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O LIVRO DE DEUTERONÔMIO – I

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agosto 9, 2014 by Bortolato

Abraão convida

“Não se esqueçam!   É muito importante!  Lembrem-se sempre! “ – Estas seriam as palavras que definiriam o espírito do vibrante aviso de um experiente profeta dirigido a um povo jovem – do mesmo modo seriam os avisos que pais cuidadosos dariam a seus filhos dias antes destes partirem para uma terra distante, e se lançarem de corpo e alma em uma viagem que promete sua realização e seu sucesso na vida.   Esta foi, soprada e inspirada por Deus no coração de Moisés, a motivação para seu longo discurso na planície de Moabe, dirigida ao povo israelita, antes destes transporem o rio Jordão.

Eram tempos auspiciosos, de esperanças que arderam por anos a fio, andando pelo deserto, bombardeando os corações dos jovens, que foram nutrindo aos poucos o desejo de logo descobrirem os segredos da Terra Prometida.    Eles já estavam ao ponto de explodirem por dentro, pois que aquele sonho lhes estava, em todo aquele tempo, tamborilando em suas mentes: – “Por que não agora?  Já faz tempo que estamos perambulando pela terra…  Quando então será?    Poderia bem ser hoje…   Faz tempo que estamos esperando…   Ah, quem me dera…”

O clima de seus corações estava cada vez mais quente.   O tempo da velha geração já havia passado.   Os velhos rebeldes contra o Senhor já estavam todos mortos, e enterrados naquelas terras arenosas do deserto, juntamente com suas respectivas rebeldias.   A promessa de Deus, afinal, foi de que os filhos dos rebeldes e murmuradores seriam aqueles que entrariam na Terra que Ele havia prometido.

De repente, um toque solene de duas trombetas de prata ecoa no ar (Números 10), e uma convocação percorreu todo o arraial.    O velho profeta mandou chamar o povo, ali na terra de Moabe, frente para o Mar Morto, em um vale fértil que talvez ainda hoje aparente ter o mesmo aspecto.    Um, dois ou mais  arautos voluntários passaram, avisando a todos que se reunissem em um local apropriado, em que coubesse toda a multidão.   O jeito do emissário falar dava uma séria impressão de que o velho profeta tinha coisas muito atuais e relevantes para dizer a todos.    Uma centelha de fé e esperança brilhou em cada coração, dentro daquela expectativa de boas novas.   O que seria?   Decerto, o Senhor falou algo para ele…  e as coisas que Jeová diz…  no mínimo, merecem a maior atenção… que ninguém falte!

O velho profeta centenário, já chegando à casa dos seus cento e vinte anos, sempre quis contar ao seu povo uma mensagem com muita eloquência, mas ele era um homem com a fala um pouco ou bastante atrapalhada por suas limitações físicas – talvez uma gagueira, ou talvez tivesse a língua presa, talvez ambas essas deficiências.   E o que ele tinha para falar agora, era de suma importância.   Aarão, o seu porta-voz, já era morto, e portanto, Moisés tinha que se esforçar para se comunicar da melhor forma possível, não havia outro jeito.

Moisés, o homem que, quarenta anos antes, havia tido um contato com o Grande Criador, o Deus de Abraão, de Isaque e  Jacó, olhando para suas dificuldades humanas, impossibilidades mesmo, pediu, naquela ocasião, para ser dispensado do encargo de profeta, mas no final chegou a desempenhar o papel de um dos maiores intercessores de seu povo, de sua gente – ao ponto de colocar-se a si próprio como escudo humano, numa atitude desesperada, a fim de não ver os seus destruídos pela ira do Deus que os tirou do Egito, o Qual foi ultrajado e ofendido pela presença idólatra do bezerro de ouro(Êxodo 32) e de Baal-Peor (Números 25) no meio daqueles escravos recém libertos.

