuais, mas estas é que deveriam deixar-se amoldar à vontade do Supremo.
Esta, entre muitas outras, foi uma demonstração de que Deus Se importa com o direito e a justiça, principalmente quando estes são negados a pessoas que acabam caindo no esquecimento e no precipitar da injustiça. Os rejeitados pela sociedade são os mais prejudicados, nessas horas. Deus, porém, é o Criador de toda a criatura, e desde os tempos do Antigo Testamento Ele se importou com o valor das mulheres, e que a forma depreciativa com que estas foram tratadas na maioria das culturas não procedeu de Sua santa vontade, mas isso foi uma das consequências do desenvolver do pecado na raça humana.
As filhas de Zelofeade foram, sim, incluídas na partilha da Terra de Canaã, em respeito à memória de seu pai, e dos direitos atinentes ás mulheres.
É bom frisar também que as mulheres israelitas, muito embora não tivessem sido comumente herdeiras de terras, quando estas se casavam, recebiam de se pai um dote, que consistia em uma doação hereditária de roupas finas, de mobiliário, joias, dinheiro e, não raro, dependendo das posses, também de escravas, as quais, muitas vezes se tornavam em damas de companhia. Assim eram galardoadas as filhas, muito embora excluídas das herdades. No caso apontado, entretanto, as filhas de Zelofeade não poderiam mais ser presenteadas por seu pai devido à sua morte precoce, mas foram lembradas pelo Pai Celeste, que, consultado por Moisés, manifestou muito bem claro a Sua simpatia pelas mulheres esquecidas. Pai de órfãos e juiz de viúvas é o Senhor! (Salmo 68:5)
Números 18:18 – ss. Uma outra sucessão também estava muito visada, em muito, pela mira de Deus.
Estava perto de chegar a hora em que Moisés seria recolhido para o seu celeste lar. Com 120 anos de idade, este servo de Deus abençoado, após longa peregrinação cheia de lutas e provas, entregando fielmente toda a palavra de Deus a seu povo, entre uma contenda e outra, uma e outra intriga, suportando muitas murmurações, muitas dificuldades, tanto no Egito como no deserto, mas estando sempre em sua posição firme, fiel ao Deus de Abraão, que o chamou. Sua missão fora cumprida, mas antes que partisse, ele teria que entregar o seu posto de liderança espiritual a outro homem de Deus, para que Israel não ficasse acéfalo, e nem houvesse disputas pela liderança que ele haveria de deixar.
É de se notar que, quando o cargo de uma chefia de qualquer posto está para ficar vago, alguém precisa estar preparado para assumi-lo, antes do momento preciso em que isso venha a acontecer. Haverá que haver um certo tempo de transição; pois bem, Deus mesmo Se encarregou de ordenar tal passagem de responsabilidades.
Quem poderia substituí-lo? Na verdade, não haveria outro como Moisés, ninguém que o igualasse, mas Israel agora estava vivendo um outro estágio de sua história: estava prestes a adentrar à sua Terra Prometida, e a nova geração que despontava já era muito diferente da sua anterior, e para melhor. Moisés conseguiu, pelas graças de Deus, treinar líderes e posicioná-los bem colocados, cada um em seu posto, em sua função, seguindo as orientações do Senhor Jeová.
O seu posto de liderança, contudo, era algo singular porque repousava sobre si um peso de responsabilidade enorme, e um carisma formado pelo próprio Deus, para poder conduzir ao povo que saiu do Egito – e que então precisava de uma nova liderança muito firme e apoiada numa íntima comunhão com o Todo-Poderoso El Shadday. Tal homem sucessor precisaria ser de tal forma abençoado por Deus, para levar aquele povo à terra de suas esperanças, pela qual suspiravam dia após dia…
Os montes do deserto testemunharam milagres incríveis, tremendos, e agora os montes da terra de Canaã estariam também prestes a receber o mesmo privilégio de servirem como testemunhas. O tal sucessor teria que ser também um homem muito especial, mesmo não podendo jamais igualar-se a Moisés em tudo. O fato é que Moisés agora já estava velho, e sua senilidade, muito embora não lhe tivesse atingido sua capacidade motriz, nem a seus olhos, suas rugas no rosto, em si, já eram um aviso prévio de que em breve ele deveria partir. Moisés estava prevendo isto, e sabia que em dado momento, teria que entregar tudo a um outro servo de Jeová.
