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JUÍZES – IX – UM CORAÇÃO ALTAMENTE COMPASSIVO

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agosto 4, 2015 by Bortolato

Se V. fosse um ou uma assistente social, benfeitor altruísta de um povo necessitado, e este povo não somente lhe fosse ingrato, como também passasse a desprezá-lo, e até a provocá-lo, rebaixando-o com palavras duras, e enaltecendo a outras pessoas na sua presença, a fim de humilhá-lo, o que V. faria?   Certamente que isto abriria um precedente que, se confirmado vez após vez, criaria uma situação insustentável.

Sinceramente, V. não se retiraria insultado e iria embora para não mais voltar a sofrer tal injustiça e insensatez?   Com certeza que isto acabaria por provocar uma mágoa tal que V. iria, mesmo sabendo que a sua ausência também significaria a retirada de muitos benefícios que só a sua presença poderia trazer…   É muito provável que alguém, em seu lugar, antes de sair, diria uma porção de coisas, acusando ao povo mal educado, num desabafo final para tentar aliviar a ofensa, e esquecer-se daquele momento e de tudo que foi feito em vão para os beneficiários insensatos.

O povo de Israel muitas vezes fez assim, agindo desta maneira, desrespeitando o seu Deus, e adotando a outros deuses, tal como uma mulher adúltera que desrespeita ao seu marido ostensivamente.

O capítulo 10º do Livro de Juízes evidencia muito este aspecto.   Israel teria já 300 anos de vida já dentro do território de Canaã.   Isto foi pelo ano 1.150 A.C., quando muitas coisas já haviam acontecido, alguns povos vizinhos já lhes haviam imposto uma escravidão opressiva, e outros os invadiram para os destruir, pesando sua mão contra o povo de Israel.   Em todas essas ocasiões o Senhor os vinha livrando após haver um arrependimento nacional ou regional, o que se tornara cíclico, de tempos em tempos.

Conta-nos a Bíblia em Juízes 10:1-5 que depois da morte de Abimeleque, o usurpador da coroa real de Yaweh, o Senhor ainda lhes ofereceu vários juízes, como Tola, filho de Puá, da tribo de Issacar, na região montanhosa de Efraim, para livrar a Israel por 23 anos.   Depois de Tola, veio Jair, um gileadita, que também foi juiz durante 22 anos.

Diz-nos Juízes, capítulo 10:6, que os filhos de Israel tornaram a fazer o que parecia mal aos olhos do Senhor, porque passaram a adotar os deuses da Síria, de Sidom, de Moabe, de Amom, dos filisteus, e ainda a Baal e Astarote, a dupla de deuses consortes, dos cananitas.  Notar bem que esta questão já havia acumulado abusos além da paciência de Deus, partindo, já, para extremos de provocar o nojo e a dor de um divórcio.   Fizeram-se tacitamente inimigos de Yaweh, sem que houvesse motivos para isto.

Se um cônjuge não pode suportar a dor de saber que sua esposa possui um amante, no caso de Israel, este povo não teve só um, mas vários deuses com os quais adulterou espiritualmente, para a tristeza de Yaweh.   O Senhor não teve outra alternativa, senão retirar-Se do meio de Seu povo, que salvara várias vezes, e os tratara como a filhos Seus.

Novamente a muralha de proteção que Yaweh representava foi retirada, e o povo ficou à mercê de seus inimigos, os filisteus e os amorreus.   Ambas as invasões aconteceram no mesmo ano, de modo que Israel se viu vexado e angustiado por dezoito anos.   Eram duas nações que se haviam fortalecido: uma delas, a Filístia, pelo lado ocidental, e a outra, Amon, provinha do oriente.   Neste período Israel perdeu a sua soberania e a sua paz.

Apertados pela opressão, clamaram então ao Senhor Yaweh, pedindo-lhe por um livramento, e dessa vez houve um esforço especial para que a resposta de Deus viesse.   A esperada resposta veio, e foi tal que revelou um profundo sentimento de dor em Seu coração, por ter sido abandonado e trocado por outros deuses.   O coração de Deus se entristeceu muitas vezes por causa do pecado, e Ele manifestou o seu desprazer, não como em muitas vezes o fez, em silêncio. Desta feita, Ele lançou um desabafo aos israelitas, dizendo para que estes procurassem aos deuses que escolheram em Seu lugar.   Esta ameaça não quis dizer senão que o Senhor foi muito mal servido pelos israelitas e também levá-los a que estes fizessem a comparação entre Ele e os outros deuses, e fizessem uma avaliação: quem eles escolheram para seus deuses eram comprovadamente incapazes de agir com poder para livrá-los.   Que buscassem àqueles, para constatarem!

