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A BÍBLIA SOB ATAQUES (IV)

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agosto 4, 2012 by Bortolato

PODEMOS CONFIAR NO QUE ESTÁ ESCRITO NA BÍBLIA?

 

 

Como pôde tal texto ser tão preservado ao longo de tantos anos?   Simplesmente pelo respeito e reverência que os copistas tiveram, pois que sabiam tratar-se das palavras que Deus lhes deu a conhecerem.

            E como existem as variações dessas poucas palavras que mencionamos?   Temos que considerar que, naquela época em que os originais foram escritos até a invenção da imprensa por Gutemberg, os livros eram copiados à mão, com pena e tinta.   Quantas vezes as mãos erram, colocando um “R” no lugar de um “D”?    ou um “i” no lugar de um “e”?  pois esses copistas, humanos como nós, podiam escrever mal uma letra.   Vamos e venhamos!   Se então até letras de um médico em uma receita são compreendidas pelos farmacêuticos, tais erros dos copistas judeus seriam tão graves e frequentes, mais do que os que cometemos quando escrevemos alguma coisa à mão livre?      Não ao ponto de distorcer o sentido da mensagem que queremos comunicar.   Pessoas letradas, que estudaram o suficiente para redigirem um texto, jamais permitiriam que as idéias originais fossem mudadas e distorcidas.    Pois imagine só o quanto se prepararam tais judeus, antes de tomarem da pena para copiar o texto que Deus lhes falara e ordenara que fosse lido, estudado, relido, e reestudado, tantas vezes quantas fossem os anos de suas vidas.

            Existe um estudo cuidadoso das variações (ou leituras diferentes) dos vários manuscritos mais antigos, e ficou comprovado que nenhuma delas afeta uma única doutrina das Escrituras Sagradas.

            Se alguém duvida disso, basta examinar o registro das variações, bem atestadas, que constam na edição do Dr. Rudolf Kittel da Bíblia hebraica, ou ainda, como bem se pode vê-las na Bíblia Hebraica Stutgartensia.   Fica claro e notório que a vasta maioria delas é tão insignificante, que o sentido doutrinário, no tocante a doutrinas básicas da Bíblia, em cada frase, não sofreu absolutamente nenhuma alteração.

 

 

 

 

TIPOS DE ERROS DOS COPISTAS:

 

 

            Como a copiagem dos originais bíblicos foi feita com a participação humana, seria um milagre que não houvesse erros de cópia para cópia.   Se esses erros fossem graves, ao ponto de alterarem a revelação e a mensagem divinas, então o propósito de Deus ao revelá-las aos profetas que as escreveram teria sido um fracasso, pois não podemos admitir que a Palavra de Deus tenha restado, ao final deste processo, mesclada com palavras de meros homens ou reles anjos caídos.   Isto seria o mesmo que ter perdido a credibilidade.

            Se, porém, os erros cometidos não comprometem a mensagem, nem o sentido da revelação divina, então isso significa que podemos confiar na Bíblia, tal e qual ela se nos apresenta nos dias de hoje.

            Que evidência pode nos indicar que estamos crendo em escritos fidedignos, se houve erros de copiagem?

            Analisando-se certos tipos de erros cometidos nos rolos mais novos, comparados  com a escrita dos rolos mais antigos, que erros eram esses, que não comprometeram a comunicação da Palavra de Deus?   Apontamos alguns desses, abaixo:

  • Haplografia:  escreviam uma letra, ou uma sílaba, ou palavra uma só vez, quando deveriam ter sido repetidas.  Exemplo disso está em Juízes 20:13, onde o texto Massorético (editado entre 800 a 950 DC) escreveu “Benjamin”, no lugar de “os filhos de Benjamin” (a palavra “Ben” se traduz por “filhos”, e por isso deveria ser repetida, para dar o sentido correto do contexto).   A leitura correta foi conservada na Septuaginta (LXX), onde se nos mostram as palavras originais, pois o verbo que conjuga o sujeito da frase está no plural.   Daí, a palavra de número gramatical singular: “Benjamin”, deveria ter exigido o verbo no singular, e não como constou.   Dentro deste mesmo tipo de erro, havia também omissão de sílabas ou letras, como é o caso de Isaías, onde o texto Massoreta diz: “com a força da mão” e o rolo do Mar Morto escreve: “com força de mão”.
  • Ditografia:  quando o escritor copista escreve duas vezes aquilo que deveria ter sido em uma só vez (quem já não cometeu este tipo de erro?).   Em nada altera o sentido da redação, todos sabem disso.   É o caso de Isaías 30:30, onde se escreve “fazer ouvir fazer ouvir”, no lugar de simples “fazer ouvir”, conforme está registrado no Texto Massorético.
  • Troca de posição de letras nas palavras:   Isaías 32:19 fez constar a palavra “a floresta” (HY’R), no lugar de “a cidade” (H’YR),  conforme o Texto Massorético, que traz a única forma que faz sentido dentro do contexto.
  • Dividir uma palavra em duas partes.   Basta ver em nossa língua que este tipo de erro é facilmente corrigido na leitura, conforme se conhece o sentido da frase.
  • Fusão: formar uma palavra de duas separadas.  É o caso de Levítico 16:8. Jerônimo entendeu que a fusão das palavras L’Z  ‘ZL (=para ser bode de mandar embora) deveria substituir L’Z’ZL (=Azazel), seguindo a versão Septuaginta, pois que o nome próprio “Azazel” não faria sentido.
  • Leitura errônea de letras de aparência semelhantes, como é o caso do Dáleth (que tem som de “D”)  e do Resh (que tem som de “R”).
  • Omissão acidental de palavras.  Não é preciso ser linguista para se perceber o truncamento da frase pela falta de um vocábulo, o que leva a presumir-se logo a sua correção.

Notar que esses erros não são muito frequentes, de modo que o restante das frases onde aparecem logo denuncia os mesmos, e o contexto dos tais aponta o sentido correto.

         Certos manuscritos repetiam os erros de onde foram copiados, e assim eram classificados, agrupados e marcados – desse modo chegam a nos revelar qual a escola que os copiou.

         Depois de tanto tempo, será que chegamos a uma visão global dos erros dos copistas, de forma a termos concluído como era toda a escrita original?   Isto não seria possível em 100% dos casos dúbios.    Só um milagre faria assim, e Deus não escolheu esse meio para revelar a Sua vontade.    Apesar disso, chegamos à certeza de mais de 95% de fidelidade ao texto original.    Quanto aos 5% não conclusivos, a grande maioria não passa de erros banais, não comprometedores do sentido e da intenção globais da redação original.

         Desta maneira, quem rejeita aos 95% corretamente mantidos como redação original da Bíblia, rejeita a 95% da Palavra de Deus, sob a desculpa de que os restantes 5% de erros banais são mais importantes e por demais pesados que a esmagadora maioria das palavras ali escritas.  Escritos que, com toda certeza, são fidelíssimas cópias dos manuscritos que registraram pela primeira vez aquilo que o Senhor falou.

Nada mais tendencioso, portanto, do que se afirmar que a Palavra de Deus revelada no passado aos profetas, apóstolos e outros escritores sagrados fora perdida com o tempo e poluída com inserções espúrias, ali colocadas para afirmar doutrinas que “dolosamente distorcem a verdade”.   Aqueles que assim o afirmam não estão sendo justos, honestos, nem profundos e acurados na análise crítica que fazem dos textos bíblicos.   A única explicação que temos para essa visão errônea da verdade, é que já possuem um ponto de vista mui distante do realmente verdadeiro, impregnados por filosofias que não se harmonizam com a Palavra de Deus, e valem-se de “cortar e recortar” aqui e colar ali, este e aquele trecho, com a finalidade de procurar amparar-se naquelas partes das Escrituras que combinam com seus pensamentos, denegrindo e desprezando o restante que não lhes agrada e nem lhes interessa – talvez  até lhes irritem, lhes pareçam enfadonhas e enojem-se delas.    Assim, buscam firmar-se, procurando atropelar conceitos e doutrinas bíblicas legítimos, que o próprio Deus nos legou.     