A escolha de tal pessoa só poderia vir da escolha de Deus, que conhece amplamente a cada coração, e o Senhor falou a Moisés para colocar a mão sobre Josué, filho de Num (Números 27:18). Por que Josué? O Senhor disse que nele repousava o Espírito (Números 11:17; 27:18). Ele, Josué, 38 anos antes, havia dado um relatório de acordo com a vontade de Deus, ao espionar Canaã, pois era homem de fé e coragem para obedecer ao mando divino. A narrativa bíblica nos fala que Calebe também assim o procedeu naquela oportunidade. Cremos que o Espírito Santo estava também sobre este último, mas Josué provavelmente esteve mais perto de Moisés em mais momentos, e recebeu do Senhor uma porção mais abundante, sendo um discípulo firmemente fiel.
A tradição judaica descreveu nos Targuns de Onkelos e Jonathan as qualidades peculiares de Josué: – sabedoria, coragem, prudência, além de muita capacidade e tirocínio – mas isso tudo se torna apenas em detalhes, pois o mais importante da vida desse homem foi a sua submissão à plena vontade de Deus, e ouvidos abertos para ouvir a Sua voz, chegando até a contrariar enfaticamente a voz do povo (Núm. 14:5-9), para manter sua postura de fidelidade a Javé, e incentivando todos a crerem nas promessas e ordens divinas.
Se cada líder espiritual dos dias atuais tiver a mesma dedicação e disposição de ser serviçal a esse ponto para Deus, as congregações logo o sentirão, e verão grandes conquistas através do tempo. Nas palavras do apóstolo S. Paulo:
“Procura apresentar-te a Deus aprovado, como obreiro que não tem de que se envergonhar e que maneja bem a Palavra da Verdade” (II Tim. 2:15).
Moisés assim o apresentou a Eleazar, o sacerdote, diante de toda a congregação, impôs-lhe as mãos, passou-lhe instruções e deu-lhe mandamentos, como sinal de sua aprovação.
Realmente, afinal concluímos que a sucessão espiritual ideal é aquela que mais preenche o coração de Deus, que sabe e conhece todas as coisas e as estruturas de cada um.
Difícil foi a pedida de Eliseu, já no período do reinado de Israel, querendo uma porção dobrada do espírito de Elias – veja-se bem, ele não estava desejando ser um “capelão do imperador”, e nem ministro do governo político de Israel – ele queria uma porção maior vinda de Deus em sua vida. – “Dura coisa pediste” – disse-lhe o profeta – mas Deus Se agradou de seu pedido. Por quê? Porque aquilo que é o mais importante deve ser tratado como a coisa mais importante. Seja esta também a aspiração de toda criatura, e de todo o universo!
Muito embora Moisés tivesse o desejo de entrar e pisar na Terra Prometida com a qual tanto sonhara ver, com todo aquele povo vivendo nela, o maior desejo deste servo de Deus não era esse. Vale notar que Moisés nunca pedira a Deus uma porção maior na fatia do bolo a ser repartido entre as tribos – o da terra – mas uma aspiração ele teve que muito agradou ao Senhor: –
“Mostra-me a Tua glória” (a face de Deus) (Êxodo 33:18). Este foi o seu maior desejo – e ele goza desse privilégio hoje, o da Presença de Deus para sempre! Que um dia todos possamos também desfrutar dessa tão grande bênção!
Category BÍBLIA, NÚMEROS | Tags: capacitação de Deus, Espírito, filhas de Zelofeade, filho de Num, Josué, Justiça, nova geração, sucessor de Moisés, tirocínio
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