Eles já haviam chegado perto do ano 1405 A.C., data aproximada.   Muito embora o Egito tivesse desistido de perseguir a Israel para matar alguns e reconquistar novamente outros para dar continuidade a sua escravidão, aquele país ainda continuava sendo um dos grandes impérios da época.   As cartas de Tel-El-Amarna, descoberta arqueológica que reporta àquela época indicam que havia uma certa soberania egípcia sobre vários pontos de regiões da Palestina.   O Egito de então, porém, já havia conhecido por experiência própria que lutar contra Israel seria lutar contra o seu Deus, e já  havia pago um alto preço por ter-se endurecido contra Ele, quarenta anos atrás.    O temor de um novo confronto ainda estava agrilhoando as memórias do Faraó.   Não cometeriam a mesma besteira novamente.

As notícias chegavam, vindo de Gileade, área que hoje denominaríamos de  Transjordânia, ou simplesmente Jordânia, para o Egito, dizendo que os amorreus Seom e Ogue já tinham sucumbido, e Israel, com sua multidão enorme, já olhava para o lado leste do Jordão, claramente buscando um lugar para poder se estabelecer.

Moisés então, já idoso, olha para trás no tempo e vê tudo o que lhes acontecera no deserto, e de como o povo israelita tinha-se constituído – para  ele, um fardo pesado de carregar, um “osso duro de roer”, pertinaz, homens de dura cerviz – e  para Deus, como se eles fossem uma criança extremamente pirracenta, manhosa, que precisava frequentemente de levar umas palmadas para se comportar melhor e um dia ser gente digna do Senhor e Rei do Universo.

Uma Lei dada pelo Senhor, então, já estava escrita, à qual Moisés e Eleazar tinham acesso, mas faltava um toque final que se adaptasse à nova geração que se ergueu dentre o povo.

Por esse tempo, os levitas e sacerdotes já estavam constituídos como tais.  A velha geração que tanto desagradou a Deus já havia passado.   Israel estava contando com um novo elenco de figuras, líderes do povo, juízes, homens de guerra, mulheres e crianças.

A nova geração já tinha tido contato com os mandamentos, com as leis recebidas no monte Sinai, e já as estavam observando.   Eles observaram também vários atos de poder desprendidos do céu, tais como a provisão do maná, a serpente de bronze, o anjo que os guiava, as colunas de nuvem e de fogo, e muitos outros milagres que Jeová operou para conservá-los como sobreviventes no meio de um deserto onde tudo parecia ser impossível.

Moisés, olhando para o passado, percebe que a natureza humana que se fez presente no meio de seu povo era de uma índole má, e temia que os jovens pudessem seguir o mau exemplo dos seus pais…   Mas… eles foram eleitos como “povo de Jeová”, que os recebeu com amor, que lhes foi moldando o caráter e aperfeiçoando-lhes a fé, preparando-os para serem Seus guerreiros conquistadores…   O profeta ainda olha para a frente no tempo e nota que dentro de breves dias, ele terá terminado seu labor, e estará deixando esta terra, pois não presenciaria a chegada do além-Jordão, para dentro da Terra Prometida, conforme o Senhor já lhe havia falado.

O povo da nova geração precisava ser lembrado de muitas coisas, pois algumas talvez nem tivessem ouvido falar, e que, portanto, um bom discurso os estaria munindo de informações importantes, das quais não deveriam esquecer-se jamais.

Um retrospecto histórico viria bem a calhar para alertar aos jovens e aos novos líderes do povo para não voltarem a cair nas mesmas e velhas armadilhas do passado.   As expectativas eram muito boas, estavam bem próximos de entrarem na Terra Prometida, e não faltavam muitos dias para isso.