                                                  

 

SOBRE O NOVO TESTAMENTO:

 

 

            Quando se trata de atacar a confiabilidade das palavras do Novo Testamento, então é que se pode observar as maiores injustiças que se desferem contra o texto bíblico.    Interessante e estratégico é notar que os historiadores, em geral, são muito mais abertos para confiar na fidedignidade dos escritos neotestamentários, do que muitos tidos por religiosos ou teólogos modernos.    O fato é que, “ipso facto”, consequentemente suspeitam e criticam muito mais a um livro das Sagradas Escrituras do que o fazem com relação a documentos seculares ou livros de religiões pagãs.   Isto se deve, em grande parte, aos espíritos contrários ao cristianismo.

            Pergunta-se, pois: mesmo se o cristianismo estivesse filosófica e doutrinariamente assentado sobre bases ocas e voláteis, seria justo atacá-lo mais do que às demais religiões?   Os historiadores de mente científica e concepção neutra não o acham justo, como é o caso de Ramsay (1851-1939), Ed Meyer e A. T. Olmstead (1880-1945), veementes em seus depoimentos.

            Neste ponto, é aí que vamos pensar também por outro lado: – se o cristianismo é de fato legítimo e verdadeiro em suas bases, quem o ataca tanto deveria pelo menos desconfiar que pode estar batalhando do lado errado, perdendo as bênçãos de Deus prometidas em Sua Palavra escrita, acumulando desditas e até mesmo maldições para a sua vida futura.

            Não devemos, contudo, sentir-nos incomodados por tantas críticas, principalmente por que, com relação ao Novo Testamento há uma soma muito maior de evidências cientificamente comprovadas, que abonam e atestam sua credibilidade, do que em favor de outros escritos antigos que lhe são contemporâneos.

            Só para mencionar algumas dessas evidências, há na atualidade, cerca de 4.000 manuscritos na língua grega, original do Novo Testamento, em que o mesmo foi encontrado “in totum” ou em parte.   Vamos apontar alguns deles:

 

COM  TODOS  OS  LIVROS  DA  BÍBLIA:

  1. O Códex Vaticano, que contém o Novo e o Velho Testamento, datando do século IV d.C.
  2. O Códex Sinaítico, que é a peça das mais valiosas adquiridas pelo Museu Britânico, comprado da Rússia por 100.000 libras.    Também escrito no século IV d.C.
  3. Códex Alexandrino, também no Museu Britânico, datado do Vº século d.C.
  4. Códex Beza, na Biblioteca da Universidade Cambridge, escrito entre os séculos V e VI d.C.

 

 

 

FRAGMENTOS DE PORÇÕES DE LIVROS DO NOVO TESTAMENTO:

  1. Os papiros bíblicos da Chester Beatty: estes consistem em onze códices, dos quais, três deles contêm a maioria dos escritos neotestamentários, e datam de 100 a 200 d.C.
  2. Fragmento de códex de papiro contendo João 18:31-33, 37-ss., na biblioteca John Rylands, em Manchester, atribuído em bases paleográficas, a mais ou menos 130 AD.   Isto significa que o livro de João já circulava no meio cristão, 35 a 40 anos após ter sido produzido.
  3. Papiro do Evangelho de João, Papiro Bodmer II, de Genebra, da data de c. 200 DC., e contém os primeiros 14 capítulos do evangelho joanino, e mais consideráveis porções dos últimos sete capítulos.   Vale lembrar que o Evangelho de João é enfático em nos mostrar certos milagres que Jesus produziu.

A pergunta mais pertinente que se faria a seguir é:  seriam dignos de aceitação os escritos que nos deixaram os literários e filósofos antigos?   Creríamos que estes foram realmente escritos por quem se presume tê-los escrito?   Os alunos de filosofia saberiam dizer se de fato certas obras são da autoria de Sócrates, Platão e Aristóteles?   Eles não têm nenhuma dúvida quanto à genuinidade de muitas das obras antigas.   Tecem comentários, fazem análises, mostram suas diretrizes e estruturas de seus pensamentos sem embaraço algum.  

Que diríamos então das obras de Sigmund Freud (1856-1939), de Immanuel Kant (1724-1804), Georg F. Hegel (1770-1831), Jean Piaget (1896-1980), ou Jean Paul Sartre (1905-1980)?   Pelo menos acerca destes últimos, não restam dúvidas de que foram eles mesmos que as escreveram, e de que não tiveram suas obras adulteradas, pois estas nos foram deixadas entre os séculos XVIII e XX; isto é, seus legados circularam pelo mundo em menos de 100 anos após haverem publicado seus livros, e os aceitamos como legítimos, mesmo quando os lemos traduzidos para nossa língua, décadas e décadas atrás.

