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A BÍBLIA SOB ATAQUES (II)

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agosto 3, 2012 by Bortolato

CARACTERÍSTICAS DA BÍBLIA

 

             A Bíblia é considerada por grande parte dos cristãos como a Palavra de Deus para o homem.   Os judeus assim também o entendem, com relação ao Antigo Testamento.

            Considere-se o fato da Revelação divina ter-se dado de forma cumulativa e por etapas, até a vinda de Cristo, como temos já dissertado anteriormente.

            Considere-se agora a natureza da personalidade divina.   Como é Deus?  O que podemos saber sobre Ele, revelado por Ele mesmo?

            De tudo o que a Bíblia ensina, fazemos um “extrato” da contemplação que os profetas antigos desfrutaram, bem como os santos do Novo Testamento.  

            Ele é o mais sábio, o mais inteligente, é moralmente irrepreensível, tem poderes inimagináveis, o maior coração aberto, amantíssimo, e misericordioso.   Inigualável, não há outro maior ou melhor no Universo e fora deste.   Sua personalidade é dotada de um magnetismo pessoal que nos atrai, nos cativa, nos enleva e nos faz sentir extremamente felizes na Sua santa presença.

            Quando alguém como Ele deseja comunicar-se com alguma outra pessoa, Ele certamente o consegue, pois tem todos os canais de comunicação abertos, e usa de diversos meios para Se comunicar.   Isto é intuitivo.   Nós é que temos nossas dificuldades para nos comunicarmos com Ele, mas até mesmo nestas coisas Ele nos ajuda a removermos os entraves.

            Assim Ele se faz revelar através da Natureza.   Isto foi até visto pelos filósofos antigos, os quais nem eram religiosos (diga-se de passagem, que os modernos pensadores não são diferentes dos antigos, neste ponto).   Contudo, essa revelação não passa de uma observação recompensada pela voz muda dos acidentes geográficos, da flora, da fauna, e da astronomia, em suas descobertas.

            A Criação, apesar disso, não nos fala tudo que Ele fez o mundo saber a respeito de Si mesmo.  

Como quis Ele então comunicar-Se com os homens?

            Através de Sua Palavra, sem dúvida.   É certo que Ele sabe comunicar-Se, até sem verbalizar palavras audíveis, quando Se apresenta face a face com alguém.

            Suas palavras, quando proferidas, porém, não são simples palavras como as que nós, humanos, proferimos.

            Ele primeiramente escolhe aquela pessoa especial a quem quer dirigir-Se, e simplesmente fala com uma dicção, timbre de voz, autoridade e coerção inesquecíveis.   Ele não escreveu com seus dedos e mão os livros da Bíblia, porque não está preso às limitações que temos.   Ele fala, com o Seu jeito inconfundível e impossível de ser imitado, e Seus parceiros humanos que receberam a Sua Palavra gravaram tudo fotograficamente nos arquivos de suas memórias, e ficaram atentos e em fervente espírito de gratidão por se sentirem achados dignos de receberem e de registrarem-na a seu tempo.    Sim, porque se Deus falar, já é algo que extrapola os fatos físicos naturais que se conhece, e outro prodígio de Seu poder é avivar as memórias de seus parceiros humanos, participantes de Seus propósitos.    Quando isto acontece, estes últimos vão, e escrevem tudo aquilo que ouviram.   A este tipo de revelação chamamos de profecia bíblica.   A Bíblia é toda profecia, pois nela está escrito aquilo que Deus quis que nos fosse comunicado.

            A Bíblia, porém, não foi toda escrita desse modo.   Sim, pois nela também encontramos história, dialética, poesia, romance, ensinos, e grande variedade de estilos literários.   É desse modo que ela menciona até as palavras do diabo – esclarecendo muito bem quem proferiu tais palavras – e os discursos equivocados dos amigos de Jó, bem como algumas frases ditas por homens ímpios.   A dialética bíblica é usada por Deus, a fim de mostrar Seus profundos propósitos.

            É notável que as palavras escritas em hebraico, aramaico e grego foram utilizadas propositadamente para buscar os sentidos profundos de cada língua.   As palavras traduzidas para o português, pois, também têm o seu valor.   Dirão, pois, que somente os originais é que foram inspirados de forma inerrante por Deus?

            Bem sabemos que os pergaminhos, ou quiçá, os papiros originais bíblicos já não mais existem – e se alguém hoje quiser-nos apresentar algo semelhante, não passarão de algumas cópias.