Moisés preparara um longo e belo discurso.   Suas forças já não eram mais as mesmas de antes, mas a sua mente e seu coração estavam fervilhando de palavras.   Já não estava mais tão incomodado se viria a ser comunicativo ou não; naquele momento o que menos lhe afetava era a sua má dicção – o que mais lhe importava era o que tinha que ser dito.   E ele sabia que aquele deveria ser o seu último sermão.   Como iria pronunciá-lo?   Ele mesmo não o   sabia, porém, aprendera longamente que devia confiar no Senhor Javé, que o comissionara para ser Seu profeta.   Afinal, como Ele mesmo lhe dissera um dia:

“Quem fez a boca do homem?  Ou quem faz o mudo, ou o surdo, ou o que vê, ou o cego?  Não sou Eu, o SENHOR?  Vai, pois, agora e Eu serei com a tua boca, e te ensinarei o que hás de falar”  (Êxodo 4: 11-12)

Os olhos cansados de Moisés mal conseguem distinguir seus conhecidos – pelo contrário, da maioria, nem sabe os seus nomes.   Algumas pessoas, não poucas, já não lhe aparentam ter visto antes.   A multidão é enorme, a encher o vale, e os que ficaram mais distantes lhe são indistinguíveis, nem pode saber quem são – mas sabe que são o povo de Jeová, povo que ele queria ver entrando na Terra que Deus lhes prometeu.

Moisés, então, começa a abrir sua boca, mas nota que algo diferente estaria acontecendo.  Algo estranho, como ele nunca havia experimentado antes.   Alguma coisa aconteceu, um milagre, talvez como aquele que presenteara ao pregador e evangelista dos séculos XX e XXI, Benny Hinn, o qual, perto dos dezessete anos de idade, ainda gago, subiu a um púlpito para pregar, e de um momento para outro o homem começou a soltar as palavras fluentemente, como nunca  o fizera antes.

Moisés então, procura dirigir-se ao povo.   Seu vigor foi desgastado pelo passar dos anos, e a chegada da velhice.   Para poder ser melhor ouvido, sobe em um lugar mais alto, e é auxiliado pelas centenas de repetidores, que mais uma vez estão prontos para irem repassando aos brados  o conteúdo de sua fala.  Sua voz, como as de um idoso, já é fraca, mas as palavras começam milagrosamente a sair de sua boca com uma fluência que daria inveja aos grandes libertadores de nações e raças deste mundo: a Valclav Havel, da república Tcheca; a Martin Luther King e Nelson Mandela, os grandes líderes negros;  a Simon Bolívar, a Mahatma Gandhi, a George Washington e a muitos outros mais.

Um escrivão estava ao seu lado, a postos, com um pergaminho, tinta e uma pena para registrar todas as suas palavras.

A expectativa do povo é grande.   O que, afinal, iremos ouvir?   Eles estavam aguardando boas notícias, tais como:  – “Amanhã, preparem-se para cruzarem o Jordão, vamos à conquista, à posse daquelas terras”.    Os jovens, entusiasmados, ao verem-no, começam a gritar e a aplaudi-lo.

Seus auxiliares tentam acalmar a multidão, acenando com as mãos, pedindo silêncio, pois todos precisavam ouvir o que o servo de Deus tinha a dizer.

Moisés tinha em mente toda uma história que, para ele, começou com a tirania de Faraó no Egito.   Ele mesmo, quando ainda bebê, teve que ser lançado ao rio Nilo, e que ser tirado das águas para poder sobreviver aos mandos assassinos do imperador.

Queria ele que tudo tivesse sido resolvido há 38 anos atrás, mas foi necessário uma peregrinação pelo deserto, e só agora estavam chegando ao ponto mais almejado da história de Israel até então.   Depois de uma sequência de erros do povo, murmurações e rebeldias, até mesmo ele, Moisés, estava então impedido de passar o rio Jordão.

Agora, porém, quem estava para receber o seu sermão não mais eram os que pecaram tão gravemente nas cenas do bezerro de ouro, da covardia de Cades Barneia e da corrupção de Baal-Peor.   Eram os filhos deles.   Então estavam ali, à sua frente, aqueles que aprenderam a conviver com as dificuldades do deserto, glorificando a Deus em vez de murmurarem.  Era um outro povo, pois, já imbuídos de um outro espírito, de um espírito que se dispõe a louvar e a agradecer a Deus por todas as coisas, em quaisquer circunstâncias.