Os pais apostólicos da igreja, de outro lado, são unânimes em dar-nos mostras incontestáveis de seu apoio aos escritos neotestamentários.    Estes ilustres senhores escreveram entre 90 e 160 AD.

Citamos somente alguns exemplos.  No ano 100 DC. teriam sido escritos a “Epístola de Barnabé”, o “Didaquê”, e, por volta de 96 DC, a carta à Igreja de Corinto, escrita pelo bispo Clemente, de Roma, onde encontramos muitas e muitas citações dos livros bíblicos; some-se a isto as cartas de Inácio, bispo de Antioquia, do ano 115 DC; de Policarpo aos Filipenses, de c. 120 DC (*).   Poderíamos continuar com uma longa lista de escritores do século II DC, os quais acumulariam o reconhecimento destes livros como autênticos, e só aumentam ainda mais a certeza de que os mesmos têm ampla autoridade espiritual e moral – pois suas citações em nada alteram àquelas passagens que lemos nos manuscritos do Vaticano, do Sinaítico, e tantos outros.

Entende-se que (consenso geral entre eruditos e historiadores) o Novo Testamento teve a data de sua escrita variando, conforme o livro, de 48 a 95 DC.    Não seriam estes dados suficientes para nos dar mostras de confiabilidade?

O intervalo, então, entre as datas da composição original e a da mais antiga prova material hoje existente se nos mostra tão reduzido, de sorte a ser certo e sensato julgá-lo perfeitamente cabível, dentro de uma margem de segurança que nos leva a desprezar as críticas e dúvidas sobre sua fidedignidade.    

Vemos, assim, ruírem abaixo as dúvidas sobre se as Escrituras tenham chegado às mãos deste século como foram originalmente escritas.

O que diremos, afinal, sobre estas coisas?   Que os discípulos todos, depois de tanto ouvirem Jesus falar sobre a verdade, a justiça, o juízo final, o poder de Deus, teriam eles todos, de forma unânime, mal entendido a mensagem que lhes foi confiada, ou teriam entrado em comum acordo para distorcer as narrativas do que viram e ouviram?   Não seria razoável pensar assim, pois seria como acreditar que todos eles se corromperam para negarem a verdade, apagar o que Jesus fez com vários golpes de traição – e isto depois que ainda viram em que resultou a traição de Judas Iscariotes!   E todos eles, sem restar um sequer a defender a verdade?   Interessante é notar que todos os apóstolos insistem nas mesmas idéias, têm os mesmos pontos de vista teológicos, e interpretam as Escrituras da mesma maneira que os demais. ______________________________________________________________________

 

 (*) Nota: Quanto aos pais da Igreja, para maiores informações, leia-se “The New Testament in the Apostolic Fathers”, da autoria de uma comissão especial da Sociedade de Teologia Histórica de Oxford, 1905.

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O que lhes traz tal enfoque?  Respondemos, para melhor esclarecermos:  Cristo foi quem os uniu no mesmo propósito, e o Espírito Santo foi quem lhes inspirou as mesmas verdades sobre os mesmos assuntos.

            Devemos considerar também que Jesus teve outros discípulos, além dos doze.  Lucas 10:1 menciona setenta outros discípulos, e Paulo escreve aos Coríntios que Jesus, após sua ressurreição, foi visto por mais de 500 irmãos (I Cor. 15:6).   Não podemos esquecer-nos de que Ele conseguia reunir multidões (Marcos 8:1,9 contou 4.000 homens; Mateus 15:29-48 o confirma; e Mateus 14:21 fala de outra multiplicação de pães, mencionando 5.000 homens e mais mulheres e crianças).    Conseguiria alguém iludir tanta gente que restou como uma grande massa de testemunhas, e às gerações vindouras que em potencial estavam ali presentes, adultos, jovens e crianças?   Cremos que pelo menos por 50 anos, ninguém poderia mentir acerca de Jesus, sem ser desmentido perante a Sua Igreja.