            Como foram copiados os originais?   Não havia tipografias antigamente, e as cópias eram manuscritas com muito cuidado, pois um simples borrão ou pequeno risco involuntário poderia levar, às cópias subsequentes, alguma palavra ou expressão diferente, até sem muito sentido.   Essas palavras modificadas, no entanto, não prejudicariam a compreensão do sentido global, das idéias lançadas no texto, de forma que os erros cometidos na copiagem seriam como pesos de uns poucos gramas sobre a carroceria de uma carreta que comporta carregar até 40 toneladas.

            Assim, Deus não precisou falar novamente tudo o que já deixara nas mãos dos antigos escritores sagrados.   Se algo Ele falou, está dito.   Ele sabe quando deve e quanto deve falar de alguma coisa a alguém, e esse alguém será comunicado, com toda certeza, porque Ele, melhor do que ninguém, bem sabe como comunicar-Se.

            As limitações humanas não Lhe são problema – são apenas um pequeno risco calculado de antemão, que não comprometem e nem impedem Seus intentos de serem realizados.    Tampouco devemos sentir-nos tolhidos da Palavra de Deus, pois Ele nos deu entendimento para discernirmos Suas verdades básicas, embutidas em cada verso.

Elas são claras e inconfundíveis, e caem bem ao nosso entendimento.

            Ele, o Senhor, sabe falar em inglês, francês, alemão, espanhol, russo, português, chinês, japonês e até o dialeto do menor povo desta terra, mas pergunta-se:  Teria Ele de repetir toda a Bíblia em cada língua, para se fazer entender por todos, a fim de que Seu livro fosse então aceito como Sua Palavra?   As traduções não bastariam?    Na verdade, não aceitamos as palavras de intérpretes outros que traduzem ao vivo as falas estrangeiras?  Até tribunais as aceitam, para nelas embasar suas decisões judiciais…   E como são traduzidas as palavras de Abdruschin?   ou de Nostradamus, de Alan Kardec, de Zoroastro, de Confúcio, de Orfeu, de Maomé, e tantos outros, não são traduções tidas por fidedignas?  Pelo menos assim são tidas, como traduções aceitáveis. 

            Se a tônica da rejeição aos textos bíblicos recai sobre a idade dos mesmos, então comparem-se estes com os antigos escritos egípcios, ou com o Vedas, ou os escritos de Confúcio, ou com qualquer outro.    Examinem-se todos estes, e veja-se qual deles é o melhor em ensinos morais, qual deles se destaca mais pela abrangência de temas, poesia, coerência interna, profundidade e autoridade espiritual – e então se saberá por que esse livro é o mais lido em todo o mundo.   As suas palavras são verdadeiro bálsamo e luz que orienta a vida prática em matéria de finanças, política, jurisprudência e relações humanas, tudo enfocado sob o prisma espiritual aprovado por Deus.

           

SOBRE O LIVRO DE GÊNESIS:

 

            Muitos são os comentaristas bíblicos que partiram para uma radical espiritualização das narrativas, mormente no que diz respeito ao livro de Gênesis, mas poucos têm tido o bom senso de procurar embasar suas teorias em outras partes da própria Bíblia, comparando trechos com trechos que as confirmem.

            Fazem as teorias mais esdrúxulas para nelas se estribarem e dizerem que… “a Bíblia não está certa”,  ou então…  “ela não quis dizer o que ela disse”.

            Apenas temos a dizer que aqueles que não quiseram crer que as coisas aconteceram exatamente como ali se descrevem os fatos relatados, acabam por complicar muito mais a compreensão das passagens tidas por polêmicas, ou, a seu ver, duvidosas.   Levantam hipóteses não comprovadas, teorias que não passam de teorias, em que pese que alguns cientistas as julguem como “teorias científicas”.  Pensando bem, muitas teorias são precipitadamente aceitas como se fossem afirmações científicas, mas pergunta-se aonde estão as provas cabais, e o que os autoriza a fazer esta passagem de teoria para ciência…

 

            Charles Darwin teve exaustivo trabalho para elaborar a teoria da evolução das espécies, e, no final de sua vida, concluiu que nada daquilo que ele mesmo afirmou seria digno de aceitação, e não deveria ser considerado.    Os evolucionistas de hoje, não aproveitando a lição de vida que o próprio Darwin nos deu, continuam a elaborar mais e mais correntes evolucionistas de pensamento – e todas essas teorias pretendem ser alegadamente verdadeiras, veraz ciência – e procuram refutar umas às outras.   Como poderiam todas elas sê-lo, se divergem em muitos pontos?    Uns dizem que o primata de onde veio a raça humana foi o macaco.   Outros dizem ter sido um peixe…   Outros afirmam categoricamente que tudo teve seu início em uma ameba… não têm unicidade em suas linhas de pensamento.   Dizer que tudo isso é ciência, é um disparate e uma ofensa aos princípios e métodos científicos, se ciência é feita com trabalho metódico e sistemático que demonstra empiricamente que, dadas certas causas, os resultados serão infalíveis, fatais, e sem erro.