Os israelitas reconheceram este seu erro, e se arrependeram.   Desfizeram-se dos deuses estrangeiros que haviam adotado.   Como crianças que choram amargamente, seus corações pediam-Lhe por livramento.     Ele então Se compadeceu de suas aflições, e não pôde mais reter a Sua misericórdia, porque é cheio de amor para com as Suas criaturas.   Deus sentia sua alma apertada ( Jz. 10:16) e doeu-Lhe o coração, que sofreu com o sofrimento de Seu povo, o qual padecia por ser tão inconstante, falto de sabedoria e de discernimento espiritual.

Os amonitas então novamente chegaram sobre o território de Gileade, com um poderio militar imponente, obrigando aos de Israel a uma reação.   Tencionavam dar-lhes uma lição humilhante, como era de sua práxis. Israel teve que se posicionar e reuniu-se para conversarem sobre a guerra que estava para desabar sobre eles como em um pesadelo.

Quando um povo se coloca como invasor das terras de outro povo, muitas coisas acontecem para humilhar ao povo vencido.   Vilarejos são devastados, queimados, homens são mortos; mulheres e crianças são transformados em brinquedos nas mãos de sádicos que nada mais querem senão se divertir com a desgraça alheia, abatendo-lhes a honra até ao chão.

Israel então viu que tinha que lhes oferecer resistência. Não havia outro meio de resolver aquela situação extremamente desagradável.   Seus inimigos tinham que encontrar uma barreira de oposição que, ainda que vencida, desse tempo para o povo esconder-se do pior. Se assim não oferecessem resistência à altura, e aquelas ameaças viessem a se repetir muitas vezes, isto seria o fim de Israel.   A situação exigia a ação de heróis que se dispusessem a morrer para salvar a vida de suas famílias, de seus clãs e de sua nação.

Um problema então surgiu: quem seria o homem capaz de liderá-los, dando início a uma batalha com pelo menos uma mínima possibilidade de sair vitorioso?   Buscaram, então, por homens valentes, fortes, e dispostos para irem à luta.

Perguntava-se: – “Quem aceitaria ser o homem?   Quem quer ser o homem-chave?   Quem quer ser o nosso herói? Ninguém? ”

Não havia, naquelas reuniões, dentre todas as tribos de Ruben, Gade, e Manassés, quem tivesse um currículo que impressionasse, e que tivesse a coragem e a disposição de arriscar a própria vida (e, diga-se de passagem, o risco de morte era grande!) e que transmitisse confiança aos comandados?   Triste é a situação de um povo que não se prepara para uma luta assim, pois os momentos de lutas e dramas da vida chegam a todos nesta Terra, e ai daquele povo que não tem homens para colocá-los em sua linha de frente.

“Procura-se homens!   Na falta de muitos, procura-se um homem – ao menos um!”

O pior daquela situação é que não se achava ninguém.   No meio de uma multidão, Israel estava só… e a calamidade se aproximando…   Faltavam líderes, homens de coragem, habilidade para guerrear e experientes para lutar…   o mal se havia assenhoreado tanto dos filhos de Israel, que os homens já não conseguiam mais levantar as suas cabeças com moral.   Estavam dominados pelo inimigo de tal forma que, quais animais domados, já estavam acostumados a abaixar as cabeças para deixarem que seus algozes os seviciassem.

Esta situação se assemelha também aos dias de hoje, quando vemos que faltam líderes que sejam levantados com poder, com entusiasmo, na força do Senhor, mas também com sabedoria, com prudência, e acima de tudo com profundo amor por um povo sofrido, que clama e pede a Deus por uma salvação que lhe parece ser impossível, mas, por outro lado, crê no Deus dos impossíveis.   Pessoas que dão sua vida para que Deus possa operar em favor de Seu povo.   O Senhor procura por homens e mulheres nestas condições.   Ele não exige pessoas com dons e talentos, muito embora estas características possam ajudar, mas antes de tudo, procura por quem creia em Sua Palavra, e tenha fé em Suas promessas, gente que confia nEle em havendo o que houver que seja, que não teme enfrentar a guerra, e na guerra, lutar contra o inimigo cara a cara.   Onde estão estes?