            Os sacerdotes tentaram dissimular a ressurreição, mas não puderam ter de posse o corpo de Jesus, a fim de poderem provar que Ele continuava morto e que não havia ressuscitado, e daí, mais evidente ficou que não O puderam reter na sepultura.

            Como então se conservariam as narrativas históricas e os ensinos originais de Jesus, sem que estes fossem distorcidos?

            O menor dos evangelhos, o de Marcos, foi o primeiro a ser editado, copiado e repassado a todas as igrejas da época.   A história de sua primeira edição nos revela os passos tomados para as escritas desses quatro evangelhos.  

            Inicialmente, Pedro passava pelas cidades da Ásia Menor, além das terras da Palestina, a contar os feitos maravilhosos de Jesus.   É sabido que Marcos, discípulo e tradutor de Pedro em suas viagens missionárias, deixou-nos uma obra que serviu de base para a escrita de Mateus e Lucas, dado às partes comuns que os três evangelistas narram.

            Antes de chegar a entender que deveria escrevê-lo, Marcos ia traduzindo oralmente os testemunhos de Pedro, que se repetiram muitas e muitas vezes, a cada oportunidade que se lhe aparecia para falar do que transbordava o seu coração: Jesus!    Esta proclamação oral teve, chegado certo momento, de ser escrita.   O seu endereço foi especialmente para a comunidade cristã de Roma, nos primórdios da década de 60 do século I, vindo bem logo a ter grande circulação para todas as demais igrejas, espalhadas pelo mundo cristão da época.

Se observarmos bem, veremos que o que Marcos escreveu se prende, em grande parte, aos feitos de Jesus.    Já Mateus e Lucas se estenderam mais, e resolveram  abranger também muitos dos ditos do Senhor Jesus.

Para lhe servir de uma espécie de rascunho, Mateus escreveu, segundo nos conta Papias, um documento que denominou de “Logia” (tradução: “Ditos”, ou “Oráculos”) na língua hebraica (esta era a língua que os hebreus falavam então, e que mais se aproximava do aramaico).   Deste documento, Mateus teria extraído, depois, a arte final que desejava-se que fosse desfrutar de uma circulação além dos lindes da igreja judaica, e portanto, logo teve de ser traduzido para o grego.

Lucas aproveitou a “Logia” de Mateus para reunir seus escritos no seu evangelho, aproveitando também dos escritos do primeiro Evangelho então escrito, e provavelmente usou de outras fontes alternativas.

Datam-se, pois, as escritas destes três Evangelhos da seguinte forma:  Marcos escreveu entre 60 a 65 DC.  Lucas o fez entre 60 e 70 DC.   Mateus, então, veio a escrevê-lo pouco depois de 70 DC.

Notam-se ênfases acentuadas nos três primeiros evangelhos:  Mateus o escreveu, tendo em vista o público judeu – até o seu estilo o denota.   Marcos, como já vimos, foi originalmente endereçado aos Romanos – seu estilo também faz o gênero próprio a isto, revelando Jesus como o Filho de Deus, muito ativo, fazendo muitas obras, dinâmica e rapidamente passando de um cenário para outro.   Lucas, em sua narrativa, compilou não só o Evangelho, como também, em continuação, o livro dos Atos dos Apóstolos (inicialmente eram ambos um só livro), e é notório que ele passa dos eventos da terra de Israel para o mundo grego; logo, o seu intento final chega a ganhar a atenção do mundo grego de então.   Companheiro de Paulo em suas viagens missionárias, Lucas alcançou desta maneira o seu público-alvo – o mundo de fala grega, a língua mais falada de sua época.

Já o quarto Evangelho teria sido escrito mais tarde, entre 90 e 95 DC, por uma notoriamente testemunha ocular dos fatos que narra minuciosamente.   O autor mesmo se intitula “O Discípulo que Jesus amava” (João 21:24 enfatiza que o seu testemunho é conhecidamente verdadeiro).  

João 13:23 revela que ele participou da última ceia com o Mestre, ficou presente ao ato da crucificação (19:26) e foi testemunha ocular do sepulcro vazio na manhã radiante da Ressurreição (20:2-ss.), correndo juntamente com Pedro naquela oportunidade.   O “discípulo amado” era um daqueles três que tinham maior participação dentre os doze que estavam presentes na última ceia.   Como os três eram Tiago, Pedro e João (também presentes na vigília do Getsêmani após a ceia, cf. Marcos 14:33; na Transfiguração e noutras ocasiões), este discípulo amado não seria Pedro (João 13:24; 20:2; 21:20), e Tiago foi martirizado perto de 44 A.D. (Atos 12:2).   Sobra-nos João, o seu autor.