           

 

 

ACERCA DE MARIA:

 

 

            Há quem insista que as “leis naturais” não podem ser contrariadas, e o fato de Maria conceber, como virgem, ao Filho de Deus, não passou de um mito.

            Veneração tributam a Maria, considerando-a em alta estima e consideração, apesar de acharem que esta concebeu Jesus numa relação sexual que teve com um homem, no caso, José.   Alguns partidários desta idéia ainda julgam-se à altura de lançar lama sobre a mãe de Cristo, dizendo que o pai de Jesus teria sido um soldado romano, ou um palestino…

            Comentários especulativos à parte, consideramos que Maria não viveu como uma mulher virgem após o nascimento de Jesus, pois que até a cerimônia nupcial, ela estaria “comprometida para casamento”, isto é, envolvida num laço pré matrimonial que traria uma forte ligação com seu noivo, coisa que era comum e tradicional para a sua época e local em que viveu.

            A própria profecia de Isaías 7:14 nos fala que a virgem (almáh) conceberia e daria à luz um filho que seria chamado de “Deus Conosco” (Emanuel).   O profeta Isaías profetizou que este seria um fato estupendo, um sinal maravilhoso de Deus dado ao Seu povo.   Ora, se a profecia estivesse se referindo a uma concepção à moda natural, a mesma ficaria sem sentido, de vez que, se natural fosse, uma criança seria nascida de uma conceição normal, então a profecia deixaria de ser profecia,  e portanto isso não seria um sinal para o povo.

            A mesma palavra “almáh” é usada uma vez para se referir a Miriam, irmã de Moisés, quando ainda menina, e em outra vez para Rebeca, devida e acertadamente virgem, quando se casou com Isaque.

            É expressa e claramente declarado que, após o casamento, e antes do nascimento de Cristo, José não teve relacionamento físico, como de marido e mulher com Maria (Mateus 1:25).   Tudo indica que era costume entre aquele povo, que as mulheres grávidas não deveriam ser submetidas a relações sexuais enquanto estivesse chegando próximo o dia do parto – coisa que alguns casais, ainda hoje, também o praticam.

            Após o nascimento de Jesus, porém, a menção da existência de seus irmãos já é prova de que o casal teve vida normal.   Deus não reprova o sexo conjugal, antes o abençoa, e isso havendo ainda entre judeus, não há mais o que se falar.      

Há quem diga que Jesus foi nascido “sob a lei”, querendo significar que esta lei seria a lei natural, isto é, Ele teria sido concebido como fruto de relação sexual entre homem e mulher.

            Dizer, entretanto, que a expressão paulina que disse que Jesus foi “nascido sob a lei” (Gálatas 4:4), considerando essa lei como “lei natural”, isso violenta a todos os princípios de exegese e de hermenêutica.    Isso seria interpretar a palavra fora do contexto bíblico que considera a palavra “LEI” como todos os mandamentos, ordenanças, preceitos, instruções e direções dadas ao povo de Israel, escritas desde Gênesis até Deuteronômio (pelo menos é esta a idéia de Lei que se tinha quando se mencionava, na época, esta palavra).    Seria lançar mão de pretextos preconcebidos e querer justificá-los à força.    Interessante notar: o mesmo texto fala que o Filho de Deus foi “nascido de mulher”, e não de homem, e isso diz alguma coisa.   Não se encontra em nenhuma parte da Bíblia uma só palavra que diga, ou mesmo insinue que Jesus foi fruto da união sexual de Maria com algum homem.

            A concepção virginal de Maria não se trata de uma negação à santidade do sexo, mas uma forma que o Senhor escolheu para mostrar ao mundo que Ele tudo pode, e que Jesus é uma pessoa como nenhuma outra houve na face da Terra.

            Mateus e Lucas narram claramente como foi.   Marcos não mencionou o fato, mas é o evangelho mais resumido de todos, pois que seu alvo não era prender-se a muitos acontecimentos, mas apenas mostrar a Jesus como o Filho de Deus, através dos milagres que Ele realizou.   João escreveu o seu evangelho já bem anos depois dos três primeiros, lá pelo ano 95 DC, para combater algumas crenças heréticas que por aquela época estavam penetrando no seio da igreja primitiva, e não viu necessidade de reescrever o que já estava escrito e conhecido desde então.