No capítulo 11º do Livro de Juízes, vemos que o povo de Israel escolheu um homem, depois de tantas negativas, a fim de encontrar um caminho promissor, um refrigério no meio da sua tribulação.   Não era um homem poderoso no meio de seu povo.   Na verdade, foram bater à porta de alguém que vivia no meio de homens vadios e levianos, de pessoas dadas aos combates de corpo a corpo, e que usavam de suas habilidades com a espada para sobreviverem.   Na verdade, eram saqueadores que atacavam outros povos para se apoderarem de despojos.   Um meio de vida muito desonroso, aliás.

Há momentos em que o Senhor decide usar a alguém dentre os mais destacados líderes da terra, como foi o caso de Jair, que tinha trinta filhos e trinta cidades sob sua tutela, mas desta vez, não foi assim. Não foi buscá-lo dentre os grandes , entre os que se julgam poderosos.

Naquela ocasião, o Senhor decide escolher um homem rejeitado pelo preconceito moral e social.   Era um gileadita, filho de uma prostituta, e por este motivo tinha sido ele expulso de sua parentela, a de seu pai.

Uma vez marginalizado pelos seus próprios irmãos, deserdado, sem lugar para morar, teve que ganhar sua vida pela espada, a fim de não ser tragado por inimigos. Inimigos não faltavam ao redor de Israel, e ele acabou por se destacar ali, em Tobe (povoado estrangeiro, a leste de Gileade, conforme II Samuel 10:6) dentre um bando de homens violentos.   Seu meio de vida passou a ser o manejo da espada, a ferramenta que usava para saquear e roubar.   Muito embora este tenha sido um modo nada honroso para se viver, lembramos que o rei Davi também, em parte de sua vida clandestina, sob as ordens do rei filisteu Aquis, da cidade de Gate, deu-se a esta mesma prática.   Isso foi lamentável, mas até certo ponto, uma das poucas saídas que homens rejeitados pelos seus puderam encontrar.

Como seus patrícios o conheciam pela sua habilidade de assim atacar, lutar e guerrear, logo reconheceram nele as qualidades e o valor que nunca antes lhe tinham dado.

Neste episódio, vemos duas facetas da compaixão de Deus para com o Seu povo.

A primeira delas é que, apesar de traído e abandonado, o Senhor Yaweh, ao ser procurado por Seu povo em hora de aflição, não reteve a Sua misericórdia, antes aceitou que alguém pudesse lutar contra os seus opressores, e obtivesse a vitória que lhes daria a tão almejada libertação.

Em segundo lugar, vemos que a ocasião foi propícia para que um homem desprezado e lançado para fora das herdades de Israel por puro preconceito, fosse lembrado como o possível instrumento divino para a salvação esperada das mãos de Deus.   Este expediente também foi o mesmo usado para com a vida de José, no Egito, bem como já temos citado também, o rei Davi.

No caso de Jefté, a narrativa bíblica não nos mostra como Deus o teria escolhido, apenas nos diz que os líderes de seu povo tiveram que ir buscá-lo em terras estrangeiras porque a ninguém mais viam com o perfil ideal para aquele momento tão delicado.   Este detalhe nos dá a entender que o Senhor, devido à idolatria desenfreada de Seu povo, já não falava muito através de Seus profetas, e deixou que o povo se incumbisse de achar um homem capaz de arriscar sua própria vida para benefício de todos os que o haviam rejeitado como irmão.   Ele Se ausentou por algum tempo, mas não deixou de ajudá-los naquele momento decisivo, de grande impasse.

E o Senhor, na Sua grande misericórdia, aceitou que assim fosse, e foi dar-lhes o livramento. Assim é o coração de Deus.   Embora ferido e ofendido pelos Seus, Ele ainda Se dispõe a aceitá-los de volta, quando há arrependimento, e estes se voltam a pisar nos Seus caminhos, ao Seu lado, de todo o coração.

“Como te abandonaria, ó Efraim?   Como te entregaria, ó Israel? Como te faria como Admá? Ou como Zeboim?     O meu coração se comove, as minhas compaixões despertam todas de uma vez…”   (Oseias 10:8)


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