O autor deste quarto Evangelho era, sem dúvida, um judeu, totalmente envolvido nos costumes judaicos.   Era também natural das terras da Palestina, pois conhecia muito bem os lugares e as distâncias que estes mediam entre si.

Inácio, martirizado por volta do ano 115, nos mostra a influência que recebeu de João em suas obras.   Policarpo, pouquíssimo tempo depois, citou a morte de Inácio e mencionou a I Epístola de João (a qual era, na época, anexada ao quarto Evangelho, como uma carta de apresentação).   Basílides (cerca de 130 AD), Justino Mártir (c. 150 AD), Taciano (c. 170 AD) são unânimes em aceitar o quarto Evangelho como sendo joanino.   Vários autores literários do II século AD também o atestam:  Clemente de Alexandria, Teófilo de Antioquia, Tertuliano de Cartago, Herácleton na Itália, e o mais importante deles, Irineu, que disse:

 

“João, o discípulo do Senhor, o mesmo que se lhe reclinava ao peito, também publicou o seu Evangelho, quando vivia em Éfeso, na Ásia”.  (Adv. Haer. III, 1)

 

            Quem foi Irineu?   Em sua carta a Florino (citada por Eusébio, “História Eclesiástica, v. 20), Irineu recorda-lhe os dias de sua meninice, quando ambos se assentavam aos pés de Policarpo (bispo de Smirna que foi martirizado em 155 DC, quando então já professava a fé cristã por contínuos 86 anos).   Este último, bispo de Smirna, foi discípulo de João, de quem ouviu a respeito de Cristo, além de outras testemunhas diretas da vida e dos milagres que Jesus fez.

            E por que João decide escrever um quarto Evangelho, sabendo que outros três já circulavam pelas igrejas de então?   João, mais que os demais evangelistas, apresenta a Jesus como o Messias.    A esta conclusão os demais já haviam chegado no final do ministério do Senhor na Galiléia, em Cesaréia de Filipos, mas Jesus lhes dá ordem expressa de não divulgá-lo.

            Já idoso, refletiu João que a Verdade, o Messias de Deus, o Logos que se tornou carne para expressar-se como o único Deus encarnado, que ofereceu a própria vida para que não somente judeus, mas também gregos e toda a criatura gentílica pudessem ser levados a crer nEle, em Jesus o Cristo, o Filho de Deus, e assim, pudessem receber a Vida eterna.

            Somente um discípulo, apóstolo, testemunha ocular do ministério do Filho de Deus, íntimo da comunhão com Ele e que conhecia os problemas contemporâneos do final do I século DC, poderia fazê-lo com tamanha desenvoltura, apresentando-nos não somente os fatos tais e quais aconteceram, mas também discernindo profundamente os pensamentos de Jesus.

            Pois ele, João, não somente alcançou o alvo para sua época, como para as demais que a sucederam, evitando que outros pudessem fazê-lo de forma bizarra, isto é, cedendo aos impulsos espúrios de reinterpretar o cristianismo em outros termos filosóficos.

 

            Tomem-se, então, as versões de várias maneiras e estilos de linguagem, dessas antigas cópias do Novo Testamento, e comparem-se: seriam divergentes entre si de tal forma que mudariam nomes, localidades, pessoas, acontecimentos, ou ainda as idéias que o autor intentou passar-nos?   Algumas palavras podem ser diferentes, pois que se pode parafrasear tudo que nos é dito diariamente.    Alguém do século XX quis fazer paráfrase do texto original para comunicar o evangelho a adolescentes, e então saiu a “Bíblia Viva”, que nos fala, com palavras mais simples e fáceis de se entender o sentido original.   Tal esforço quis facilitar as tarefas para os teenagers” , mas ao mesmo tempo admite que é preciso ser fiel aos originais para se adquirir maior profundidade.   O seu alvo, entretanto, foi alcançado: estender o Evangelho aos que estão começando a pensar mais sobre a vida.


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