 

 

OS MAGOS DO ORIENTE:

 

 

            Na verdade, a Bíblia não os mostra como reis, como alguns o afirmam, mas apenas como magos que vieram do Oriente.

            Muito embora outros textos bíblicos reprovem taxativamente a prática da magia, não há que se falar em contradição sobre o assunto, pois Deus ama muito a todos os pecadores, mesmo abominando o pecado.

            Deus se revela a quem quer, e nada impede que homens de qualquer condição espiritual receba traços de Sua revelação.    É o caso dos magos.     

            Realmente, Deus lhes deu um sinal, e estes o compreenderam, e seguiram àquela “estrela” que depois veio a pousar a sua luz sobre aquela estrebaria, onde estava Jesus, o Cristo recém nascido.

            Esses magos do oriente cometeram um erro que custou a vida de muitas crianças de Belém.  Em vez de seguirem a estrela, o sinal de Deus no espaço celeste, eles foram a Jerusalém, e lá chegaram para indagar…  e esse desvio de rota açulou a ira e o ciúme do rei Herodes, que ordenou, depois disso, aquela famosa matança de inocentes.

            Adorar a Jesus é um motivo muito nobre, do qual não se deve desistir, pois que Ele é a revelação máxima da Graça divina aos homens.  Todos Lhe devem adoração – homens justos, e não justos, valentes e covardes, iminências e nulidades, hostes visíveis e invisíveis.   Os céus, a terra e o mar, e tudo o que neles há o adorarão e se prostrarão, confessando publicamente que Jesus Cristo é o Senhor, para a glória de Deus, o Pai! (Filipenses 2:10,11). A lição que fica é que não podemos confundir o Reino de Deus com o reino dos homens, pois todos se desviaram, tornaram-se hereges, inimigos de Aquele que quer instaurar uma nova ordem, novo governo, e novo tempo no lugar onde hoje reinam homens corruptos, cruéis e sem compromisso com a vontade do Senhor.

 

 

           

 

SOBRE A LEI DA ESCRAVATURA:

 

            Existem coisas que Jesus, como O Profeta prometido pelo Senhor nos esclareceu, e estas se nos apresentam como um paradoxo.

            Como entendermos a aceitação da escravatura até mesmo dentro da Lei de Moisés?  Os cinco primeiros livros da Bíblia são chamados de LEI pelos judeus até os dias de hoje, e nos trazem este problema, apenas colocando normas para que fossem evitados alguns abusos.

            A escravatura não nos parece algo que soa bem aos nossos ouvidos.   Chega a nos trazer uma lembrança de infelicidade, de opressão, de jugo, de exploração ao próximo, “coisificação”, comercialização do ser humano, da mulher-objeto, daquilo que por sua natureza não devia ser assim tratado, e Jesus não entrou a fundo nessa polêmica, segundo o relato bíblico.    

            Poderia a Palavra de Deus simplesmente aceitar tal fato como fato consumado, e nada fazer para reagir contra tal prática?

            Em primeiro lugar, devemos nos contextualizar dentro da história da humanidade.    O gênero humano como um todo se corrompeu, fazendo valer a “lei do mais forte”, e o Antigo Testamento foi escrito e endereçado a um povo que viveu num contexto sócio-cultural totalmente diferente daquele que Deus lhe havia planejado.

            A criação de castas sociais foi invenção exclusivamente humana, assim como os governos do tipo ditadura, ou até mesmo a democracia.

            Quando o homem resolveu que deveria optar por coisas que o afastariam da presença de Deus, uma ruptura de relacionamento aconteceu, de forma que muitas coisas vieram a suceder-se sem a mínima consulta ao Criador, ou Sua participação.

            O homem continua corrompendo-se em vários lugares, e em todas as épocas.

A evolução da corrupção foi tal que, em determinado momento, houve um dilúvio, a fim de que cessasse a violência e a promiscuidade sexual que permeava na Terra àquela altura da história da humanidade (Gen. 6:5).

            A degeneração moral e espiritual era tanta, que Deus decidiu salvar somente a Noé e sua família.  

            A pergunta, então, seria: será que algum daqueles que morreram no dilúvio, estaria à altura de receber sermões tais como aqueles que Moisés pregou ao povo israelita?  A resposta é: por certo que não!   Logo, a Lei mosaica não foi dada aos antediluvianos porque estes não teriam dignidade de recebê-la com temor e reverência – mas Deus lhes enviou a Noé, para que soubessem que haveria um juízo próximo, às portas (Veja-se I Pedro 3:20); no entanto, nem a isso aquelas pessoas deram alguma importância.   Reputaram-no por louco, ao vê-lo construir uma arca longe da orla do mar e dos rios.   Pois então, o Senhor, conhecendo a sua natureza rebelde e contumaz, não lhes revelou nem mesmo um código de leis – a Lei do Antigo Testamento – não tinham sequer capacidade moral para entendê-la.  Seus costumes de baixíssima ética não o permitiriam. Não entenderiam normas sobre crimes, sobre família, sobre direitos adquiridos, e muito menos os mandamentos que diziam: – “amarás a teu próximo como a ti mesmo”.