Foi uma oportunidade sem par.   A alegria dos jovens era contagiante, mas Moisés tinha que lhes falar de coisas não muito entusiasmantes – da necessidade de serem fiéis a Deus, não caindo nos laços e nem tropeçando nos pecados que desagradaram a Deus, que lograram fazer seus pais caírem das Suas graças.    As lembranças deixaram muitas lições e eles precisariam refrescar  suas memórias, para não serem apanhados nas mesmas fraquezas.

Nem tudo, porém, a ser dito, seriam “nãos”, recomendações negativas, pois a Lei, a Torah também lhes trouxe mandamentos positivos, e havia promessas para os que os obedecessem de boa mente e coração.   As promessas do Senhor são muito ricas, lindas, que enchiam seus peitos de esperança e de amor.

“Esta segunda Lei” é a tradução do título deste Livro Canônico, dado pela versão Septuaginta.   Ele nos traz uma repetição atualizada e avivada da mesma Lei, a Torah.

Os escrivães fizeram a sua parte, trazendo para seus papiros o memorável discurso de Moisés, tanto quanto lhes foi possível, na íntegra, enquanto o seu autor humano o falava trecho a trecho, mas com uma clareza de pensamentos qual nunca haviam ouvido antes.   Pareceu-lhes mais uma obra do poder do Deus Supremo, relevante para eles naquele momento, para Moisés e para o seu povo.

Com isto, o profeta teve a oportunidade de pregar a um público que nem os mais ousados e populares evangelistas dos últimos séculos puderam fazê-lo.   Falar a uma plateia de cerca de dois milhões de pessoas!   Como Billy Graham, Oral Roberts, Dwight Lymon Moody,  Smith Wigglesworth, Kathryn Kuhlman, William Branham,  e Asa A. Allen amariam viver essa oportunidade!   Aquelas pessoas jamais caberiam em qualquer estádio de futebol dos que hoje conhecemos.   E elas estavam ali, em pé, ouvindo palavra por palavra, atentamente, na ânsia de ouvirem algo muito importante, algo que estaria para acontecer.   Realmente, elas não caberiam nos auditórios dos nossos dias, e aliás, isso não acontece todos os dias.

Moisés começa fazendo uma resenha do passado.   As lições do passado!  Ah, estas foram terríveis, mas ao mesmo tempo muito importantes para serem usadas por Deus para fazer o povo mais sábio.   Felizes os que aprendem com estas, e tolos os que as desprezam – mas de uma forma ou de outra, para fazer repisar os conceitos, e fixar as lições, aquele povo tinha que ouvi-las.

Foi impressionante como um sermão desses, cheio de admoestações, conseguiu trazer paralelamente um clima de alegria e de boas expectativas para o futuro.   Na realidade, assim também é o evangelho:  para os que desejam porfiar para entrar pela porta estreita, e lograr entrarem no gozo do Reino de Deus, não importam tanto os problemas, as dificuldades, as lutas, as provações, pois os antegozo da Canaã Celestial compensa tudo isso, e mais as admoestações do tempo presente.

O povo olhava para Moisés, não sabendo que estavam vendo um tipo do Senhor Jesus: homem sofrido, manso, sábio, e que gastava grande parte de seu tempo orando, em comunhão com o seu Deus.

Jesus também sofreu atrocidades nesta vida, mas tinha e tem grande alegria ao antever as bênçãos que caem sobre Seu povo fiel.

A igreja, como Corpo de Cristo, também precisa enfrentar os sofrimentos do tempo presente, sabendo que importa que por muitas tribulações alcancemos o Reino de Deus (Atos 14: 22).   O gozo futuro é incomparável.  Vale a pena.   É entusiasmador.    Os sofrimentos logo irão passar e ficarão para trás.   Teremos boas perspectivas à frente, se formos fiéis até o fim – à Canaã Celestial.

Sê fiel até a morte, e dar-te-ei a coroa da vida” (Apocalipse 2:10)


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