            Depois de Noé, seus filhos Sem, Cam e Jafé recomeçaram a multiplicar-se, a povoar a Terra, a enchê-la de habitantes, e daí nasceram algumas nações que até hoje conhecemos por nome, como é o caso do Egito, a ‘Ereth Mizraim.

            Quando, então, Javé operou os milagres que O fizeram conhecido no Egito e em Canaã, libertou a Israel da escravidão como povo, e assim começou a lhes revelar as facetas de Seu caráter.

            Temos de entender uma coisa, ou ao menos tentá-lo:  o perfil, o caráter de Deus, Sua personalidade, sempre foi e sempre será revelado parcialmente, uma porção de cada vez.   Os seus mistérios são insondáveis, o Seu poder é incomensurável, e não há um mortal sequer que possa afirmar que conhece totalmente os desígnios dEle, o El Shadday.  Nossa pequena capacidade de reter a Medida Infinita é que o determina assim.

            Isto é só o que podemos fazer, à medida que Ele mesmo se deixa conhecer, revelando-Se.

            Ao começar a ser revelada a Lei através de Moisés, mal se passaram quarenta dias da ausência do profeta que Deus enviara (pois enquanto o profeta estava junto ao Monte Sinai, aquele povo se dispôs a cultuar ao bezerro de ouro – um deus à moda egípcia, que exigia cultos que culminavam com orgias sexuais diante dos olhos de todos), o povo, que estava no deserto, ali mesmo se corrompeu.   Por causa disso, com a descida do Sinai, foi ordenada uma “operação limpeza” em que acabaram morrendo cerca de 3.000 homens.    Aqueles três mil não estavam tampouco à altura de receber dignamente a Lei que o Senhor lhes estava outorgando naquele mesmo lugar.

            Certas práticas religiosas imorais disseminam-se com facilidade, e assim aconteceu ali, tal como uma peste quando se deflagra no meio das pessoas que se mantiverem próximas no arraial.   Naquele momento, até mesmo a Aliança da Lei estaria comprometida para todo o povo que estava ali acampado.   Não fosse a punição da minoria, e da insistente intercessão de Moisés pelo restante, todos seriam simplesmente eliminados, e poderiam dizer adeus a esta Terra.

            Precisamos reparar bem que, apesar de a culpa ter distanciado tanto o povo dos caminhos santos, separados, diferentes, pertencentes ao Senhor, Ele esperou até aquela época (cerca de 1.500 A.C.), desde que o dilúvio exterminou quase totalmente a nossa raça, para lançar o Seu código de ética contemporâneo.   Se examinarmos bem a fundo, veremos que a Lei veio a lhes trazer maneiras de alimentar-se naquela região quente, seca e desértica do Oriente Médio, e preceitos de higiene, de asseio pessoal, de medicina preventiva, a fim de que o povo não perecesse por ignorância a estas coisas, através de pestes e doenças contagiosas.

            Acontece que o povo israelita, ainda despreparado, em parte, para acompanhar e preencher os propósitos de Deus pela obediência à Lei, devido à teimosia, falta de atenção e boa vontade de ouvir ao Senhor, precisou ser disciplinado rigorosamente, pois esta era a didática e a pedagogia que suas mentes alcançavam entender: o castigo dos pecados.   Daí a razão do apedrejamento aos adúlteros, e a outros rebeldes que rejeitaram os ensinos da Lei.   Foi a isso que Jesus se referiu, quando diagnosticou certeiramente, apontando para a sua dureza de coração (Mateus 19:8).

            Chegamos ao ponto crucial, no qual temos de compreender que a Lei foi dada a Israel, a um povo recém liberto da escravidão, primitivo, iletrado, de maioria analfabeta, pobre, ignorante de muitas informações que, hoje, o homem moderno conhece e das mesmas dispõe.

            A Lei mosaica, até mesmo dava aos homens uma elevação de nível de vida moral.   Do nível animalesco reinante em sua época, para outro mais humano, e revelando, mais uma vez parcialmente, a natureza divina – e mesmo assim, esta foi difícil de ser assimilada por grande parte das pessoas.

            Colocamos agora uma pergunta-chave:   Tais pessoas compreenderiam a Lei de Cristo?  Examine-se o sermão de Jesus em Mateus 5:21-48.   Se uma promoção de nível moral de vida mais humano lhes foi difícil de ser absorvido, que diríamos, pois, da elevação do nível de vida, do humano para o divino, o qual Jesus nos trouxe através de suas palavras?   Deus teve seus motivos para adiar a revelação de Cristo, mas esta já estava preparada para a plenitude dos tempos, e foi profetizada em Deuteronômio 18:15-19.

            O que se depreende, pois, disso, é que a revelação de Deus é dada “passo a passo”, ponto por ponto, gradativa e evolutiva no tempo, no espaço, e dentro daquela cultura que foi lapidada e aperfeiçoada, à medida que o homem cresce em maturidade moral e espiritual.     

            Ilustramos para melhor esclarecermos.

            Dar-se-ia um revólver de calibre 38, ou mesmo uma faca pontuda e afiada nas mãos de uma criança pequena?   Assim, Israel também não saberia fazer bom uso da Graça de Cristo à época que recebeu a Lei.   Uma tomada elétrica é muito útil a uma casa, mas as crianças não devem colocar seus dedos dentro dos seus buracos terminais.   Por questão de segurança, dá-se a ordem: – “não faça isso”, e sem mais explicações, pois a criança não entende os motivos dos pais.   Mais tarde, crescendo, ela saberá que pode, sim, e deve usar a tomada, bem como a faca afiada, tomando os devidos cuidados para que o uso seja adequado e proveitoso para si, e para os outros também.

            Em uma família, contudo, algumas ordens não mudam dentro da casa, tais como:  “Não bata em sua (seu) irmã(o)”, ou “não fique tão zangado”, ou “não faça refeição com pressa”, ou “respeite seu colega, amigo, ou vizinho”.

            Estes pontos explicam o porquê de algumas coisas imperfeitas no Antigo Testamento se nos apresentarem mescladas com ensinos imutáveis e eternos.

            Quanto ao corte de cabelo, barba, maneiras de vestir-se e apresentar-se, convém notar que os costumes mudam, mas as mudanças nem sempre são as opções mais saudáveis.    Nada contra alguns conselhos para se manter o bom equilíbrio, também na aparência pessoal- os quais, segundo o local, a época e a cultura, mostram ter suas diferenças, que precisam e convêm serem respeitadas, tanto para homens como para mulheres.

            Assim, concluímos que as Leis de Deus são perfeitas, eternas e imutáveis, mas o mesmo não acontece com a humanidade, que altera seu comportamento como as ondas do mar, e prende-se a coisas secundárias, como se estas fossem os “mores” mais importantes e intocáveis da sociedade.

            Adicione-se a isso, a infinita capacidade que o Senhor tem de compreender cada situação específica, e dentro de cada contexto histórico-geográfico.    O resultado é o seu relacionamento com Caim de uma forma, com Noé de outra, com Abraão de outra, com Israel de outra, e com os cristãos de outra.   Notem-se as alterações no tipo de tratamento de um caso para o outro, o que ocorreu no decorrer do tempo.   Isto se deve ao profundo conhecimento que Deus tem, e uma grande compaixão para com as nossas limitações, ao ponto de dedicar-nos tratamento como a “crianças no entendimento espiritual”.

            Deus então consentiu com a escravatura, com o divórcio, com a lei do levirato e com a “guerra santa” que resultou na morte de muitas pessoas?

            Para destrincharmos este ponto, vamos a outra ilustração.

            Digamos que V. teria um filho que bem cedo, adolescente, saíra de sua casa, e viveu como um marginal durante quarenta anos, e, depois disso, resolveu voltar para a casa de seu pai (no caso, V.).    Tornara-se um traficante, viciado em drogas, bebidas, sexo imoral e desenfreado, cultivando valores totalmente diferentes dos seus – mas agora, arrependido, deseja mudar de vida, e vem para a casa de seu pai, estando gravemente doente, sem nenhum recurso, desdentado, maltrapilho, amasiado com uma prostituta, e trazendo a tiracolo vários filhos, alguns que teve com muitas outras mulheres, e outros dela, que ela teve com outros homens.    V. o aceitaria?

            Talvez, depois de bastante pensar, aceitaria dentro de algumas condições.   Calcule se daria certo o seu convívio com ele e sua família, todos juntos.   V. acha que conseguiria fazê-lo mudar de comportamento, como faria com os filhos que criou desde a idade de crianças?   Certamente que não, pelo menos de imediato.  

            Louvável a atitude do filho, em querer mudar para melhor, mas concordemos que a adaptação não poderia acontecer senão aos poucos, e não seria harmoniosa como um paraíso.   Um homem que caiu a esse nível, depois de anos nessa vida, não mudaria de nível moral e de entendimento com apenas um banho, cortes de cabelo e de barba, e colocando uma roupa mais decente em seu corpo.

            Isso demandaria muita paciência e um longo convívio para consertar todas as coisas erradas, e tudo o que necessitaria de mudanças, poderia realmente mudar, mas apenas por etapas e por partes.

            Foi exatamente assim o que Deus fez com as diversas alianças: com Caim, com Noé, com Abraão, com Israel e com os cristãos.    A purificação dos costumes do povo teve de ser aprendida por etapas, corrigindo primeiramente os erros mais gritantes, e os mais insuportáveis.    Usou Deus do método de “aproximações sucessivas”.

            V. aplaudirá a qualquer progresso alcançado no tempo, renovará e encherá o seu coração daquela esperança que já teve um dia, de ver o seu filho transformado da maneira que tanto desejou, ainda que tenha um longo caminho para percorrer à frente.   V. amará muito a cada neto que respeitá-lo como avô, mesmo que neste momento, a princípio, sejam andrajosos, mal cheirosos, de aparência descuidada, e tenham um linguajar pobre de expressão, porque crê que estes precisam ter uma chance de recuperação da vida honrosa.

Pois o amor de Deus não é em nada menor que o seu!

            Eis a razão porque Deus não excluiu da cultura hebraica os costumes da escravatura, do divórcio (e este o suporta até hoje), das leis de guerra, etc., entre outros itens.

 

            Dir-se-á então: por que Deus não aboliu a escravatura, tal como o fez a Princesa Isabel no Brasil?

            Já temos abordado este tema no que diz respeito à imaturidade espiritual da civilização.

 

            Verificando mais detalhes, vamos analisar e comparar os fatos acontecidos na cultura e história do Brasil.

            A princesa Isabel, regente do trono em lugar de seu pai, D. Pedro II, assinou a Lei Áurea quando havia no Brasil um sem número de abolicionistas que a pressionavam.    Isto significa: – vários filhos de fazendeiros que, de bom grado, abririam mão de seus escravos para aderir a outro sistema de trabalho e recompensa.   Caso seus pais não estivessem de acordo e apoiando, e nem ao menos tolerando o movimento abolicionista, não surtiria nenhum efeito a Lei Áurea – pois todos os escravagistas continuariam a manter seus escravos, mesmo que contrários à Lei promulgada.   Lembramos que ainda hoje existe, às escondidas em algum ponto de nosso território, ou mesmo em algumas cidades  civilizadas, sutilmente disfarçada, a escravidão!  E não somente sendo praticada dentro do território brasileiro.

            Outro ponto a ser considerado é que, uma vez publicada a Lei Áurea, muitos escravos foram-se pelas estradas, por caminhos e picadas, sem emprego, sem salário, sem dinheiro, sem sustento, sem casas para morarem, embrenhando-se pelas matas, onde muitos morreram de fome e de inanição.  

Em contrapartida havia, então, muitos fazendeiros que já tratavam muito bem a seus escravos. Isto era de forma tal que, mesmo com o advento da lei que os libertou oficialmente, seus servos decidiram-se voluntariamente a permanecer onde estavam, trabalhando para seus senhores, onde já não havia chicotes de feitores, nem troncos, nem torturas, onde o alimento diário lhes era dado com suficiência e abastança, e, enfim, onde eram tratados com dignidade.

Os senhores necessitavam de certa mão de obra, e pagavam preço de ouro para terem quem os servisse, e, para tanto, os escravos lhes vinha a calhar.    Certamente que os navios negreiros foram um peso, uma desgraça e uma maldição para todas as partes que se envolveram nesse comércio degradante. Mas vamos atentar que este foi um detalhe não necessariamente presente no tipo de escravatura que havia na época e lugar em que a Lei mosaica se aplicou.   Houve, então, no Oriente Médio, muitos que, vivendo na miséria, passaram por necessidades primárias, e por isso, resolveram entregar-se a si próprios a quem os valorizasse e os comprasse, como escravos a seu dispor, porque esta era a saída, o escape para o problema que então estavam vivendo.    Nesses casos, o submeter-se à escravatura lhes representava o livramento de uma situação pior, e não um trauma.   A humilhação de serem rebaixados à condição de escravos lhes foi, então, menor do que a de perecerem à míngua com suas famílias.

Não fazemos apologia do regime escravagista, mas podemos dizer que era esta a situação.  O que fazer?  Entre dois males à escolha, então escolhia-se o menor mal.

A escravidão no Brasil, porém, foi ferozmente truculenta, e a lei que libertou os escravos não foi totalmente benéfica, redundando em outros problemas, tanto para senhores como para os servos libertos.   Foi uma questão de falta de planejamento.  Para o caso específico, sim, percebe-se, então, a necessidade de que houvesse um período de transição, onde os ideais abolicionistas não fossem precipitados, e a estrada pavimentada pelas boas intenções não conduzissem ao inferno.  

 Sempre houve mister que a decisão da libertação fosse preparada pelo bom senso, de uma conscientização de senhores e escravos, a fim de que uma medida legal não causasse outros problemas sociais, como os que decorreram depois, no Brasil.

No que tange à Lei mosaica, isto veio a acontecer mais tarde, com a valorização do ser humano, o que o evangelho de Cristo trouxe, instaurando primeiramente a paz interior, dentro dos corações, no íntimo de cada cidadão, à medida que estes aceitaram o fato de que o próximo deve ser respeitado, e amado como amamos a nós mesmos.  Assim, se alguém, sendo escravo, recebia a fé cristã com alegria e amor em seu coração, este, na verdade, já vivia o princípio da liberdade dentro de si.

Outro exemplo negativo foi o que aconteceu no Haiti: escravos negros decidiram amotinar-se, e matar a todos os seus senhores, e não somente a estes, mas a todos os brancos, com suas famílias.   Depois, não bastasse isso, decidiram enforcar também a todos os mulatos, fruto da miscigenação das duas raças, só porque estes eram filhos de brancos.   Hoje, devido a cataclismos frequentes naquela ilha, os descendentes de escravos sofrem por falta de infraestrutura, de hospitais, e muitos morrem por efeito da cólera e outras doenças que lhes acometeram.   Apesar disso, quem vai lhes prestar socorro são os brancos, que vieram agora de outros países para instalar hospitais de campanha.    Como se vê, as atitudes revoltosas, radicais e precipitadas lhes armou uma armadilha, onde caíram, e até hoje sofrem as consequências.

Faltou aos haitianos o bom senso, de ambos os lados, negros e brancos.   Faltou-lhes a maturidade espiritual para compreenderem que entre a escravidão e a liberdade deveria haver um ponto de equilíbrio, e provavelmente, um tempo de transição.   Isto é para que a tão almejada liberdade não fosse ganha no grito de guerra, mas através de uma conscientização ponderada, um trabalho gradativo, em que houvesse preparação geral de todos para a mudança.

Foi por isso, também, que Cristo veio: para que os que O aceitassem, fossem alertados para o fato de que Deus não faz diferença entre as pessoas (Efésios 6:9).   Para Deus, não há grego, nem romano, bárbaro, celta ou judeu, servo ou livre. Todos são iguais perante Ele.  Se este princípío da igualdade tivesse sido matéria lecionada nos educandários, os brancos teria tido mais brandura no trato, e teriam dado a seus escravos a chance de se tornarem livres e senhores de outras terras – o que teria evitado tantas e tantas desgraças que hoje se conhecem.

Criticamos assim a Lei da Reciprocidade, no tocante às relações humanas.   Um erro não justifica uma reação errada.   E se os acontecimentos são fruto ou o resultado de uma reação que caberia como punição a um outro fato anterior, então não existiria solução.    Só haveria vinganças na história da civilização, sem chance para o perdão.  Tome-se o exemplo da escravidão, que existe na Terra desde datas tão remotas, que as desconhecemos.   Alguns homens começaram a maltratar a seus servos, o que gerou rancor e ódio de servos contra seus senhores.   Ao matar a seus senhores, isto gerou indignação entre os outros da classe dos senhores.   Foi o caso de Spartacus, na Itália, em época do Império Romano.   O resultado foi a matança de várias legiões romanas, e, por fim, a chacina de todos os escravos que se haviam aliciado naquele movimento de revoltosos.

Para corrigir essa distorção de valores sociais, Cristo se fez servo de Deus,e entregou-se à morte de cruz, para ali perdoar os seus algozes, depois de curar o corpo e o espírito de servos e senhores, nativos e estrangeiros, e fazer na cruz convergir a justiça e o amor de Deus (Colossenses 3:11),  desfazendo a inimizade que havia entre homens e homens e entre Deus e os homens.   Cristo nos trouxe a grande reconciliação, pois que a maior dissensão, o maior preconceito, e a maior rixa está dentro do coração de cada indivíduo.

           


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